Fundamentos metodológicos da Agenda de Emergência, ferramenta de mapeamento da pauta autoritária desde 2019
POR ADRIANE SANCTIS DE BRITO, CONRADO HÜBNER MENDES, MARIANA CELANO DE SOUZA AMARAL E MARINA SLHESSARENKO BARRETO
Recessão democrática, populismo autoritário, autocratização: a atual crise democrática no Brasil e em outros lugares do mundo tem sido estudada por várias áreas do conhecimento e chamada de diferentes nomes. Diante da falta de ferramentas empíricas e conceituais que deem conta de analisar os múltiplos fatores envolvidos nos processos de declínio democráticos atuais, que se acirraram nos últimos anos, o LAUT desenvolveu o projeto da Agenda de Emergência. Tendo como objeto central a conjuntura político-institucional brasileira a partir de 01 de janeiro de 2019 (posse de Jair Bolsonaro como presidente da República), a plataforma constrói um arquivo bem informado de atos formais e informais de autoridades públicas cujos riscos ou danos à democracia e às liberdades são captados por meio de pesquisas na grande imprensa e em monitores especializados.
O projeto cruza referências de linhas de estudo sobre democracias “iliberais” e erosão constitucional, estado de exceção e transição incompleta de regimes políticos – e procura fazer conversarem literaturas de fenômenos correlatos e combinados atualmente, mas que não necessariamente ampliaram suas lentes analíticas nesses termos. Sob este enfoque, que combina análises teóricas de diferentes campos com a observação de fenômenos empíricos do atual contexto brasileiro, desenvolvemos uma forma de classificar os eventos que representam riscos à liberdade e à democracia. Essa classificação nunca pretendeu ser permanente e pode ser aprimorada conforme haja necessidade.
📄 No documento Como analisar o autoritarismo no Brasil?, apresentamos os fundamentos metodológicos da Agenda de Emergência e as principais referências para a construção de cada uma de suas categorias.
Atos que trazem como justificativa o enfrentamento da pandemia de covid-19 ou outra emergência. Sob o regime constitucional democrático, atos de emergência devem respeitar a Constituição e proteger os direitos à vida e à saúde. Mesmo assim, por criarem restrições excepcionais ligadas à crise sanitária, requerem controle constante sobre sua necessidade, proporcionalidade e limitação temporal. A longo prazo, demandam atenção para não se transformarem em um 'novo normal' antidemocrático fora do momento de emergência.
Atos que empregam ferramentas da constante reinvenção autoritária. Manifestações autoritárias que convivem com o regime democrático e afetam a democracia como sistema de escolha de representantes legítimos, como dinâmica institucional que protege direitos e garante o pluralismo.