O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirma em evento que seguir a Constituição, por vezes, o ‘embrulha o estômago’, mas promete que ele e seus aliados irão respeitá-la [1]. A seguir, Bolsonaro cita Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi durante o regime militar, e se refere a ele como um ‘velho amigo’ [2]. Essas falas são feitas durante um evento de pré-candidatura de Bolsonaro à presidência nas eleições de 2022, o que fere a lei eleitoral [3] [4]. Para tentar contornar a proibição, a equipe do presidente divulgou o evento como de filiação ao partido. O presidente também afirma que seu governo estaria há três anos sem problemas com corrupção e que opositores do governo buscam ‘qualquer gota d’água para transformar em tsunami’ [5]. Vale lembrar que na semana anterior, o ministro da educação, Milton Ribeiro, foi acusado de desviar verbas da pasta para favorecer pastores evangélicos, seguindo um suposto pedido do presidente [6]. É importante recordar que Bolsonaro já havia atacado a Constituição. Em agosto de 2021, o presidente ameaçou atuar fora das 4 linhas da Carta como reação a investigações no Supremo Tribunal Federal [veja aqui].
O ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, assina Ordem do Dia que faz referência ao golpe militar de 1964 como ‘Movimento de 31 de março de 1964’ e como ‘um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época’ [1]. O texto diz que ‘os anos seguintes a 1964 foram de estabilidade, segurança, crescimento econômico e amadurecimento político’ [2]. A redação também diz que o golpe, lido como movimento salvador, impediu que o país tivesse um regime totalitário comunista e que deixou à nação ‘um legado de paz, de liberdade e de democracia’ [3]. O período da ditadura militar fechou o Congresso, cassou habeas corpus e censurou as artes e a imprensa [4], onde houve manipulação da coleta de informações econômicas além de mortes e desaparecimentos durante o regime, reconhecidos pelas próprias Forças Armadas em 2014, em ofício encaminhado à Comissão Nacional da Verdade (CNV) [5]. A Ordem do Dia, às vésperas do aniversário do golpe do dia 31 de março, se tornou uma tradição desde 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro [6], ano em que o golpe completou 55 anos e o presidente afirmou que não houve ditadura no Brasil, determinando que ‘comemorações devidas’ à data fossem feitas [veja aqui].
Veja mais sobre como o governo Bolsonaro defende o golpe e o regime militar que o sucede
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) debocha de tortura sofrida por Míriam Leitão, na época grávida, durante ditadura militar no Brasil, em que após ser presa foi deixada em uma sala escura com uma cobra [1]. A jornalista fez uma postagem em suas redes sociais, compartilhando uma coluna em que diz que Jair Bolsonaro é inimigo da democracia [2] e o parlamentar recompartilha ironizando a agressão sofrida por Míriam: ‘ainda com pena da [emoji de cobra]’, comenta [3]. Essa frase já havia sido usada antes pelo pai do deputado, Jair Bolsonaro, em 2017, em uma entrevista concedida ao filho da jornalista, Matheus Leitão, onde Jair também se referiu à expressão ‘coitada da cobra’ [4]. A jornalista já foi alvo de ataque da família Bolsonaro, como em 2019, quando o presidente da República minimizou seu relato de tortura à imprensa estrangeira, dizendo que abuso na ditadura militar é ‘um drama todo, mentiroso’ [veja aqui]. O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu processo para apurar a postura do deputado, a pedido de partidos da oposição [5]. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) condena a atitude e diz que causa indignação não só no meio jornalístico como no econômico e no político [6]. A postura do governo Bolsonaro perante a minimização da tortura na ditadura já é conhecida, como em dezembro de 2020 onde em conversa com apoiadores questionou a violência sofrida pela ex-presidenta Dilma Rousseff, a qual teve dente arrancado, foi pendurada em pau de arara e sofreu tortura psicológica [veja aqui]. O presidente também já enalteceu o período e militares da época, que cometeram infrações aos direitos humanos, em outros momentos [veja aqui].
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Áudios inéditos revelam juízes, militares e até vítimas falando abertamente sobre as torturas que ocorreram na ditadura militar e vice-presidente, Hamilton Mourão, despreza possível investigação sobre os fatos [1]. Mourão opina sobre o caso à imprensa: ‘Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. Vai trazer os caras do túmulo de volta?’, em tom de escárnio [2]. As gravações são de sessões do Superior Tribunal de Militar (STM) que ocorreram no período de 1975 a 1985 [3]. Os áudios são apenas parte de mais de 10 mil horas de sessões do STM, obtidas pelo advogado Fernando Augusto Fernandes, após 20 anos de recusa do STM em divulgar o material [4]. O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que, em 2017, decidiu em favor da divulgação irrestrita dos áudios, o que inclui as sessões secretas que não se enquadrem nas hipóteses legais de sigilo [5]. O material foi digitalizado e está em processo de transcrição pelo projeto ‘Voz humana’, de parceria de Fernandes com professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a editora Geração [6]. A Comissão de Direitos Humanos do Senado solicita as gravações na íntegra ao STM para investigá-las [7]. O senador Humberto Costa (PT-PE) diz: ‘A partir da divulgação desses dados sensíveis, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado vai promover uma devassa, uma rigorosa investigação sobre esses arquivos. Precisamos passar o Brasil a limpo. Urgentemente’ [8]. O descaso de Mourão com os áudios se soma a um histórico de elogios à ditadura e torturadores feitos pelo vice [veja aqui] [veja aqui].
Ouça áudios de parte das sessões do STM e vídeo de laçamento do projeto ‘Voz humana’. Confira também outros episódios em que Bolsonaro e políticos de sua base fizeram apologia à ditadura.
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos), chama golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil em 1964 de ‘revolução democrática’ [1]. Em seu perfil na rede social Twitter, o presidente publica uma homenagem ao Dia do Exército, onde afirma que ‘a Revolução Democrática de 1964, até os dias atuais, preserva a soberania e contribui com o Brasil’ [2]. A ditadura militar no Brasil durou de 1964 a 1985, período em que o Estado perseguiu, torturou e assassinou opositores do regime de governo [3]. Durante a ditadura militar, o Congresso Nacional foi fechado e imprensa e artistas não podiam expressarem-se contrário ao regime, devido à censura [4]. No período, os brasileiros permaneceram mais de 20 anos sem poder votar para presidente da República [5]. Em 2020, Mourão elogiou, durante entrevista, um torturador da ditadura militar [veja aqui] e fez homenagem ao golpe militar de 1964 na mesma rede social [veja aqui] [6]. Na mesma linha que o vice-presidente, membros do governo federal vêm defendendo o período da ditadura militar, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, que solicitou a troca da palavra ‘golpe’ por ‘revolução’ para se referir ao marco inicial da ditadura no Enem de 2021 [veja aqui].
Leia sobre as declarações de Mourão em defesa da ditadura
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, associa à liberdade de expressão cartazes apresentados em manifestações do Dia do Trabalhador [veja aqui], os quais pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e a volta da ditadura no país [1]. Segundo Mourão, ‘tem gente que quer isso, mas a imensa maioria do povo não quer. Então, pronto, normal’ [2]. Nas manifestações, também havia cartazes que criticavam ministros do STF e se referiam à Corte como ‘vergonha nacional’ [3], além de demonstrações de apoio ao deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo STF por ameaças aos ministros e por incentivar ações que impediriam o livre exercício dos Poderes [4][veja aqui]. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chama de ‘ilegítimas e antidemocráticas’ as manifestações a favor da intervenção militar e do fechamento do STF e as classifica como ‘anomalias graves que não cabem em tempo algum’ [5]. O presidente da República, Jair Bolsonaro, também já associou manifestações similares com a liberdade de expressão [veja aqui].
Leia mais sobre as repercussões legais de pedidos de fechamento do Congresso e do STF e sua relação com a liberdade de expressão
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, o assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Planalto, Eduardo Villas Bôas, e o chefe do Estado-maior do Exército, Valério Stumpf Trindade, todos generais do Exército, participam do lançamento do documento ‘Projeto de Nação – O Brasil em 2035’, produzido por militares [1]. O documento critica o ‘globalismo’, ideia que diz que a soberania dos Estados está ameaçada por organismos internacionais e ONGs que impõem suas decisões a países, além de defender a exploração da Amazônia, pregar o agronegócio como ‘sustentáculo’ da economia do país, advogar pela ideia da ‘escola sem partido’, bem como pela cobrança de taxas nas universidades e na saúde públicas, criticar o ‘ativismo judicial’, elogiar as lideranças de extrema direita e defender o neoliberalismo econômico [2]. O relatório ainda identifica a maioria dos brasileiros como ‘conservadores evolucionistas’ e ‘liberais’ [3]. Os discursos realizados no evento revelam que a elaboração do documento contou com participação dos ministérios do governo e que ele ‘teve apoio de nosso vice-presidente para nós podermos tocar a pesquisa’, bem como que o relatório ‘já foi disponibilizado ao governo, porque ele é o único ente que pode tocar esse projeto para frente’ [4]. O conteúdo do texto é associado a ideias de Olavo de Carvalho e está alinhada com o conteúdo ideológico do presidente Jair Bolsonaro [5]. Vale lembrar que Mourão já se referiu ao golpe militar de 64 como ‘revolução democrática’ [veja aqui] e associou à liberdade de expressão pedidos de fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e a volta da ditadura no país [veja aqui], além disso Bolsonaro é responsável por falas que usam as Forças Armadas como artifício para ameaçar a democracia, o Supremo Tribunal Federal e o sistema eleitoral [veja aqui].
Veja íntegra do manifesto militar e leia análise sobre o documento
O presidente da República, Jair Bolsonaro, admite que aconteceu ‘coisa errada’ durante a Ditadura Militar, mas não fala sobre as pessoas que foram mortas e gravemente torturadas pelo regime [1]. Em entrevista a um canal do Youtube, o presidente diz: ‘teve coisa errada? Ninguém vai negar que teve. Cascudo, tapa ou afogamento, ninguém vai negar que teve isso. Mas do lado de cá nós sofremos também’ [2]. Bolsonaro é apoiador da ditadura [3], o que ficou demonstrado em outras ocasiões, como quando mudou os integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, justificando que ‘mudou o presidente, agora é o Jair Bolsonaro, de direita. Ponto final’ [veja aqui]. A mesma demonstração ocorreu também quando o presidente elogiou, em viagem ao Paraguai, o ditador Alfredo Stroessner, além dos generais que presidiam o Brasil durante a ditadura [veja aqui]; bem como quando determinou que a data do golpe militar no Brasil seja ‘devidamente comemorada’ [veja aqui]; e quando chamou o coronel Carlos Brilhante Ustra, chefe do departamento de repressão política da ditadura brasileira, DOI-CODI, de ‘herói nacional’. Ustra foi responsável pela morte de pelo menos 45 pessoas e pela tortura sofrida pela ex-presidente Dilma Rousseff [veja aqui].
Veja vídeos em que Bolsonaro realiza falas contrárias aos Direitos Humanos
Jair Bolsonaro (PL), presidente da República, descumpre ordens das autoridades competentes e ordena ao Exército que cadastre caminhoneiros para que participem, com os seus veículos, no ato da Esplanada dos Ministérios no 7 de setembro [1]. No dia anterior às comemorações da Independência, militares, cumprindo ordens de Bolsonaro, cadastram cerca de 60 veículos de apoiadores do presidente [2]. O governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha (MDB), diz à imprensa que a entrada não será autorizada: ‘Não vai entrar [nenhum caminhão. A segurança é do Governo do Distrito Federal. Eles só vão entrar se for por ato de força, o que não vamos permitir’ e continua ‘só vão entrar pessoas, como estava definido’ [3]. O governador, favorável à reeleição do presidente [4], explica que a segurança para os atos de 7 de setembro já havia sido combinada com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) [5]. Servidores das forças de segurança afirmam que mais de 10 caminhões tentaram adentrar na Esplanada, mas foram interrompidos [6]. Vale lembrar que o 7 de setembro tem sido um dia estratégico para o presidente e seus apoiadores defenderem suas pautas. Durante o mandato, o chefe do Executivo, em 2020, exaltou o golpe militar em pronunciamento na cerimônia oficial no Palácio da Alvorada [veja aqui]. Nos atos de 7 de setembro de 2021, Bolsonaro radicalizou o discurso do ano anterior e proferiu ataques ao sistema judiciário e eleitoral, o presidente falou em desobedecer decisões da Justiça e chama o TSE de ‘farsa’, dentre outras ameaças golpistas [veja aqui]. Em 2021, somaram-se às falas de Bolsonaro protestos de teor antidemocrático que resultaram em invasões no Ministério da Saúde [7] e fechamento de rodovias por caminhoneiros [8].
Leia mais sobre como os atos de 7 de setembro impactam no futuro político de Bolsonaro e veja análise sobre a relação entre caminhoneiros e a base eleitoral bolsonarista
Em pronunciamento no Palácio do Planalto, antes do desfile cívico-militar do bicentenário da Independência, Bolsonaro diz que ‘a história pode se repetir’ após citar anos em que o país passou por tensões ou rupturas democráticas, como na ditadura militar [1]. Em suas palavras: ‘Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 65, 64, 16, 18 e, agora, 22. A história pode se repetir. O bem sempre venceu o mal’ [2]. O presidente se refere aos anos em que ocorreu a revolta tenentista, a intentona comunista, o golpe militar, o impeachment de Dilma Rousseff, às eleições pelas quais se tornou presidente e, por fim, o ano atual, 2022 [3]. O vídeo foi compartilhado pelo senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em suas redes sociais [4]. Vale lembrar outras ocasiões em que o presidente fez discursos em defesa da ditadura [veja aqui] [veja aqui], homenageou ditadores [veja aqui] [veja aqui], ameaçou utilizar as forças armadas para manter a ordem [veja aqui] e desafiou a Constituição e instituições democráticas [veja aqui] [veja aqui].