Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Agência Brasileira de Inteligência promove acordo para ter acesso a dados de cidadãos que possuem CNH

Tema(s)
Proteção de dados, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) acerta com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) o compartilhamento de dados pessoais de mais de 76 milhões de pessoas, segundo apuração da imprensa nesta data, que estão registrados no Banco de Imagens do Registro Nacional de Condutores Habilitados (Renach), sistema que guarda informações de todos que possuem uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) [1]. A negociação, que já estava em curso e é nesta data revelada pelo site Intercept Brasil [2]. A Abin é o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), está diretamente vinculada ao governo federal e ‘é responsável pelo processo de obtenção e análise de informações e produção de conhecimentos de Inteligência necessários ao processo decisório do Poder Executivo’ [3]. Através do acordo, ela pretende obter acesso a um banco de dados que contém nome, filiação, CPF, endereço, telefone, foto e dados dos veículos de toda pessoa habilitada a dirigir no Brasil [4]. A Abin baseia seu pedido em Decreto de outubro de 2019 que regulamenta o compartilhamento de dados entre órgãos da administração pública federal e institui o ‘Cadastro Base do Cidadão’ [5]. O Partido Socialista Brasileiro (PSB) entra com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o compartilhamento seja imediatamente suspenso por violar garantias constitucionais como o direito à privacidade e à liberdade, uma vez que os dados seriam compartilhados sem a concordância dos titulares e sem os devidos esclarecimentos, por parte da Abin, dos usos que a agência faria de tais informações [6]. Momentos antes do julgamento do caso no STF, em 24/06, o governo revoga a autorização da Abin para obtenção do acesso aos dados solicitados [7]. Em decisão, o Supremo Tribunal Federal entende que, mesmo que a suspensão do acordo tenha sido realizada antes de qualquer manifestação judicial, o caso deve seguir sob análise da corte [8]. Em manifestação feita ao STF, especialistas apontam ainda que o Decreto que baseou o pedido da Abin não cumpre o previsto pela Lei Geral de Proteçao de Dados [9], não promove a transparência e não prevê o compartilhamento de dados para fins de inteligência ou segurança pública, outras razões que sustentam a ilegalidade do pedido feito pela Abin [10]. A tentativa de obtenção de dados se dá após o presidente Jair Bolsonaro dirigir críticas à atuação da Abin [veja aqui]. Recentemente, Bolsonaro alterou a estrutura regimental da Abin e criou o ‘Centro de Inteligência Nacional’ [veja aqui].

Leia análise sobre o decreto que permite o compartilhamento de dados pessoais entre os órgãos da administração federal e texto explicativo sobre a história e as funções da Abin.

06 jun 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Em meio a projeto de centralização do MPF, Procuradoria Geral da República faz abordagem atípica à Força Tarefa da Lava Jato e procuradores da Lava Jato se demitem, alegando fiscalização imprópria

Tema(s)
Conflito de poderes, Proteção de dados
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

A subprocuradora Lindôra Araújo, auxiliar próxima do Procurador-Geral da República (PGR) Augusto Aras, realiza visita à força-tarefa da operação Lava-Jato em Curitiba nesta data e no dia seguinte [1]. No dia seguinte, a força-tarefa envia ofício à Corregedoria do Ministério Público Federal (MPF) [2], enquadrando a visita como uma ‘manobra ilegal’ para acesso a dados sigilosos das investigações de modo informal [3], o que é negado em seguida pela PGR [4]. Um dia depois, três integrantes do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR pedem demissão, alegando discordância com a coordenação de Aras [5]; o grupo já tinha sofrido desfalques anteriores em razão da centralização de tarefas promovida pelo PGR [6]. A partir do episódio, inúmeros desdobramentos se seguem, com notas de apoiadores da força-tarefa da Lava Jato [7] [8] [9] [10] [11] [12] e críticas alinhadas à PGR [13] [14] [15] [16] [17] [18], e o ressurgimento de proposta de órgão central às investigações [19]. A Corregedoria do MPF também abre sindicância para apurar a conduta de Araújo, atendendo a pedido da força-tarefa [20], e o ministro Dias Toffoli do Supremo Tribunal Federal (STF) determina que a Lava Jato compartilhe todos os dados já adquiridos em investigações com o PGR [21], o que o possibilita de ter acesso a dados de 38 mil pessoas [22]. O caso acende o debate sobre os limites da atuação do PGR e a independência das forças-tarefas. De um lado, há críticas de que o modelo de forças-tarefas favoreceria a aproximação do juiz com o órgão acusador (MPF) [23] e teria tendido a uma criminalização da política [24] e a excessos [25]. De outro lado, também há o reconhecimento de que, a despeito de erros, há igualmente acertos [26] e de que o modelo favorece a eficiência, a especialização [27] e a coleta de dados sensíveis [28], bem como diminui o perigo de manipulação de investigações [29] [30]. Centralizar os dados de operações ao PGR, além disso, significa o acesso dados de investigações que estão além de sua competência – restrita a casos de competência originária dos tribunais superiores [31]. Em junho, o PGR já havia centralizado a atuação do MPF na pandemia [veja aqui] e, no mês seguinte, edita portaria que amplia seu acesso a material sigiloso [veja aqui] [32], faz novas críticas à operação lava-jato [33] e defende órgão central para investigações [34]. Em agosto, o ministro Edson Fachin revoga a decisão de Toffoli [35], mas diversos dados já haviam sido compartilhados [36]. No mês seguinte, Deltan Dallagnol, procurador-chefe da Força Tarefa Lava Jato no em Curitiba, anuncia saída do cargo [37], Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, procurador-chefe da Força-Tarefa Greenfield de Brasília, também [38], e demissão coletiva da Lava Jato em São Paulo implica sua dissolução [veja aqui]. No mesmo mês, Aras propõe mudança na distribuição de recursos da Lava Jato no Superior Tribunal de Justiça [39] e prorroga da Força Tarefa de Curitiba por quatro meses, a despeito de pedido de prorrogação por um ano [40]. Em novembro, corregedora-geral do Ministério Público Federal, Elizeta de Paiva Ramos,determina fornecimento de cópias do banco de dados sigilosos da Lava-Jato, o que vai contra a decisão de Fachin em agosto [41]. Em dezembro, Aras prorroga as forças-tarefas do Paraná e Rio de Janeiro até outubro do ano seguinte [42]. Vale notar também que alguns embates entre a Lava Jato e o PGR se iniciaram durante o mandato de Raquel Dodge, PGR entre 2017 e 2019 [43] [44].

Leia as análises sobre os conflitos recentes envolvendo o PGR e a força-tarefa da Lava Jato, que remontam a abril de 2020, a cronologia deste caso específico, os problemas das investidas do PGR, os limites da autonomia dos procuradores e o impulso desse embate pela arquitetura institucional do Ministério Público.

24 jun 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Governador de São Paulo anuncia instauração de câmeras em uniforme da Polícia Militar, excluindo da medida as unidades mais letais da corporação

Tema(s)
Proteção de dados, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização
Estado
São Paulo

João Doria (PSDB), governador do estado de São Paulo, anuncia a compra de 2.500 câmeras para uso pela força policial, sob a justificativa de combate à violência policial – a Polícia Militar tem registrado altas taxas de letalidade [veja aqui] [1]. As câmeras de lapela – chamadas de bodycams – não serão utilizadas pelos batalhões que registram os maiores índices de violência policial [2]. Os dispostivos utilizados pelo patrulhamento estão em fases de testes desde 2017 [3], e poderão ser desligadas pelos policiais [4]. As reações da sociedade civil são diversas – por um lado, apontam-se que câmeras poderiam ser eficientes em coibir abusos policiais [5] e, por outro, aponta-se que a tecnologia poderia ser utilizada como vigilância dos cidadãos e para ‘blindar’ os policiais, especialmente por causa da falta de diálogo durante a elaboração do programa [6]. De acordo com a imprensa, detalhes da fase de testes do programa não foram revelados pela Secretaria de Segurança Pública [7]. Os números da violência policial tem crescido em São Paulo, com recordes no estado em meio à pandemia do coronavírus e medidas de isolamento social [veja aqui], casos de estrangulamento por policiais [veja aqui] e pisoteamento. Semelhante é o estado do Rio de Janeiro, em que operações policiais foram encerradas pelo Supremo Tribunal Federal [veja aqui]. Em 22/04/21 é noticiada a expansão do programa de uso de câmeras por policiais para mais 15 batalhões, incluindo o da tropa mais letal da PM de São Paulo [8]. Cai para zero a letalidade nos batalhões que passaram a usar câmeras [9]. Com dois meses de instalação das câmeras, apenas um dos 18 batalhões registrou um confronto letal, e São Paulo registra queda de 40% na letalidade policial total [10].

Leia análises sobre os testes realizados em São Paulo, o uso de câmeras na desconfiança racial e liberdades civis, preocupações sobre bodycams e privacidade em protestos, a morte de George Floyd e uso de câmeras e big data e as filmagens – os dois últimos em inglês.

22 jul 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ação sigilosa do Ministério da Justiça monitora 579 servidores antifascistas e repassa informações a outros órgãos do governo

Tema(s)
Administração, Posicionamento político, Proteção de dados, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

O Ministério da Justiça e Segurança Pública, através de sua Secretaria de Operações Integradas (Seopi), abre ação sigilosa sobre 579 pessoas identificadas como antifascistas [1]. Dentre os investigados encontram-se dois ex-secretários nacionais de segurança pública e um ex-secretário nacional de Direitos Humanos, bem como professores universitários; o dossiê, que não foi confirmado pela pasta, contém fotografias e endereços de redes sociais em alguns casos [2]. Como fonte, o documento teria utilizado manifesto antifascista assinado por servidores da área de segurança pública nas manifestações antifascistas ocorridas em maio [veja aqui] [3]. A Seopi é dirigida por dois funcionários indicados pelo ministro André Mendonça [veja aqui], e seus atos não são acompanhados pela Justiça – um decreto do presidente Jair Bolsonaro a coloca sob o guada-chuva de serviço de inteligência [4]. De acordo com o ministério,ela buscaria informações sobre ‘atos criminosos de qualquer natureza que atentem contra a ordem pública’ [5]. Diversos órgãos teriam recebido o dossiê, incluindo a Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência e ‘centros de inteligência’ da Seopi [6]. Entidades da sociedade civil se posicionam contra a ação, assim como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, afirmando que a atitude remonta à ditadura militar [7] e que o dossiê seria uma afronta ao livre pensamento [8]. No legislativo, o partido Rede apresenta ação pedindo abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) [9]; outro parlamentar da oposição representa na Procuradoria-Geral da República contra Mendonça [10]. Cármen Lúcia, ministra do STF, afirma em 04/04 que o dossiê seria incompatível com a democracia e pede esclarecimentos ao governo [11]. Na mesma data, Mendonça troca o comando da Seopi [12]. Dias depois, o ministro presta esclarecimentos no Congresso e lança nota sobre o compromisso de sua gestão com princípios da gestão pública [13]. Em 20/08 o STF determina a suspensão da elaboração dos informes que considera inconstitucional [14][15]. Vale notar outras ações do governo sobre servidores como avisos de monitoramento das redes sociais [veja aqui] e nota técnica afirmando possibilidade de punição por conteúdos publicados [veja aqui]. Em São Paulo, há denúncias de confecção de dossiê contra antifascistas pelo deputado estadual Douglas Garcia (PSL) [veja aqui].

Leia análises sobre os órgãos de inteligência, a posição de André Mendonça, entrevista com um dos investigados do dossiê, reportagem sobre o ministro da Justiça e ouça podcast sobre as ações do governo federal.

24 jul 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Congresso Nacional aprova lei que cria cadastro nacional de pessoas condenadas pelo crime de estupro

Tema(s)
Proteção de dados, Segurança pública, Sistema penal e socioeducativo
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Congresso Nacional aprova Lei [1], que é sancionada pelo presidente Bolsonaro no dia seguinte, e cria cadastro nacional de pessoas condenadas pelo crime de estupro [2]. A normativa determina a criação de um banco de dados que conterá informações como características físicas, impressão digital, perfil genético, bem como fotos dos locais de moradia e trabalho dos condenados [3]. A lei não deixa claro se o cadastro será de acesso público, mas prevê a possibilidade de estados e municípios terem acesso às informações [4]. A criação e manutenção da base de dados ocorrerá através de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública [5]. Especialistas criticam a lei ao apontarem riscos de ofensa a direitos fundamentais e incentivo ao ‘vigilantismo’ estatal: ‘o Brasil criou o cadastro de pessoas condenadas por crimes de estupro sem especificar se a condenação após a decisão final e sem possibilidade de apresentação de recursos, se valerá somente para estupro ou estupro de vulnerável, quanto tempo ficará o cadastro e se o fornecimento do material genético é obrigatório’ [6]. Outra crítica apontada é de que a lei não apresenta inovações no ordenamento jurídico nacional, por já existir no país o Banco Nacional de Identificação Genética – utilizado no monitoramento de condenados, e o estupro já ser considerado um crime hediondo – que tem sua pena elevada por conta dessa natureza [7]. Em outras oportunidades, decretos permitiram o governo a compartilhar dados pessoais sigilosos sem autorização dos cidadãos [veja aqui], e entre órgãos do próprio governo federal [veja aqui].

Leia análise sobre os pontos positivos e negativos na criação de um cadastro nacional de condenados pelo crime de estupro.

01 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro nomeia militares para Autoridade de Proteção de Dados

Tema(s)
Administração, Informação, Proteção de dados
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O presidente Jair Bolsonaro nomeia cinco diretores ao Conselho Diretor da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) [1], sendo dois deles coronéis e outro tenente coronel do Exército [2]. Waldemar Gonçalves Ortunho Junior, atual presidente da Telebrás (empresa estatal) [3], Arthur Pereira Sabbat, Diretor do Departamento de Segurança da Informação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) [4] e Joacil Basilio Rael, colaborador da Telebrás [5] são indicados para mandatos de, respectivamente, seis, cinco e quatro anos; as outras duas indicações, nomes civis ligados à iniciativa privada e ao Ministério das Comunicações, têm mandatos menores, de três e dois anos [6]. A ANPD foi criada com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) [7] de 2018, que passou a vigorar em setembro deste ano [veja aqui]. Segundo estipula, a ANPD é órgão da administração pública federal, integrante da Presidência da República e detém autonomia técnica e decisória. Seu Conselho Diretor é o órgão máximo de direção e tem competências regulatórias quanto à proteção de dados pessoais no país, conforme regimento da ANPD [8], aprovado em agosto passado. Ele deve ser composto por servidores com experiência no setor de, no mínimo 5 anos; com pós graduação na área ou que tenham ocupado cargo em comissão ou função de confiança. As informações dos três militares nomeados no Portal da Transparência revelam que dois deles – o outro não tem informações suficientes sobre cargo ocupado – não cumprem o terceiro requisito [9] [10] [11], mas é possível que cumpram algum dos outros dois requisitos alternativos. Rael possui pós graduação na área [12]; os outros dois, não [13] [14]. Sabbat ingressou em 2015 no GSI e não tinha experiência prévia na área de dados antes disso, e Ortunha tem experiência na área de TI e telecomunicações, o que, entretanto, não implica experiência na área de proteção de dados pessoais. Especialistas temem que as nomeações criem incentivos à vigilância estatal [15] e à confusão da proteção de dados com a área de segurança da informação, que pressupõe baixa transparência e controle social sobre informações [16]. Organização especializada na área aponta que, das 20 maiores economias do mundo, apenas duas apresentam autoridades de proteção de dados com histórico militar e ambas não são democracias: Rússia e China [17].

Leia estudo sobre autoridades de proteção de dados nas maiores economias do mundo e análises sobre a militarização do setor, a ANPD e sua importância.

15 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Governo monitora jornalistas, parlamentares e formadores de opinião de acordo com posição ideológica e classifica parte deles como ‘detratores’

Tema(s)
Administração, Imprensa, Proteção de dados
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Apuração jornalística revela nesta data que o governo federal produziu relatório que monitora e categoriza jornalistas e formadores de opinião entre ‘detratores’, ‘neutros’ e ‘favoráveis’ [1]. O material foi elaborado por agência de comunicação contratada pelo governo e usa como critério postagens de 77 profissionais sobre o Ministério da Economia (ME) e o ministro da pasta, Paulo Guedes; em oito casos, há indexação do telefone pessoal de jornalistas [2]. O contrato da empresa é com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTIC), mas o ME também usufrui do serviço [3], e é estimado em R$ 2,7 milhões, sendo mais de R$ 36 mil direcionados para a produção do ‘mapa de influenciadores’ [4]. Em entrevista, Guedes alega desconhecer o teor do relatório e afirma que há problemas de comunicação dentro da pasta [5]. Após a existência do documento se tornar pública, o ME rompe vínculo com a empresa responsável por sua elaboração, a BR+ Comunicação [6]. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) coleta assinaturas na tentativa de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso [7]. Outra apuração revelou, em novembro, que a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) também monitora o comportamento digital de parlamentares de oposição e da base aliada [8] [veja aqui]. O presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e o chefe da Secom, Fábio Wajngarten, são intimados por juiz a apresentar documentos sobre o monitoramento que tem sido feito e demonstrativos dos pagamentos efetuados para a empresa responsável pelo serviço [9]. No atual governo, outros episódios já mostraram a fragilidade da relação do Planalto com a imprensa: a Lei de Segurança Nacional foi usada como justificativa para abrir inquérito contra um chargista e um jornalista [veja aqui]; o presidente Bolsonaro realizou 245 ataques à imprensa em seis meses [veja aqui] e foi denunciado no Conselho de Direitos Humanos da ONU [veja aqui]. O Ministério da Justiça também já monitorou 579 servidores [veja aqui]; o Ministério Público do Rio Grande do Norte produziu relatório sobre agentes de segurança antifascistas [veja aqui]; deputado paulista realizou dossiê contra antifascistas [veja aqui], o secretário da Cultura determinou controle de postagens em sites e redes sociais de órgãos vinculados à Secretaria [veja aqui] e diversos ministérios intencionaram o controle de redes sociais de servidores [veja aqui]. Além disso, a liberdade de imprensa diminuiu, segundo relatório [veja aqui].

Leia análise sobre o histórico de monitoramentos do governo federal e os problemas por trás da prática.

01 dez 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Ministério Público
Nível
Federal

PGR quer construir banco de dados para compartilhamento entre membros do órgão com dados sigilosos da Lava-Jato

Tema(s)
Conflito de poderes, Proteção de dados
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O Procurador Geral da República (PGR), Augusto Aras, manifesta intenção de compartilhar o banco de dados sigiloso da Lava-Jato de Curitiba com outras unidades do Ministério Público Federal (MPF) para integrar investigações e informa que a sua cópia já foi finalizada pela corregedoria do MPF [1]. A determinação do compartilhamento foi feita pela corregedora-geral do MPF, Elizeta de Paiva Ramos em novembro de 2020, com o objetivo de apurar possíveis irregularidades no material [veja aqui]. A corregedora, que foi escolhida para o cargo por Aras, profere a decisão após um conflito entre o procurador e as forças tarefas da Lava-Jato, que teve início quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin revogou o acesso de Aras aos dados sigilosos da Lava-Jato [2], após decisão do ministro Dias Toffoli em prol do compartilhamento de todos os dados da Lava-Jato com o PGR. Segundo Aras, o Conselho Nacional do Ministério Público Federal (CNMP) procura construir um banco de dados inspirado no modelo do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e tal projeto deve estar pronto no ano seguinte para compartilhamento entre os membros do MPF [3]. O extinto Coaf levantava informações financeiras pessoais como transações em dinheiro vivo, aquisições de produtos em lojas de artigos de luxo, movimentações bancarias atípicas e as cruzava com a capacidade financeira e eventuais irregularidades cometidas anteriormente. O procedimento não configura investigação mas consulta a bancos de dados que geravam o chamado relatório financeiro, encaminhado para o Ministério Público e Receita Federal [4]. O controle a seu acesso seria ‘rigoroso’. É consenso entre os investigadores da Lava-Jato a impressão de que se depender exclusivamente do PGR, as forças tarefas da operação existentes em Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo terão sua estrutura alterada e reduzida [5]; por outro lado, Aras já prorrogou as forças-tatefas do Paraná e Rio de Janeiro até outubro de 2021 [veja aqui]. Em São Paulo, porém, ela foi dissolvida em setembro deste ano [veja aqui].Desde, ao menos desde 2017, há embates entre o PGR e a força-tarefa da Lava Jato; a partir de junho deste ano, eles se disseminaram após visita atípica da subprocuradora Lindôra Araújo à Curitiba [veja aqui]; no mês seguinte, o PGR também editou portaria que amplia seu acesso a material sigiloso [veja aqui].

Leia a análise sobre as disputas envolvendo a Lava Jato e o PGR

15 dez 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Distrital

Falha de Secretaria da Educação do DF leva à exposição de dados de mais de 1 milhão de alunos

Tema(s)
Criança e Adolescente, Informação, Proteção de dados
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Distrito Federal

Mais de um milhão de alunos têm dados vazados pela Secretaria de Educação do Distrito Federal por falha básica de segurança, segundo reporta portal de notícias especializado nesta data [1]. A vulnerabilidade, que permitia o acesso a informações pessoais dos alunos, ocorreu no portal de gestão de matrículas escolares da secretaria, o i-Estudar [2]. A falha, expunha informações pessoais dos alunos, majoritariamente menores de idade, como nome completo, CPF, data de nascimento, grau de escolaridade, nome da mãe, entre outras [3]. A situação se agrava se consideradas as determinações da Lei Geral de Proteção de Dados, já vigente à época do vazamento de dados, pois o marco legal prevê penalidades a quem expõe dados pessoais de forma indevida, sejam instituições públicas ou privadas, além de conter previsões específicas sobre o tratamento de dados pessoais de crianças e adolescentes, adequadas às determinações do ECA [4] [veja aqui]. Após a redação do portal informar a pasta da brecha de segurança, a secretaria se comprometeu a solucionar a falha e retira o portal do ar, porém, não informa se haveria alguma investigação sobre o alcance do dano ou se havia notificado os alunos com dados expostos [5]. Um diretor da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), o militar Arthur Sabbat [veja aqui], também é notificado e diz que irá iniciar uma investigação [6].

Leia análises sobre a aplicação da LGPD no contexto educacional e sobre as dúvidas mais frequentes em relação ao tema.

22 fev 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Governador do Rio de Janeiro aprova Centro Integrado de Comando e Controle para a Baixada Fluminense

Tema(s)
Administração, Proteção de dados, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Rio de Janeiro

O Governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, assina convênio entre governo do estado e Consórcio Integrado de Segurança Pública da Baixada Fluminense (CISPBAF) para ampliar a segurança da região [1]. Com o acordo, serão disponibilizados equipamentos de monitoramento de ruas, que incluem câmeras, redes de comunicação e softwares de reconhecimento facial, para formar um ‘cinturão eletrônico com monitoramento’ [2]. Em 2019, a Asssembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) já havia disponibilizado 15 milhões de reais para o investimento em inteligência policial, destinado pelo governo do estado à aquisição de equipamentos de segurança [3]. Os recursos provenientes do Fundo Especial da Alerj irão auxiliar na construção do CICC-BF em Duque de Caxias [4]. Especialistas discutem que a utilização de mecanismos de reconhecimento fácil pode atentar contra o direito à privacidade dos cidadãos [5] e ter vieses discriminatórios [6]. O governo federal também já implementou medidas que atentam conta a privacidade dos cidadãos, baixando decretos que preveem compartilhamento de dados pessoais entre órgãos [veja aqui], sem autorização dos cidadãos [veja aqui] e promovendo acordo para ter acesso a dados de cidadãos que possuem CNH [veja aqui]. Entretanto, estas medidas podem ocasionar em problemas como questões jurídicas e problemas técnicos que podem impedir a precisão dos algoritmos e proteção do sistema [7]. O tema vem sendo debatido em diversos lugares do mundo, e nesta semana, após repercussão negativa o Central Único de Favelas interrompeu a utilização do sistema de reconhecimento facial que visava para o recebimento de doações, a autentificação de beneficiários [8].

Ouça podcasts sobre os problemas de implementação de tecnologias de reconhecimento facil e seu potencial discriminatório, e leia relatório sobre o avanço do tecnoautoritarismo sob o governo atual.

27 fev 2021
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