O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, confirma a nomeação de Glauco Côrte Filho, empresário, para o cargo de superintendência do Ibama de Santa Catarina [1]. O pedido foi feito pela Casa Civil, conforme informação da área de comunicação da pasta [2]. Glauco Filho, formado em administração de empresas, não possui experiência na área de meio ambiente [3]. O empresário alega que recebeu o convite da bancada de parlamentares de Santa Catarina e o aceitou [4]. De acordo com a legislação, a nomeação para o cargo deve ser feita à alguém que tenha experiência mínima de três anos na área em questão; ter ocupado cargo em comissão ou função de confiança em qualquer Poder ou possuir título de especialista na área correlata; requerimentos que não são cumpridos no caso da nomeação do empresário [5]. O empresário também possui bens bloqueados pela justiça, por conta de uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa relacionada à irregularidades desde 2014 em Santa Catarina [6]. O governo Bolsonaro sofre críticas por nomeações para cargos públicos de pessoas que não tem experiência na área [veja aqui], pelo descumprimento de requisitos impostos em lei [veja aqui], assim como por nomeações incompatíveis com as pastas [veja aqui].
Leia análise sobre a entrega de cargo para o centrão feita por Bolsonaro.
O Ibama reduz a aplicação de termos de embargo em 60% no primeiro semestre do ano, comparado com 2019 [1]. A aplicação deles pelo Ibama consiste em um instrumento para o combate do desmatamento no país, e é mais eficaz que o uso de multas nesses casos [2]. Após o desmate ilegal, o fiscal lavra um auto de infração, indicando a irregularidade cometida e, com o termo de embargo, há cadastramento virtual no Ibama, que pode ser acessado virtualmente por aqueles que desejam fazer negócios com infratores, pressionando os proprietários de terras a não cometer irregularidades [3]. As infrações podem resultar também na decisão de instituições financeiras em não autorizar o financiamento bancário para o proprietário do imóvel multado [4]. Desde de outubro de 2019 o sistema que contém os nomes dos multados pelo Ibama está fora do ar, desrespeitando lei que determina a publicidade desses dados [5]. Ao comentar o episódio, a secretária-executiva da Associação Nacional dos Servidores do Meio Ambiente (Ascema), Elizabeth Eriko Uema, diz haver briga diária com o governo para tentar conter o desmonte da política ambiental’ [6]. Elisabeth afirma existir aumento na pressão para a não atuação do Ibama, na aplicação de multas [7]. Desde 2019, o registro de multas aplicadas vem diminuindo, no ano anterior houve uma queda de 25% comparado ao ano de 2018 [8] .
Leia análise sobre o cenário de aplicação de multa do Ibama antes do governo Bolsonaro.
Em reunião com o presidente do bloco econômico do Mercosul, o presidente da República Jair Bolsonaro afirma que está procurando desfazer ‘opiniões distorcidas’ a respeito do Brasil para que sejam assinados ainda neste semestre os tratados de livre comércio entre o bloco econômico, a União Européia e o EFTA (formado por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça) [1]. Bolsonaro diz que o governo vai mudar a imagem do país através de ações em favor da Floresta Amazônica e dos povos indígenas [2]. Para mudar isso, a Secretaria de Comunicação (Secom) requer a liberação de R$ 325 milhões, mais do que o dobro do valor previsto no atual orçamento anual [3]. A pressão internacional aumenta devido aos índices de desmatamento [veja aqui] que crescem no primeiro semestre comparado com o ano passado [4], culminando na fuga dos investidores no país [5]. São registradas ameaças de boicotes à produtos brasileiros [6], cartas de parlamentares europeus ao Congresso brasileiro [7], e manifestações de empresários ao Vice-Presidente, Hamilton Mourão [8], externando preocupação com políticas ambientais e de direitos humanos. É feito pedido à União Européia, de interrupção nos procedimentos do acordo com o Mercusul, por entidades europeias pautado nos riscos que este traz ao meio ambiente e aos direitos humanos [9]. Uma das medidas tomadas pelo governo para mudar a situação, é a proibição das queimadas legalizadas na Amazônia e no Pantanal pelo período de 120 dias [10], que foi criticada pelo presidente [veja aqui].
Leia as análises do ex-presidente da Colômbia sobre a relação da política ambiental brasileira e impacto para a América do Sul, sobre o governo Bolsonaro em relação ao crescimento do desmatamento ambiental no Brasil; os estudos feitos por organizações não governamentais que demonstram falhas em políticas ambientais e de direitos humanos e as análises da pressão econômica que obriga o país a aumentar as práticas ambientais e sobre a dependência do governo federal em relação ao combate ao desmatamento no Brasil.
O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, envia uma proposta ao Congresso Nacional que pretende fixar em 2% do Produto Interno Bruto (PIB) o orçamento da pasta e defende o fim do conceito de Amaôniz Legal [1]. A proposta orçamentária faz parte da Estratégia Nacional de Defesa (END) [2]; o orçamento do ministério da Defesa que faz partes dos planos do governo Bolsonaro e terão aumento no orçamento para o ano que vem [veja aqui] está em um ritmo de crescimento de orçamento desde 2018, com 1,5%, 1,8% em 2019 e os mesmos 1,8% em 2020 devido aos tetos do governo [3]. A justificativa do ministro é que o setor possa contar com previsibilidade para o planejamento de seus gastos e que o Brasil tenha um orçamento de defesa à altura da política e da estratégia que o Brasil tem [4]. Na END, o general também defendeu a extinção do conceito de Amazônia Legal [5], uma vez que para ele o conceito estaria ultrapassado. As regras de preservação são previstas pelo Código Florestal e aplicadas em toda a Amazônia Legal- assim como regras para áreas de proteção ambiental e regras sobre a preservação, entre elas temos a regra de que propriedades em tal área nas florestas têm de manter 80% da vegetação, nas áreas de cerrado, a proteção é de 35% [6]. As Forças Armadas tem sido chamadas para atuar na Amazônia via operação de Garantia da Lei e da Ordem desde maio de 2020 [veja aqui].
Leia sobre o que é a Amazonia Legal.
Em menos de uma semana, o Brasil é alvo de cinco queixas de violações de direitos humanos nas Organizações das Nações Unidas (ONU) por diferentes grupos e temas [1]. Violações aos direitos dos indígenas [veja aqui] foram uma das queixas realizadas por entidades de proteção indígena, mencionando o veto do presidente [veja aqui] ao PL de proteção a povos indígenas e comunidades tradicionais [veja aqui] [2]. Outra queixa se refere ao ‘ceticismo climático’ [veja aqui] do governo Bolsonaro [3]. Balakrishnan Rajagopal, relator da ONU sobre o direito à moradia, critica o presidente pelo não impedimento de despejos, principalmente de comunidades de risco, durante a pandemia [veja aqui] [4]. Bolsonaro, ao assinar o projeto de lei a respeito da pandemia [veja aqui], veda o artigo que suspendia a expulsão de inquilinos até outubro [4], além de assinar resolução que autoriza a remoção de quilombolas de seus territórios [veja aqui] [5]. Além do mais, Baskut Tuncak, também relator da ONU sobre substâncias tóxicas, alerta sobre os riscos de substâncias produzidas na Europa e vendidas no Brasil [veja aqui] e que podem causar o envenenamento na população [6]. Em visita ao país no inicio do ano, o especialista já havia alertado que o Governo através ações ou falta delas, liberou uma ‘onda catastrófica de pesticidas’ que envenenarão futuras gerações [7]. O presidente também foi representado três vezes no Tribunal Penal Internacional [veja aqui], devido à negligência ao combate à covid-19 [8].
Leia análise sobre as denúncias internacionais de violações de direitos humanos contra o Bolsonaro e assista o vídeo sobre a última representação contra o Presidente no Tribunal Penal Internacional e possíveis consequências.
Perante os maiores índices de devastação da floresta Amazônica dos últimos anos [1], o governo exonera a responsável pelos dois principais sistemas de monitoramento do desmatamento florestal [2]. A pesquisadora, Lubia Vinhas, coordenava os sistemas de monitoramento via satélite, Deter e Prodes, pertencentes ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) [3] e após demissão afirma que o Instituto não atua contra o governo, mas são transparentes em relação aos dados que apresentam [4]. No mesmo dia da demissão, o ministro da Economia, Paulo Guedes, alega que a Amazônia é maior que a Europa, sendo difícil monitorar todo o território e pede ajuda financeira de outros países para preservar a floresta [5]. Em nota, o Inpe justifica a exoneração da pesquisadora como reestruturação do órgão [6], afirmando que sua saída já estava prevista [7], que não teria conexão com o aumento dos índices de desmatamento [veja aqui] e anuncia novo monitoramento [8]. O Instituto passa por cortes de funcionários e de estruturas e mudanças na direção. A direção atualmente é comandada pelo oficial da Aeronáutica, Darcton Damião [9], desde a exoneração de Ricardo Galvão em junho de 2019 [10] [veja aqui]. Com receio das possíveis alterações, um grupo de pesquisadores do Inpe envia duas cartas ao comitê que escolhe a nova direção. Afirmam que a reestruturação ocorre devido a unificação do comando que segue moldes de estruturas militares, o que contraria as tendências científicas que demandam liberdade acadêmica e autonomia científica [11]. Devido o alto índice de desmatamento, surgem críticas ao Inpe, questionando a necessidade de outras soluções, que poderiam tirar o papel de protagonista do Instituto [12]. O Inpe cria um novo sistema de monitoramento, mais avançado, com o objetivo de dar suporte ao combate do desmatamento [13].
Leia análise sobre a reestruturação do Inpe.
O presidente Jair Bolsonaro baixa decreto [1] que determina, pelo período de 120 dias, que as práticas rurais de queimadas controladas sejam permitidas somente com autorização do órgão ambiental estadual, com exceção da Amazônia Legal e do Pantanal, locais que permanecem proibidos [2]. Apesar de ter sido o próprio Presidente a assinar o decreto, ele critica a normativa em sua live semanal, alegando que poderá trazer resultados negativos para agricultores [3], além de culpar indígenas pelas queimadas e afirma que 90% dos incêndios ocorreram em áreas onde já estavam desmatadas [4]. Diz também haver diferença entre a média de focos de calor e de queimadas, e que no Brasil estão abaixo da média dos últimos anos [5]. Estudos feitos pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) demonstram equívocos nas falas do presidente ao que se refere ao índice de terras já desmatadas e à acusação aos indígenas [6]. Além do mais, de acordo com dados apresentados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro de 2020 até 21/07/2020, os focos de queimadas no pantanal são 189% maiores se comparado ao ano passado: são 3.415 queimadas, o maior número desde 1998 [7], assim como na Amazônia, onde foi registrada alta de 28% nas queimadas no mês de julho [8]. O porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace alerta não ser suficiente o decreto, sem o aumento de fiscalização no campo [9]. Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) corroboram a informação de que 90% do fogo ocorre em áreas já desmatadas, mas dados do Inpe e da NASA colocam em xeque essa versão [10].
Leia a análise sobre as queimadas na Amazônia.
Entre março e maio, governo edita 195 atos normativos sobre meio ambiente, número 12 vezes maior que em 2019, segundo levantamento da imprensa desta data [1]. A escalada na publicação de atos ocorre nos meses de maior crescimento da pandemia no país [2]. Este resultado vai ao encontro com a postura do Ministro do Meio Ambiente, que disse que o governo deveria aproveitar a crise sanitária para ir ‘passando a boiada’ e flexibilizar normas de preservação ambiental [veja aqui]. A análise das principais normas decisões publicadas confirma a direção de flexibilização [3]. Dentre elas estão, por exemplo, a portaria que confere poderes para que o ministro do Meio Ambiente proponha, revise ou cancele entendimentos jurídicos consolidados nas unidades do Instituto Chico Mendes (ICMBio) [veja aqui], o decreto que libera construção de grandes empreendimentos na Mata Atlântica, bioma mais desmatado do Brasil e a transferência da gestão de florestas públicas para o Ministério da Agricultura [veja aqui].
Leia sobre o desmonte da política ambiental no governo Bolsonaro e o que postaram figuras públicas sobre meio ambiente.
Ibama gasta somente 19% do orçamento de 2020 previsto para o combate das queimadas, até julho, enquanto o Pantanal passa pela pior temporada de queimadas em 14 anos e a Amazônia bate recordes de focos de incêndio [1]. O Instituto possui R$35,5 milhões destinados ao combate das queimadas determinado pela Lei Orçamentária de 2020, mas só utilizou R$6,8 milhões até o mês de julho, número bastante inferior se comparado com anos anteriores [2]. O Ibama recebe também R$ 50 milhões não previstos pela Lei Orçamentária, advindos da Operação Lava-Jato; no entanto, somente 26% foi utilizado [3]. Mesmo com a disponibilidade de orçamento do órgão, o Ibama enfrenta uma das maiores crises desde sua fundação em relação ao número de fiscais em campo [4]. São 591 fiscais para combater os incêndios em todo o país, 55% menos se comparado a 2010, devido aposentadorias e falta de concursos para novas contratações [5]. Além disso, os servidores em campo reclamam da falta de equipamento para o combate aos incêndios [6]. Devido à porcentagem baixa de uso do orçamento disponibilizado, o Ministério Público de Contas pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) a análise da execução orçamentária do ministério do Meio Ambiente e do Ibama, principalmente ao que se relaciona ao combate às queimadas [7]. O subprocurador afirma que a baixa execução orçamentária representa o negligenciamento do governo ao lidar com um assunto tão importante para o Brasil e para o mundo [8].
Leia a análise do procurador que fez o pedido ao Tribunal de Contas da União sobre a baixa execução orçamentária na área ambiental.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, edita portaria [1] com os resultados alcançados pelo Ibama entre junho de 2019 e maio de 2020, referentes às metas institucionais do órgão. A publicação das metas pelo ministério tem como finalidade o pagamento de gratificação devida a determinados cargos [2]. Salles afirma que o Instituto bateu 100% da meta de redução do desmatamento, que constituía na redução em 80% do desmatamento na Amazônia Legal, o que foi alcançado [3]. No entanto, a informação diverge dos dados apresentados pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), que demonstra o maior índice de desmatamento na Amazônia nos últimos anos, entre agosto de 2019 e maio de 2020 [4]. Mesmo com o desmatamento em alta [5] e servidores reclamando pela falta de equipamentos para o combate das queimadas [6], o Instituto possui mais de 100 milhões de reais parados, advindos do Fundo Amazônia, suspenso no ano passado [veja aqui], e das Operações Lava-Jato [7]. Além do mais, para o combate dos focos de incêndio, o órgão convoca todos os funcionários que já atuaram como fiscais para trabalharem no campo, independente da idade ou do pertencimento a grupo de risco da covid-19 [8]. Em junho, o ministério da Defesa, também divulgou dados divergentes a respeito do desmatamento da Amazônia, incluindo dados referentes às atividades do Ibama [veja aqui]. O Ministério Público de Contas requer ao Tribunal de Contas União (TCU) que seja analisada a execução orçamentária do ministério do Meio Ambiente e do Ibama, principalmente dos gastos do combate às queimadas [9].
Leia a análise sobre a atuação do Ibama e de como os recursos da Lava-Jato são utilizados na Amazônia.