O presidente Jair Bolsonaro troca seis ministros do governo [1], em meio a pressões do centrão [2] e a tentativas de institucionalização das Forças Armadas (FAs) [3]. Na Casa Civil, ele realiza a substituição de Walter Braga Netto por Luiz Eduardo Ramos, que ocupava a Secretaria de Governo, que passa a ser chefiada pela deputada federal Flavia Arruda (PL-DF) [4]. A nomeação da deputada para a pasta expõe a tentativa de Bolsonaro em agradar o ‘centrão’, bloco de parlamentares que tem atuado como principal base de apoio do governo no Congresso Nacional (CN) [5]. A escolha de Arruda ocorre dias depois do presidente da Câmara dos Deputados e líder do centrão na casa, Arthur Lira (PP-AL), afirmar que o governo federal deve sanar os erros e anomalias para evitar a instauração de ‘remédios políticos amargos’ [6]. O ministério das Relações Exteriores também é afetado com as trocas, Ernesto Araújo é exonerado do cargo de chefia e para tal posto é nomeado Carlos Alberto Franco França [7]. A troca ocorre em meio a pressões de parlamentares do centrão para saída de Araújo do posto, diante da sua atuação disfuncional no cenário internacional [8]. As substituições no alto escalão do governo também alcançam a Advocacia-Geral da União (AGU), que volta a ser representada por André Mendonça, antes ministro da Justiça e Segurança Pública, cargo agora ocupado pelo delegado federal Anderson Gustavo Torres [9]. O novo detentor da pasta da Justiça e Segurança Pública no governo é ligado a bancada da bala, grupo parlamentar defensor de políticas armamentistas [10] e amigo íntimo do deputado federal Flavio Bolsonaro (PSL), filho de Jair Bolsonaro [11]. O ministério da Defesa passa a ser dirigido por Braga Netto, após a demissão de Fernando Azevedo e Silva [12]. Segundo apurações da imprensa, a troca do ex-ministro da Defesa decorre de insatisfações de Jair Bolsonaro quanto a recusa de Azevedo em alinhar as FAs às convicções do governo federal [veja aqui]. Os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, em reação a demissão de Azevedo e em oposição as tentativas de Bolsonaro em politizar as FAs, colocam seus cargos à disposição e dão início a uma crise militar sem precedentes no Brasil [veja aqui].
Leia sobre as trocas ministeriais em meio à maior crise militar da história e a busca de Jair Bolsonaro por fidelização no centrão, entenda o perfil do novo ministro da Justiça e Segurança Pública e como Ernesto Araújo tornou o Brasil uma pária internacional. Ouça sobre como a nomeação de Flavia Arruda é uma respostas as pressões sobre o presidente da República.
Comandantes das Forças Armadas (FAs), general Edson Pujol, almirante de esquadra Ilques Barbosa e tenente-brigadeiro Antônio Carlos Bermudez, entregam seus cargos [1] após a demissão sumária do ministro da Defesa, Fernando Azevedo [2]. Segundo apuração da imprensa, a troca de ministro se deu pela insatisfação de Jair Bolsonaro com a recusa de Azevedo em prestar apoio e alinhar as FAs aos ideais políticos do governo [3]. Azevedo é a decima sétima substituição ministerial e em seu lugar assume Walter Braga Netto, até então chefe da Casa Civil [4]. Depois do anúncio da saída de Azevedo, outros seis ministros foram substituídos [veja aqui]. O ex-ministro informou a demissão em nota oficial e destacou que tentou preservar as FAs como instituições de Estado – e não como instituições do governo [5]. A entrega de cargos dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica é um evento sem precedentes e se fundamenta na recusa em demonstrar apoio a Jair Bolsonaro e a ceder às pressões para politização das FAs [6]. Dentre os três comandantes, a demissão de Pujol já era esperada, visto que suas manifestações de apoio as orientações sanitárias no combate a covid-19 [7] e declarações de que os militares não querem fazer parte da política [veja aqui], desagradavam o presidente da República [8]. Mesmo com a ausência de fidelização das FAs aos projetos de governo, Bolsonaro já se referiu ao Exército como ‘seu’ [9]. O imbróglio entre o governo e as FAs ocorre na véspera dos 57 anos do golpe de 1964 [veja aqui], data anteriormente denominada por Bolsonaro como ‘dia da liberdade’ [veja aqui]. Diante da mudança no comando das FAs, a oposição protocola denúncia de impeachment contra o presidente, sob fundamento de que a troca dos comandantes foi por interesses pessoais e que Jair tenta se apoderar das FAs como instrumentos de governo [10]. Conforme apuração jornalística, com as trocas o Alto Comando das Forças Armadas pretende enviar recado a Bolsonaro, afirmando que não vão apoiar e nem tolerar que as forças militares sejam utilizadas em prol de ‘uma aventura’ [11]. Em meio a maior crise militar, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio, afirma que as FAs não servem para dar apoio ao governo porque são instituições de Estado e que não há a mínima possibilidade de um golpe, visto que o Estado de Direito veio para ficar [12]. Braga Netto já anunciou novos nomes para o comando do Exército, Marinha e Aeronáutica,quais sejam, o general Paulo Sergio Nogueira, o almirante de esquadra Almir Garnier Santos e o tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Batista Junior, as escolhas respeitam o critério de antiguidade das instituições [13].
Leia sobre quais os limites constitucionais das Forças Armadas e porque é tão importante que ela seja neutra politicamente e ouça sobre os riscos de uma ruptura entre a ala militar e o governo Jair Bolsonaro.
Como em anos anteriores [veja aqui] [veja aqui], o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, em nota oficial do ministério [1] determina celebrações ao golpe militar de 1964, instaurado na mesma data há 57 anos, como parte da ‘trajetória histórica do Brasil’ [2]. O texto se baseia na visão de que o golpe auxiliou na pacificação do país e reorganização das liberdades democráticas [3]. Braga Netto também ressalta seu apoio a Lei da Anistia, instrumento que beneficiou os cidadãos que cometeram crimes políticos, eleitorais e de motivação política durante a vigência da ditadura militar [4]. Outros aliados do governo também comemoram o fato, nas redes sociais o vice presidente Hamilton Mourão elogia o golpe de 1964 por barrar a ascensão do ‘Movimento Comunista’ [5], a despeito de já ser comprovado que não havia ameaça comunista no período [6]. O deputado estadual Eduardo Bolsonaro (PSL) também exalta os 57 anos do início da ditadura militar como um golpe baseado na lei, na vontade popular e em prol da democracia [7]. Vale lembrar que o período foi marcado por desaparecimentos forçados, perseguições, torturas e ausência de eleições diretas. A celebração recebe aval da Justiça para comemoração do golpe sobre a justificativa de ser um ‘marco democrático’ [veja aqui]. O enaltecimento do golpe de 1964 ocorre dias depois de crise militar com a saída dos três comandantes das Forças Armadas (FA), somado ao pedido de demissão do antigo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, por divergências com Bolsonaro [veja aqui]. Em meio aos acontecimentos, o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e outros generais afirmam que as FA prezam pela democracia e não serão fatores de instabilidade [8]. Durante o dia, a hashtag #DitaduraNuncaMais é destaque nas publicações como forma de defender o regime democrático e barrar retrocessos contrários às liberdades e garantias constitucionais [9]. Juristas e figuras políticas se opõem à celebração do golpe militar, como os ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes [10] e Luís Roberto Barroso [11] e a ex-senadora e ativista Marina Silva [12].
Leia sobre a inconstitucionalidade do golpe militar de 1964, entenda que o passado ditatorial não deve ser exaltado e veja análise dos atos autoritários contra a liberdade acadêmica durante a ditadura.
Os hospitais das Forças Armadas (HFAs) dão preferência para atendimentos de militares e têm 85% dos leitos ociosos em enfermarias e UTIs [1], a despeito de o Brasil enfrentar o pior período da pandemia [2] e ter taxa de ocupação de leitos de UTI em estágio crítico [3]. A constatação de que os HFAs não estão atendendo civis e tem leitos desocupados se dá após a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) pela abertura dos dados nos hospitais militares, e foi revelada pela imprensa nesta data [4]. O relator do processo afirma que os HFAs dependem de estruturas físicas e dinheiro da União para seu funcionamento e por isso é impensável haver distinção entre pacientes e consequentemente reserva de vagas para militares, além de contrariar o princípio da dignidade da pessoa humana [5]. Ele também ressalta que diante da falta de leitos para internação de pacientes acometidos por covid-19 é necessário que todos os meios disponíveis estejam aptos a atender a população [6]. O Exército e a Marinha afirmam para a imprensa que nos HFAs há apenas atendimento de militares, servidores civis do Ministério da Defesa, presidente da República, Vice-presidente e ministros de Estado [7]. Mas o Ministério da Defesa, por meio de nota, declara que a informação sobre ociosidade dos leitos e reserva para militares contém graves manipulações, incorreções, omissões e inverdades [8], que a grande maioria de hospitais militares estão com leitos ocupados e que desde o início da pandemia as FAs estão focadas em apoiar e ajudar a população brasileira, sem distinção entre civis ou militares [9]. Durante votação de proposta para solicitar a cessão de 50% dos leitos militares para o Sistema Único de Saúde (SUS), que ensejou a solicitação de abertura dos dados completos sobre o tema, o ministro do TCU Jorge Oliveira, indicado por Jair Bolsonaro afirma que a cessão geraria um comprometimento da segurança militar [10]. Em 07/03, a Defensoria Pública da União (DPU) ajuíza ação na Justiça Federal do Distrito Federal para que três hospitais das Forças Armadas, Força Aérea e Naval de Brasília estejam disponíveis para pacientes civis acometidos pela covid-19 [11]. Vale lembrar que em 2020 o governo não gastou integralmente os valores destinados ao combate a pandemia da covid-19 [veja aqui] e esse ano o Ministério da Saúde reduziu os recursos destinados a leitos de UTI da rede pública [veja aqui].
Leia sobre a dualidade dos hospitais das Forças Armadas, que são estruturados e subsidiados pela União mas só atendem militares.
O presidente Jair Bolsonaro afirma que o Exército brasileiro representa estabilidade para toda a população e agradece ao ‘meu exército brasileiro, o qual ainda integro’ por este momento; o presidente afirma que tem certeza que juntos – ele e o Exército – vencerão os desafios e que ‘colocaremos o Brasil no local de destaque que ele bem merece’ [1]. Essas afirmações são pronunciadas durante a cerimônia de promoção de oficiais generais do Exército, que é acompanhada também do vice-presidente Hamilton Mourão, do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, e do ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno, os quais cumprimentam no Palácio do Plananto militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica que foram promovidos em março [2]. O presidente Bolsonaro, contrariando as recomendações sanitárias em um dos momentos mais graves da pandemia covid-19, cumprimenta com aperto de mão e sem a utilização da máscara de proteção os 57 militares promovidos [3]. Em março deste ano, Bolsonaro já havia se referido ao Exército brasileiro como ‘seu’, oportunidade em que declarou também que não utilizaria as Forças Armadas (FA) para obrigar a população a ‘ficar em casa’ [veja aqui]. O uso da expressão ‘meu exército’ é vista de forma negativa por ser considerado uma ‘tentativa de politizar a instituição’ [4]. No ano anterior, Bolsonaro também disse que as FA estariam prontas para ‘defender a pátria e garantir nossa liberdade’, em referência implícita ao golpe militar de 1964 [veja aqui]. Ressalte-se que semanalmente o presidente realiza atos contrários as medidas sanitárias preventivas contra a covid-19 [veja aqui] e discursos que antagonizam o distanciamento social [veja aqui].
Leia a análise sobre a politização das Forças Armadas no governo Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro ameaça acionar as Forças Armadas (FAs) para combater as medidas de isolamento social determinadas pelos governadores [1]. A fala é feita durante entrevista; ele afirma também que o lockdown e as políticas do ‘fique em casa’ são ‘absurdos’ e como chefe supremo das FAs ele tem o poder de colocar as tropas nas ruas para destituir políticas que impeçam o direito de ir e vir da população [2]. As afirmações são feitas a despeito das medidas de isolamento serem comprovadamente eficazes no combate a covid-19 [3]. Há um movimento constante por parte de Bolsonaro em se opor as deliberações de distanciamento social e é recorrente seu comparecimento a aglomerações [veja aqui].O presidente também é frequentemente flagrado em atos contrários as recomendações sanitárias no combate a pandemia [veja aqui] [veja aqui]. Vale lembrar que mesmo após a maior crise militar decorrente da demissão dos três comandantes das FAs e do ex-ministro da Defesa [veja aqui], Bolsonaro volta a tratar as instituições militares como do governo e não como de estado. Segundo apuração da impresa, a declaração do presidente na entrevista gera insatisfação nas FAs e membros da cúpula militar afirmam que Bolsonaro confunde conceitos e usa sua condição de chefe das FAs de maneira política [4]. Em meio a uma escalada de conflitos entre o governo federal e os estados durante a pandemia [5], João Doria (PSDB-SP) reage as falas do presidente e declara que Bolsonaro tem ‘devoção pelo autoritarismo e alergia a democracia’ [6]. O governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB) refere-se a ameaça de intervenção militar contra os estados como absurda e não amparada pela Constituição Federal [7]. Dino afirma também afirma que Bolsonaro insiste em confrontar o Supremo Tribunal Federal quanto a decisão que atribui as três esferas de poder a competênciano no combate a covid-19 [8], visto que na entrevista o presidente também critica a ação do STF em reconhecer a autonomia dos governadores e prefeitos sobre o enfrentamento a pandemia da covid-19 [veja aqui] [veja aqui]. Em 05/05, Bolsonaro volta a declarar que pretende expedir decreto que garanta o direito de ir e vir e que a determinação não será contestada por nenhum tribunal [9].
Leia sobre como o boicote as medidas de isolamento social por Jair Bolsonaro é uma tática de governo e entenda como as ameaças recorrentes feitas pelo presidente afetam os ideais democráticos.
Portaria do ministério da Justiça e Segurança Pública [1] autoriza uso da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) em apoio as ações do Ibama na Amazônia Legal [2]. A autorização se estende até janeiro de 2022, podendo ser renovada [3], e tem o objetivo de auxiliar as operações do Ibama no combate ao desmatamento e outros crimes ambientais [4]. A Amazônia Legal compreende os estados de Roraima, Amazonas, Rondônia, Pará, Amapá, Acre, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão [5]. A FNSP já atua na Amazônia Legal em apoio ao ICMBio desde 2018 [veja aqui] [6], sem nenhum avanço significativo no combate ao desmatamento – pelo contrário, o mês de março de 2021 foi o mais crítico em termos de área desmatada desde 2015 [7]. Para custear esse apoio armado nas operações, o Ibama negocia valor de multas ambientais aplicadas a Petrobrás, destinando cerca de R$23,3 milhões para a FNSP [8]. Nessa negociação o órgão de proteção ambiental concede um desconto de 60% sobre o valor da dívida, que ultrapassava R$ 58 milhões [9]. Este acordo, com expressivo desconto, é feito no momento em que os órgãos de proteção ambiental trabalham com orçamento reduzido [veja aqui] [veja aqui], sendo inclusive considerado o menor orçamento do século XXI [veja aqui]. Vale lembrar que a FNSP é comandada pelo coronel da Polícia Militar Antônio Aginaldo de Oliveira, também marido da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados [veja aqui] [10]. Esta não é a primeira vez que a diretoria do Ibama toma decisões controvertidas com relação a proteção ambiental, com especial atenção para o enfraquecimento da fiscalização ambiental [veja aqui], extinção da necessária autorização do órgão para exportação de madeira do país [veja aqui], medidas que podem favorecer atividades ilegais de madeireiros [veja aqui], e o arquivamento de multas por desmatamento logo após encontro com políticos e empresários [veja aqui].
Ministério da Justiça e Segurança Pública, através de portaria, [1] autoriza uso da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) em apoio à Fundação Nacional do Índio (Funai), em Terras Indígenas Munduruku e Sai-Cinza, no município de Jacareacanga (PA) [2]. A autorização se estende por noventa dias, até 20/08/2021, podendo ser renovada [3], e tem o objetivo de auxiliar a Funai nas atividades e serviços necessários à preservação da integridade dos povos Mundurukus e de seu patrimônio [4]. A solicitação da FNSP é feito pelo Ministério Público do Pará, em combate ao crime em terras indígenas [5]. Os povos Munduruku sofrem ataques de garimpeiros que atuam em Jacareacanga (PA), e utilizam de meios violentos como explosivos e armas para expulsar os indígenas que vivem na região, que contém uma reserva de ouro [6]. Outros povos indígenas tem sido alvo da mineração ilegal, como os Yanomami, em São Gabriel da Cachoeira (AM) [veja aqui], bem como as terras Yanomami em Roraima [veja aqui], com atuação de garimpeiros que alem de destruição do meio ambiente, ainda representam um perigo na disseminação da covid-19 entre os indígenas. A FNSP também atua em apoio a ações de outros órgãos de proteção ambiental, como as do ICMBio [veja aqui] e Ibama [veja aqui] na Amazônia.
Segundo apurações da imprensa, Jair Bolsonaro impede que o Exército Brasileiro e o ministro da Defesa se posicionam sobre a ida do general da reserva Eduardo Pazuello a uma manifestação no Rio de Janeiro [1]. Em 23/05, o ex-ministro da Saúde juntamente com Bolsonaro, participou de uma aglomeração com centenas de motociclistas no Rio de Janeiro [veja aqui]. Durante o ato, Pazzuelo foi flagrado sem máscara e chegou a subir no carro de som, onde estava Bolsonaro, e a discursar em favor do presidente [2]. A participação do general em um evento político coletivo é uma transgressão ao Estatuto Militar e ao Código Disciplinar do Exército [3]. De acordo com a imprensa, os integrantes da cúpula do Exército classificaram como ‘descabida’ a presença do general na manifestação [4] e pressionam Pazuello a pedir transferência para a reserva [5]. No dia 24/05, o Exército instaura processo administrativo contra o general da ativa pela presença no ato político [6]. Além de proibir o posicionamento das instituições, Bolsonaro também requer ao comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que Pazuello não seja punido [7]. Esse imbróglio entre as Forças Armadas (FAs) e o presidente reforça a crise entre as instituições [8], iniciada após a saída dos comandantes do Exército, Marinha, Aeronáutica e do ministro da Defesa por não concordarem com a politização das FAs [veja aqui]. O vice-presidente, Hamilton Mourão, defende a punição do ex-ministro da Saúde e declara que ‘a regra tem que ser aplicada para se evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças’ [8]. No dia 28/05, Pazuello expõe sua defesa no processo administrativo e afirma que a manifestação dos motoqueiros a favor de Bolsonaro não é um ato político-partidário porque não ocorre durante período eleitoral [9]. Em 03/06, o processo administrativo é arquivado sob a justificativa do ato político ‘não ter tido conotação partidária’ e Pazuello não é punido, o que gera críticas por parte de parlamentares e ex-ministros da Defesa [10] [11]. No mesmo dia, Pazuello é nomeado para cargo na Secretária de Assuntos Estratégicos da Presidência da República [veja aqui]. . Diante da absolvição do general, comandantes do Exército dão início a estratégias para mitigar possíveis efeitos e reações advindas do arquivamento [12]. No dia 07/06, Exército decide impor sigilo de 100 anos aos documentos do processo administrativo contra Pazuello sob justificativas de conter informações pessoais [13]. No dia 14/06, o Estado Maior do Exército rejeita pedido de revogação do sigilo posto sobre o processo administrativo contra Pazuello [14]. No dia 28/06, o Exército afirma ao Supremo Tribunal Federal (STF) em ação que questiona a imposição do sigilo de 100 anos ao processo de Pazzuelo, que não existe interesse público no processo administrativo já que regula ‘unicamente uma relação personalíssima entre um militar e seu comandante’ [15]. Segundo apurações da imprensa, menos de um mês depois da abertura de processo contra Pazuello, o Ministério Público Militar (MPM) arquiva os autos que investigavam a presença do general da ativa em ato político [16]. O arquivamento ocorre sem que o MPM tenha feito diligências ou ouvido Pazuello [17]. O procurador-geral da Justiça Militar apenas ouviu o Comando do Exército e da Aeronáutica, antes de decidir arquivar o processo [18].
Entenda o porquê da presença de Pazuello no ato político caracterizar uma infração a legislação militar e o papel de Pazuello, de Bolsonaro e do Exército em meio à crise militar. Leia sobre as punições previstas para essa atitude e sobre todos os documentos que já foram colocados em sigilo durante o governo Bolsonaro. Escute podcast sobre o risco de politização das FAs.
A Polícia Militar (PM) do estado de Pernambuco reprime, violentamente, com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, protestos pacíficos contra o presidente Jair Bolsonaro [1]. A repressão atinge dois homens, Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, e Jonas Correia de França de 29 anos, os quais vieram a ter lesões permanentes em um dos olhos [2]. Além deles, a vereadora do Recife, Liana Cirne (PT), também é agredida pela PM com spray de pimenta [3]. As manifestações contra Bolsonaro, ocorrem em diversos estados, com demandas como: ‘fora Bolsonaro’, ‘vacina no braço e comida no prato’ [4] e, segundo organizadores, foram pacíficas, com respeito ao distanciamento social [5]. Após o ocorrido, o governador do Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirma que a Secretaria da Defesa Social irá instaurar procedimento para investigar os fatos [6], afirmando ainda que o comandante responsável pela operação e quatro policiais militares envolvidos nos ataques são afastados e estão sendo investigados [7]. Em documento oficial da comunicação da PM, demonstra-se que as ordens para a repressão do protesto são do então comandante-geral, Vanildo Maranhão [8]. Segundo o documento, o objetivo foi evitar aglomerações e, para isso, os policiais deveriam ‘de todas as formas, negociar para que os manifestantes se dispersassem antes da chegada da Tropa de Choque’ [9]. O governo de Pernambuco afirma que a operação não foi autorizada [10]. Três dias depois da manifestação, o comandante Vanildo Maranhão pediu exoneração do cargo, pedido aceito pelo governador do Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) [11]. O secretário da Justiça de Pernambuco afirma que o governo monitorava a manifestação desde o início [12]. A violência da PM repercutiu negativamente; segundo o ministro do STF, Gilmar Mendes, a ação da PM foi ‘truculenta e brutal’ [13].
Leia análise sobre o comportamento da Polícia Militar e a relação com o Bolsonaro e ouça sobre os protestos ocorridos no dia 29.05.