Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro interino da Saúde diz que atos contra o STF e pelo fechamento do Congresso Nacional atestam democracia em sua ‘plenitude’ e alega desconhecer o AI-5

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Ministro interino da Saúde e general da ativa do exército, Eduardo Pazuello, afirma que manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo fechamento do Congresso Nacional (CN) seriam exemplos de que a ‘democracia está em sua plenitude’ e complementa desconhecer o que foi o Ato Institucional nº 5 (AI-5) [1]. Em entrevista à revista Veja, 3 dias após a declaração do ministro do STF, Gilmar Mendes, de que o Exército estaria se associando a um genocídio – por conta das mortes decorrentes do coronavírus [veja aqui] [2], o ministro interino afirma não existir militarização da pasta da saúde, mesmo após ter nomeado 18 militares para a área [veja aqui], e diz não ver problemas nisso: ‘esse estigma precisa acabar’ [3]. Ao ser questionado sobre enxergar ameaças à democracia, responde ‘zero’ e que as manifestações na rua seriam exemplo claro de que a ‘democracia vive em sua plenitude’. Questionado sobre o AI-5, diz não saber e nem ter curiosidade para descobrir o que é [4]. O AI-5 teve vigência entre 1968 e 1978, durante o período da ditadura militar, e atribuiu ao presidente da República poderes como o fechamento do Congresso Nacional, cassação de mandatos, suspensão de direitos políticos e liberdades civis [5]. Em outras oportunidades, Eduardo Bolsonaro afirmou que ‘se esquerda radicalizar’ a solução poderia ser um ‘novo AI-5’ [veja aqui], e o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que ninguém deveria se assustar com ideia de um ‘novo AI-5’ [veja aqui].

Leia análises sobre o significado do AI-5 para a ditadura e democracia, e a necessidade de manter sua memória ‘viva’ nos dias atuais.

17 jul 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro diz que lei da anistia foi feita pelo PT para beneficiar amigos e que há anistiados ‘demais’

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Durante transmissão ao vivo nas redes sociais o presidente Jair Bolsonaro em companhia da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, declara que a Lei de Anistia [1] teria sido feita pelo Partido dos Trabalhadores (PT) com o objetivo de ‘beneficiar os seus amigos’ [2]. A Lei de Anistia é uma normativa de 1979 e foi sancionada pelo então presidente militar, general João Baptista Figueiredo, como parte do plano de abertura ‘lenta, gradativa e segura’ do regime ditatorial para a democracia [3]. Na oportunidade, Bolsonaro ainda reclama da quantidade de pessoas anistiadas pelo Estado brasileiro, considerando o pagamento de indenizações por graves violações de direitos humanos como um ‘atraso’ [4]. A ministra Damares, por sua vez, afirma que a Comissão da Anistia – instituída em 2012 [5] – não deveria mais existir, mas que estaria ‘aplicando a lei’ [6]. Vale notar que essa não é a primeira vez que as autoridades do governo federal criticam a anistia política para vítimas da ditadura militar: em março de 2019 Damares edita portarias que alteram a Comissão da Anistia [veja aqui] e critica a concessão de indenizações [veja aqui], já em julho de 2020 o seu ministério anula anistias políticas concedidas a ex-oficiais da Aeronáutica [veja aqui].

Leia análise sobre a história da Lei da Anistia e seus impactos.

27 ago 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro defende golpe militar em pronunciamento do dia da independência

Tema(s)
Ditadura e memória, Negacionismo
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Em pronunciamento na noite deste dia, o presidente Jair Bolsonaro volta a exaltar o golpe militar de 1964 [1]. ‘Nos anos 60, quando a sombra do comunismo nos ameaçou, milhões de brasileiros, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, foram às ruas contra um país tomado pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada’, disse o presidente. O discurso ocorre por comemorações da Independência do Brasil, dia que conta com cerimônia que provoca aglomerações em frente ao Palácio da Alvorada [2] [veja aqui]. Além de exaltar a ditadura, a fala não menciona os mortos pelo coronavírus [3]. Durante a transmissão, são registrados panelaços contra o presidente [4]. No mesmo dia, manifestações do ‘Grito dos Excluídos’, movimento que realiza anualmente atos políticos alternativos às celebrações oficiais de independência [5], criticam a condução do governo durante a pandemia do coronavírus [6]. Bolsonaro é defensor da ditadura militar; em outras oportunidades o presidente já determinou ‘comemorações’ em referência ao golpe [veja aqui], já afirmou que não houve ditadura no Brasil [veja aqui], exaltou torturadores [veja aqui] e defendeu o regime militar em discurso na ONU [veja aqui]. Neste ano, referiu-se ao dia do golpe militar como ‘dia da liberdade’ [veja aqui], e foi acompanhado de publicações elogiosas do vice-presidente [veja aqui] e do ministro da Defesa [veja aqui].

Leia as análises sobre o discurso de Bolsonaro no dia da Independência e seus elogios à ditadura

07 set 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro do Gabinete de Segurança Institucional defende que governo entre com ação contra associação indígena por crime de lesa-pátria

Tema(s)
Ditadura e memória, Participação da sociedade civil, Povos indígenas
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Em entrevista à rádio Bandeirantes [1], o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, declara que o governo federal estuda apresentar ação judicial contra a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) – entidade fundada pelo movimento indígena em 2005 – com base no crime de lesa pátria previsto na Lei de Segurança Nacional (LSN) [2]. Ao ser perguntado pelo jornalista sobre uma publicação realizada quatro dias antes em suas redes sociais, na qual afirmou que a Apib teria produzido um site que veicula ‘fake news contra o Brasil’ e que seria responsável por ‘imputar crimes ambientais ao presidente da República’ [3][4], o ministro confirma seu posicionamento e diz que ‘isso que está sendo feito pela Apib (…) é um crime de lesa-pátria, eu não estou inventando’. Heleno afirma também que a organização estaria aliada a interesses internacionais – argumento que tem sido reiterado pelo presidente na ONU [veja aqui] e em fóruns internacionais [veja aqui] – e que o governo federal estaria ‘buscando (…) quais são seus verdadeiros objetivos para, se for o caso, movermos uma ação contra esse trabalho nefasto que eles fazem’ [5]. Em reação, a Apib emite nota pública de repúdio, classificando as declarações de Heleno como ‘graves acusações’ e alertando para risco a segurança dos membros da Apib [6]. Além disso, deputados da oposição apresentam pedido ao Congresso Nacional para que o ministro seja convocado a prestar esclarecimentos [7]. Na semana seguinte, em discurso na ONU, Bolsonaro acusa instituições internacionais e ONGs de visarem às riquezas da Amazônia [veja aqui]. Vale notar que a Apib é responsável por apresentar ação contra União por se omitir na proteção de indígenas contaminados por covid-19 [veja aqui] e por denunciar empresa pública de comunicação por ocultar informações sobre a situação indígena na pandemia [veja aqui]. Em outras oportunidades, a LSN foi mobilizada por autoridades do governo contra pessoas consideradas opositoras, como jornalistas [veja aqui] [veja aqui], servidores públicos [veja aqui], e até ministro do Supremo Tribunal Federal que referiu-se a existência de genocídio indígena [veja aqui].

Leia análise sobre o papel das ONGs na Amazônia, e veja linha do tempo sobre os direitos dos povos indígenas

22 set 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Deputado requer investigação de youtuber, deputados da oposição e candidato a prefeito com base na Lei de Segurança Nacional

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

José Medeiros (Podemos-MT), deputado federal e policial [1], requer abertura de inquérito com base na Lei de Segurança Nacional (LSN) [2], lei vigente desde o período da ditadura militar, para investigar a conduta de Felipe Neto, Guilherme Boulos, Sâmia Bomfim e Glauber Braga; nesta data, os nomes de todos os citados são revelados [3]. O primeiro citado é um youtuber com posições contrárias ao governo, o segundo, atual candidato a prefeito do PSOL-SP e os dois últimos, deputados federais pelo PSOL-SP e RJ. O pedido [4] foi feito em 01/06/2020 ao procurador-geral da República, Augusto Aras e tem como causa a participação das figuras públicas em manifestação de caráter antifascista em São Paulo. Segundo os termos do pedido, a manifestação teria sido violenta: ‘iniciaram confrontos com os manifestantes pró-governo, agrediram cidadãos, depredaram patrimônio público, entraram em confronto com policiais e os agrediram, protagonizando cenas de barbárie na capital paulista’. Por essa razão, Medeiros defende a abertura de investigação por ‘incitação à subversão da ordem política ou social’ e ‘à luta com violência entre as classes sociais’, ambos crimes previstos pela LSN [5]. Em resposta, Neto afirma que, desde que começou a assumir postura crítica ao governo, ‘vem sendo alvo de uma criminosa campanha difamatória’ [6]. Boulos, por sua vez, enxerga no ataque fins eleitorais, em momento de proximidade com as às eleições paulistanas [7]. Já Bomfim diz estar tranquila, já que ‘manifestar-se é um direito e construir a luta antifascista é uma obrigação diante do governo Bolsonaro’ e Braga, por fim, critica a iniciativa intimidatória, ‘que usa a polícia como política para perseguir adversário’ [8]. Além disso, a Executiva Nacional do PSOL lançaou nota pública convidando apoiadores e lideranças a ‘construir uma ampla campanha nacional contra essa intimidação, em defesa da liberdade de expressão’ [9]. Em abril, o mesmo deputado já havia solicitado investigação contra Guilherme Boulos, além dos jornalistas Ricardo Noblat e deputado Túlio Gadelha (PDT-PE) por ações contra o presidente, também com base na LSN [10]. A LSN vem sendo usada com frequência no governo; só neste ano, ela já foi usada para intimidar servidores [veja aqui] e Gilmar Mendes, ministro do STF [veja aqui]. Além disso, inquéritos com base nela foram solicitados contra jornalistas e cartunista [veja aqui] [veja aqui], bem como interpelação ao jornal Folha de São Paulo [veja aqui]. Ano passado, ela foi enquadrada contra o ex-presidente Lula, em inquérito que já foi arquivado [veja aqui].

Leia análise sobre o uso recente da LSN

29 set 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro pede votos a candidatos com ‘Deus no coração’ e parafraseia lema de movimento integralista em evento realizado em Pernambuco

Tema(s)
Ditadura e memória, Eleições
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias
Estado
Pernambuco

Presidente Jair Bolsonaro faz apelo para que eleitores votem em quem tem ‘Deus no coração’ e utiliza lema do movimento integralista em discurso [1]. Durante evento de inauguração de adutora de abastecimento de água em Pernambuco, Bolsonaro solicita que os eleitores ‘caprichem para escolher prefeito e vereador’ nas eleições de 2020 que tenham ‘Deus no coração’ e ‘na alma o patriotismo’; ele complementa ao parafrasear o lema do movimento integralista: ‘Deus, pátria e família’ [2]. O lema era utilizado pela Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento surgido na década de 1930 no Brasil com inspiração no fascismo europeu da época [3]. Em oportunidade anterior, o presidente publicou nas redes sociais o mesmo lema em apologia ao novo partido que pretende fundar, a Aliança pelo Brasil [4]. Especialistas apontam similaridades entre o discurso de Bolsonaro e empregado pela AIB no passado: Enquanto os grupos neo integralistas estão articulados na marginalidade, quando não na ilegalidade, da extrema-direita, as ideias são partilhadas para além deles. É como se o integralismo não fosse mais propriedade absoluta dos grupos integralistas. Não à toa que o próprio lema ‘Deus, pátria e família’ hoje está espalhado na extrema-direita. Essa ideia de criminalizar partidos comunistas ou o que se entende por comunismo, naturalizar o processo de desumanização de oponentes políticos, são elementos caudatários do próprio fascismo histórico’[5]. No mesmo evento, Bolsonaro volta a defender o uso da cloroquina no combate ao coronavírus, mesmo sem comprovação científica da eficácia do medicamento [6]. Em outros casos, Bolsonaro compartilhou vídeo em alusão à bordão fascista: ‘melhor viver um dia como leão que cem anos como cordeiro’ [veja aqui], e disse que não houve ditadura no Brasil [veja aqui].

Leia análise sobre o surgimento do fascismo e do neofascismo e leia trecho de livro que narra a história do movimento integralista no Brasil.

01 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Vice-presidente da República elogia torturador e diz que ele respeitava direitos humanos

Tema(s)
Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Durante entrevista, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), relativiza a tortura praticada no período da ditadura militar (1964-1985) e elogia o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra [1]. ‘Era um homem que respeitava os direitos humanos’, diz Mourão ao se referir a Ustra. Na mesma ocasião, sugere que ‘muitas pessoas foram injustamente acusadas de serem torturadoras’ [2]. Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade [3], colegiado criado em 2011 para investigar os crimes cometidos durante a ditadura, a tortura foi prática sistemática empregada pelos militares para conter a oposição ao regime. A comissão revela ao menos 434 mortes e desaparecimentos de vítimas do regime [4]. Ustra, ex-coronel do Exército, chefiou o Destacamento de Operações de Informação (DOI-Codi), órgão de repressão dos governos militares. No período em que esteve à frente da unidade (1970-1974), foram registradas uma denúncia de tortura a cada 60 horas [5] e 45 mortes e desaparecimentos de presos [6]. Em 2012, o coronel foi reconhecido pela Justiça como torturador [7], mas morreu em 2015, aos 83 anos, sem cumprir pena pelos seus crimes. Em razão das declarações de Mourão, a bancada do Psol inclui o vice-presidente em ação que denuncia o governo Bolsonaro à Corte Interamericana de Direitos Humanos por insulto a vítimas da ditadura [8]. Essa demonstração em apoio ao regime militar não foi a única feita pelo vice-presidente e pelo presidente: em março de 2020, Mourão publicou nota nas redes sociais em homenagem ao aniversário de 56 anos do golpe que iniciou a ditadura no país [veja aqui]. Já Jair Bolsonaro (sem partido) fez declarações semelhantes [veja aqui] e, em 2019, elogiou Brilhante Ustra [veja aqui] [veja aqui], e se referiu pejorativamente a um desaparecido político do período [veja aqui].

Leia análises sobre a declaração do vice-presidente Hamilton Mourão elogiando Brilhante Ustra e as tentativas do governo Bolsonaro de ressignificar a história associada à ditadura; e ouça podcast sobre o verdadeiro significado dos direitos humanos.

07 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Forças Armadas estão prontas para ‘defender a pátria e garantir a nossa liberdade’, diz Bolsonaro

Tema(s)
Ditadura e memória, Forças Armadas
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

Quando tudo lhes parecer incerto, lembrem-se das Forças Armadas (FAs). Como bem diz a história, elas sempre estarão prontas para defender a pátria e para garantir a nossa liberdade’, disse o presidente Bolsonaro em evento da Força Aérea Brasileira (FAB) [1]. A fala ocorre na cerimônia em homenagem ao Dia do Aviador e da FAB, em que foi feita a apresentação oficial do caça F-39 Gripen, desenvolvido conjuntamente pelo Brasil e Suécia no dia 23 de Outubro [2]. Vale lembrar que entre 1964 e 1985, as forças armadas estabeleceram um regime ditatorial no país [3] por meio de uma intervenção militar aclamada por movimentos como a ‘Marcha da Família com Deus pela liberdade’ [4]. E desde a redemocratização, as FAs apresentam ingerência constante na política brasileira. De acordo com dados recentes, o número de militares da ativa em funções de confiança no governo cresceu em 125% nos últimos 20 anos [veja aqui]. Além disso, Bolsonaro já negou a existência do golpe militar diversas vezes [veja aqui], ao qual se referiu como ‘dia da liberdade’ [veja aqui], bem como elogiou a conduta de torturador [veja aqui]. A fala também se dá em contexto de ameaças contra a oposição política e os outros poderes da República. No dia 13 de novembro, o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol afirmou que militares não querem fazer parte da política. No dia seguinte, Bolsonaro demonstrou apoio a fala do general e disse que as FAs devem se manter apartidárias sob a autoridade suprema do presidente da República [5]. Em 17 de junho, Bolsonaro disse que outros poderes estariam ‘abusando’ e que estaria ‘chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar’ [veja aqui]. No dia 12 de junho, o ministro-chefe da secretaria de Governo nega risco de golpe, mas diz para a oposição não ‘esticar a corda’ [veja aqui]. No mesmo dia, Bolsonaro assinou nota com vice-presidente e ministro da Defesa, defendendo que Forças Armadas ‘não cumprem ordens absurdas’ [veja aqui]. A nota cita decisão tomada por Luiz Fux, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a delimitação do poder das FAB destacando que elas não são poder moderador e não podem ser usadas contra os próprios poderes da República [veja aqui]. Vale ressaltar que o presidente afirmou que ‘algo muito grave’ estaria acontecendo com a democracia [veja aqui].

Leia análises sobre o discurso de Bolsonaro e sua relação com as Forças Armadas Brasileiras.

23 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Líder do governo na Câmara diz que Constituição deixa país ‘ingovernável’ e sugere plebiscito para nova constituinte

Tema(s)
Conflito de poderes, Ditadura e memória
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

Após a aprovação via plebiscito para elaboração de nova Consituição ao Chile, cuja carta data da ditadura de Pinochet [1], Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, diz que enviará projeto para realizar plebiscito sobre possibilidade de elaboração de nova Constituição [2]. Segundo ele, a Constituição Federal de 1988 torna o Brasil ‘ingovernável’, desequilibra a separação de poderes poderes e traz muitos direitos e poucos deveres [3]. Barros diz já ter texto pronto de decreto legislativo e que sua intenção inicial era que o plebiscito acontecesse durante as eleições municipais deste ano para, em 2022, instaurar uma Assembleia Constituinte [4]. Por falta de apoio, ele alega não ter conseguido por sua ideia em prática anteriormente, mas que agora teria o suporte de outras lideranças políticas [5]. Em reação, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emite parecer defendendo ser inconstitucional a realização de plebiscito para esse fim e sustenta que a proposta se mostra ‘inteiramente descabida e desconectada da nossa história constitucional e das reais necessidades do país no momento’ [6]. A OAB complementa no sentido de não ser possível comparar as experiências brasileira e chilena, pois enquanto a primeira teve uma nova Constituição (1988) elaborada após o fim da ditadura militar e transição para o regime democrático, o Chille manteria vigente a Constituição herdada do período militar [7]. A fala de Barros também sofreu críticas da Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas) [8], do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) [9], de políticos da oposição [10], e entidades da sociedade civil [11], que endossaram os argumentos apresentados pela OAB. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirma que a ideia de uma nova Assembleia Constituinte ‘não está na pauta do governo’ [12] e Barros, na sequência, diz que ‘errou’ ao não consultar a posição do governo Bolsonaro sobre a ideia do plebiscito [13].

Leia análise crítica às declarações de Barros, entenda o contexto político-jurídico da nova constituinte chilena e as diferenças para a realidade brasileira, e leia na íntegra o parecer da OAB em desfavor do plebiscito

26 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Polícia Federal intima advogado que criticou o presidente para depor em inquérito com base na LSN

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A Polícia Federal (PF) intima o advogado criminalista Marcelo Feller a depor em inquérito criminal instaurado a pedido do Ministro da Justiça, André Mendonça, com base na Lei de Segurança Nacional (LSN) [1]. O inquérito foi instaurado contra Feller em razão de críticas ao presidente Jair Bolsonaro em programa televisivo [2]. As declarações de Feller ocorreram em 13 de julho de 2020 durante ‘O Grande Debate’ da CNN Brasil, ocasião em que apresentou estudos científicos sobre a pandemia e afirmou que o presidente seria ‘responsável por pelo menos 10% das mortes por covid-19 no país’ [3]. O inquérito foi aberto pela PF em agosto de 2020 e foi fundamentado por Mendonça em artigo da LSN, que prevê sanção de até quatro anos de reclusão para pessoa que ‘caluniar ou difamar o presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal’ [4][5]. Em reação, a defesa de Feller argumenta que a investigação ‘revela a faceta opressiva contra a liberdade de expressão e crítica e, mais ainda, contra a liberdade de imprensa’, uma vez que Feller estaria no programa na ‘condição de debatedor’ [6][7]. A defesa do advogado também afirma que irá ajuizar habeas corpus para que a investigação seja paralisada [8]. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, também se manifesta contra a abertura do inquérito, que é vista como uma forma de ‘intimidar e tentar calar’ aqueles que apontam os erros do governo [9]. Em 21/01/2021, representante do Ministério Público Federal determina o arquivamento do inquérito por considerar que a utilização da LSN é inadequada, uma vez que a lei se reserva para casos extremos contra a segurança do Estado, devendo resguardar o direito à liberdade de expressão [10]. Esse é mais um caso em que a LSN – resquício da ditadura militar – é mobilizada por autoridades do Executivo contra pessoas críticas ao governo e a figura de Bolsonaro: em junho foram solicitados inquéritos com base na LSN contra colunista de jornal [veja aqui], contra jornalista e cartunista [veja aqui] [veja aqui] e em julho Ministro do STF também sofreu representação fundamentada na mesma lei [veja aqui]. Em 2019 e no primeiro semestre de 2020 foram registrados, respectivamente, 28 e 20 inquéritos abertos pela LSN [veja aqui] [veja aqui].

Veja linha do tempo sobre a história da Lei de Segurança Nacional e leia análises sobre a aplicação desta legislação e o direito constitucional a liberdade de imprensa.

02 dez 2020
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