O superintendente de Apuração de Infrações Ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Wagner Tadeu Matiota, sob orientação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), envia despacho a todas as regionais do país determinando que 2.838 casos de multas ambientais passem pelo processo de conciliação [veja aqui] no período de 11/06 a 20/08 [1]. Funcionários do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) afirmam que não têm pessoal suficiente para realizar todos os processos no curto prazo determinado [2]. Em 14/05, a chefe substituta da Divisão de Conciliação Ambiental, Juliana Bezerra, envia despacho ao MMA declarando que com a estrutura atual do Núcleo de Conciliação Ambiental (Nucam) e as mudanças procedimentais na apuração de infrações ambientais que entraram em vigor em abril [veja aqui] [3], será ‘humanamente impossível’ cumprir o ‘arrastão’ de conciliações [4]. Segundo a diretora da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente, essa situação constitui ‘grave e reiterado assédio moral e institucional’ [5]. Em 19/05, Wagner Matiota é afastado do cargo em decorrência das investigações da Polícia Federal sobre o ministro do MMA, Ricardo Sales [6] . Em 04/06, segundo apuração jornalística, diversos servidores do Ibama e do ICMBio solicitaram dispensa do cargo devido à apreensão de sofrerem sanções disciplinares relacionadas às conciliações [7]; além disso, o MMA e o Ibama não especificaram qual foi o critério utilizado para a seleção do casos; entretanto, muitos deles já haviam sido encerrados anteriormente [8]. Em 06/05, o Ibama eviou documento ao Tribunal de Contas da União relatando que em dois anos, apenas 2% das multas ambientais passaram pelo processo de conciliação [9] e houve redução de 80% nas atuações por infração ambiental [veja aqui]; entre outubro de 2019 e agosto de 2020 apenas 5 audiências de conciliação foram realizadas dentre as 7.205 agendadas [10]. Também em 12/05, o governo Bolsonaro foi denunciado à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico por desmantelar as políticas socioambientais do país [veja aqui].
Entenda as mudanças no processo das infrações ambientais, leia análises sobre o desmatamento ilegal e os problemas enfrentados pelos servidores do Ibama nesse contexto.
Polícia Federal (PF) abre inquérito contra lideranças indígenas e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai), devido a acusação do próprio presidente da Funai, Marcelo Xavier [1]. Segundo Xavier, os investigados estão articulando ‘diversas barreiras e entraves à aprovação’ do licenciamento ambiental para a instalação da linha de energia entre Manaus e Boa Vista [2]. A construção da linha de energia permitirá conectar Roraima com o sistema interligado de transmissão de energia do país; entretanto, dos 715 km de linha, 125 km precisam passar pela Terra Indígena (TI) Waimiri Atroari que abriga mais de 2 mil indígenas [3]. O inquérito aberto pelo delegado da PF Eduardo Zozimo de Andrade Figueira Neto, cita nove servidores da Funai, o líder indígena Mário Parwe Atroari e membros da Associação Comunidade Waimiri Atroari (ACWA) [4]. Jonas de Carvalho, também mencionado no processo, advogado dos índios Waimiri e representante da ACWA, afirma que a ação do presidente da Funai é ‘algo inqualificável. A função institucional dele é defender os indígenas. Ele deveria ser o primeiro a fazer isso’ [5]. Segundo apuração jornalística, os indígenas da região não são contra a obra, mas exigem que sejam consultados, seus pedidos atendidos e que os impactos ambientais sejam minimizados [6]. Em 07/06 a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) publica nota de repúdio contra as ações da Funai, que está concentrando esforços para ‘intimidar, perseguir e criminalizar lideranças indígenas que buscam seus direitos ao se manifestarem contra essa política genocida do governo federal’ [7]. Após a repercussão do caso na mídia, a Funai emite uma nota de esclarecimento no dia 08/06, afirmando que não solicitou abertura de inquérito contra indígenas, e sim, ‘atores externos que poderiam estar causando entraves e atrasos ao processo’ [8]. O governo Bolsonaro vêm realizando uma desestruturação sistemática da política indigenista do país [veja aqui]; a Funai, que deveria proteger os direitos indígenas, está contribuindo para a perseguição deles; em março de 2021 a Funai acusou lideranças indígenas de difamação contra o governo federal [veja aqui]. Em 27/05, ao visitar pela primeira vez um território indígena, o presidente Jair Bolsonaro desrespeitou as medidas sanitárias [veja aqui], promovendo aglomeração sem utilizar máscara, colocando assim em risco a saúde dos indígenas que já ultrapassaram mil mortos por covid-19 [veja aqui].
Leia na íntegra a nota de repúdio da COIAB.
Bolsonaro afirma que Congresso Nacional vai aprovar o projeto de lei (PL) que torna mais flexível a regularização fundiária de terras da União e do Incra [1]. Trata-se de PL que recupera o teor de medida provisória (MP) assinada por ele em 2019 e que ficou conhecida como ‘MP da grilagem’, uma vez que a regularização fundiária determinada acarretava na facilitação da prática de grilagem de terras [veja aqui]. A MP perdeu a validade, e portanto também seus efeitos, em 2020 porque não foi colocada em votação pelo plenário da Câmara dos Deputados (CD) [2]. Bolsonaro já responsabilizou Rodrigo Maia, ex-presidente da CD, por tal perda de validade [veja aqui]. Atualmente, outros dois projetos que reproduzem a ‘MP da Grilagem’ tramitam na Câmara e no Senado [3] . Entidades de proteção ao meio ambiente fazem criticas a essas duas propostas por entenderem que apenas favorecem o latifúndio de áreas não regularizadas, alem de causar prejuízo às populações tradicionais e a floresta brasileira que sofrem ataques pelo desmatamento descontrolado e pela grilagem de terras públicas [4]. No mesmo dia, Bolsonaro também diz que a ’demarcação quilombola também acabou’ [5]. As falas inserem-se em contexto de enfraquecimento sistemático das medidas de proteção ambiental promovido pelo governo Bolsonaro [veja aqui] [veja aqui].
Leia análise sobre como a proposta de alteração da regularização fundiária prejudica assentamentos da reforma agrária e grupos urbanos informais.
A diretora geral do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA), Márcia Telles de Araújo, exerce concomitantemente o cargo de secretária de Meio Ambiente do Estado da Bahia (SEMA-BA), órgão responsável por supervisionar o INEMA [1]. Em maio de 2021 o governador do Estado da Bahia, Rui Costa, delega a Márcia Telles, poderes para celebrar convênios, acordos, contratos, ajustes e protocolos, bem como termos aditivos e rescisões, no âmbito da respectiva Secretaria do Inema [2]. Em vista disso, organizações, coletivos, ativistas sociambientais e pesquisadores, se manifestaram contra o ato através de carta aberta destinada ao governador [3]. A carta, além de questionar a acumulação de cargos, também demonstrou descontentamento na condução de políticas públicas ambientais pela gestão de Márcia Telles, segundo o documento, o estado da Bahia ocupa a posição de liderança e vice-liderança no ranking dos estados que mais desmatam a Mata Atlântica e o Cerrado [4]. Passados quatro meses no cargo, mesmo depois dos questionamentos, a Associação Pré-Sindical dos Servidores do Meio Ambiente (ASCRA), protocolou mandado de segurança no Tribunal de Justiça da Bahia contra Márcia Telles [5]. A ação questiona a inconstitucionalidade ‘da dupla posição de chefia’ uma vez que ‘a acumulação dos mais altos cargos da política ambiental e de recursos hídricos em um único agente’ é uma clara centralização da gestão o que fere as normas constitucionais, se o mesmo agente é responsável por emanar e ratificar seus atos não há espaço para exercer o controle de legalidade sobre eles [6]. O Tribunal de Justiça da Bahia negou a medida liminar para exoneração imediata de um dos cargos acumulados e solicitou a manifestação do Estado para prosseguir o julgamento do mandado de segurança [7].
Das 524 medidas infralegais ambientais – atos normativos, como, portarias, deliberação, despachos – emitidas em 2019 e 2020, 76 apresentam risco médio, 38 risco alto e 10 risco muito alto de reduzir a proteção ambiental do país, conforme relatório de pesquisa ‘Dando Nome aos Bois’, publicado hoje pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) [1]. O nome do relatório remete a fala do ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles, durante a reunião ministerial de 22/04/20 [2] [veja aqui]. O relatório foca sua análise em 12 medidas de alto risco consideradas as ‘mais danosas e estruturalmente sintomáticas da desregulação ambiental comandada pelo governo Bolsonaro’, as quais são divididas em três grandes grupos [3]. O primeiro são normas voltadas para o ‘enfraquecimento da responsabilização administrativa para punição dos infratores ambientais’ [4]: como aquelas que instituíram o processo de conciliação de multas nos casos de infrações ambientais no MMA, no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) [veja aqui], o que resultou na estagnação da cobrança das multas e pouquissímas audiências de conciliação foram realizadas até o momento [veja aqui]. O segundo grupo são medidas que visam ao ‘enfraquecimento da estrutura do ICMBio e do seu papel de gestão das unidades de conservação’ [5]: houve fragilização na gestão da concessão de unidades de conservação (UC) [veja aqui]; revogação dos critérios de seleção para cargos estratégicos dentro do ICMBio, ocasionando em demissões sem justificativa clara [veja aqui] [veja aqui]; além da tentativa de desmantelar o ICMBio por meio da junção do órgão com o Ibama ainda em estudo [veja aqui]. Em terceiro, normas que buscam o ‘enfraquecimento da atuação do MMA’ [6], por meio da baixa transparência na gestão do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima; redução da participação da sociedade civil na tomada de decisões evidenciada, principalmente, pelo desmantelamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) [veja aqui] [veja aqui]; e redução sistemática do orçamento do MMA [veja aqui] [veja aqui]. De acordo com Alessandra Cardoso, assessora política do Inesc, o estudo evidencia o ‘desmonte da capacidade institucional dos órgãos de executarem políticas e cumprirem a legislação ambiental’ [7].
Leia o relatório completo do Inesc e acesse a base de dados da pesquisa.
O presidente da República Jair Bolsonaro critica novamente o trabalho do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) [1]. Durante live, afirma que enquanto esteve no Amazonas [veja aqui], encontrou com indígenas que gostam do trabalho do órgão de proteção ambiental, mas outros que antipatizam com o trabalho desempenhado; em seguida afirma ‘fico do lado daquele pessoal que não é muito chegado em ICMBio, para deixar bem claro’ [2]. Ele continua a transmissão defendendo que é preciso realizar novo ‘redirecionamento no instituto’, pois ‘sente na região que algumas comunidades sofrem uma influência (…), por parte de ‘brancos’, vamos assim dizer, e por parte de instituições’ [3]. A live é gravada em um pelotão de fronteira dentro das terras Yanomami (AM/RR), que têm enfrentado a invasão de quase 20 mil garimpeiros ilegais na região, que promovem a contaminação das águas com mercúrio, a destruição de margens de rios, dentre outros danos [4] [veja aqui]. Dias após a live, uma base do ICMBio é alvo de ataques em Roraima, em que homens armados levam quadriciclos e motores de popa [5]. No dia seguinte ao ataque, três brigadistas do órgão são alvo de uma emboscada na base da Estação Ecológica de Maracá, às margens do rio Uraricoera, em que oito pessoas fortemente armadas e encapuzadas rendem e mantém os brigadistas como reféns, alem de roubar barcos apreendidos de garimpeiros pelo órgão e ameaçar de matar qualquer fiscal do ICMBio [6]. A unidade alvo do ataque é vizinha a Terra Indígena Yanomami invadida e explorada ilegalmente pelos garimpeiros [7]. Nos anos anteriores, Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente já fizeram atos em apoio a infratores e predadores do meio ambiente; em 2019, o ministro do Meio Ambiente fez discurso apoiando madeireiros, duas semanas após ataques sofridos pelo Ibama em terras indígenas [veja aqui]; em 2020, o governo ajuizou ação a favor da regularização de desmatadores na Mata Atlântica [veja aqui]. Alem disso, funcionários de órgãos do meio ambiente são frequentemente afetados com exonerações e transferências: servidor público é exonerado do cargo apos multar Bolsonaro por pesca irregular [veja aqui];diretores do Ibama são exonerados [veja aqui]; dois oficiais de área de proteção ambiental em Alagoas são realocados após multarem o presidente da Embratur [veja aqui]; especialista em biologia marinha do ICMBio, critico da política de desmonte da proteção ambiental, foi transferido [veja aqui].
O Instituto Água e Terra (IAT), o IBAMA e a Federação de Agricultura (FAEP) no Paraná requerem na Justiça a possibilidade de não obedecer a lei federal da Mata Atlântica – para seguir o Código Florestal – argumentando que a aplicação da lei pode afetar o andamento dos Cadastros Ambientais Rurais pendentes [1]. A lei federal da Mata Atlântica prevê uma proteção mais rigorosa para esse bioma, devido a sua importância, enquanto o Código Florestal é uma lei mais branda [2]. Se confirmada a aplicação apenas do Código Florestal, a disputa judicial pode resultar no cancelamento de penalidades aplicadas e no perdão de responsáveis pela derrubada de quase 72 mil hectares de floresta em propriedades privadas do estado [3]. A partir do previsto no Código Florestal os donos de propriedades localizadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de reserva legal na Mata Atlântica, têm maior possibilidade de explorar a área, sem necessidade de recuperação do bioma [4]. O Paraná é um dos estados com maiores taxas de desmatamento de Mata Atlântica nos últimos 30 anos, e em todo país restam apenas 7% da área original desse bioma ameaçado de extinção [5]. A discussão já chegou ao Superior Tribunal de Justiça, mas ainda cabe recurso [6]. Para a Fundação SOS Mata Atlântica, a emergência climática precisa ser prioridade em um estado como o Paraná, que vive um sinal de alerta muito maior em relação a crise hídrica [7]. Esse litígio é um dos reflexos do despacho assinado pelo ministro do Meio Ambiente ano passado, que permitiu a aplicação de regras do Código Florestal ao invés da Lei da Mata Atlântica [veja aqui] [veja aqui], anistiando proprietários rurais que desmataram e ocuparam essas áreas até julho de 2008.
Vice-presidente da República, Hamilton Mourão, anuncia planejar, junto com Walter Braga Netto, ministro da Defesa, nova ação militar na Amazônia tendo em vista o aumento de queimadas ocorridas na região [1]. Segundo Mourão, o intuito é realizar uma nova ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), focada somente nas áreas onde estão ocorrendo as maiores queimadas [2]. Mourão era contrário ao fim da Operação Verde Brasil 2, finalizada em abril de 2021 [3]. Seu intuito é alinhar com Braga Netto uma nova operação, com ‘custo mais baixo’ que as anteriores [4]. A Operação Verde Brasil 2 custou cerca de R$ 400 milhões de reais aos cofres públicos [5], apesar de inicialmente terem sido previstos gastos de até R$ 60 milhões [veja aqui]. Em maio, a Amazônia Legal bate recorde de área sob alerta de desmatamento, desde 2016, sendo o terceiro mês consecutivo de recorde nos índices [6]. Segundo especialistas, ‘o Exército jamais teve condições para fazer alguma diferença na conservação da floresta, já que não possui know-how nem estrutura para fazer fiscalização ambiental’ [7], além do fato de que os militares se relacionam com a região a partir de visões defendidas na ditadura militar, que não estão de acordo com os princípios de preservação do meio ambiente defendidos atualmente por organizações ambientalistas [8]. Os desdobramentos da Operação Verde Brasil 2 não foram positivos: em 11/05/2020, o Exército fez sua primeira missão em Garantia da Lei e da Ordem, sem fazer autuações [veja aqui]. Em 09/06/2020, Mourão afirma que desmatamento na Amazônia caiu, mesmo com dados do Inpe dizendo o contrário [veja aqui], e o ministério da Defesa distorceu dados sobre o combate ao desmatamento na Amazônia. Em 09/09/2020, após três meses de atuação na Amazônia, a Operação Verde Brasil 2 não demonstra resultados de fiscalização do garimpo ilegal [veja aqui]. Em 19/08/2020, Mourão divulga dados falsos sobre o desmatamento, visando legitimar a ação do Exército [veja aqui]. Além desses dados, os órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental da Amazônica, Ibama e ICMBio, reduziram seu orçamento em mais de 100 milhões entre 2019 e 2020 [red id=1549].
Leia análise sobre o saldo da operação das Forças Armadas na Amazônia, sobre a relação do Exército com a milícia, na atuação na Amazônia e sobre os gastos do Governo Federal nas operações em garantia da GLO.
Estudo publicado nesta data revela que o número de embargos nos estados da Amazônia caiu 85% em 2020 em comparação a 2018 [1]. O embargo -suspensão imediata do uso da área, proibição da comercialização daquilo que foi produzido no local e cobrança de multas- é um dos principais mecanismos de combate ao desmatamento por gerar prejuízo econômico imediato ao infrator. Em 2020 o número de desembargos – 500 – foi superior aos embargos – apenas 385 -; em 2018 houveram 2.589 embargos e 2.413 em 2019, indicando uma queda histórica no indicador [2]. Apesar da redução dos embargos houve um grande aumento do desmatamento ilegal no governo Bolsonaro: entre agosto de 2019 e maio de 2021 mais de 58 mil hectares de mata em unidades de conservação foram devastados [3]. O estudo também aponta que a instauração do processo de conciliação para infrações ambientais [veja aqui] contribuiu para a redução das atuações por infrações ambientais [veja aqui], das multas ambientais e dos processos julgados [veja aqui] [4]. Entre 2012 e 2018 foram registradas anualmente em média 4.620 infrações ambientais, enquanto em 2019 e 2020 a média foi de 2.610 [5]. No período de 2014 a 2018 foram julgados em média 5.300 processos por ano e 688 multas pagas em média; por sua vez em 2019 e 2020, somente 113 e 17 casos foram julgados e destes somente 74 e 13 multas foram pagas, respectivamente [6]. Além disso, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) atualmente possui apenas 591 fiscais e há mais de 2 mil cargos vagos no instituto [7]. Segundo o estudo, as mudanças no processo de fiscalização e embargo ambiental refletem na ‘impunidade’ do desmatamento ilegal [8]. Durante o governo Bolsonaro, ao menos 125 atos administrativos colocaram em risco a proteção ambiental do país [veja aqui]; em 12/05, o governo federal foi denunciado à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico por desmantelar as políticas socioambientais brasileiras [veja aqui]; e houve grandes reduções orçamentárias na pasta do Meio Ambiente [veja aqui] e no Ibama [veja aqui].
Leia sobre o que são áreas embargadas, o estudo na íntegra e análise sobre o desmonte ambiental no governo Bolsonaro.
Franco Perazzoni, delegado da Polícia Federal que chefia investigações contra Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, é dispensado do cargo de chefe da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros do Distrito Federal (DF) [1]. Perazzoni continua no comando da Operação Akuanduba, que apura envolvimento de Salles em favor de madeireiros que exportaram madeira de forma ilegal [2], mas seu afastamento da pasta do DF é visto por outros delegados como represália [3]. No dia 19/05/21, houve busca e apreensão em endereços ligados ao ministério e a Salles [4], que se recusa a entregar o seu celular [5], e só o faz no dia 07/06/21 [6]. Em 04/06/21, Alexandre de Moraes, Ministro do STF, questiona a PGR sobre possibilidade de afastamento e prisão de Salles por obstrução de justiça na investigação [7], mas PGR se manifesta de forma contrária [8]. Em 23/06/21, Alexandre de Morares autoriza o envio do celular de Salles aos EUA, para que passe por perícia e seja desbloqueado para acesso aos dados [9]. No mesmo dia, Salles deixa o cargo [10] e entrega o passaporte à PF [11], mas recorre da retenção do documento [12]. O chefe da Polícia Federal do Amazonas, que encaminhou notícia-crime contra Salles, também foi exonerado do cargo [veja aqui]. Salles já fez discurso apoiando madeireiros [veja aqui], que também foram favorecidos com a decisão do presidente do Ibama que extinguiu a necessidade de autorização do órgão para exportação de madeira do Brasil [veja aqui], através da solicitação de que o governo norte-americano aceitasse carregamento de madeira brasileira exportada sem autorização legal [veja aqui] e com a flexibilização de multas sobre a compra de madeira ilegal [veja aqui].
Leia mais sobre a investigação que mirou Salles.