Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

ICMBio obriga aprovação prévia da diretoria para publicação da produção científica

Tema(s)
Ciência, Imprensa, Informação, Liberdade Acadêmica, Meio Ambiente, Posicionamento político
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) baixa portaria que prevê a necessidade de aprovação prévia pela diretoria de todas as produções científicas do órgão antes de sua publicação [1]. A medida institui competência do diretor de pesquisa da instituição para ‘autorizar previamente a publicação de manuscritos, textos e compilados científicos produzidos no âmbito e para este Instituto em periódicos, edições especializadas, anais de eventos e afins’ [2]. O atual diretor, nomeado pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, é o policial militar (PM) Marcos Venancio, cujo currículo consta formação nas áreas jurídica e de gestão pública, mas não aponta experiência na área ambiental [3]. Em nota, a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema) aponta que a portaria ‘entende que a produção científica estará sujeita à decisão política (e não técnica) sobre a conveniência ou não na divulgação de dados científicos que devem ser públicos’, e classifica a medida como ‘censura e inibição aos trabalhos produzidos’ e capaz de gerar ‘atraso na publicação dos trabalhos científicos’ [4]. Já o Fórum das Sociedades Científicas da Área de Zoologia, que reúne diversas instituições científicas, aponta em carta aberta [5] que a medida é ‘prejudicial à ciência e à conservação do meio ambiente’, na medida em que pode impedir a divulgação de conhecimento científico voltado à preservação ambiental [6]. Em outras oportunidades, o Ipea advertiu servidores sobre a divulgação de pesquisas e contato com imprensa [veja aqui], e o diretor do Inpe foi exonerado após divulgar dados sobre desmatamento no Brasil [veja aqui].

10 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Brasil não adere a projeto de reconhecer meio ambiente como direito humano na ONU

Tema(s)
Meio Ambiente, Relações internacionais
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Governo brasileiro opta por não participar de projeto que envolve mais de 60 países e tem como objetivo reconhecer o direito a um meio ambiente seguro, limpo e sustentável como um direito humano, conforme divulgação feita pela imprensa nesta data [1]. A proposta é apoiada por países da Europa, da África, do Oriente Médio e por todos os outros países que compõem o Mercosul [2]. Diversas organizações da sociedade civil manifestam-se em repúdio a postura do governo, vista como um retrocesso [3]. Nota conjunta assinada por essas entidades destaca as diversas abstenções e negligências do governo Bolsonaro em relação a proteção do meio ambiente [4]. Em 19/03, reportagem aponta, por exemplo, que o Brasil corre risco de ser rebaixado na classificação internacional de créditos por emissões de carbono por conta de sua inação para reduzir essas emissões, como definido pelo acordo de Paris [5]. No plano internacional, o governo também não aderiu a compromisso da ONU que assegura direitos reprodutivos de mulheres [veja aqui] e a carta formulada por 50 embaixadores sobre proteção a LGBTs na Polônia [veja aqui]. As políticas ambientais do governo federal já motivaram que o relator especial da ONU recomendasse ao Conselho de Direitos Humanos do órgão a abertura de uma investigação sobre o país [veja aqui].

Ouça podcast que investiga a relação do Brasil com a agenda climática global e leia coluna que aborda a relação da extrema direita com a política ambiental do país.

11 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Deputada federal assume a presidência da Comissão do Meio Ambiente na Câmara dos Deputados, a despeito de ter dito no passado que a ‘Amazônia nunca queimou tão pouco’, em meio a crise ambiental de 2019

Tema(s)
Meio Ambiente, Negacionismo
Medidas de estoque autoritário
Violação da autonomia institucional

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) é eleita presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, a despeito de não ter experiência na área [1]. Zambelli, escolhida por 10 votos a favor e 6 votos em branco, assume o lugar de Rodrigo Agostinho (PSB-SP), reconhecido pela defesa da pauta ambiental [2]. A deputada afirma que vai trabalhar em ‘consonância’ com a Comissão de Agricultura, conciliando as ‘diferentes visões de mundo’, que têm norteado as duas pastas [3]. Zambelli defende o Brasil como um dos países mais avançados na legislação ambiental, sendo responsável por menos de 3% da emissão de gás carbônico no mundo, o fortalecimento ‘das ações de combate e controle ao desmatamento ilegal’ como foco de sua gestão e ainda aponta que abrirá espaço para a regularização fundiária na Amazônia [4], o que é pauta cara ao governo Bolsonaro [veja aqui]. A nova presidente da Comissão de Meio Ambiente diz que a imagem negligente do governo em relação ao meio ambiente é uma ‘narrativa construída pela esquerda’ e que vai questionar as ONGs que atuam na proteção ambiental da Amazônia sobre ‘como usam o dinheiro‘ [5]. Especialistas destacam que a escolha de Carla Zambelli para a presidência da Comissão de Meio Ambiente reforça a tendência do governo em fazer muito pouco frente às demandas ambientais [6]. O Brasil encerrou 2020 com o maior número de focos de queimadas em uma década, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) [7]. Neste ano, o ritmo do desmatamento aumentou nos meses de janeiro e fevereiro e está 40% maior do que no mesmo período do ano passado [8]. Em 2019, Zambelli havia dito ue a ‘Amazônia nunca queimou tão pouco’, durante o auge da crise ambiental [9] – com quase 100 mil focos de incêndios registrados no país, 50% só na Amazônia [10] – e acusou ONGs de colocarem fogo na Amazônia para criminalizar o governo Bolsonaro [11] [veja aqui]. O próprio presidente já culpou ONGs pelos incêndios na Amazônia em diversas ocasiões [veja aqui], bem como o ministro do Meio Ambiente as acusou de ter provocado vazamento de óleo predatório ao ecossistema marinho do nordeste [veja aqui]. Bem como Zambelli, aliada do presidente, a deputada Bia Kicis foi eleita para comissão da Câmara [veja aqui].

12 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Embrapa intimida pesquisadora após estudos que relacionam suinocultura e covid-19

Tema(s)
Ciência, Liberdade Acadêmica, Meio Ambiente
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A professora Larissa Bombardi, colunista da Rádio Brasil Atual e pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo sofre intimidações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) após publicar artigos que relacionam a suinocultura com a covid-19 [1]. Conforme Bombardi: ‘os artigos tratam da hipótese, ainda não comprovada, mas já discutida por outros pesquisadores, de que a criação intensiva de animais possa ser um dos veículos de propagação da doença’ [2]. Não é a primeira vez que a pesquisadora é atacada por conta do seu trabalho [3]. Em 2019, publicou o atlas ‘Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia’ [4], que culminou com o boicote da maior rede de supermercados orgânicos da Escandinávia aos produtos brasileiros [5]. O ex-deputado federal e agrônomo Xico Graziano acusou a pesquisadora de falsificar os dados [6]. Bombardi teve ainda seu computador roubado após um assalto na sua casa [7]. As intimidações, além de outros motivos pessoais, fizeram-na decidir por deixar o país [8]. Este episódio é mais um reflexo dos constantes ataques ao conhecimento científico, reverberado através dos cortes dos recursos destinados à educação e a pesquisa [veja aqui] e disseminação de desinformação [veja aqui]. O Brasil assiste, nos últimos anos, a um recorde de liberação de agrotóxicos [veja aqui]. De acordo com a ferramenta Robotox, desde o início do mandato de Jair Bolsonaro, 1310 novos agrotóxicos foram aprovados [9]. Somente entre janeiro e março de 2019, foram aprovados 214 novos rótulos. Em 2020, a Anvisa liberou uso de agrotóxico associado a doença neurológica e morte de agricultores [veja aqui]. Bombardi não é a única pesquisadora a sofrer retaliações por conta de suas pesquisas e posicionamentos: também em março, a Controladoria Geral da União (CGU) instaurou processo disciplinar contra professores da Universidade Federal de Pelotas por posicionamentos críticos a gestão de Bolsonaro – um dos professores é epidemiologista e estuda os impactos da pandemia da covid-19 no Brasil [veja aqui]. Em maio, o Procurador Geral da República, Augusto Aras, processa o professor e pesquisador do LAUT Conrado Hubner Mendes pelas críticas feitas a sua gestão [veja aqui] [veja aqui]. Em abril, pesquisadores brasileiros já haviam denunciado em revista internacional o ambiente hostil à publicações científicas por conta do controle exercido pelo governo federal [veja aqui].

Leia as análises sobre a liberação de agrotóxicos no governo Bolsonaro e sobre a disputa em torno desse conceito e ouça sobre a aceleração da liberação desses produtos.

18 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro pressiona indígenas Kayapós a aceitarem a exploração de madeira e de mineração em suas terras

Tema(s)
Meio Ambiente, Povos indígenas
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

O presidente Jair Bolsonaro incentiva índios Kayapós a pressionarem suas comunidades por garimpo e extração de madeira em suas terras [1]. Durante reunião com indígenas, madeireiros e o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, Bolsonaro diz que ‘os índios que querem trabalhar com mineração tem que pressionar seus políticos’, assim como os garimpeiros e mineradores, para ‘pleitear o que tem que ser votado e aprovado’ [2]. As falas ocorrem durante reunião extra oficial no Palácio do Planalto, no final de março [3]. Em áudio do encontro, divulgado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em 04/04, o madeireiro João Gesse cobra os Kayapós sobre o apoio ao projeto do governo de ampliar a área de exploração em terras indígenas e diz, ‘a paciência acabou. Querem ficar com ONG? Maravilha, fique com essas malditas ONG, só que lembre-se: estão dentro do Brasil. General Mourão, Exército, Polícia Federal, vai pra cima’ [4]. Xavier, por sua vez, orienta os madeireiros a entrarem com uma ação popular contra a associação indígena Floresta Protegida, que não concorda com o garimpo em terras indígenas, e se oferece para financiar visita de uma comitiva de Kayapós às terras dos Parecis [4], comunidade Kayapó que planta soja para a comercialização sem licença ambiental (MS) [5]. Em fevereiro deste ano o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) editaram instrução normativa facilitando a exploração agrícola em terras indígenas [veja aqui]. Entre janeiro e novembro de 2020 foram registrados 145 pedidos para realização de atividade de exploração mineradora em terras indígenas, o maior número em 24 anos .

Leia análise sobre as violações de direitos dos povos indígenas no Brasil.

24 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

ICMBio retira participação da sociedade civil na execução dos Planos de Ação Nacional para conservação de espécies ameaçadas de extinção

Tema(s)
Meio Ambiente, Participação da sociedade civil
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) publica retificação [1] que altera instrução normativa de 2018 [2], que disciplina a conformação dos Planos de Ação Nacional (PAN) para conservação de espécies ameaçadas de extinção [3]. Com a correção, é alterada a forma de composição do Grupo de Assessoramento Técnico (GAT), responsável por implementar, monitorar e avaliar os planos de ação, que agora será limitado a ‘apenas agentes públicos da administração pública federal até o limite de cinco membros’ [4]. Na prática, a mudança retira a participação da sociedade civil, como universidades e organizações não governamentais [5]. Pela instrução normativa anterior, era previsto que o GAT deveria ser ‘constituído por membros de diferentes setores’, como ‘representantes de outras instituições governamentais, da sociedade civil e especialistas com atuação relevante’ [6]. A retificação mimetiza outros decretos do governo federal que, desde 2019, esvaziaram a participação da sociedade civil em comissões, comitês e grupos de trabalho [veja aqui]. Somente na área do meio ambiente, grupos da sociedade civil foram excluídos de conselho responsável por repasses de recursos para a área ambiental [veja aqui], da Comissão Nacional de Biodiversidade [veja aqui] e da Comissão de Controle do Desmatamento [veja aqui].

Leia artigo que explica a importância da participação da sociedade civil no controle de políticas públicas e para o fortalecimento da democracia.

24 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Judiciário
Nível
Estadual

Justiça retira bloqueio de comercialização de madeira imposto pelo Ibama

Tema(s)
Comércio, Meio Ambiente
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização
Estado
Mato Grosso, Pará

Justiça Federal suspende bloqueio sobre venda de produtos florestais de origem nativa imposto pelo Ibama aos estados do Mato Grosso e do Pará, conforme aponta apuração da imprensa desta data [1]. As decisões, tomadas separadamente, atendem aos pedidos de desbloqueio feitos por cada um dos estados, mas são liminares, ou seja, não são definitivas e podem ser modificadas depois da apresentação de provas [2]. Em 19/03 o Ibama tinha determinado que a partir do dia 22/03 a emissão do Documento de Origem Florestal (DOF), necessário para autorização da venda da madeira e outros produtos, fosse bloqueada para os dois estados [2]. A punição foi justificada uma vez que os estados ainda não se integraram ao Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor), prevista desde 2012 no Código Florestal [3], e que deveria ter sido concluída até maio de 2018 – a falta de integração impõe obstáculos para a fiscalização da regularidade dos produtos [4]. A decisão que aceitou o pedido do estado do Mato Grosso e afirma que o bloqueio do Ibama é abusivo e tem grande impacto socioeconômico, além de apontar que ‘o estado não se mostrou omisso quanto à adesão ao Sinaflor’ [5]. Vale indicar que, segundo dados produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os dois estados são os recordistas do Brasil no desmatamento da Amazônia [6]. Em outras oportunidades, decisões do Executivo e do Judiciário prejudicaram a preservação do meio ambiente: em agosto de 2020, o Ministério da Defesa impediu operação do Ibama no Pará contra garimpo ilegal em terras indígenas [veja aqui], em dezembro do mesmo ano, o Ministro Kassio Nunes Marques, do STF, deu decisão que permitiu a pesca predatória no litoral do Rio Grande do Sul [veja aqui].

Leia análises sobre o impacto do desmatamento da Amazônia no Pará e no Mato Grosso.

24 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Leis federais e estaduais estimulam grilagem de terras e desmatamento na Amazônia, segundo relatório

Tema(s)
Meio Ambiente, Reforma Agrária, Regularização de Terras
Medidas de estoque autoritário
Flexibilização de controle

O Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) lança relatório [1] que evidencia o aumento do desmatamento e da grilagem de terras em razão de estímulos federais e estaduais [2]. O relatório elucida como a legislação atual visa à modernização da regularização fundiária, que na prática aumenta as invasões de terras públicas e consequentemente o desmatamento [3]. A necessidade da titulação de terras para quem desmata com o intuito de identificar e punir estimula ocupações e diminui a proteção ambiental, porque a forma atual de requerimento do direito a terra induz ao desflorestamento como prova de ocupação do local [4]. Pesquisador do Imazon afirma que a legislação brasileira retrata as terras públicas como vagas e por isso incentiva apropriações irregulares [5]. Outro fator importante é a falta de destinação fundiária de 28,5% do território da Amazônia, que é de responsabilidade do governo estadual; todavia, os estados têm um grande número de leis estimuladoras de apropriações com base no deflorestamento [6]. Segundo a Imazon, o desmatamento da Amazônia é o maior em dez anos, e a destruição do bioma aumentou 216% em relação a março passado [7]. O instituto recomenda revisões e alterações em leis estaduais e federais para que haja a diminuição de terras griladas e do desmatamento [8], mas o Brasil segue caminho contrário ao exposto no relatório, já que no dia 16/04 o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei (PL) [9] que amplia os grupos favorecidos pela regularização fundiária [10]. Vale lembrar que a política ambiental do governo Bolsonaro já foi denunciada por servidores [veja aqui], por estimular a grilagem [veja aqui] e flexibilizar leis ambientais [veja aqui]. Em 2020, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) transferiu a regularização fundiária do Incra para os municípios [veja aqui] e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estimulou passar a ‘boiada’ por meio de revogações de regras ambientais e militarização do ministério [veja aqui].

Leia sobre a política ambiental brasileira e o risco real que ela gera sobre a floresta Amazônica, entenda como a ‘boiada’ está passando.

24 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Congresso Nacional aprova menor orçamento do século para o Meio Ambiente

Tema(s)
Meio Ambiente, Orçamento
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

Congresso Nacional (CN) aprova a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021 com o menor orçamento do século XXI para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) [1]. O texto aprovado apresenta redução de quase 40% da verba destinada à pasta nos últimos dois anos (período da gestão de Jair Bolsonaro no governo federal) [2]. O valor total de R$1,73 bilhão destinado pela LOA 2021 ao MMA representa queda de 27% em relação ao orçamento de 2020 e de 34% em relação ao de 2019 [3]. Segundo relatório elaborado pelo Observatório do Clima [4], o orçamento destinado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgãos estatal estratégico na preservação do meio ambiente, foi reduzido 61,5% em comparação ao valor autorizado pela LOA de 2018, último ano em que o governo federal não foi conduzido pela gestão Bolsonaro [5]. Já o orçamento destinado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é reduzido em 10% em relação a 2020 [6]; o órgão é responsável pelo monitoramento via satélite do desmatamento amazônico e sofre investidas constantes do governo federal – Bolsonaro questionou reiteradamente os dados sobre desmatamento apresentados pelo instituto [veja aqui]. A LOA de 2021 é aprovada no CN com ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal [7]. Desde o fim de 2020, organizações da sociedade civil criticaram o projeto e apontaram a necessidade de aumento orçamentário do MMA para a preservação ambiental [8], o que não foi atendido pelo CN [9]. Uma das diretoras do Greenpeace no Brasil afirma que ‘o orçamento aprovado não reflete os desafios que o país enfrenta e passa longe de garantir os recursos necessários para a proteção dos nossos biomas e para a saúde pública’ [10]. A Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara convida o ministro do MMA, Ricardo Salles, a prestar esclarecimentos sobre a redução orçamentária da pasta, a despeito do aumento nos níveis de desmatamento amazônico observado nos últimos anos [11]. Entre 2019 e 2020, o MMA fez cortes orçamentários no Ibama e ICMBio em mais de R$100 milhões [veja aqui], reduziu 95% do orçamento da Política Nacional sobre a Mudança do Clima [veja aqui], e Salles anunciou a suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia e Pantanal por ‘falta de verbas’ [veja aqui].

Veja o relatório completo do Observatório do Clima e comparativos da atuação de órgãos de proteção ambiental nos últimos anos.

25 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Polícia Federal intima lideranças indígenas para depor após acusação de difamação do governo federal feita pela Funai

Tema(s)
Cultura, Meio Ambiente
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

A Polícia Federal (PF), intima Sônia Guajajara [1], liderança indígena e coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), e Almir Suruí, líder indígena de Roraima [2], para depor por suposta difamação ao governo federal [3]. Guajajara é representada por supostamente difamar o governo federal em entrevista concedida durante web série ‘Maracá’, que denuncia violações de direitos contra indígenas cometidas no contexto da pandemia de Covid-19 [4]. Nos depoimentos, ela defende os povos indígenas e acusa o governo de violação à direitos fundamentais [5]. Suruí também foi intimado por ‘propagar mentiras contra o governo’ [6]. As violações narradas por Guajajara já haviam sido levadas ao Supremo Tribunal Federal, através da ADPF 709, que pretende garantir que o governo forneça assistência sanitária aos povos indígenas durante a pandemia [7] [8]. Ambas as lideranças foram representadas, perante à PF, pela FUNAI, órgão responsável por ‘proteger e promover os direitos dos povos indígenas, em nome da União [9]. Em 03/05, a Apib entra com um pedido de habeas corpus para suspender a investigação de Guajajara [10], tendo o inquérito sido arquivado em 05/05 por não trazer indício de abuso do exercício de direito ou cometimento de crime [11] [12]. Em 03/05, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, critica as acusações feitas pela Funai [13]. A Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas (FPMDDPI) também se manifesta de maneira contrária às tais acusações [14]. As intimações de lideranças ocorrem em contexto em que a violência contra os povos indígenas mais que dobrou no primeiro ano do governo de Bolsonaro [veja aqui]. Até abril de 2020, a Funai ainda não tinha apresentado nenhum plano de ação visando a proteção dos povos indígenas [veja aqui] e, o governo federal se manifestou somente após três meses de terem sido decretado o estado de calamidade pública [veja aqui]. Além disso, em 29/03, a Funai publicou uma carta de agricultores indígenas apresentando inverdades sobre a Apib e sobre a Sônia Guajajara [11].

Assista a web série “Maracá”, leia sobre a situação dos povos indígenas do Xingu, sobre como a política de Bolsonaro e as mortes indígenas estão relacionadas, sobre como o governo Bolsonaro cria o caos político e sobre o abandono do Brasil frente aos povos indígenas.

26 mar 2021
Mês Filtros