Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministério da Defesa publica nota dizendo que o golpe militar seria ‘marco para a democracia’ e Ministro Dias Toffoli a libera em nome da liberdade de expressão

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

O Ministério da Defesa publica em 30 de março nota relativa ao aniversário do golpe militar, ocasião em que diversos atores ligados ao governo Bolsonaro se manifestam [veja aqui]. A nota afirma que o ‘movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira’, que teria reagido ‘com determinação às ameaças que se formavam àquela época’ [1]. O texto não alude ao período como ditadura, trata das mortes ou da tortura provocadas pelo regime militar, tampouco da restrição às liberdades que vigoraram no período [2]. O PT, partido da oposição ao governo Bolsonaro, entra na justiça pedindo a retirada da nota do ar, pedido que é acolhido em primeira instância [3]. O Presidente do Supremo Dias Toffoli decide pela suspensão da liminar, afirmando que a nota seria destinada apenas ao ambiente militar. Toffoli usou a decisão também para criticar as interferências do Judiciário em ator do Executivo, o que vem incomodando o presidente so tribunal [4] — exemplos disso seriam a suspensão da nomeação de Ramagem para a Polícia [veja aqui] e decisões do STF a favor do estados poderem fixar o isolamento social [veja aqui].

Leia entrevista sobre o papel das Forças Armadas no governo Bolsonaro e texto do blog da Comissão Arns sobre a decisão de Toffoli.

03 maio 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro se reúne com tenente responsável pelo aparato repressivo da Ditadura Militar e Secom faz homenagem ao oficial nas redes sociais

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Em meio a pandemia do coronavírus, Bolsonaro recebe fora da agenda oficial o tenente-coronel do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o Major Curió, militar que atuou na repressão durante a ditadura militar, tendo atuação ativa no caso da Guerrilha do Araguaia [1]. Curió é um dos 377 militares diretamente responsáveis pela repressão, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade [2]. Não se sabe sobre o que Presidente e Curió conversaram [3] . Em seguida, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência (Secom) divulga publicação chamando Curió de ‘herói do Brasil’ [4], o que enseja pedido de investigação pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) por apologia de crime contra a humanidade [5]. O MPF pede a condenação de Curió, que foi denunciado seis vezes, desde 2012 [6]. Organizações da sociedade civil e o partido PSOL denunciam o caso da visita à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) por descumprimento da sentença que condenou o Brasil pelos crimes cometidos durante a ditadura e que apontou dever de tomar providências de não-repetição; a corte acata a denúncia [7]. Na semana seguinte, grupo de mulheres vítimas e familiares de vítimas da Ditadura Militar ajuíza ação pedido direito de resposta à publicação da Secom [8]. Esa não é a primeira vez que Bolsonaro se refere ao aparato repressivo da ditadura – em agosto de 2019, elogiou Brilhante Ustra [veja aqui] e em julho daquele ano se referiu pejorativamente a um desaparecido político do período [veja aqui].

Leia análise sobre uma irmã que busca os restos mortais do irmão morto por Curió na guerrilha do Araguaia, cronologia da guerrilha, artigo sobre as denúncias feitas pelo MPF de crimes da ditadura militar e artigo sobre a aplicação da lei da anistia no Brasil.

05 maio 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Secretária de Cultura relativiza mortes por covid-19 e tortura em entrevista

Tema(s)
Cultura, Ditadura e memória, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Após minimizar a crise do novo coronavírus [veja aqui], a secretária da Cultura Regina Duarte dá entrevista à CNN Brasil [1] onde afirma que ‘sempre houve tortura e que não quer arrastar um cemitério (…). Porque olhar para trás?’, relativizando os impactos causados pela ditadura e afirmando que ‘na humanidade não para de morrer gente’ [2]. A atriz também canta trecho do jingle da Copa de 1970 para mudar de assunto. Além disso, afirma que a pandemia de covid-19 está trazendo ‘morbidez’ [3]. As falas de Duarte se dão em meio à turbulências sobre sua permanência ou não no governo [4]; a secretária foi bem vista pelo Planalto após a entrevista, segundo a Folha de São Paulo [5]. Houve repercussão interna na CNN em razão da repercussão ruim da entrevista [6]. Mais de 400 artistas repudiaram as declarações de Duarte e publicaram manifesto [7]. Vítimas do regime militar entram com ação na Justiça Federal do Rio de Janeiro contra a ex-secretária e a União [8]. Em 22/07, a juíza responsável pela ação extingue o processo em relação à Duarte, mas mantém a União como ré [9][10][11] [veja aqui].

Leia reportagem sobre o jingle cantado por Duarte e a ditadura militar e sobre a CNN Brasil e o governo.

07 maio 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

AGU defende a existência de ‘interpretações divergentes’ sobre ditadura militar

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

A Advocacia-Geral da União (AGU) defende num parecer em processo judicial que podem existir ‘interpretações divergentes’ sobre o período da ditadura militar brasileira [1]. A ação trata das publicações feitas pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência (Secom) e pede a remoção de postagens em redes sociais, incluindo publicação em que o Major Curió é chamado de ‘herói do Brasil’ [veja aqui]. O parecer da AGU afirma que há diversas visões historiográficas e que ‘ não há possibilidade de se manter uma única percepção histórica no espaço público’. Ainda segundo o órgão, deve-se ‘conviver com as possíveis ou pontuais interpretações outras da cadeia de acontecimentos do mesmo período, que nem sempre vão revelar somente uma versão de aniquilação de direito’ [2]. Entidades da sociedade civil criticam o parecer em seguida, como a Associação de Advogadas e Advogados Públicos pela Democracia, em repúdio à instrumentalização e militarização da Advocacia Geral da União [3]. Segundo nota publicada pela organização, a AGU estaria sendo utilizada ‘contra o seu propósito constitucional’ e estaria distorcendo ‘fatos históricos em frontal desacordo com o conteúdo da Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso da Guerrilha do Araguaia e do Relatório da Comissão Nacional da Verdade’ [4].

Leia a análise sobre uma irmã que busca os restos mortais do irmão morto por Curió na guerrilha do Araguaia, artigo sobre as denúncias feitas pelo MPF de crimes da ditadura militar e artigo sobre a aplicação da lei da anistia no Brasil.

17 maio 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro compartilha vídeo em alusão à bordão fascista: ‘melhor viver um dia como leão que cem anos como cordeiro’

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Jair Bolsonaro, presidente da República, compartilha bordão do fascismo italiano ‘Melhor viver um dia como leão que cem anos como cordeiro’, em seu perfil no Twitter e gera discussão na rede social [1]. Havia ainda uma legenda para a frase que dizia ‘em 1 minuto o velho italiano resumiu o que passamos nos dias de hoje’ e um link para um vídeo que não necessariamente exaltava o fascismo [2]. A frase é muitas vezes atribuída ao ditador italiano Benito Mussolini e foi apropriada pelo movimento fascista do país; outro líder mundial, Donald Trump, presidente dos Estado Unidos, já tinha utilizado-a em 2016 e foi fortemente criticado [3]. Vale lembrar que em 31/05, Celso de Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal, órgão que tem sido palco de embates com o governo federal [veja aqui], comparou o cenário nacional à ascensão do regime nazista, aliado ao fascismo italiano [4]. Outra associação entre a postura de Bolsonaro e apoio a regimes totalitários aconteceu no dia seguinte, 01/06, quando Bolsonaro grava vídeos tomando um copo de leite. A reação nas redes se deu especialmente por pesquisadores, que apontaram o copo como símbolo de alinhamento à extrema-direita americana, que utiliza-o como forma de exaltar a superioridade da raça branca [5]. O presidente afirmou tratar-de de um desafio da Associação Brasileira de Produtores de Leite [6], mas um de seus apoiadores, Allan dos Santos, investigado no inquérito de fake news, repetiu o gesto com a bebida e afirmou haver uma ‘mensagem subliminar’ [7].

Ouça podcast sobre a relação entre a crise brasileira e a apologia a regimes totalitários e leia as análises sobre a ascensão de sites neonazistas no país e a relação com o governo e o uso do copo de leite por supremacistas brancos americanos – em inglês.

31 maio 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Comissão de anistia do governo federal restringe critérios para concessão da condição de anistiado político

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Comissão de Anistia do governo Bolsonaro decide limitar a concessão de anistias políticas a perseguidos pela ditadura militar [1]. A Comissão expede três enunciados: um sobre a inaplicabilidade da anistia política aos militares expulsos ou licenciados [2]; outro sobre a impossibilidade de acumulação de pedidos estaduais, municipais e federais [3] e o terceiro sobre a falta de cabimento, via de regra, da condição de anistiado político a pessoas jurídicas [4]. Desde o início do governo Bolsonaro, todos os casos que se enquadram nesses requisitos são negados [5]. Contudo, o novo entendimento sobre as condições para obter a anistia só foi sancionado agora [6]. Vale lembrar que desde 2019 a Comissão de Anistia passou a ser vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e não mais ao Ministério da Justiça [7]. Um ex-integrante da Comissão afirma que a restrição à cessão de anistia política a perseguidos é um retrocesso e uma forma fácil de deteriorar a ‘parca experiência de justiça de transição’ brasileira [8]. Os novos enunciados podem ter impactos diversos, como em questões previdenciárias; a ex-presidenta Dilma Rousseff, cuja tortura e perseguição sofridas na ditadura já foram descreditadas pelo presidente [veja aqui], já obteve indenizações pelas Comissões do Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, e pleiteia, em âmbito federal, a contagem de tempo de serviço durante sua perseguição para a aposentadoria [9]. O presidente da República e seus aliados, em diversas ocasiões, já exaltaram a ditadura militar como ‘revolução de 64’ e criticaram a Lei de Anistia. Em 2019, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos alterou a Comissão da Anistia [veja aqui], criticou o pagamento de indenizações aos perseguidos pela ditadura [veja aqui] e revogou uma série de anistiados [veja aqui]. Bolsonaro já caracterizou os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade como ‘balela’ [veja aqui] e disse que a Lei da Anistia foi criada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para beneficiar amigos [veja aqui]. Ademais, Bolsonaro descreditou as torturas sofridas pela jornalista Miriam Leitão [veja aqui] e não só negou a existência da ditadura militar [veja aqui] como também seu governo celebra anualmente a data de ocorrência do golpe [veja aqui].

Leia sobre a Lei da Anistia e sobre como a negação de Bolsonaro quanto a existência da ditadura militar fragiliza a democracia.

07 jun 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos anula anistias políticas concedidas a ex-oficiais da Aeronáutica

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, assina 295 portarias anulando anistias políticas concedidas a ex-cabos da Força Aérea Brasileira [1]. A medida é respaldada por decisão do Supremo Tribunal Federal, o Recurso Extraordinário 817338 do ano de 2019 [2], que julga constitucional a possibilidade de revogação de anistias concedidas a cabos da aeronáutica atingidos durante o regime militar pela Portaria 1104/1964. A portaria modificava as condições de engajamento de cabos, para que aqueles que não fossem promovidos ao Oficialato não pudessem atingir os 09 anos de serviço necessários à aquisição da estabilidade [3]. Desde 2002 a Comissão de Anistia, via Súmula 2002.07.003, entende que a motivação da ditadura militar era evitar a formação de lideranças que pudessem contrariar o novo regime [4]. O argumento do governo para anular as anistias é a ‘economia’ de R$ 31,5 milhões por mês para a Aeronáutica [5]. Em resposta, deputados [6] e senadores [7] apresentam projetos de lei para sustar a medida, o deputado federal Enio Verri (PT-PR) afirma que o governo de Bolsonaro insiste em ‘invisibilizar’ as vítimas da ditadura. A decisão ocorre após a relativização da ditadura pela ex-secretária da Cultura [veja aqui], homenagens ao golpe de 1964 pelo vice-presidente [veja aqui], e reunião oficial do presidente com militar atuante na repressão ditatorial [veja aqui].

Leia análise sobre a repressão contra militares na ditadura, e entenda a lei da anistia e o legado da ditadura militar na institucionalidade brasileira.

08 jun 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Secom anuncia que chargista e jornalista estariam cometendo crime ao fazer e compartilhar charge crítica ao presidente; em seguida, o Ministro da Justiça solicita abertura de inquérito com base na Lei de Segurança Nacional

Tema(s)
Cultura, Ditadura e memória, Imprensa, Liberdade Artística, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Secretaria Especial de Comunicação (Secom), recém incorporada ao Ministério de Comunicações [veja aqui], acusa em rede social o jornalista Ricardo Noblat e o chargista Renato Aroeira de ‘falsa imputação de crime’, por compartilharem ou produzirem charge que liga o presidente, que incentivou a invasão de hospitais [veja aqui], ao nazismo [1]. Segundo a Secom, eles estariam imputando a Bolsonaro ‘o gravíssimo crime de nazismo’ e seria ‘impossível’ provarem ‘sua acusação’ [2]. Em resposta, Noblat reivindica liberdade de expressão [3] e Aroeira acusa o governo de outras posturas alinhadas com a ideologia nazista, inclusive já criticadas pela comunidade judaica [veja aqui], e se diz ‘aterrorizado’ [4]. Mais tarde, o Ministro da Justiça anuncia que solicitou a abertura de inquérito para investigar a ação de Noblat e Aroeira [5], com embasamento na Lei de Segurança Nacional [6]. Em 19/03 o MPF arquiva o inquérito, argumentando que a charge abrange o direito de liberdade de expressão e do direito de crítica ao Bolsonaro, por sua atuação na pandemia [7]. O partido de oposição Rede Sustentabilidade, por sua vez, ajuíza ação no Supremo Tribunal Federal contra a solicitação do governo de abertura de inquérito [8]. Na semana anterior, o Jornal Folha de S. Paulo havia já revelado ter sido interpelado extrajudicialmente pela Associação de Oficiais Militares do Estado de São Paulo sobre charges críticas à violência policial [9] [veja aqui]. Em julho, a Adovacia-geral da União (AGU) se manifesta no processo da Rede, dizendo que abuso na liberdade de expressão pode ensejar responsabilização civil e penal [10] e o deputado Marcelo Calero (Cidadania-RJ) faz requerimento à Mesa Diretora da Câmara, pedindo esclarecimentos sobre a nota da Secom [11]. No ano passado, o governo já havia invocado a controversa Lei de Segurança Nacional contra opositor político [veja aqui]. Segundo apuração da imprensa, as ofensivas contra opositores do governo Bolsonaro têm sido barradas pela justiça [12].

Leia as análises sobre a censura à imprensa, as tensões de setores do Executivo com cartunistas, o papel da charge política segundo artista do setor, caso anterior de invocação da Lei de Segurança Nacional pelo governo, o uso da lei pelo governo Bolsonaro e manifestação posterior de Ricardo Noblat sobre o uso da LSN atualmente.

15 jun 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro da Justiça solicita abertura de inquérito, com base na Lei de Segurança Nacional, contra colunista que escreveu artigo desejando a morte do presidente da República

Tema(s)
Ditadura e memória, Imprensa, Posicionamento político, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O ministro André Mendonça afirma ter requisitado abertura de inquérito contra o colunista do jornal Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman [1]. O objetivo é investigar o artigo ‘Por que torço para que Bolsonaro morra’, com críticas à conduta do presidente especialmente durante a pandemia da covid-19 [2], com base na Lei de Segurança Nacional (LSN) por calúnia ou difamação contra o presidente da República [3]. Mendonça afirma ainda que a coluna teria ferido ‘princípios básicos do Estado de Direito’ [4]. O secretário de comunicação social do governo, Fábio Wajngarten, diz em texto publicado no próprio jornal que o artigo de Scwhartsman é ‘fora de qualquer padrão jornalístico civilizado’ [5]; o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), afirma que é ‘lamentável’ [6]; o ministro da comunicação alega ser um ataque à Presidência [7]. Em 21/08, a Polícia Federal intima Schawrtsman a depor sobre o artigo [8], o que é visto como ‘descabido’ pela Associação Nacional de Jornais [9] e, em seguida, criticado pelo colunista [10]. Em 25/08, o inquérito é suspenso [11]. Constitucionalistas afirmam que o uso da LSN neste contexto é equivocado, por não se enquadrar no ordenamento jurídico atual e com o direito à liberdade de expressão [12]; nos EUA, diversas figuras públicas já afirmaram desejar a morte do presidente do país, sem ocorrerem investigações posteriores [13]. Vale lembrar que a lei já foi usada pelo governo contra servidores [veja aqui] e Gilmar Mendes, ministro do STF [veja aqui]; além disso, o jornal foi interpelado por entidade de policiais por causa da publicação de charges [veja aqui].

Leia análise sobre o direito à honra, a Lei de Segurança Nacional no governo Bolsonaro, a ética no texto de Schwartsman, o porquê a LSN é contestada e a importância da liberdade de expressão

07 jul 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministério da Defesa representa contra ministro do STF com base na Lei de Segurança Nacional, feita sob a ditadura militar

Tema(s)
Conflito de poderes, Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Ministério da Defesa apresenta representação contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com base na Lei de Segurança Nacional (LSN) por realizar críticas à atuação do governo federal e à participação dos militares no combate à crise sanitária [1]. No dia 11/07, em transmissão realizada em rede social, Mendes disse ser inaceitável o ‘vazio no Ministério da Saúde’, e que as Forças Armadas (FA) estariam se associando a um ‘genocídio’ [2], em referência ao alto número de mortes por coronavírus registradas e ao fato da pasta da saúde estar há mais de um mês sob comando interino de general da ativa [veja aqui]. A declaração repercute negativamente entre membros militares do governo [3] [4] e enseja nota de repúdio do ministério da Defesa, que, em seguida, apresenta a presente representação [5]. O crime de genocídio já foi utilizado para fundamentar acusação contra o presidente no Tribunal Penal Internacional em relação aos povos indígenas [6] [7] [veja aqui]. A representação é fundamentada em artigo da Lei de Segurança Nacional – normativa herdada da ditadura militar – que criminaliza com prisão o ato de provocar ‘animosidade’ entre as FAs e as ‘classes sociais’ e ‘instituições civis’ [8]. A utilização da LSN durante o primeiro ano do governo Bolsonaro bateu recorde, tendo sido abertas 28 investigações com base na lei [veja aqui]. Em 2020, a LSN foi utilizada em 15 inquéritos no primeiro semestre [veja aqui] e, no mês passado, para fundamentar denúncia contra jornalistas [veja aqui]. No mesmo dia, Mendes busca esclarecer suas declarações em nota [9] e liga para Pazuello [10]. Após o incidente, o presidente elogia Pazuello [11], o qual também estaria sendo bem avaliado por secretários da saúde [12] [veja aqui].

Leia análises sobre os efeitos da declaração de Gilmar Mendes sobre a situação de povos indígenas na pandemia, sobre tensões institucionais entre STF e militares, entenda o ressurgimento da Lei de Segurança Nacional, os riscos de crise com militares para a democracia e os problemas da gestão militar no ministério da Saúde.

14 jul 2020
Mês Filtros