Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro da Justiça determina abertura de inquérito contra cidadão por outdoors críticos

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O ministro da Justiça e Segurança Nacional, André Mendonça, requisita abertura de inquérito investigativo pela Polícia Federal (PF) contra o sociólogo Tiago Costa Rodrigues e contra o proprietário de uma empresa de outdoors Roberval Ferreira de Jesus por anúncios críticos ao presidente [1]. O propósito é investigar dois outdoors colocados em Palmas (TO); o primeiro deles estampando o rosto de Bolsonaro e comparando-o a um pequi roído: ‘Cabra à toa, não vale um pequi roído, Palmas quer impeachment já’; o outro outdoor também aludindo ao impeachment: ‘Aí mente! Vaza Bolsonaro, o Tocantins quer paz’ [2]. A averiguação requisitada por Mendonça é fundamentada na Lei de Segurança Nacional (LSN), e propõe que as mensagens expostas nas placas são crimes contra a honra do presidente [3]. A abertura do inquérito pela PF ocorre em 05/01/2021; entretanto, o caso começou ainda em agosto de 2020 mediante representação de um apoiador de Bolsonaro arquivada pela Polícia Federal e retomada por ondens de André Mendonça [4]. O caso ganha repercussão maior apenas em março de 2021, quando a mídia reporta os fatos e o sociólogo Thiago tem seu pedido para trancamento do inquérito, negado no Supremo Tribunal de Justiça [5]. O uso da Lei de Segurança Nacional, instrumento da ditadura militar, vem sendo crescente desde a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 [6]. A lei já foi aplicada pelo governo contra manifestantes [7], jornalistas [veja aqui] [veja aqui], advogados [veja aqui] e contra o ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal [veja aqui], além de fundamentar a prisão em flagrante de um jovem e intimar para depoimento outros seis por comentários no Twitter [veja aqui]. Em face do número crescente de investigações fundamentadas na LSN, requeridas por André Mendonça, a Procuradoria-Geral da União (PGR) pede esclarecimentos ao ex-ministro, sobre os inquéritos abertos com base no texto advindo da ditadura militar [8]. Mendonça é o favorito para ocupar uma vaga no STF em julho, mas suas estratégias de utilização da LSN para conter críticos, causam desgastes à imagem de André no Supremo Tribunal Federal [9].  Diante da alta de investigações pautadas na LSN, o Congresso resgata a possibilidade de revogação e mudança da lei [10]. Há também a criação do movimento de advogados ‘Cala-Boca Já Morreu’ [11], criado pelo influenciador Felipe Neto, também já intimado a depor por uma notícia-crime baseada na Lei de Segurança Nacional [veja aqui].

Leia a análise sobre a Lei de Segurança Nacional e como ela é um instrumento utilizado contra críticos ao governo e ouça o podcast que delimita seu alcance.

08 dez 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro desacredita tortura sofrida por Dilma Rousseff durante o regime militar

Tema(s)
Ditadura e memória, Negacionismo
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Em conversa com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro questiona a tortura sofrida pela ex-presidenta Dilma Rousseff durante a ditadura militar [1]. Em suas palavras, haveria rumores de que Dilma foi torturada, mas ninguém teria apresentado provas concretas disso: ‘traz o raio X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio X’ [2]. Presa em janeiro de 1970 por integrar a organização Vanguarda Armada Revolucionária Palmares na Operação Bandeirante, em Minas Gerais, ela teve um dente arrancado, foi amarrada em pau de arara e sofreu tortura psicológica também [3]. Por três anos, Rousseff permaneceu na prisão e já fez relatos a respeito [4] [5], contando também das sequelas que permanecem. Em reação, a ex-presidenta diz que Bolsonaro não tem sensibilidade perante a dor alheia e tem índole de torturador e comportamento de fascista [6]. Outros atores políticos se manifestaram em repúdio, como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia [7]. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que teve o próprio pai desaparecido na ditadura militar e foi igualmente descreditado por Bolsonaro [veja aqui], também criticou o presidente. Em agosto de 2019, o passado de Cruz também foi alvo de descrédito por Bolsonaro, que disse que poderia lhe contar como seu pai teria desaparecido na ditadura militar, apesar de não haver até hoje versão oficial sobre o episódio [veja aqui]. São comuns as manifestações do presidente de Bolsonaro e do governo em favor da ditadura e de descrédito às violações de direitos humanos. Ele já chamou tenente responsável pela repressão ditatorial de ‘herói nacional’ [veja aqui] e os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade de ‘balela’ [veja aqui], mudou integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos [veja aqui] – e, posteriormente, o governo federal mudou suas atribuições [veja aqui] – descreditou a tortura sofrida pela jornalista Miriam Leitão [veja aqui], e defendeu publicamente o golpe militar [veja aqui] e negou a existência da ditadura [veja aqui]. Além disso, exaltou o dia do golpe militar como ‘dia da liberdade’ [veja aqui]. O vice-presidente, Hamilton Mourão, também já publicou uma homenagem em sua rede social ao dia do golpe [veja aqui] e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, uma nota sobre ele ser um ‘marco para a democracia brasileira’ [veja aqui]. Já a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos alterou a Comissão de Anistia [veja aqui], criticou os trabalhos anteriores da Comissão [veja aqui] e anulou uma série de anistias políticas [veja aqui].

Leia sobre documentos que revelam as torturas sofridas pela ex-presidenta, seu relato pessoal sobre a tortura sofrida e como ela ainda sente as sequelas do ocorrido. Além disso, veja reportagem sobre o relatório da Comissão Nacional da Verdade e acesse-o na íntegra.

28 dez 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro elogia a ditadura militar e os presidentes da época

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

O presidente Jair Bolsonaro enaltece líderes militares que governaram o Brasil no período da ditadura civil militar (1964-1985) [1]. Bolsonaro se refere ao período ditatorial, marcado por torturas e graves violações aos direitos humanos, como uma ‘época um pouco diferente de hoje’, porém, de ‘muita responsabilidade com o futuro do país’ [2]. As declarações são feitas em evento na Base de lançamento de foguetes de Alcântara (MA), onde são entregues títulos de posse de terras à agricultores. Na ocasião, o presidente critica a ação de entidades que lutam pela reforma agrária, como o Movimento dos Sem Terra (MST) [3]. Há menos de um ano atrás, Bolsonaro reverenciou a ditadura militar dizendo que o dia do golpe de 31 de março de 1964 teria sido o ‘dia da liberdade’ [veja aqui]. O presidente também já defendeu o golpe militar, participando de passeatas antidemocráticas contra a Constituição federal e o Supremo Tribunal Federal [veja aqui]. Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CVM) [4] apurou violações de direitos humanos cometidos no período da ditadura e listou 434 pessoas entre mortos e desaparecidos em decorrência de ações do regime militar [5]. Da lista de 68 pedidos de impeachment que se acumulam contra Bolsonaro, pelo menos três são por envolvimento em atos antidemocráticos [6] [veja aqui]. Vale lembrar ainda que Bolsonaro é crítico constante ao MST, se referindo ao grupo como ‘terrorista’ [veja aqui] e que em março de 2020 a base de Alcântra foi palco de remoção de quilombolas durante a pandemia [veja aqui].

Leia reportagem sobre o contexto político e social da ditadura militar.

11 fev 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Procuradoria da Câmara dos Deputados requer prisão de apresentador com base na Lei de Segurança Nacional, por comentário no Twitter

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A Procuradoria Parlamentar da Câmara dos Deputados ajuíza ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra um tweet do apresentador Danilo Gentili [1]. Em uma publicação, Danilo afirma: ‘Eu só acreditaria que esse país tem jeito (…), se a população entrasse agora na Câmara e socasse todo deputado que está nesse momento discutindo a PEC de imunidade parlamentar (…)’ [2]. A PEC restringe as possibilidades de prisões de deputados e abranda a Lei da Ficha Limpa, a proposta não teve êxito entre os parlamentares e foi retirada da pauta na Câmara dos Deputados [3]. A ação ajuizada contra Gentili pede que ele seja preso em flagrante, com base na Lei de Segurança Nacional, já que a Câmara afirma que o tweet do apresentador promove discurso de ódio contra deputados [4]. Após a repercussão do caso, Danilo apagou a postagem e se retratou por meio de um tweet, no qual declara: ‘Eu fiz um tweet que foi alvo de justas críticas por alguns deputados. Quem me segue sabe que sempre defendi as instituições (…)’ [5]. A LSN é uma herança ditatorial que vem sendo usada com frequência pelo governo de Jair Bolsonaro; o número de procedimentos abertos baseados no texto aumentou 285% nos dois primeiros anos do governo atual [6]. A utilização da lei para silenciar críticas ao governo já incidiu sobre o influenciador Felipe Neto [veja aqui], o político Guilherme Boulos [veja aqui] e até sobre o ministro do STF Gilmar Mendes [veja aqui]. A Advocacia-Geral da União também já se manifestou a favor do uso da LSN pelo governo de Jair Bolsonaro [veja aqui]. Em 20/04, a Câmara dos Deputados aprova o requerimento que torna de urgência o projeto que visa substituir a Lei de Segurança Nacional pela Lei do Estado Democrático de Direito [7].

Leia sobre como a escalada de casos baseados na LSN pode indicar abusos e cerceamento de liberdades. Ouça sobre o contexto no qual a LSN foi criada durante a Ditadura Militar e as suas inconsistências.

02 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Youtuber é mais uma vez investigado com base na Lei de Segurança Nacional

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos
Estado
São Paulo

O youtuber Felipe Neto é intimado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro a prestar depoimento em investigação que o acusa de calúnia e de violação à Lei de Segurança Nacional (LSN) [1]. Essa é a segunda vez que Neto é investigado criminalmente com base na LSN: em setembro de 2020, deputado federal requereu abertura de inquérito contra o youtuber em razão dele ter apresentado posição contrária ao governo federal [veja aqui]. De acordo com Neto, a atual investigação apresenta motivação semelhante; a intimação ocorre após ele ter se referido ao presidente Jair Bolsonaro como ‘genocida’ pela sua má gestão durante a pandemia [2]. A investigação é classificada pelo influenciador digital como ‘tentativa de silenciamento’ e ‘intimidação’ [3]. O termo ‘genocídio’ já foi utilizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes em julho de 2020 para se referir a atuação das Forças Armadas na pandemia, declaração que gerou representação também fundamentada na LSN do Ministério da Defesa [veja aqui]. A investigação contra Neto se dá em um contexto de utilização recorde da LSN por autoridades do governo desde 2019 [veja aqui], tendo sido registrados casos contra opositores políticos [veja aqui], contra chargista e jornalistas [veja aqui], contra advogado criminalista que também criticou a gestão de Bolsonaro [veja aqui] e ameaças a servidores do governo [veja aqui], totalizando 51 procedimentos investigatórios só em 2020 [4]. Além disso, o Procurador Geral da República aponta que a Polícia Civil não seria competente para abrir inquérito com base na LSN, uma vez que a utilização desta legislação é de atribuição exclusivamente federal [5]. Juristas também consideram que a fala de Neto não cumpre os requisitos objetivos da LSN e não apresenta potencial ofensivo à segurança nacional [6]. Em reação ao caso, é iniciada mobilização virtual com o uso da hashtag #BolsonaroGenocida [7]. Três dias depois, em decisão liminar, juíza suspende o inquérito contra Neto e fundamenta sua decisão com base na incompetência da Polícia Civil para iniciá-lo [8] [9]. No mesmo dia, o youtuber anuncia a criação da iniciativa ‘Cala boca já morreu’, frente de advogados voltada a defender gratuitamente pessoas que forem processadas por criticar o presidente ou qualquer autoridade pública [10].

Veja linha do tempo sobre a história da Lei de Segurança Nacional e ouça podcast sobre a aplicação da LSN no caso de Felipe Neto.

15 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Judiciário
Nível
Federal

Tribunal permite comemoração do golpe militar na página institucional do Ministério da Defesa

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Rio Grande do Norte

O Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) derruba decisão que impedia o governo federal de celebrar o golpe militar de 1964, através de nota publicada no site do Ministério da Defesa [1]. Por quatro votos a um, os desembargadores cassam liminar que determinava a retirada da nota do site, publicada em março de 2020 [2]. A proibição havia sido determinada em abril do ano passado quando a juíza Moniky Fonseca da 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte acatou o pedido da ação popular movida pela deputada federal Natalia Bonavides (PT-RN), o que, no entanto, foi revertido no Supremo Tribunal Federal pelo seu presidente à época, Dias Toffoli [veja aqui]. Na ação, a deputada argumenta que a comemoração do golpe militar configura ‘uso do aparato público para tentar legitimar o golpe’, o que vai contra a Constituição Federal de 1988 e o estado democrático de direito [3]. Na decisão, Fonseca havia proibido a União de publicar qualquer anúncio comemorativo relativo ao golpe mIlitar [4]. O governo federal recorreu da decisão da juíza e, nesta data, – quase um ano depois – o colegiado do TRF-5 acolhe os argumentos da União pedindo que a proibição da comemoração fosse revogada [5]. O desembargador federal Rogério Moreira, relator do caso, defende que a nota comemorativa sobre o golpe ‘não ofende os postulados do estado democrático de direito nem os valores constitucionais da separação dos poderes ou da liberdade’ [6]. A deputada Natalia Bonavides se manifesta afirmando que a decisão do TRF-5 é ‘inadmissível e incompatível com os parâmetros constitucionais’ e afirma que recorrerá da decisão [7]. Dias depois dessa decisão, o ministério da Defesa faz outra nota para celebrar os 57 anos do golpe militar, negando caracterizá-lo como tal [veja aqui]. Não só em 2020 [veja aqui], mas também em 2019, o governo também determinou ‘comemorações devidas’ ao golpe [veja aqui], o que foi revertido em primeira instância na justiça, mas acabou sendo invalidado em segunda instância a pedido da Advocacia-Geral da União [8].

17 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

PM prende manifestantes com faixa ‘Bolsonaro genocida’ sob acusação de violação da LSN

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A Polícia Militar (PM) do Distrito Federal prende cinco manifestantes que estavam em frente ao Palácio do Planalto com uma faixa que associava o presidente Jair Bolsonaro à suástica nazista e o chamava de ‘genocida’ [1]. Os manifestantes são conduzidos para uma delegacia da Polícia Federal (PF) porque foram enquadrados pela PM na Lei de Segurança Nacional (LSN), que tem alcance federal e é proveniente da Ditadura Militar [2]. Após colher os depoimentos, porém, a PF entende que não houve crime, libera quatro manifestantes e mantém um preso por haver um mandado de prisão anterior [3]. A LSN tem sido bastante utilizada para reprimir críticos do governo: houve um aumento de 285% no número de procedimentos pautados na lei desde a eleição de Jair Bolsonaro [4]. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) defende como agressiva a prisão dos manifestantes e declara que a LSN está sendo utilizada para silenciar opositores [5]. O Ministério Público emite uma nota contrária à ação da PM-DF em prender os cincos manifestantes e recomenda que não haja prisões de manifestantes pacíficos fundamentadas na LSN [6]. Já houve em outras oportunidades a utilização da LSN para coibir manifestações que chamavam Bolsonaro de ‘genocida’, como a investigação de outdoors com mensagens críticas ao governo [veja aqui], a abertura de inquérito contra o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes [veja aqui] e contra o influenciador digital Felipe Neto [veja aqui]. A Defensoria Pública da União e um grupo de nove advogados acionaram o STF para que os inquéritos pautados na Lei de Segurança Nacional sejam finalizados sob a argumentação da livre manifestação [7]. Felipe Neto, inclusive, cria o projeto ‘Cala-Boca Já Morreu’, para prestar assistencia jurídica gratuita em favor de pessoas que estão sendo investigadas por criticar o governo de Jair Bolsonaro [8].

Leia sobre como o uso indiscriminado da LSN pode indicar uma violação ao direito de livre manifestação e como ela é um instrumento de intimidação e silenciamento de opositores utilizado pelo governo atual.

18 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Polícia Federal intima 25 pessoas críticas a Bolsonaro para depor em Uberlândia

Tema(s)
Ditadura e memória, Imprensa, Posicionamento político, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos
Estado
Minas Gerais

A Polícia Federal (PF) de Minas Gerais (MG) intima cerca de 25 pessoas a depor por postagens críticas ao presidente Jair Bolsonaro [1]. As postagens foram feitas em resposta a publicação realizada por jovem de 24 anos, detido em sua casa horas depois de publicar uma mensagem contra o presidente [veja aqui]. Segundo a PF, o Ministério da Justiça e Segurança Pública é responsável pela abertura do inquérito [2]. O Advogado José Carlos Muniz monta um grupo de advogados para auxiliar na defesa dessas pessoas [3] e afirma que a maioria é jovem e estudante, que receberam a intimação por telefone, e que não se sabe o total conteúdo de inquérito [4]. A medida se assemelha a uma série de investigações abertas com base na Lei de Segurança Nacional (LSN), resquício da ditadura militar [5], que aumentaram 285% desde a eleição de Jair Bolsonaro [6]. A constitucionalidade da LSN está sendo contestada no Supremo Tribunal Federal (STF) e a advocacia Geral da União (AGU) defende o uso da lei [veja aqui]. Especialistas ressaltam que a lei tem sido usada para silenciar opositores [7], como ocorreu em outros casos recentes: a prisão de cinco manifestantes em março [veja aqui], investigação de outdoors que chamavam o presidente de ‘genocida’ [veja aqui] ou o apresentavam como inimigo da educação e do povo [veja aqui], a intimação de um advogado criminalista [veja aqui], a abertura de inquérito para investigar a conduta de influenciadores digitais e políticos [veja aqui], contra o ministro Gilmar Mendes (STF) [veja aqui], contra um jornalista da folha [veja aqui], além da abertura de uma ação sigilosa contra 579 pessoas consideradas antifascistas [veja aqui].

Veja a linha do tempo da Lei de Segurança Nacional, leia análises sobre como ela ressurgiu no governo Bolsonaro, sobre como seu uso pode indicar abuso do Estado e sobre como uma lei da ditadura vive na democracia.

18 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Advocacia-Geral da União se manifesta em prol da Lei de Segurança Nacional no STF

Tema(s)
Ditadura e memória, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A Advocacia-Geral da União (AGU) encaminha manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF) defendendo o uso da Lei de Segurança Nacional (LSN) pelo governo atual [1]. A utilização da legislação proveniente da ditadura militar, frequentemente usada para combater críticos ao governo, é objeto de quatro ações analisadas pelo STF, com o intuito de tornar inconstitucional a aplicação da lei [2]. A AGU se manifesta após um pedido de derrubada parcial do texto normativo no STF, pelo Partido Trabalhador Brasileiro (PTB), sobre o caso Daniel Silveira [3], que foi preso com base na lei por ameaçar ministros e exaltar o Ato Institucional número 5 (AI-5) [veja aqui]. O órgão interpreta que a LSN respeita os direitos fundamentais e as liberdades constitucionais [4]. Também argumenta que a lei é um instrumento de defesa do Estado Democrático de Direito e deve ser utilizado de maneira econômica e restrita a atos tipificados no texto [5]. A despeito da manifestação da AGU, autoridades federais como o ministro da Justiça tem usado com bastante frequência a LSN para fundamentar investigações contra opositores ao governo [veja aqui], como jornalistas [veja aqui] [veja aqui], manifestantes [veja aqui] e servidores [veja aqui]. A manifestação da AGU em defesa da LSN vai em sentido contrario ao da corrente dominante na atualidade, visto que diante do uso indiscriminado da LSN para conter críticos do governo, os juristas reconhecem que há inúmeros fatores controversos no texto legal. Quais sejam: a imprecisão dos termos da lei, a desatualização contra possíveis ataques a segurança nacional na atualidade e o caráter autoritário decorrente da transformação de crimes comuns em crimes de segurança nacional [6]. No Congresso Nacional, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirma que a substituição da LSN por outra legislação chamada por ele de ‘nova lei do Estado Democrático de Direito’, é um prioridade e vai sugerir urgência para votação [7].

Leia a análise sobre qual o propósito da LSN e veja também linha do tempo sobre o histórico da lei.

24 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Em mais um ano, o ministro da Defesa assina nota de comemoração do golpe militar como parte importante da história brasileira

Tema(s)
Ditadura e memória, Forças Armadas, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Como em anos anteriores [veja aqui] [veja aqui], o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, em nota oficial do ministério [1] determina celebrações ao golpe militar de 1964, instaurado na mesma data há 57 anos, como parte da ‘trajetória histórica do Brasil’ [2]. O texto se baseia na visão de que o golpe auxiliou na pacificação do país e reorganização das liberdades democráticas [3]. Braga Netto também ressalta seu apoio a Lei da Anistia, instrumento que beneficiou os cidadãos que cometeram crimes políticos, eleitorais e de motivação política durante a vigência da ditadura militar [4]. Outros aliados do governo também comemoram o fato, nas redes sociais o vice presidente Hamilton Mourão elogia o golpe de 1964 por barrar a ascensão do ‘Movimento Comunista’ [5], a despeito de já ser comprovado que não havia ameaça comunista no período [6]. O deputado estadual Eduardo Bolsonaro (PSL) também exalta os 57 anos do início da ditadura militar como um golpe baseado na lei, na vontade popular e em prol da democracia [7]. Vale lembrar que o período foi marcado por desaparecimentos forçados, perseguições, torturas e ausência de eleições diretas. A celebração recebe aval da Justiça para comemoração do golpe sobre a justificativa de ser um ‘marco democrático’ [veja aqui]. O enaltecimento do golpe de 1964 ocorre dias depois de crise militar com a saída dos três comandantes das Forças Armadas (FA), somado ao pedido de demissão do antigo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, por divergências com Bolsonaro [veja aqui]. Em meio aos acontecimentos, o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e outros generais afirmam que as FA prezam pela democracia e não serão fatores de instabilidade [8]. Durante o dia, a hashtag #DitaduraNuncaMais é destaque nas publicações como forma de defender o regime democrático e barrar retrocessos contrários às liberdades e garantias constitucionais [9]. Juristas e figuras políticas se opõem à celebração do golpe militar, como os ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes [10] e Luís Roberto Barroso [11] e a ex-senadora e ativista Marina Silva [12].

Leia sobre a inconstitucionalidade do golpe militar de 1964, entenda que o passado ditatorial não deve ser exaltado e veja análise dos atos autoritários contra a liberdade acadêmica durante a ditadura.

31 mar 2021
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