Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos exclui mandatos do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, um dia após organizações da sociedade civil apresentarem pedido de impeachment de Bolsonaro

Tema(s)
Participação da sociedade civil, Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), Damares Alves, exclui, através de Portaria [1], membros do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) que também fazem parte de entidades da sociedade civil opositoras ao governo Bolsonaro [2]. O MMFDH apresenta como justificativa para as exclusões, após ter sido provocado pelo Ministério Público Federal a investigar a duração dos mandatos de alguns membros do CNPIR, que estes estariam no quarto mandato consecutivo e que isso seria contrário à legislação [3]. A decisão exclui dos cargos sete membros da Coalização Negra por Direitos (CND), 1 membro da União Nacional dos Estudantes (UNE) e 1 membro da Central Única dos Trabalhos [4]. Um dia antes da publicação da portaria, a CND apresentou pedido de impeachment do presidente Bolsonaro em razão da omissão governamental no combate à covid-19, que soma mais de 100 mil mortos no país [5]. Em nota, a CND repudia a ação da ministra Damares, ao considerar as exclusões como retaliação política, e afirma que tomará as medidas judiciais cabíveis para tentar reverter os mandatos [6]. A UNE se manifesta criticando a postura do MMFDH ao indicar que os mandatos tinham vigência até o término de 2020 [7]. Em outras oportunidades em que houve redução da participação da sociedade civil em órgãos consultivos do Estado, o governo federal extinguiu a membros da sociedade civil no Conselho Permanente para o Reconhecimento de Saberes e Competências [veja aqui] e retirou parcela dos membros na Comissão Nacional de Biodiversidade [veja aqui].

Veja manifesto produzido por coalizões do movimento negro e análise sobre a importância de iniciativas como essa no atual cenário político do Brasil.

12 ago 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Por omissão do governo na crise da covid-19, quilombolas vão ao STF

Tema(s)
Quilombolas, Raça e etnia, Saúde
Medidas de emergência
Restrição a direitos fundamentais

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais e Quilombolas (Conaq), em conjunto com partidos da oposição, ajuízam ação [1] no Supremo Tribunal Federal (STF) para denunciar a omissão do Executivo no enfrentamento da pandemia em relação às comunidades quilombolas, requererendo a adoção de plano nacional de emergência [2]. São ressaltadas a condição de especial vulnerabilidade dessas comunidades em razão das condições socioeconômicas precárias e das dificuldades de acesso a serviços de saúde [3]. E as ‘graves e evitáveis lesões que afetam de forma relevante a possibilidade de continuidade de reprodução física, social, étnica e cultural de cada comunidade’ [4]. Uma das evidências dos efeitos desproporcionais é a constatação de maior taxa de mortalidade por covid-19 entre quilombolas (3,6%) quando comparada a população em geral (3%) [5]. O plano nacional proposto inclui a distribuição de equipamentos de proteção e de itens de higiene, além de água potável e cestas básicas [6]. Igualmente, são requeridas ações para garantia de acesso à políticas de saúde pública, como disponibilização de vagas em hospitais e ambulâncias, e a realização de testagem periódica [7]. Essa não é a primeira vez que povos originários recorrem ao STF, em abril povos indígenas isolados são contaminados pela covid-19 e ajuizam ação requerendo medidas de proteção [veja aqui]. Ressalte-se que o governo federal demorou três meses para apresentar projeto de lei com medidas específicas para proteção de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais contra o novo coronavírus [veja aqui], sendo que após aprovação no Congresso, inúmeras medidas foram vetadas pelo presidente [veja aqui]. Vale notar que o governo Bolsonaro se notabilizou pela baixa histórica de reconhecimento de comunidades quilombolas [veja aqui], por assinar decreto que extinguiu programa de incentivo a quilombolas [veja aqui], e por autorizar, já durante a pandemia, a remoção dessas comunidades no município de Alcântara [veja aqui].

Leia análise sobre a covid-19 nos quilombos

10 set 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Defensoria Pública
Nível
Federal

Defensoria Pública da União ajuíza ação contra empresa que contrata trainees apenas com base em ações afirmativas

Tema(s)
Comércio, Raça e etnia, Trabalho
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Defensoria Pública da União (DPU), através do defensor Jovino Bento Junior, apresenta ação contra a empresa Magazine Luiza pela iniciativa de um programa de trainees com base em ações afirmativas [1]. O processo seletivo teve como pré-requisito que o candidato fosse autodeclarado preto ou pardo; segundo a empresa o objetivo é ampliar a diversidade nos cargos de liderança. Dos 250 trainees formados ao longo de 15 anos de empresa, apenas 10 eram negros [2]. De acordo com defensor público que ajuíza a ação, a política afirmativa de contratação da empresa é uma estratégia de ‘marketing de lacração’ – expressão pejorativa utilizada para qualificar estratégias de propaganda que buscam chamar atenção pública – e que ‘viola os direitos dos demais trabalhadores no mercado de trabalho’ [3]. O caso repercute dentro da própria (DPU): no dia seguinte à ação, o Grupo de Trabalho de Políticas Etnorraciais da DPU emite nota técnica em que manifesta repúdio à postura de Jovino, e afirma que agirá no processo aberto pelo defensor para defender a execução das ações afirmativas [4]. A tentativa de impedir o programa de contratação não foi isolada, já que ao menos outras 11 denúncias em sentido parecido já foram apresentadas, todas indeferidas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O MPT afirma que o caso concreto não se trata de violação trabalhista, mas sim de uma ação afirmativa de ‘reparação histórica’ [5]. Em outras oportunidades, o MEC revogou portaria que incentivava ações afirmativas em universidades federais e, após críticas, voltou atrás [veja aqui]; e o presidente Bolsonaro enviou projeto de lei que flexibiliza lei de cotas para a contratação de pessoas com deficiência , e vetou campanha publicitária de banco pautada por diversidade racial e sexual [veja aqui].

Leia a análise sobre a controvérsia do programa de trainee, e ouça podcast sobre o caso, desigualdades raciais no mercado de trabalho e ações afirmativas.

05 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Presidente da Fundação Palmares retira nomes da lista de personalidades negras da instituição

Tema(s)
Cultura, Informação, Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

Sergio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), retira nome de Marina Silva (Rede) e outras personalidades da lista de personalidades negras [1] da Fundação [2]. Em sua rede social, ele afirma que ‘Marina não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil’ [3], e não teve contribuição verdadeira para a pauta ambientalista. Segundo Camargo, ela, bem como ‘Jean Willys, Talíria Petrone, David Miranda (branco) e Preta Gil também são pretos por conveniência’ [4]. No mês passado, ele já tinha retirado o nome de Benedita da Silva (PT), candidata à prefeitura do Rio de Janeiro, alegando que ela ‘responde pelo crime de improbidade administrativa’ [5]. Em nota, a Rede Sustentabilidade [6], o Partivo Verde (PV) [7] e o Partido dos Trabalhadores (PT) [8] repudiam as decisões, classificando-as como um ‘ataque a história dos negros do país’ e como uma tentativa do atual governo de apagar da memória ‘narrativas do povo negro’. Marina Silva também se manifesta, dizendo que ‘todas as pessoas excluídas não o foram por serem irrelevantes, mas exatamente pela importância das causas que defendem’ [9]. Em 11 de novembro, Sérgio Camargo anuncia novas mudanças e retira outros nomes da lista [10]. Em seguida, a deputada estadual, Leci Brandão (PC do B), contesta a decisão e diz que Camargo ‘quer aparecer’ e procura sempre ‘uma forma de humilhar, desmerecer’ a história da ‘população negra’ [11]. Depois, Martinho da Vila, também retirado da lista, comenta a ação e diz que ficou ‘contente’, pois se ‘desvincula’ da ‘organização que não é mais minha, nossa, entendeu?’ [12]. Em 2 de dezembro, Sergio divulga lista oficial das personalidades excluídas [13]. No dia 9 de dezembro, por meio de decreto legislativo, o Senado suspende a portaria da Fundação Palmares e a proposta segue para a Câmara [14]. Vale lembrar que em oportunidades anteriores Camargo ordenou censura a outras biografias negras na própria instituição [veja aqui], atacou a imagem de Zumbi dos Palmares [veja aqui], e se referiu ao movimento negro como ‘escória maldita’ [veja aqui]. Em março de 2021 a Justiça Federal do Distrito Federal determina que a Fundação insira novamente os nomes de Benedita da Silva, João Francisco dos Santos, o Madame Satã e de Marina Silva, a lista de personalidades negras [15].

Leia entrevista com ex-diplomata e ex-presidenta da FCP sobre o racismo estrutural no Brasil.

13 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Funcionário da Fundação Palmares diz que escravos tinham vida ‘quase de anjo’ no Brasil

Tema(s)
Negacionismo, Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

O coordenador de articulação e apoio às comunidades remanescentes dos quilombos da Fundação Cultural Palmares (FCP), Victor Barbosa, nega a crueldade da escravidão no Brasil, e cita sociólogo brasileiro ao dizer que os escravos tinham vida ‘quase de anjo’ [1]. Barbosa cita Gilberto Freyre que, ao comparar a situação de operários ingleses e escravos no Brasil, vê os segundos como ‘privilegiados’. Em seguida, Barbosa cita diplomata conservador brasileiro para defender o colonialismo e conclui que se não fosse tal prática ‘seríamos terra de tupiniquins’ [2]. As falas de Barbosa não são isoladas; em suas redes sociais, antes da nomeação ao cargo, ele já criticou Zumbi dos Palmares [3]. O presidente da FCP, Sérgio Camargo, em outras oportunidades, também atacou a imagem de Zumbi [veja aqui], chamou o movimento negro de ‘escória maldita’ [veja aqui], censurou a biografia de líderes negros do portal da FCP [veja aqui] e retirou o nome de adversários políticos da lista de personalidades negras do site da instituição [veja aqui]. Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro, enquanto deputado federal, foi condenado a indenizar comunidades quilombolas por danos morais [4]. Já durante o governo, os grupos quilombolas sofrem baixa histórica no reconhecimento de seus territórios [veja aqui], e vêm sendo omitidos nas estratégias de enfrentamento da covid-19 [veja aqui].

Leia análise detalhada sobre a escravidão brasileira, sobre a obra controversa do sociólogo brasileiro, e sobre racismo científico no Brasil.

17 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Três jovens negros são mortos em decorrência de violência policial no Morro da Bacia

Tema(s)
Raça e etnia, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Rio de Janeiro

A Polícia Militar do Rio de Janeiro mata 3 pessoas em baile funk no Morro da Bacia, na Baixada Fluminense, e afirma que as mortes ocorreram em confronto com traficantes [1]. Entre os mortos estava o neto do sambista Neguinho da Beija-Flor, Gabriel Marcondes, de 20 anos, que não tem qualquer envolvimento com o tráfico [2]. Além de Gabriel, Mateus Gomes e David de Jesus também foram mortos [3]. Em entrevista, Neguinho manifesta insatisfação com as operações da PM nas favelas, com o tratamento desigual da justiça em virtude da cor da pele, e diz: ‘Negros já nascem suspeitos. Em negros, atiram primeiro para depois saber quem é’ [4]. O então recém-eleito governador do Estado do Rio, Wilson Witzel (PSC), disse, ainda em 2018, que a polícia, em seu governo, iria ‘mirar na cabecinha’ e atirar [5]; no ano passado, disse que manteria ‘um míssil’ para explodir traficantes na favela [6] [veja aqui], elogiou atuação que matou 15 pessoas [veja aqui], afirmou, ao comentar o aumento das mortes nas operações, que a ‘polícia mandou recado’ [veja aqui] e, após lamentar a morte de Ágatha Félix, menina de 8 anos assassinada por PM no Complexo do Alemão, declarou que a política de segurança do Estado estava no ‘caminho certo’ [veja aqui]. Vale lembrar que as mortes em intervenções policiais no Brasil, mesmo com pandemia do covid-19, já subiram 13% em comparação a 2019 [7], e 43% só no Rio de Janeiro [veja aqui], onde operações policiais foram, então, suspensas. Também, outros governantes [veja aqui] e o próprio presidente da República já enalteceram ações punitivistas [veja aqui].

Leia análise sobre o aumento de negros assassinados, dados sobre a violência policial, e reportagem sobre a esperança de justiça dos familiares.

18 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Patamar de mortes em ações policiais em 2019 é o maior desde início de série de monitoramento realizado por plataforma especializada em segurança pública

Tema(s)
Raça e etnia, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo

Relatório produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que em 2019 o Brasil atingiu o patamar mais alto de mortes decorrentes de ações policiais desde 2013, quando o número começou a ser monitorado [1]. A organização identifica 6.357 mortes por conta do uso de força por agentes estatais naquele ano, número que corresponde a 13,3% do total de mortes violentas no mesmo período [2]. Dentre as mais de 6.000 pessoas mortas, 99,2% são homens, 74,3% têm até 29 anos e 79,1% são pretas e pardas [3]. Se comparadas as taxas de mortes por 100 mil habitantes, o número de pessoas negras mortas em razão da letalidade policial é 183,2% maior ao número de pessoas brancas mortas pelo mesmo motivo [4]. Geograficamente, o relatório aponta que os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro são responsáveis por 42% do total das ocorrências desse tipo no período [5]. A escalada na letalidade policial se dá em um contexto de reiterados posicionamentos do governo contrários à limitação do abuso da força policial. Em 2019 o presidente Jair Bolsonaro defendeu a ampliação do excludente de ilicitude para esses agentes e comparou ‘bandidos’ a baratas [veja aqui] e elogiou policial que mata em serviço [veja aqui]. Os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro, estados mais afetados pelas mortes em ações policiais, também já deram declarações violentas [veja aqui] [veja aqui]. Em 2020, ações policiais em comunidades no Rio de Janeiro foram suspensas pelo Supremo Tribunal Federal após o aumento nos índices de letalidade policial [veja aqui] e o elevado número de mortes de jovens negros por agentes policiais desemcadeou protestos contra racismo e fascismo ao redor do país [veja aqui].

Ouça podcast sobre pesquisa que trata das operações policiais realizadas no Rio de Janeiro entre 1989 e 2018, veja vídeo sobre a importância de registrar imagens de violência policial e conheça a campanha Alvos do Genocídio, lançada em 2020 pela Coalizão Negra por Direitos. Leia também reportagem sobre o impacto da violência policial na vida dos agentes policiais no Rio de Janeiro e análise sobre a importância do debate da segurança pública na construção de uma agenda antiautoritária.

19 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Polícia civil prende homem sem provas por 30 dias

Tema(s)
Prisões, Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Rio de Janeiro

Polícia Civil prende Eduardo de Assis Fernandes por 30 dias após ser acusado de roubo com base em uma foto de facebook de outra pessoa [1]. Eduardo é preso em casa, sob a suspeita de ter roubado e extorquido dois empresários no estacionamento de um supermercado [2]. A Justiça autoriza sua prisão preventiva tendo como base o reconhecimento das vítimas feito a partir de uma foto de 2016 do perfil do facebook de Fernandes [3]. Para o delegado do caso Eduardo está envolvido no crime pela proximidade com outro rapaz que trabalhou no mesmo supermercado em que trabalha e por ter sido demitido por justa causa [4]. O rapaz é preso, mesmo diante da inexistência de provas [5]. Para juristas, a prisão não se sustenta, pois Eduardo trabalha com carteira assinada, tem residência fixa e não têm antecedentes criminais [6]. A família lamenta a ação preventiva sem provas e diz que se trata de racismo [7]. O irmão de Eduardo, afirma que ele foi preso sem nem saber o motivo, porque antes disso nunca tinha sido nem chamado para depor [8]. Em 22/11, Eduardo é solto, pela ausência de provas e, após sua soltura, afirma sentir medo e dificuldades para dormi [9]. A Advogada a frente do caso, Débora Antunes, diz que a estratégia a ser usada é solicitar a revogação da prisão temporária de Fernandes [10]. Em oportunidades anteriores, diversos atos contra o racismo foram abordados com violência pela polícia em várias partes do país [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui], inclusive durante a pandemia, em que operações policiais foram suspensas no Rio de Janeiro [veja aqui].

Leia análise sobre o racismo no Brasil, sua relação com o aumento de pessoas negras na prisão e sobre a situação dos encarcerados.

22 out 2020
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Hamilton Mourão e Sérgio Camargo dizem que não há racismo no Brasil após espancamento de negro em supermercado

Tema(s)
Negacionismo, Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

No dia da Consciência Negra, e um dia após João Alberto Silveira Freitas ser espancado até a morte por – Magno Braz Borges e Giovane Gaspar – dois seguranças (e o segundo, também policial militar temporário) [1] na porta de supermercado, em Porto Alegre (RS) [2], o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, lamenta a morte e diz que não pode ser caracterizado como um episódio de racismo porque, para ele, ‘no Brasil, não existe racismo’ [3]. Em seguida, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, através de suas redes sociais, reforça a fala de Mourão e complementa: ‘não existe racismo estrutural no Brasil; o nosso racismo é circunstancial’ [4]. Logo após, a coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Iêda Leal, desaprova as declarações do vice-presidente, declara que o ‘Brasil está nas mãos de gente absolutamente sem caráter’, e afirma que ‘essa postura só vai contribuir para a perpetuação do racismo na nossa sociedade’ [5]. De acordo com estudo realizado em 2020, entre 2008 a 2018, o índice de homicídios de negros cresceu 11,5%, enquanto o de não negros caiu 12% e, no total de assassinados no brasil, os negros equivalem a 75,9% da população [6] [veja aqui]. Em repercussão à morte de João, nas redes sociais, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ex-presidentes do país, presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, governadores, artistas e a sociedade civil lamentam o acontecimento e reiteram a ‘luta’ e o ‘combate’ ao ‘racismo estrutural’ brasileiro [7]. Vale lembrar que manifestantes contra injustiças raciais e sociais são frequentemente represados pela violência policial [veja aqui] e já foram classificados como ‘marginais’ pelo presidente Jair Bolsonaro [veja aqui], que também já declarou que deputado era negro porque demorou a nascer [veja aqui]. A pauta racial também foi rejeitada pelo Brasil na ONU [veja aqui] e minimizada por Bolsonaro em reunião do G20 [veja aqui]. Sérgio Camargo também já disse no passado que não há racismo no Brasil [veja aqui] e, neste ano, propôs a criação de um selo não racista [veja aqui]. Quase um mês depois da morte de João Alberto Silveira Freitas, o Instituto Geral de Perícias (LGP) conclui que a causa da morte foi por asfixia e a Polícia Civil indicia 6 pessoas por homicídio triplamente qualificado [8].

Leia análises sobre a violência contra negros no Brasil, sobre a representatividade do dia da Consciência Negra, sua relação com a democracia e sobre o mito da igualdade racial brasileira.

19 nov 2020
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro minimiza racismo no Brasil: ‘sou daltônico, todos têm a mesma cor’; no mesmo dia, Mourão e Sérgio Camargo têm posturas semelhantes

Tema(s)
Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

O presidente da República, Jair Bolsonaro, minimiza a questão racial no Brasil após o assassinato de João Alberto Freitas [veja aqui], bem como o vice-presidente Hamilton Mourão e o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo [1]. Ao comentar o caso, Hamilton Mourão diz que ‘não existe racismo no Brasil’: seria algo que tentariam ‘importar’ ao país [2]. Em rede social, Sérgio Camargo adota tom semelhante: ‘não existe racismo estrutural no Brasil; o nosso racismo é circunstancial’. O racismo como ‘estrutura onipresente’ seria invenção da esquerda, em seus termos [3]. Já o presidente, em texto publicado em suas redes sociais, diz ser ‘daltônico’ e que ‘todos tem a mesma cor’ [4]. O presidente também afirma que ‘não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus’ [5]. No mesmo dia, empresa pública de comunicação (EBC) impõe que jornalistas não publiquem matérias relacionadas ao assassinato de Beto Freitas [veja aqui] e, no dia seguinte, Bolsonaro minimiza o debate sobre o racismo em cúpula do G20 [veja aqui]. Sergio Camargo também já criticou lideranças do movimento negro [veja aqui], o movimento em si [veja aqui] e retirou nomes de lista de personalidades negras do site da Fundação Palmares [veja aqui]. Além disso, o governo e utilizou apenas 2% da verba do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos no combate ao racismo [veja aqui].

Leia aqui análises sobre como a questão racial no Brasil foi incorporada no marco de 20 de novembro, como é alimentado o discurso da inexistência do racismo no Brasil, além de contestações de manifestações de racismo. Ouça, também, podcast sobre como a pauta antirracista foi destaque em 2020.

20 nov 2020
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