O vice-presidente da República e coordenador do Conselho Nacional da Amazônia [veja aqui], Hamilton Mourão, ironiza meta de alcançar a neutralidade climática brasileira em 2050 proposta pelo presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima e diz que governo federal contribui com o que pode para a redução do desmatamento na Amazônia [1]. Após o discurso em ‘tom moderado’ de Bolsonaro na Cúpula do Clima [veja aqui] com promessas de duplicar recursos para a fiscalização ambiental, acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, e alcançar a neutralidade climática até 2050 ter gerado críticas nacional e internacionalmente [veja aqui], o vice-presidente ironiza o alcance da neutralidade climática no tempo estabelecido pelo presidente dizendo que declarações desse tipo são cartas de intenções a longo prazo e que é necessário pensar objetivamente em como lidar com o desmatamento na Amazônia no momento atual [2]. Diz também que o governo federal contribui com o que pode para solucionar a pauta do desmatamento [3], embora no ano passado o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles tenha proposto a redução da meta de diminuição do desmatamento ilegal na Amazônia Legal em meio ao seu crescimento [veja aqui]. Segundo dados do Imazon, em março de 2021 o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) detectou 810 km² de áreas desmatadas na Amazônia Legal, um aumento de 216% em comparação a março de 2020, quando a área desmatada somava 256 km² [4]. Ano passado, Mourão já contrariou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o aumento do desmatamento na Amazônia [veja aqui] em mais de uma ocasião, chegando até a sugerir a criação de uma nova agência de monitoramento [veja aqui].
Leia sobre a atuação do governo federal na área ambiental durante a pandemia da covid-19.
O presidente Jair Bolsonaro edita mais decretos ambientais do que todos os seus antecessores nas últimas três décadas [1]. Bolsonaro editou 39 decretos ambientais em dois anos, superando os 28 editados pelo ex-presidente Michel Temer e das demais gestões anteriores, que não chegaram a 20, durante o mesmo tempo de mandato [2]. Até dezembro de 2020 o governo Bolsonaro já havia publicado mais de 600 atos com possíveis impactos na área ambiental, segundo análise feita a partir do Monitor da Política Ambiental [3]. O atual governo se diferencia dos antecessores não apenas pela maior quantidade de alterações nas leis ambientais, mas também pelo teor das mudanças, pois os decretos assinados pelo presidente no geral ampliam a administração militar na floresta amazônica e a exploração econômica em áreas de proteção ambiental [4]. O governo Bolsonaro vem tomando sucessivas medidas para flexibilizar o controle do desmatamento na floresta amazônica, como, por exemplo, quando assinou decreto excluindo a participação da sociedade civil no controle do desmatamento no final de 2019 [veja aqui]. Em 24/04/2020, Bolsonaro assinou outro decreto permitindo a liberação de grandes empreendimentos como hotéis e condomínios na mata atlântica . Ao mesmo tempo que o governo federal amplia a exploração na Amazônia, nega que o desmatamento esteja de fato ocorrendo [5]. Em agosto de 2020 o presidente utilizou dados parciais para dizer que o desmatamento no Brasil diminuiu [veja aqui], no final deste mesmo ano afirmou na cúpula do G-20 que tem elevado o nível de preservação ambiental [veja aqui]. Parlamentares criticam a posição do governo em relação ao meio ambiente e a edição das leis ambientais [6]. A deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), afirma que ‘grande parte desses decretos são de desregulamentação na área de meio ambiente’ [7]. O coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista e deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), afirma que tais atitudes unilaterais do governo sobre o meio ambiente são preocupantes e prejudicam o debate ambiental [8].
Leia análises sobre o enfraquecimento das politicas de fiscalização ambiental durante o governo Bolsonaro.
A Assembleia Legislativa de Rondônia aprova projeto de lei, de autoria do governador Marcos Rocha (sem partido), que retira proteção ambiental sobre 88% da reserva extrativista Jaci-Paraná e 50 mil hectares do Parque Estadual Guajará-Mirim [1]. O projeto expõe área de Floresta Amazônica correspondente à extensão dos municípios de São Paulo e Salvador à apropriação privada e ameaça tribos indígenas que vivem em isolamento voluntário [2]. Segundo levantamento, metade dos deputados que aprovam a lei são ligados a proprietários rurais [3]. Em 6/5, a WWF-Brasil, o Greenpeace e outras entidades ambientais enviam carta ao governador do Estado, pedindo que vete o projeto que consideram ser de ‘legalização da grilagem de florestas públicas e sua conversão em pastagens’ [4]. Em 19/5, em parecer, o Ministério Público estadual também orienta o governador a vetar da lei por violação à legislação ambiental [5]. Apesar disso, o governador Marcos Rocha sanciona o projeto em 21/5 [6]. O Ministério Público estadual ajuíza ação acusando a norma de ser inconstitucional [7]. A aprovação da lei é a maior redução na proteção ambiental já aprovada por um parlamento estadual [8] e acontece em contexto de produção de leis que estimulam grilagem de terras e desmatamento na Amazônia [veja aqui]
Ouça episódio de podcast que relaciona a preservação da Amazônia e a democracia.
O presidente Jair Bolsonaro promete revisar a emenda constitucional que determina a expropriação de terras que sejam utilizadas em trabalho escravo [1]. A declaração é feita em discurso na 86ª edição da ExpoZebu, evento que reúne empresários do agronegócio [2]. O presidente defende que a emenda enfraquece a propriedade privada no país, e que não regulamentará isso [3]. Embora a Constituição Federal objetive proteger o trabalhador de situações análogas a escravidão, tal emenda ainda carece de regulamentação sobre como será caracterizado o termo ‘trabalho escravo’ [4]. Bolsonaro ainda diz que em seu governo os produtores rurais ‘tiveram uma participação do Ibama e do Icmbio sem agressões’ [5], afirmando que, nos casos de infrações ambientais, seu governo opta primeiro pelo aconselhamento, e em último caso pela a multa [6], o que isso ‘trouxe mais paz e tranquilidade para o produtor rural’ [7]. Vale lembrar que em 2019 o Ministério Público do Trabalho, resgatou 1.213 pessoas do trabalho escravo [veja aqui], e recebeu 6 mil denúncias de trabalho em condições análogas a escravidão e tráfico de pessoas nos últimos 5 anos, desses, 70% são pardos ou negros [8]. Essa não é a primeira vez que o presidente relativizou o trabalho escravo e fez críticas as normas referentes à escravidão [veja aqui].
Leia as análises sobre o trabalho escravo no país e o aspecto racial presente.
Nota informativa do Ibama, entregue a auditoria do TCU, informa que a média de autuações por infração ambiental, que variou entre 21 e 60 mil no período de 2013 a 2018, passou a menos de 9.500 autuações anuais no último biênio [1]. O documento relata também paralisação no trâmite dos processos administrativos relativos às autuações já realizadas [2]. A nota relaciona estes fatos às mudanças realizadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no procedimento administrativo do Ibama [veja aqui] [3], o que, inclusive, já ocasionou a exoneração de diversos servidores do órgão [4]. Os fatos também são relacionados, no documento, à ineficiência dos núcleos de conciliação criados pelo governo federal [veja aqui], os quais, em dois anos, realizaram apenas 302 audiências, num total de 14.914 autuações realizadas no período [5]. A redução nas autuações e a paralisação dos processos prejudicam a aplicação de multas e demais penalidades por crimes ambientais pelo Ibama, o que já havia sido observado em levantamento de 2019 [veja aqui]. Dias antes da publicação da nota, em 01/05, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que seu governo reduziu a aplicação de multas ambientais para optar pelo ‘aconselhamento’ e gerar ‘tranquilidade’ aos produtores rurais [6]. Por fim, o servidor responsável pela elaboração desta nota sofreu intimidações de superiores [veja aqui].
Leia íntegra da nota enviada ao TCU e entenda como o enfraquecimento intencional da fiscalização facilita a prática de crimes ambientais.
O ministro Ricardo Salles associa a pandemia da covid-19 com a redução da fiscalização ambiental em fala realizada durante sessão da Comissão do Meio Ambiente da Câmara dos Deputados [1]. Contudo, em relatório do Ibama de 05/05/21 [veja aqui], a redução nas autuações por infração ambiental e a paralisia nos processos de aplicação de penalidades são associadas às mudanças nas regras de aplicação de multas realizadas pelo próprio ministro [veja aqui]. Além disso, levantamento do Ibama registrou que o órgão, em 13/08/20, tinha o menor contingente de fiscais desde 1989, o que compromete ações de fiscalização [veja aqui]. Na audiência, o ministro também acusa a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff de realizar ‘o maior estrangulamento orçamentário da história do ministério do Meio Ambiente’ no período de 2013 e 2015 [2]. Contudo, o orçamento de 2021, sob a gestão do presidente Bolsonaro, é o menor do século para a pauta [veja aqui]. Entre 2019 e 2020, o orçamento para fiscalização ambiental no Ibama e ICMBio reduziu em mais de 100 milhões [veja aqui]. O ICMBio, a propósito, sofreu, em 28/03/21, corte orçamentário que arriscou extinguir as atividades de prevenção e combate a incêndios ambientais [veja aqui]. Além da limitação nas verbas previstas, a execução do orçamento também compromete ações de fiscalização ambiental. Até 06/10/20, o Ibama executou menos de 40% de seu orçamento anual para fiscalização e combate de desmatamento e queimadas [veja aqui]. Na audiência pública, o ministro afirma, ainda, acerca do Fundo da Amazônia, que a Noruega, um dos países que financiam o fundo, haveria determinado a sua paralisação [3]. Ocorre que a paralisação do fundo da Amazônia decorre da dissolução do comitê gestor do órgão pelo ministro, em 06/12/19 [veja aqui]. O ministro Ricardo Salles é investigado por crimes como corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando em inquérito que tramita no STF [veja aqui].
O diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do ICMBio, Marcos Simanovic, cancela operação de retirada de mais de mil cabeças de gado de fazenda irregularmente localizada na Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, no Pará [1]. A fazenda, que acumula aproximadamente R$59 milhões em multas ambientais [2], ocupa 2.260 hectares da unidade de proteção integral, onde não é permitida a ocupação humana [3]. Em nota enviada ao Ministério Público Federal, que abre investigação para apurar os motivos do cancelamento [4], a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema) diz que o cancelamento da operação, cujo planejamento se iniciou ainda em 02/2020, é um ato de ‘funcionários comissionados que nada entendem de ambiente e agem para proteger infratores’ [5]. Simanovic é um dos ex-policiais militares de São Paulo nomeados para a cúpula do ICMBio pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles [6]. Salles, que, em 2020, estimulou passar a ‘boiada’ por meio de revogações de regras ambientais e militarização do ministério [veja aqui], é investigado por dificultar a fiscalização ambiental e embaraçar a investigação de infração que envolva organização criminosa [7].
Servidor do Ibama, Hugo Ferreira, enfrenta intimidações um dia após encaminhar relatório técnico ao TCU [1] que expõe a estagnação nos julgamentos de autos de infração ambiental após a vigência das novas regras estabelecidas em 2019 [2] [veja aqui]. O documento causa incomodo nos atuais gestores do órgão de proteção ambiental, segundo apuração da imprensa [3]. Hugo redige denuncia encaminhada a corregedoria e comissão de ética do Ibama, relatando as intimidações e pedindo providências do órgão com relação a Wagner Matiota, superintendente de Apurações de Infrações Ambientais (Siam), e Leopoldo Butkiewicz, assessor do ministro do Meio Ambiente [4]. Na denúncia, o servidor relata que um dia após o envio do relatório, ao chegar no Ibama, seu computador de trabalho havia sido retirado e estava na mesa do assessor do ministro [5]. O assessor avisou então que o aparelho passaria por uma ‘inspeção’, sem que nenhuma justificativa fosse dada para a investigação. Os dois discutem e o assessor ameaça a instauração de processo administrativo contra Hugo, tendo tal ameaça reforçada pelo superintendente do Siam que recolhe o computador [6]. Hugo também foi avisado que não trabalharia mais no escritório na sede do Ibama, em Brasília, e que agora deve atuar na Coordenação Nacional do Processo Sancionador Ambiental (CNPSA) [7]. A nota técnica enviada por Hugo ao TCU aponta que o órgão emitiu 14,9 mil multas entre os anos de 2019 a 2021, mas que somente 252 audiências de conciliação foram realizadas, sendo 76 totalmente ‘infrutíferas’, e que essas regras inviabilizam o trabalho dos fiscais [8]. A Associação dos Servidores Federais da Área Ambiental se posiciona contra o assédio sofrido pelo servidor e afirma que isso limita o trabalho dos agentes dos órgãos de proteção ambiental [9]. Esta não é a primeira vez que um servidor do Ibama sofre intimidações, em 2019 servidor que multou Bolsonaro por pesca irregular foi exonerado [veja aqui], e em 2020 um diretor do órgão também foi retirado do cargo [veja aqui]. O superintendente do Siam e o assessor do ministro respondem por inquérito no STF que apura a facilitação de contrabando de produtos florestais no Ministério do Meio Ambiente [10]. 9 autoridades, incluindo Leopoldo Butkiewicz, e também o presidente do Ibama, Eduardo Bim, foram afastados dos cargos por decisão judicial em maio [11].
Portaria [1] do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, revela, antecipadamente, operação de combate ao desmatamento nos municípios de Altamira, Uruará, Placas, Rurópolis e Itaituba [2]. Em regra, os locais de fiscalização devem permanecer em sigilo, pois o anúncio compromete o resultado das operações [3]. Isso porque a informação antecipada permite que os infratores possam se evadir e, assim, evitar penalidades, tais como a prisão em flagrante [4]. Todos os municípios para os quais está programada a operação estão localizados no Pará, estado que lidera o ranking de desmatamento da Amazônia Legal [5]. Em 2019, o Ibama reduziu em 34% a quantidade de multas ambientais e 80% dos municípios menos multados apresentam alta de desmatamento no período . Especificamente no estado do Pará, a cada dez municípios da Amazônia onde o Ibama reduziu o número de multas em 2019, oito registraram aumento no desmatamento . A edição da portaria ocorre em momento em que se registra paralisia nos processos de aplicação das penalidades ambientais [veja aqui], além de notável flexibilização no controle do desmatamento na floresta amazônica, evidenciado pelo alta edição de decretos federais na matéria ambiental [veja aqui], havendo registro, inclusive, de estímulo à devastação por meio da própria legislação federal [veja aqui].
Sessenta e uma entidades não governamentais do Brasil enviam carta ao novo secretário-geral nomeado da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Mathias Cormann, denunciando as políticas ambientais, de proteção dos direitos humanos e de enfrentamento da pandemia no Brasil como ‘incompatíveis com o esperado de um país membro da OCDE’ [1]. Ingressar na OCDE é uma das principais metas da gestão Bolsonaro, que desde 2019 busca adequar o país aos padrões exigidos para os membros da organização [2]. Em relação à pandemia, a carta enfatiza que a má gestão da crise por parte do governo federal levou o país a alcançar 400 mil mortos no final de abril [veja aqui] [3]; o presidente Bolsonaro continuamente desrespeitou as recomendações sanitárias [veja aqui] [veja aqui]; seus pronunciamentos menosprezavam a doença, assim como a necessidade de isolamento social [veja aqui]; ele promoveu a desconfiança sobre as vacinas imunizantes [veja aqui] [veja aqui] e recomendou diversas vezes à população medicamentes ineficientes contra a covid-19 [veja aqui] [veja aqui], como a hidroxocloroquina, azitromicina e vitamina D [veja aqui]. As entidades afirmam que o país está vivenciando uma ‘crise democrática’ marcada por ataques a participação da sociedade civil; uso de ‘leis abusivas’ para intimidar os grupos minoritários e opositores do governo [4]; pelo esvaziamento de diversos conselhos participativos, como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) [veja aqui]; restrição do acesso a informações criteriosas do governo [veja aqui] [veja aqui]; e o uso excessivo da Lei de Segurança Nacional (LSN) para intimidar os críticos do governo [veja aqui]. Além disso, o país lida com um ‘grande ataque’ a proteção ambiental, ao clima e aos povos tradicionais [5] [veja aqui], atualmente transitam projetos de lei no Congresso Nacional que visam à flexibilização do licenciamento ambiental [veja aqui] [veja aqui] e a permissão de atividades exploratórias em terras indígenas; as queimadas e desmatamento da Amazônia estão escalonando [veja aqui]; e houve uma grande redução no orçamento de 2021 para o meio ambiente [veja aqui]. As ONGs pedem que a OCDE leve em consideração as preocupações acerca da condução dessas políticas pelo Governo Bolsonaro caso o processo de entrada do Brasil se inicie e que imponham compromissos referentes ao aprimoramento dessas questões como condição necessária para acessão do país na OCDE [6].
Leia a íntegra da carta enviada a OCDE e entenda as consequências do ingresso do Brasil na organização.