O chefe da Superintendência do Ibama no Espírito Santo (Supes-ES), Luiz Renato Fiori, é denunciado à Ouvidoria da Controladoria-Geral da União (CGU) por faltar ao expediente por mais de duas semanas, além de estar em posse do carro oficial do órgão neste período [1]. Fiori, que ocupa o cargo desde de 2020, é coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e foi nomeado pelo ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles para chefiar o órgão de defesa ambiental [2]. Antes da nomeação, o coronel não havia tido qualquer experiência profissional ou acadêmica com a área ambiental [3]. Formado em ciências policiais de segurança e ordem pública, acumulou experiências em cargos vinculados a segurança pública, atuando como cooordenador de tropa de comandos e operações especiais da polícia paulista, e de segurança em grandes eventos esportivos [4]. Porém, nenhuma dessas experiências ou formação o capacita para exercer o cargo no Ibama, fato este questionado na denúncia apresentada à CGU, que, por sua vez, a encaminhou para a Corregedoria do Ibama (COGER), responsável pela investigação dos fatos [5]. Além desta denúncia, Fiori é citado em denúcia da Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema Nacional), feita ao MPF e ao Ministério Público do Trabalho (MPT) do Distrito Federal, por assédio moral coletivo contra os servidores ambientais do órgão [6]. Na ação, os servidores relatam serem retaliados e intimidados individualmente pelo reservista [7].
Relembre o histórico de Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente.
A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, uma articulação de 50 movimentos e organizações sociais, apresenta denúncia ao Tribunal Permanente dos Povos (TPP) para julgar o governo pelo crime de ecocídio em curso contra o Cerrado [1]. O TTP foi criado na Itália nos anos 1980 com o objetivo de dar visibilidade às vozes de povos vítimas de violações de direitos [2]. As sentenças proferidas pelo TPP não têm aplicação dentro do sistema jurídico formal do país em que é realizado, no entanto, podem influenciar a opinião pública ao expor os limites do sistema internacional de proteção dos Direitos Humanos [3]. O TPP do Cerrado apresenta 15 casos, distribuídos entre Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí e Tocantins, selecionados a partir de um amplo processo de escuta e análise envolvendo lideranças comunitárias e organizações [4]. Esses casos tratam da violação de direitos humanos sobretudo em conflitos envolvendo a posse de terras, território e a autodeterminação de povos indígenas, comunidades quilombolas e tradicionais [5]. Para especialistas, o governo vem incentivando a expansão do agronegócio, o que implica na destruição da vegetação nativa, no consumo das águas superficiais e subterrâneas e uso intensivo de agrotóxicos [6] [7]. Durante o governo Bolsonaro, há liberação de número recorde de agrotóxicos [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui] e um crescente aumento no desmatamento da região [8]. Vale lembrar que outras representações contra Bolsonaro já foram apresentadas outras vezes em tribunais internacionais, tanto por erros graves na condução da pandemia de covid-19 no país [veja aqui], [veja aqui], como por genocídio indígena e crimes ambientais [veja aqui]
Leia sobre o Tribunal Permanente dos Povos e sobre os 15 casos apresentados no Tribunal do Cerrado.
Brasil é eleito o quarto país mais perigoso para ativistas ambientais no mundo em 2020, segundo relatório divulgado nesta data pela organização não governamental Global Witness [1]. Neste ano, foram 20 vítimas, sendo oito indígenas e dois ribeirinhos [2]. De acordo com relatório, as vítimas foram atacadas em retaliação por defenderem a proteção de ecossistemas específicos ou assassinadas durante o trabalho, por serem profissionais que atuam diretamente no monitoramento de rios, áreas costeiras e oceanos [3]. Para pesquisadores, a postura do poder público contribui para este resultado: a gestão Bolsonaro tem sido alvo de críticas por enfraquecer a legislação de combate a crimes ambientais e na estrutura de proteção a indígenas [4]. Vale ressaltar que nos primeiros meses da gestão de Bolsonaro houve queda de 70% nas operações de fiscalização efetuadas pelo Ibama na Amazônia e redução de 58% em todo o país, em comparação com o mesmo período do ano passado [veja aqui]. O então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também foi alvo de críticas ao apoiar ataques à servidores do Ibama em ações de fiscalização de extração de madeira ilegal em terras indígenas em Rondônia [veja aqui]. Desde a eleição de Bolsonaro, o Brasil vive uma ascensão de conflitos armados nas áreas rurais [5] e uma ampliação e facilitação do porte de arma para a população do campo [veja aqui] [veja aqui].
Escute “Cova Medida”, série de cinco reportagens sobre assassinatos no campo produzidos pela Repórter Brasil em parceria com a Rádio Novelo.
O Supremo Tribunal Federal (STF) adia mais uma vez o julgamento do Marco Temporal para demarcação de Terras Indígenas [1]. O Marco Temporal é uma tese que determina que só podem ser consideradas terras indígenas aquelas já ocupadas por eles até a data de promulgação da Constituição de 1988 [2]. A decisão pode definir o rumo de mais de 300 processos de demarcação de terras indígenas que estão em aberto no país [3]. A análise do tema foi suspensa após pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes e não há prazo para a retomada do julgamento [4]. O chamado ‘pedido de vista’ é previsto no regimento interno do STF, no entanto, no caso do Marco Temporal, os adiamentos sucessivos ameaçam os direitos originários dos povos indígenas sobre seus territórios tradicionais [5]. Desde outubro de 2020, o julgamento vem passando por uma série de adiamentos [6]. Em 2021 o processo foi adiado cinco vezes em dois meses [7]. Para lideranças indígenas e indigenistas, a ausência de uma decisão do STF abre possibilidades para que o Projeto de Lei (PL) 490/2007 – PL da grilagem – seja votado na Câmara [8]. O PL reforça o critério do Marco Temporal e ameaça as demarcações de terras indígenas [9]. Rejeitada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH), a medida foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em reunião na qual a única parlamentar indígena, Joenia Wapichana, foi alvo de silenciamento e discriminação [veja aqui]. Nos últimos meses, indígenas de todo o Brasil têm se mobilizado na Esplanada dos Ministérios em protesto contra o marco e chegaram a ser alvo de repressão policial [veja aqui]. O presidente Bolsonaro também mentiu duas vezes a respeito do marco temporal, alegando que a possível rejeição do STF representaria o fim do agronegócio no Brasil [veja aqui] [veja aqui].
Assista a sustentação oral de Eloy Terena, advogado e assessor jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) contra o Marco Temporal no STF.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, fala mentiras relacionadas à gestão de seu governo sobre meio ambiente na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York [1]. Dentre as afirmações falsas, o presidente diz que os recursos humanos e financeiros destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais foram dobrados [2]. No entanto, o orçamento destinado ao Ministério do Meio Ambiente em 2021 foi menor que o autorizado e executado em 2020 [3] e é o menor orçamento do século para a pasta [veja aqui]. No discurso, Bolsonaro também distorce os dados sobre o desmatamento na Amazônia, afirmando que no mês de agosto deste ano houve uma redução de 32% da devastação quando comparado a agosto do ano anterior [4]. Embora essa redução percentual seja verdadeira, os dados não traduzem toda a realidade ambiental e ignoram o contexto de avanço da destruição sob a gestão do atual governo [5]. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 2021 é o 2º ano com maior desmatamento na Amazônia desde 2015 [veja aqui]. Vale lembrar que, em maio deste ano, a política ambiental do governo Bolsonaro foi denunciada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) [veja aqui], além de haver dossiê elaborado por servidores [veja aqui] acusando-o de estimular a grilagem [veja aqui] e flexibilizar leis ambientais [veja aqui]. Em 2020, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) transferiu a regularização fundiária do Incra para os municípios [veja aqui] e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estimulou passar a ‘boiada’ por meio de revogações de regras ambientais e militarização do ministério [veja aqui]. Por esses motivos, o Tribunal de Contas da União (TCU) aponta o governo federal como grande responsável pelo aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia [veja aqui].
Confira o discurso completo de Bolsonaro na ONU e as demais mentiras proferidas pelo presidente.
O Ministério da Economia envia ao Ministério do Meio Ambiente propostas de alteração nas leis ambientais brasileiras [1]. As medidas fazem parte do Projeto de Redução do Custo Brasil e têm por objetivo ‘transformar a produtividade e competitividade do país’ [2]. Entre as sugestões, estão emissões automáticas de licença ambiental caso ocorra demora na análise de pedidos, aumento de área para retirada de vegetação da Mata Atlântica sem necessidade de licença do Ibama e dispensa de licenciamento para explorar rejeitos de mineração [2]. A proposta deveria ser submetida ao crivo do Congresso Nacional, porém, o Ministério atropela o processo legislativo e encaminha o pedido diretamente ao MMA [3]. Ainda, a pasta solicita ao Ibama que, até 30 de setembro, apresente um diagnóstico sobre cada item e o que tem sido feito para atender o pleito [4]. Diferentes organizações da sociedade civil manifestam-se contra as propostas do Custo Brasil [5]. Organizações especializadas lembram que as propostas são negativas e se alinham a outras posturas que o governo Bolsonaro vem adotando [6]. Atualmente transitam projetos de lei no Congresso Nacional que visam à flexibilização do licenciamento ambiental [veja aqui] . Além disso, em vídeo de reunião ministerial, Ricardo Salles, então ministro do Meio Ambiente, sugeriu aprovar reformas infralegais aproveitando a atenção do país à covid-19 [veja aqui]. No prazo estabelecido, o Ibama rejeita os pedidos de flexibilização do ME, alegando que a avaliação das medidas deve ser feita pelas instâncias competentes, as quais se incluem órgãos externos ao Poder Executivo [7].
Leia sobre análise sobre a flexibilização das regulações propostas pelo Ministério da Economia e porque o discurso de ‘destravar negócios no país’ não se sustenta.
O governo federal pagou R$ 124 milhões a empresas acusadas de garimpo ilegal em terras indígenas no estado de Roraima, segundo reportagem desta data [1]. Desse valor, R$ 75 milhões foram pagos durante o governo Jair Bolsonaro [2]. As empresas, que atuam como ‘taxis aéreos’, são contratadas para atender às necessidades logísticas dos chamados Distritos Sanitários Indígenas (DSEIs), transportando equipes de saúde e medicamentos [3]. No entanto, operação da Polícia Federal junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) interditou mais de 60 aeronaves suspeitas de atuação em mineração na terra Yanomami [4]. Foram encontrados motores, maquinários usados em garimpo e uma quantidade de minério [5]. Embora os pagamentos ocorram desde 2014, foram intensificados durante a gestão de Bolsonaro [6]. Vale ressaltar o avanço das políticas do governo federal direcionadas à exploração de atividades econômicas em áreas de proteção ambiental [veja aqui] e a alta recorde de pedidos de mineração em terras indígenas . Além disso, o descaso com os povos indígenas é frequente no governo: em maio de 2020, o povo Yanomami sofreu ataques de garimpeiros por um mês e não recebeu proteção dos órgãos responsáveis [veja aqui]. Ainda, relatório demonstrou que indígenas de Roraima receberam remédios ineficazes para o tratamento da covid-19 e aponta também a possibilidade de vacinas terem sido destinadas a garimpeiros em troca de ouro [veja aqui].
Leia mais sobre os conflitos com o garimpo na região, a escalada da mineração durante o governo de Jair Bolsonaro e os problemas que ameaçam a Terra Indígena Yanomami.
O presidente Jair Bolsonaro, afirma, em debate realizado na Semana de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU, que a crise hídrica é culpa do clima [1], mas que o Brasil enfrenta os desafios climáticos com planejamento, seriedade e transparência [2]. Ainda, embora sejamos privilegiados pela nossa matriz energética, precisamos avançar em todas as fontes de energia limpa. No entanto, a fala do presidente no evento não traduz a realidade sobre as ações para o enfrentamento da escassez hídrica [3]. Em live com apoiadores, ao expressar preocupação com a crise hídrica, Bolsonaro pede à população que colabore com a situação: tome banho frio, não utilize o elevador e apague as luzes, mas não menciona planos de seu governo para enfrentar a questão [4]. Vale lembrar que governo de Bolsonaro omitiu dados que indicavam a necessidade de racionamento hídrico desde 2019 [veja aqui], minimizou o cenário de escassez hídrica do país [veja aqui] e editou medida provisória que limitava o controle dos reservatórios ao ministro de Minas e Energia [veja aqui]. A gestão ambiental de Bolsonaro representa o declínio do Brasil na defesa das questões climáticas; além disso, o governo federal é responsável por medidas que enfraqueceram os órgãos de controle ao promover cortes no orçamento ambiental [veja aqui], além de restringir-lhes a autonomia [veja aqui]. Também promoveu flexibilização da legislação ambiental, diminuindo as demarcações de terras indígenas e, permitiu o garimpo em terras de preservação ambiental [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Em vista disso, organizações da sociedade civil denunciaram o presidente Jair Bolsonaro na Organização das Nações Unidas a fim de desmentir os pronunciamentos falsos do presidente sobre sua gestão ambiental .
Leia sobre como a escolha do governo de acionar as usinas termelétricas para solucionar a crise hidrelétrica é um estímulo à fontes de energias poluentes e entenda porque a escassez hídrica atual pode não ser uma exceção mas uma regra para o futuro.
O governo brasileiro gastou cerca de R$ 670 milhões da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para subsidiar a geração elétrica via carvão mineral [1], considerada a mais poluente de todas, conforme apurado em reportagem desta data [2]. Esse fundo é abastecido com recursos cobrados na conta de luz de todos os consumidores e deveria ser direcionado para bancar iniciativas como a tarifa social para as famílias mais pobres [3]. O governo Bolsonaro tem investido em carvão mineral desde 2019 [4], o que contraria o Acordo de Paris [5]. Para lidar com a crise hídrica, o governo diminuiu a geração de energia de hidrelétricas e aumentou a geração de energia em termelétrica – dependente da queima de carvão mineral [6], que, além de mais poluente, é mais cara, assim como investimentos de R$ 12 bilhões serão feitas na geração de energia através de termelétricas [7]. O Ministério de Minas e Energia tem minimizado os níveis dos reservatórios [veja aqui] assim como omitiu informações sobre a crise hídrica [veja aqui].
Leia sobre o que é a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). análise sobre a crise hídrica no mundo e como funciona uma termelétrica.
Gasto militar na Amazônia cresce 178% em 2019 e 2020 [1], apesar da queda no orçamento para combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) [2], segundo relatório realizado por deputados federais [3]. O aumento se destina à atuação das Forças Armadas na região da floresta, através das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) [4]. Contudo, desde que tal atuação começou, em 2019, a área desmatada se manteve acima dos 10 mil km2, o que não acontecia desde 2008 [5]. Em junho, a atuação dos militares na Amazônia foi prorrogada até agosto [veja aqui] a despeito do fracasso da anterior, a Operação Verde Brasil 2 [veja aqui]. O Plano de Metas do Conselho Nacional da Amazônia Legal previu, em setembro de 2020, a atuação das Forças Armadas na região até 2022 [veja aqui]. O processo de militarização da pasta ambiental foi citado em dossiê da Associação Nacional dos Servidores do Meio Ambiente (Ascema) sobre violações das políticas de proteção ambiental pelo governo Bolsonaro [veja aqui]. Nos últimos anos, o orçamento para fiscalização ambiental no Ibama e ICMBio, autarquias responsáveis pelo combate ao desmatamento, reduziu em mais de 100 milhões [veja aqui] [veja aqui], e, o governo estuda fusão entre os órgãos [veja aqui]. O Ibama sofre com o enfraquecimento da fiscalização ambiental [veja aqui], em decorrência de mudança nas regras de aplicação de multas [veja aqui], menor contingente de ficais desde 1989 [veja aqui]. O orçamento do MMA de 2021 é o menor do século XXI [veja aqui] e a pasta já anunciou a suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento e queimadas sob justificativa de corte orçamentário, mas horas depois voltou atrás [veja aqui]. As operações anteriores tiveram poucos resultados, como demonstra o relatório [6], e foram cercadas de controvérsias, como a falta de atuações na primeira operação [veja aqui], afirmações equivocadas do vice-presidente, Hamilton Mourão, sobre a queda no número de desmatamentos [veja aqui] [veja aqui], distorção de dados [veja aqui] e falta de fiscalização contra o garimpo ilegal [veja aqui] [veja aqui].
Leia na íntegra o relatório sobre os gastos orçamentários na região da Amazônia.