Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Governo fica três meses sem medidas para proteger povos indígenas e comunidades tradicionais da covid-19

Tema(s)
Povos indígenas, Quilombolas
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Governo fica três meses sem apresentar medidas de proteção, contra a covid-19, aos povos indígenas e comunidades tradicionais. Somente após três meses do decreto de estado de calamidade pública[veja aqui], o governo apresenta projeto de lei (PL) [1] para o combate da doença em comunidades indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais.A Fundação Nacional do Índio (Funai) se manteve omissa no início ao combate à pandemia, respondendo agora de forma lenta e ineficaz [2], levando as próprias comunidades a criarem medidas de proteção [veja aqui]. Não é a primeira vez que o governo tarda na hora de agir quando se trata de grupos minoritários, o mesmo tendo acontecido nas periferias [veja aqui]. De acordo com o relatório realizado pela ONG de proteção aos direitos humanos Conectas, no dia 19/07/2020, foram contabilizados 16.548 casos confirmados e 535 mortes de indígenas em todo o país [3]. Já no caso das comunidades quilombolas, no dia 28/07/2020, foram contabilizados 3.467 casos confirmados e 136 óbitos [4]. Essa delonga se enquadra em outras omissões do governo que poderão levar o país à condenação do crime de genocido em corte internacional [5]. Além da morosidade, a Funai usou somente 39% das verbas federais destinadas ao combate da pandemia em povos indígenas [6]. Bolsonaro sanciona o PL, no entanto, veta trechos importantes [veja aqui].. Apesar do PL, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) ingressa com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) requerendo medidas da União para proteção da população indígena [7], que resulta na determinação do ministro Luis Roberto Barroso para que a União adote diversas medidas com essa finalidade [veja aqui] [8].

Leia as análise sobre a contagem de casos da covid-19 em indígenas feita pelo governo, a crítica da Funai às chamadas ‘políticas socialistas’, a vulnerabilidade das comunidades tradicionais na pandemia e a precariedade das comunidades quilombolas no acesso ao sistema de sáude.

09 jun 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro realiza vetos na lei que prevê medidas de proteção e combate ao coronavírus para povos indígenas e quilombolas

Tema(s)
Povos indígenas, Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Presidente Jair Bolsonaro realiza vetos na Lei 14.021/20 [1] que dispõe sobre medidas de proteção e prevenção ao contágio e disseminação do coronavírus nos territórios indígenas, quilombolas e de pescadores artesanais. Dos 14 trechos vetados, inclui-se o veto à obrigação governamental de fornecimento de água potável, distribuição gratuita de materiais de higiene e limpeza, e a oferta emergencial de leitos hospitalares e UTIs [2]. Na exposição das razões dos vetos, o presidente argumenta que as propostas legislativas criavam obrigações e despesas ao Poder Público sem demonstração do ‘impacto orçamentário e financeiro’, em afronta a regras constitucionais [3]. Entidades da sociedade civil [4], lideranças indígenas [5] e a frente parlamentar mista em defesa dos direitos dos povos indígenas [6] externam surpresa e preocupação com os vetos presidenciais, ao apontarem viés do atual governo que optaria pela vulnerabilidade dos povos indígenas [7]. Na semana anterior a publicação da lei, ação [8] no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitou que o governo federal instale barreiras sanitárias em territórios indígenas e elabore plano de combate ao coronavírus para os povos indígenas [9]. Um dia após a publicação da lei, o ministro do STF, Luís Roberto Barroso, concede decisão liminar [10] exigindo do governo federal a adoção de série de medidas que contenha a doença, incluindo plano de criação de barreiras sanitárias em terras indígenas [11]. Em 22/07, o gabinete do ministro Barroso expede certidão de ausência de manifestação, tendo em vista a não apresentação, por parte do governo, do plano de criação de barreiras saintárias nas terras indígenas no prazo determinado [12]. Barroso também determina que conselheira do CNJ acompanhe as próximas reuniões envolvendo o governo e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), tendo em vista relatos de tratamento ‘humilhante’ do primeiro em relação a última em reunião anterior [13]. Em 29/07, o governo envia plano apontando que 8 barreiras sanitárias já teriam sido instaladas, e a Sala de Situação, grupo composto por especialistas ambientais articulado pelo ministro Barroso do STF, avalia que as barreiras apontadas pelo governo não existem na realidade [14]. Em 05/08, o plenário do STF referenda a liminar concedida por Barroso para que sejam instaladas barreiras sanitárias visando a proteção dos povos indígenas no combate ao coronavírus [15]. Em 22/10, Barroso determina que a União elabore novo plano de enfrentamento e monitoramento do coronavírus para os povos indígenas, por considerar o plano enviado pelo Executivo ‘genérico e vago’, ao não apresentar ações, metas, critérios, e cronograma de execução [16]. Em 01/12, o ministro determina 48h para que o governo federal realize reunião extraordinária para explicar como barreiras sanitárias serão implementadas em terras indígenas do Amazonas e Mato Grosso [17]. Em novembro de 2020, o Ministério da Justiça autoriza o emprego da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) para apoiar a Funai na execução de medidas protetivas previstas no plano de barreiras sanitárias [18]. O emprego da FNSP é prorrogado em dezembro [19], em março de 2021 [20] e, novamente no final de abril de 2021 [21]. Em 05/07/21, o uso da FSNP é prorrogado pela quarta vez na Terra Indígena Enawenê-Nawê [22]. Em outra oportunidade, a Funai não havia apresentado nenhum plano de ação para proteção de indígenas na pandemia e havia gastado mais de R$ 1 milhão da verba enviada pelo governo federal para essa finalidade [veja aqui].

Leia análises sobre os vetos presidenciais, como os cortes na lei podem tornar as medidas de combate ‘inócuas’, a acusação do governo praticar genocídio contra os povos indígenas durante a pandemia, a judicialização de questões climáticas – em inglês, e a possibilidade de atuação garantista do STF, em contrapeso ao Executivo, pela preservação de direitos indígenas.

07 jul 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Por ‘ceticismo climático’, ataques a povos tradicionais e desmonte de direitos sociais, o governo tem cinco queixas apresentadas contra si na ONU

Tema(s)
Meio Ambiente, Povos indígenas
Medidas de emergência
Restrição a direitos fundamentais

Em menos de uma semana, o Brasil é alvo de cinco queixas de violações de direitos humanos nas Organizações das Nações Unidas (ONU) por diferentes grupos e temas [1]. Violações aos direitos dos indígenas [veja aqui] foram uma das queixas realizadas por entidades de proteção indígena, mencionando o veto do presidente [veja aqui] ao PL de proteção a povos indígenas e comunidades tradicionais [veja aqui] [2]. Outra queixa se refere ao ‘ceticismo climático’ [veja aqui] do governo Bolsonaro [3]. Balakrishnan Rajagopal, relator da ONU sobre o direito à moradia, critica o presidente pelo não impedimento de despejos, principalmente de comunidades de risco, durante a pandemia [veja aqui] [4]. Bolsonaro, ao assinar o projeto de lei a respeito da pandemia [veja aqui], veda o artigo que suspendia a expulsão de inquilinos até outubro [4], além de assinar resolução que autoriza a remoção de quilombolas de seus territórios [veja aqui] [5]. Além do mais, Baskut Tuncak, também relator da ONU sobre substâncias tóxicas, alerta sobre os riscos de substâncias produzidas na Europa e vendidas no Brasil [veja aqui] e que podem causar o envenenamento na população [6]. Em visita ao país no inicio do ano, o especialista já havia alertado que o Governo através ações ou falta delas, liberou uma ‘onda catastrófica de pesticidas’ que envenenarão futuras gerações [7]. O presidente também foi representado três vezes no Tribunal Penal Internacional [veja aqui], devido à negligência ao combate à covid-19 [8].

Leia análise sobre as denúncias internacionais de violações de direitos humanos contra o Bolsonaro e assista o vídeo sobre a última representação contra o Presidente no Tribunal Penal Internacional e possíveis consequências.

10 jul 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Empresa pública oculta informações sobre a situação indígena na pandemia

Tema(s)
Imprensa, Informação, Povos indígenas
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), entidade da sociedade civil [1], lança nota em denúncia à censura da emissora pública Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na cobertura da pandemia de coronavírus sobre a situação indígena [2]. Segundo a Apib, os chefes e editores de reportagens da EBC censuram informações trazidas por repórteres e limitam a pauta de maneira a privilegiar apenas as versões governistas sobre a condução da crise [3]. Números da associação e de lideranças quilombolas sobre infectados por covid-19, bem como mortos pela doença são ocultados, a despeito das frequentes denúncias de subnotificação [veja aqui] e ‘apagão’ de dados [veja aqui]. Além disso, versões que exaltam a condução governamental da pandemia são a regra, aponta a Apib. Em 17/06, o partido político da oposição PSOL envia um ofício à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), requerendo apuração dos fatos e possíveis medidas judiciais contra tal postura de ‘censura institucional’ [4]. Em junho, a emissora pública já havia realocado jornalista que cobria a pandemia no ministério da Saúde, em ato visto como retaliação a perguntas críticas sobre a militarização no ministério [veja aqui] e, no mesmo mês, jornalista da emissora publicou artigo denunciando que o veículo teria sido transformado em ‘máquina de propaganda do governo Bolsonaro’ [5]. Outros episódios de intimidação jornalística já ocorreram, sob ameaça de aplicação da Lei de Segurança Nacional por exemplo [veja aqui] e a situação indígena é subnotificada [veja aqui].

Leia a análise sobre a subnotificação de casos da covid-19 entre indígenas nos dados oficiais e veja plataforma de monitoramento dos casos.

15 jul 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro critica decreto que proíbe queimadas controladas e acusa indígenas pelos incêndios enquanto estes batem recorde na Amazônia e no Pantanal

Tema(s)
Meio Ambiente, Povos indígenas
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

O presidente Jair Bolsonaro baixa decreto [1] que determina, pelo período de 120 dias, que as práticas rurais de queimadas controladas sejam permitidas somente com autorização do órgão ambiental estadual, com exceção da Amazônia Legal e do Pantanal, locais que permanecem proibidos [2]. Apesar de ter sido o próprio Presidente a assinar o decreto, ele critica a normativa em sua live semanal, alegando que poderá trazer resultados negativos para agricultores [3], além de culpar indígenas pelas queimadas e afirma que 90% dos incêndios ocorreram em áreas onde já estavam desmatadas [4]. Diz também haver diferença entre a média de focos de calor e de queimadas, e que no Brasil estão abaixo da média dos últimos anos [5]. Estudos feitos pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) demonstram equívocos nas falas do presidente ao que se refere ao índice de terras já desmatadas e à acusação aos indígenas [6]. Além do mais, de acordo com dados apresentados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro de 2020 até 21/07/2020, os focos de queimadas no pantanal são 189% maiores se comparado ao ano passado: são 3.415 queimadas, o maior número desde 1998 [7], assim como na Amazônia, onde foi registrada alta de 28% nas queimadas no mês de julho [8]. O porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace alerta não ser suficiente o decreto, sem o aumento de fiscalização no campo [9]. Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) corroboram a informação de que 90% do fogo ocorre em áreas já desmatadas, mas dados do Inpe e da NASA colocam em xeque essa versão [10].

Leia a análise sobre as queimadas na Amazônia.

16 jul 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro do Gabinete de Segurança Institucional defende que governo entre com ação contra associação indígena por crime de lesa-pátria

Tema(s)
Ditadura e memória, Participação da sociedade civil, Povos indígenas
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Em entrevista à rádio Bandeirantes [1], o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, declara que o governo federal estuda apresentar ação judicial contra a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) – entidade fundada pelo movimento indígena em 2005 – com base no crime de lesa pátria previsto na Lei de Segurança Nacional (LSN) [2]. Ao ser perguntado pelo jornalista sobre uma publicação realizada quatro dias antes em suas redes sociais, na qual afirmou que a Apib teria produzido um site que veicula ‘fake news contra o Brasil’ e que seria responsável por ‘imputar crimes ambientais ao presidente da República’ [3][4], o ministro confirma seu posicionamento e diz que ‘isso que está sendo feito pela Apib (…) é um crime de lesa-pátria, eu não estou inventando’. Heleno afirma também que a organização estaria aliada a interesses internacionais – argumento que tem sido reiterado pelo presidente na ONU [veja aqui] e em fóruns internacionais [veja aqui] – e que o governo federal estaria ‘buscando (…) quais são seus verdadeiros objetivos para, se for o caso, movermos uma ação contra esse trabalho nefasto que eles fazem’ [5]. Em reação, a Apib emite nota pública de repúdio, classificando as declarações de Heleno como ‘graves acusações’ e alertando para risco a segurança dos membros da Apib [6]. Além disso, deputados da oposição apresentam pedido ao Congresso Nacional para que o ministro seja convocado a prestar esclarecimentos [7]. Na semana seguinte, em discurso na ONU, Bolsonaro acusa instituições internacionais e ONGs de visarem às riquezas da Amazônia [veja aqui]. Vale notar que a Apib é responsável por apresentar ação contra União por se omitir na proteção de indígenas contaminados por covid-19 [veja aqui] e por denunciar empresa pública de comunicação por ocultar informações sobre a situação indígena na pandemia [veja aqui]. Em outras oportunidades, a LSN foi mobilizada por autoridades do governo contra pessoas consideradas opositoras, como jornalistas [veja aqui] [veja aqui], servidores públicos [veja aqui], e até ministro do Supremo Tribunal Federal que referiu-se a existência de genocídio indígena [veja aqui].

Leia análise sobre o papel das ONGs na Amazônia, e veja linha do tempo sobre os direitos dos povos indígenas

22 set 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Violência contra indígenas mais do que dobra no primeiro ano do governo

Tema(s)
Povos indígenas, Segurança e meio ambiente
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Levantamento desta data revela que diversos tipos de violências contra os povos indígenas mais que dobraram no primeiro ano da gestão Bolsonaro [1]. O relatório [2] descreve violências contra o patrimônio, a pessoa e aquelas decorrentes de omissões do poder público; além disso, aponta para um ‘projeto de governo que pretende disponibilizar suas terras [indígenas] e os bens comuns nelas contidos aos empresários do agronegócio, da mineração, das madeireiras’ [3]. Com relação à violência patrimonial, foram registradas 256 ‘invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio’ em 2019, um aumento de 135% em relação a 2018 [4]. Ainda, 63% das terras indígenas no país encontram-se pendentes de regularização estatal via demarcação e registro pela Secretaria do Patrimônio da União [5]. Tal resultado reflete falas do presidente contra a demarcação [veja aqui] [red id=170] [veja aqui], a edição de Medida Provisória que transferiu por 5 meses a competência da demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura [veja aqui] [veja aqui] e a devolução de processos de demarcação para Funai [6]. Com relação ao eixo de ‘violência contra pessoa’, foi registrado um aumento de 150% [7]. É destacado o assassinato do líder indígena Paulo Guajajara da Terra Indígena Arariboia [8], região que ficou desassistida da proteção estatal contra violências de madeireiros [veja aqui]. Ao longo de 2019, o presidente realizou discursos que deslegitimam o assassinato de outras lideranças indígenas [veja aqui] [veja aqui]. Sobre casos de violência por ‘omissões do poder público’, o relatório aponta 825 casos de mortalidade infantil em 2019, contra 591 em 2018 [9]. Segundo especialista, as causas mais comuns de mortalidade entre crianças indígenas são de doenças ‘em grande maioria tratáveis’ [10]. Outra medida desfavorável à saúde dos povos indígenas foi a interrupção do Programa Mais Médicos [11], política pública duramente criticada por Bolsonaro [veja aqui]. Ressalte-se que o presidente já é alvo de representação no Tribunal Internacional (TPI) pelos crimes de genocídio e contra humanidade por implementar políticas predatórias contra indígenas [veja aqui].

Leia entrevista do coordenador da Cimi sobre o aumento de práticas violentas contra povos indígenas em 2019

30 set 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) pressiona indígenas no Pará a reduzir seu território

Tema(s)
Meio Ambiente, Povos indígenas
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias
Estado
Pará

Representantes do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) participam de uma reunião ‘surpresa’ com fazendeiros para pressionar lideranças indígenas a aceitar uma proposta de acordo que inclui a redução do seu território [1]. A Terra Indígena Apyterewa, no sul do Pará, é reconhecida como de ocupação tradicional do povo Parakanã desde 2007 [2] [3]. O território integra o complexo de terras afetadas pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte e uma das condicionantes para o licenciamento ambiental do empreendimento era a retirada dos ocupantes não indígenas [4]. Apyterewa é uma das áreas indígenas mais afetadas pelo avanço do desmatamento ilegal nos últimos anos, sendo alvo da invasão de grileiros, fazendeiros e madeireiros [5]. Em maio de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes já havia acolhido um pedido da prefeitura local para que fosse iniciado um processo de conciliação com os indígenas para a redução do tamanho do território [6]. Conforme carta divulgada pela Associação Tato’a, que congrega lideranças da etnia Parakanã, lideranças indígenas foram surpreendidas por uma reunião na sede de uma fazenda irregular localizada dentro da terra indígena no dia 18/10, com a presença de fazendeiros e uma comitiva do MMFDH [7]. Segundo os indígenas, lideranças ficaram presas e sem comunicação externa na fazenda por três dias até concordarem com a redução das suas terras [8]. A postura do MMFDH converge com o avanço das políticas do governo federal direcionadas à exploração de atividades econômicas em áreas de proteção ambiental [veja aqui]. É explícita a opinião do presidente Jair Bolsonaro contra a demarcação de terras indígenas [veja aqui]. Bolsonaro é alvo de representação no Tribunal Penal Internacional pelos crimes de genocídio e contra humanidade por implementar políticas predatórias contra indígenas [veja aqui].

Leia sobre estratégias usadas por pecuaristas para driblar as restrições e dar uma aparência de legalidade ao rebanho criado irregularmente na TI Apyterewa.

18 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Por crime contra a humanidade, Bolsonaro é representado mais uma vez em tribunal internacional

Tema(s)
Meio Ambiente, Povos indígenas, Relações internacionais
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Bolsonaro é representado novamente no Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes contra a humanidade relativos à política de destruição do meio ambiente adotada pelo governo, que reflete diretamente nas comunidades indígenas da Amazônia [1]. Reunindo acusações de mortes, extermínios, casos de perseguições, transferência forçada, e até escravidão de povos indígenas da Amazônia, além de ‘ecocídio’ [2], a representação pede a abertura de inquérito para apurar a responsabilidade do presidente nas situações narradas no documento [3]. A solicitação é feita em nome dos caciques Almir Surui, chefe do povo Paiter-Surui, e Raoni Metuktire, chefe do povo Kayapó [4], que sustentam que a situação de desmatamento é a mais crítica vivenciada nos últimos dez anos, e que as ‘novas medidas e políticas do governo visam remover todos os obstáculos para saquear a riqueza da Amazônia’ [5], e tornar a vida das comunidades indígenas insuportável. A representação chama atenção para os dados alarmantes de desmatamento desde o início do governo Bolsonaro, o alinhamento e incentivo das autoridades a práticas predatórias e os ataques aos povos tradicionais: ainda em 01/01/2019, Bolsonaro editou Medida Provisória (MP) que transferia a demarcação de terras indígenas e quilombolas para o Ministério da Agricultura [veja aqui], o que é revertido pelo Congresso Nacional; em junho, ele volta a editar MP nesse sentido, que é suspensa pelo Supremo Tribunal Federal [veja aqui]. Já em julho de 2019, por exemplo, o ministro do Meio Ambiente fez discurso apoiando madeireiros, duas semanas após ataques sofridos pelo Ibama em terras indígenas [veja aqui]. Durante o governo, também há liberação de número recorde de agrotóxicos [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui]. Uma equipe composta por ONGs brasileiras, francesas, e advogados, durante um ano reuniu evidências para embasar o documento [6]. Vale lembrar que outras representações contra Bolsonaro já foram apresentadas outras vezes no TPI, tanto por erros graves na condução da pandemia de covid-19 no país [veja aqui], [veja aqui], como por genocídio indígena e crimes ambientais [veja aqui].

Leia sobre as outras 05 solicitações contra Bolsonaro no TPI.

21 dez 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Funai muda critérios para identificação de pessoas indígenas

Tema(s)
Povos indígenas
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Fundação Nacional do Índio Funai) modifica, através de resolução [1], os critérios de reconhecimento de pessoas indígenas [2]. Agora, a identificação inclui a observância de critérios como ‘vínculo histórico e tradicional’, ‘consciência íntima declarada sobre ser índio’, ‘origem e ascendência pré-colombina’ e ‘identificação do indivíduo por grupo étnico existente (…) e cujas características culturais sejam distintas daquelas presentes na sociedade não índia’ [3]. Antes da mudança, o único critério de identificação era a autodeclaração [4]. A Funai afirma que a medida é tomada para ‘proteger a identidade indígena e evitar fraudes na obtenção de benefícios sociais voltados a essa população’ [5]. Em nota, o Ministério Público Federal (MPF) recomenda a revogação imeditada da resolução e afirma que ela é inconstitucional, uma vez que viola o direito à autodeterminação dos povos indígenas [6]. Organizações indigenistas da sociedade civil também manifestam-se contra a resolução, apontando que ela pode inclusive restringir o acesso de povos indígenas às vacinas contra a covid-19 [7]. Em julho de 2020, o presidente Jair Bolsonaro realizou vetos na lei que previa medidas de proteção e combate ao coronavírus para povos indígenas e quilombolas [veja aqui]. Em 2019, o atual presidente da Funai tomou posse após Bolsonaro exonerar, por pressão de ruralistas, o antigo presidente da fundação [veja aqui]. Levantamento publicado em 2020 revelou que a violência contra indígenas mais do que dobrou durante o primeiro ano do governo Bolsonaro [veja aqui] e ainda em 2019 o presidente foi representado no Tribunal Penal Internacional por incitar a violência contra populações indígenas [veja aqui].

Leia nota técnica que examina os problemas da nova resolução da Funai.

22 jan 2021
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