Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

PM à paisana mata jovem a caminho do mercado na periferia do SP

Tema(s)
Raça e etnia, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
São Paulo

Policial Militar (PM) à paisana mata jovem negro de 20 anos na periferia de São Paulo [1]. Thiago Aparecido Duarte de Souza saiu para comprar leite no mercado do bairro Jardim Limoeiro e parou para conversar com Fernando Henrique Andrade da Silva, 27, também morador da comunidade [2]. Os jovens são abordados violentamente por policiais que consideraram os rapazes como suspeitos de um roubo de carro ocorrido nas proximidades [3]. Segundo testemunhas, no momento da abordagem Thiago não obedeceu a ordem de um policial de deitar no chão e logo depois disso é atingido com um tiro à queima-roupa em seu rosto, por um policial que vestia roupas civis [4]. Câmeras de segurança mostram que, durante a abordagem, Fernando também é agredido por um policial, este fardado, que pisa em sua cabeça [5]. Pelo menos cinco policiais armados aparecem nas filmagens [6]. A situação da morte do jovem é cheia de contradições por parte dos policiais, que apresentam versões divergentes sobre a ocorrência [7]. A família do jovem alerta que outras imagens das câmeras de segurança dos estabelecimentos próximos ao local do crime foram recolhidas pelos policiais, e que o Instituto Médico Legal (IML) informou que não foi encontrado nenhum projétil na cabeça de Thiago [8]. Queli Duarte, mãe do jovem acredita que a abordagem do policial não seguiu os protocolos adequados e acredita que ‘a polícia teria abordado ele de outra forma se ele fosse loirinho, branquinho’ [9] A morte de Thiago pelas mãos da polícia ocorre no momento em que o índice de letalidade policial aumentou significativamente no Brasil [veja aqui] e no estado de SP [veja aqui][veja aqui], mesmo durante o isolamento social decorrente da pandemia. Há casos brutais em SP, de policiais militares que sufocaram entregador [veja aqui], de mulher que tem o pescoço pisado por policiais [veja aqui], assassinato de artista plástico por sargento da PM [veja aqui].

Leia análises sobre a polícia, o racismo e ouça podcast sobre a política de enquadro no estado de SP.

08 abr 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministro da Economia diz que ‘o chinês inventou o vírus’, a despeito de já ser comprovado a impossibilidade da covid-19 ser uma criação laboratorial

Tema(s)
Negacionismo, Raça e etnia, Saúde, Xenofobia
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Paulo Guedes, ministro da Economia, diz que os chineses criaram a covid-19, que as vacinas desenvolvidas por eles são menos eficazes que as produzidas por laboratórios estadunidenses e ainda afirma que a vacina da Pfizer é ‘melhor que todas as outras’ [1]. A declaração é dada em uma reunião do Conselho de Saúde Suplementar, que estava sendo transmitida nas redes sociais sem que o ministro da Economia soubesse [2]. Na mesma ocasião, ele critica a concessão de financiamento estudantil a estudantes de baixa renda [veja aqui] e a alta expectativa de vida da população [veja aqui]. O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, também afirma na reunião que prefere tomar a vacina Astrazeneca à Coronavac, desenvolvida por uma farmacêutica chinesa [3]. Após a repercussão das falas ditas na reunião, Guedes pede desculpas por ‘usar uma imagem infeliz’ e declara que foi vacinado com a Coronavac [4]. A declaração de Guedes vai em sentido contrário ao afirmado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que considera ‘extremamente improvável’ a possibilidade de criação do vírus em um laboratório [5]. Os ataques xenófobos e desrespeitosos a China pela ala bolsonarista se tornaram frequentes após o início da pandemia da covid-19: o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro em um tweet criticou a gestão chinesa sobre a pandemia e gerou uma crise diplomática com o país [veja aqui]; o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub satirizou o sotaque chinês e insinuou que a China se beneficiou da pandemia [veja aqui]; o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo chamou a covid-19 de ‘comunavírus’ [veja aqui]. Já o presidente Jair Bolsonaro comemorou a suspensão temporária da Coronavac [veja aqui] e desautorizou a compra do imunizante pelo Ministério da Saúde [veja aqui], ação revertida posteriormente. Em 05/05, ele reafirma que o vírus é fruto de experimentos laboratoriais com intuito de ser usado como arma em uma ‘guerra química’ pela China [6].

Leia sobre como as ofensas discriminatórias contra a China tornam as relações com o Brasil instáveis.

27 abr 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro diz que não regulamentará expropriação de terras em caso de trabalho escravo

Tema(s)
Meio Ambiente, Raça e etnia, Regularização de Terras
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O presidente Jair Bolsonaro promete revisar a emenda constitucional que determina a expropriação de terras que sejam utilizadas em trabalho escravo [1]. A declaração é feita em discurso na 86ª edição da ExpoZebu, evento que reúne empresários do agronegócio [2]. O presidente defende que a emenda enfraquece a propriedade privada no país, e que não regulamentará isso [3]. Embora a Constituição Federal objetive proteger o trabalhador de situações análogas a escravidão, tal emenda ainda carece de regulamentação sobre como será caracterizado o termo ‘trabalho escravo’ [4]. Bolsonaro ainda diz que em seu governo os produtores rurais ‘tiveram uma participação do Ibama e do Icmbio sem agressões’ [5], afirmando que, nos casos de infrações ambientais, seu governo opta primeiro pelo aconselhamento, e em último caso pela a multa [6], o que isso ‘trouxe mais paz e tranquilidade para o produtor rural’ [7]. Vale lembrar que em 2019 o Ministério Público do Trabalho, resgatou 1.213 pessoas do trabalho escravo [veja aqui], e recebeu 6 mil denúncias de trabalho em condições análogas a escravidão e tráfico de pessoas nos últimos 5 anos, desses, 70% são pardos ou negros [8]. Essa não é a primeira vez que o presidente relativizou o trabalho escravo e fez críticas as normas referentes à escravidão [veja aqui].

Leia as análises sobre o trabalho escravo no país e o aspecto racial presente.

02 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Judiciário
Nível
Estadual

Maior chacina da história do estado, operação policial mata 28 pessoas no Rio de Janeiro

Tema(s)
Conflito de poderes, Raça e etnia, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Rio de Janeiro

Operação policial realizada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro (PC-RJ) mata 28 pessoas na comunidade do Jacarezinho, sendo esta a maior chacina da história do estado [1]. Segundo a PC-RJ, a operação, batizada de ‘Exceptis’, tinha como objetivo a prisão de 21 investigados pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) por aliciamento de crianças e adolescentes para a Faccção do Comando Vermelho [2]. A Exceptis descumpriu a liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que proíbe operações policiais em comunidades do RJ durante a pandemia [veja aqui], exceto em casos excepcionais, que deveriam ser informados e justificados previamente ao Ministério Público (MP), neste caso, a operação começa às 06h e o MP só é comunicado por volta das 09h, três horas após o início da operação [3]. Dos 28 mortos, 27 eram civis, dentre os quais apenas três estão na lista dos 21 investigados pela PC-RJ; também falece o policial civil André Frias [4]. Balas perdidas atingem a estação de mêtro próximo a região e deixam 2 passageiros feridos [5]. Os moradores de Jacarezinho relatam a extrema violência dos policiais, que já ‘chegaram atirando’; há relatos de tortura, de invasão de domicílios e de deslocamento de corpos pela polícia [6]. No dia seguinta a operação, o ministro do STF Edson Fachin encaminha ao Ministério Público supostos vídeos da operação que contêm ‘indícios de atos que, em tese, poderiam configurar execução arbitrária’ [7]. O MP do Rio de Janeiro afirma que irá investigar as irregularidades e abusos na ação Exceptis [8].O delegado Rodrigo Oliveira, responsável pelo comando da operação, afirma que esta ocorreu dentro da legalidade e em concordância com a decisão do STF; ele também critica o ‘ativismo judicial’ que estaria ‘dificultando’ a a ação policial, resultando no fortalecimento do tráfico de drogas [9]. O Deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) crítica a falta de inteligência e planejamento nas operações do polícia que ocasionam a morte de inocentes, a política de segurança deveria promover a cidadania e ‘não o terror e a morte’ [10]. O presidente Jair Bolsonaro criticou a mídia por chamar os mortos de Jacarezinho de ‘vítimas’ e elogiou a operação policial [veja aqui] [11] e seu vice Mourão afirmou que todos os mortos eram ‘marginais’ [veja aqui]. A chacina teve repercurssão internacional com a Organizações das Nações Unidas (ONU) e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) solicitando que seja feita uma investigação rigorosa por um órgão independente e imparcial a fim de punir os responsáveis e reparar as famílias das vítimas [12]. Em março, o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do RJ que investigava abusos policiais foi extinto [13] [veja aqui]. O país tem vivenciado um aumento da violência e de mortes causadas por agentes do estado, em 2019, foram identificadas 6.357 mortes causadas pelo uso de força de agentes estatais no Brasil [veja aqui]. Em abril de 2020 houve um aumento de 43% nas mortes cometidas por policiais no RJ durante a pandemia [veja aqui] e o estudo do Instituto de Segurança Pública (ISP), mostra que em média a polícia do Estado do Rio mata 873 pessoas por ano em conflitos armados [14]. No dia 13/05 – dia Nacional de denúncia contra o racismo- a Coalizão Negra por Direitos, instigados pelo caso do Jacarezinho, promove manifestação nacional contra a continua chacina e genocídio do povo preto [15]. Em 24/05 é revelado que a Polícia Civil classificou como sigilosos todos os documentos referentes a operação Exceptis [veja aqui].

Leia a análise sobre as implicações da decisão do STF e ouça o podcast sobre a chacina do Jacarezinho.

06 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro faz comentários racistas a apoiador

Tema(s)
Negacionismo, Raça e etnia
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias
Estado
Distrito Federal

Presidente Jair Bolsonaro faz comentários racistas a apoiador na frente do Palácio da Alvorada [1]. Durante conversa com apoiadores que o aguardavam do lado de fora, Bolsonaro se refere negativamente ao cabelo black power de Maicon Sulivan [2], que por sua vez não considera a fala preconceituosa [3]. Em vídeo [4] é possível ver o momento em que Maicon se aproxima para tirar foto com o presidente e este olha para seu cabelo e em seguida comenta ‘estou vendo uma barata aqui’ [5]. Antes disso, ele diz ‘tem piolho nesse cabelo’ [6]. Apesar do comentário racista, Maicon tece críticas em suas redes sociais aos veículos de imprensa que noticiam como racistas as falas de Bolsonaro [7]. Para o rapaz negro, Bolsonaro não é racista e os comentários são permitidos, pois ele não seria um simples apoiador, mas sim um amigo do presidente, que por sua vez teria intimidade e liberdade para fazer ‘brincadeiras’ e ‘piadas’ [8]. O cabelo black power não tem uma significação meramente estética, mas representa um símbolo de resistência para o povo negro, que surgiu a partir de reivindicações do movimento negro em 1950 e que até hoje apresenta-se como uma valorização da cultura negra e da autoimagem do povo negro, a partir do rompimento com os padrões de beleza eurocêntricos [9]. Assim, embora Maicon não tenha se ofendido pessoalmente, o comentário do presidente coloca-se como racista por ridicularizar um dos símbolos da luta antirracista. Esta não é a primeira vez que integrantes deste governo proferem falas e tem atitudes que atacam o povo negro e tentam desabonar todo avanço na discussão antirracista [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui].

Leia análises sobre a negação do racismo, o discurso endossado por Bolsonaro em seu governo e como opera o racismo recreativo.

06 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

Bolsonaro elogia a operação policial que resultou na maior chacina do Rio de Janeiro

Tema(s)
Militarização, Raça e etnia, Segurança pública, Sistema penal e socioeducativo
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Rio de Janeiro

Jair Bolsonaro parabeniza a Polícia Civil (PC) pela operação no Bairro Favela do Jacarezinho [1], maior chacina da história do estado do Rio de Janeiro que resultou em 28 mortes [veja aqui]. Segundo o presidente, os mortos são ‘traficantes que roubam, matam e destroem família e que ‘a mídia e a esquerda’ os igualam ao cidadão comum, honesto, que respeitas as leis e o próximo’ [2]. Hamilton Mourão, vice-presidente, também afirmou que os mortos eram ‘bandidos’ [veja aqui]. No entanto, dos 28 mortos, 27 eram civis e apenas 3 constavam na lista de investigados pela PC [veja aqui]. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro afirma que nem todos os mortos têm antecedentes criminais e que: ‘Independente disso, podem ser todos bandidos ou inocentes, nada justifica uma operação desastrosa [3]. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) também condenou a violência e expressou sua preocupação com a permanência de uma violência policial no país, instando o Brasil a reformar sua política de segurança pública [4]. Durante o governo, Bolsonaro já comparou ‘bandidos’ a baratas e defendeu uma ‘retaguarda jurídica’ para policiais [veja aqui], chamou tortura em presídios de ‘besteira’ [veja aqui], ampliou as atribuições do Advogado Geral da União para incluir a defesa de agentes de segurança [veja aqui], elogiou policial que mata em serviço [veja aqui], defendeu a excludente de ilicitude para policiais e militares [veja aqui] [veja aqui], aprovou o pacote anticrime que reitera a legitimação do uso excessivo da força por policiais [veja aqui] [veja aqui], e concedeu indulto de natal apenas a agentes da segurança pública e das Forças Armadas que praticaram crimes culposos [veja aqui]. Nos últimos anos, houve o crescimento da violência policial e de mortes causadas por agentes da segurança pública [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui], segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2019, o Brasil atingiu o patamar mais alto desde 2013, quando o número passou a ser monitorado, totalizando 6.357 mortes [veja aqui], apesar da redução no número total de assassinatos [5].

Leia relatório da CIDH sobre a situação dos Direitos Humanos no Brasil e sobre como o regime de exceção é a regra nas periferias brasileiras.

09 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Presidente da Fundação Palmares sugere que jornalistas ‘defendem traficantes’ porque supostamente usam cocaína

Tema(s)
Imprensa, Raça e etnia, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, diz que jornalistas defendem traficantes por usarem cocaína [1]. A afirmação foi feita em rede social, se referindo à uma matéria do jornal Folha de São Paulo, sobre a operação da Polícia Federal, Exceptis, ocorrida na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro [2]. A operação matou mais de 28 de pessoas, quase todas negras [3], sendo a maior chacina ocorrida no Estado [veja aqui]. Camargo não é o primeiro integrante do governo federal a se manifestar acerca da operação. Em 07/05, o vice-presidente, Hamilton Mourão descredita a gravidade da operação e diz que todos os mortos seriam marginais [veja aqui]. Em 09/05, o presidente Jair Bolsonaro, elogia a operação dizendo que, ‘os mortos são ‘traficantes que roubam, matam e destroem família’ e que ‘a mídia e a esquerda’ os ‘igualam ao cidadão comum, honesto, que respeitas as leis e o próximo’ [veja aqui]. A fala de Camargo, feita em tom pejorativo, está em consonância com os constantes ataques feitos por Bolsonaro e seus apoiadores à imprensa: de acordo com ONG especializada, o governo Bolsonaro realizou 580 ofensas à imprensa em 2020 [veja aqui], no mesmo ano as agressões à jornalistas cresceram 168% em comparação com o mesmo período de 2019 [veja aqui]. Além disso, não é a primeira vez que Camargo comete atos que atentam à democracia. Em 13/05/2020, na data comemorativa da Lei Áurea, Camargo ironizou Zumbi [veja aqui]. Em 30/04/2020, Camargo disse que o movimento negro é ‘escória maldita’ [veja aqui]. Em 15/06/2020, a Fundação Palmares, liderada por Sergio Camargo, censura biografias sobre lideranças negras, em seu portal [veja aqui]. Em 19/11/2020, após o espancamento de negro em supermercado, Camargo e Hamilton Mourão disseram não haver racismo no Brasil [veja aqui].

Leia análise sobre o racismo no Brasil e sobre o fato de que a maioria dos mortos em operações policiais no RJ são negros.

10 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Governo diminui a transparência em relatórios sobre trabalho escravo

Tema(s)
Informação, Proteção de dados, Raça e etnia, Trabalho, Transparência
Medidas de estoque autoritário
Restrição a direitos fundamentais

Governo Federal nega pedido de informações da organização “Fiquem Sabendo” sobre relatórios de fiscalização de trabalho escravo no Brasil, segundo apuração desta data [1]. Indo contra entendimento de que os relatórios deveriam ser de acesso público, o governo fundamenta sua decisão na Lei Geral de Proteção dados (LGPD) [2]. A negativa é fundamentada na Lei de Acesso à Informação (LAI) [3]. Em resposta, o Ministério da Economia informa que não poderia publicizar os relatórios pois conteriam ‘informações pessoais, as quais devem ser tratadas e protegidas’, segundo a LGPD [4]. A LGPD tem sido utilizada como argumento negativo à pedidos de informações baseados na (LAI) [5]. Segundo pesquisa realizada pela Fiquem Sabendo, o Ministério da Saúde deixou de responder ao menos 70 pedidos de informações, até o dia 20/04 [6]. Segundo a plataforma, ‘o dado é preocupante se analisado em contexto com outras medidas tomadas pelo governo federal, que limitaram (…) a transparência de informações públicas’ [7]. O acesso aos relatórios é importante pois são documentos utilizados em pesquisas e reportagens para analisar o fenômeno do trabalho escravo no Brasil [8] [9]. Segundo especialistas, a LGDP não pode ser interpretada como forma de restringir ao direito do acesso à informação, regulamentado pela LAI [10]. Em 23/03/2020, a Medida Provisória nº 928 suspendeu prazos e recursos dos pedidos de acesso à informação [veja aqui]. Em 24/03/2020, o Ministério da Controladoria Geral da União defendeu a MP 928, que restringe a LAI, afirmando que a logística para combater a covid-19 não pode parar para atender pedidos de acesso ´informação [veja aqui]. Em 31/05/2020, O Ministério da Saúde passou a negar cerca de 40% mais pedidos de acesso à informação.

Leia análise sobre a história das políticas de transparência no Brasil e sobre o histórico de visitação dos ministérios do governo federal.

14 maio 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Relatório demonstra que MS envia remédios ineficazes de tratamento para covid-19, à povos indígenas

Tema(s)
Negacionismo, Raça e etnia, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias
Estado
Roraima

Relatório elaborado pela Frente Parlamentar Mista em defesa dos Povos Indígenas e enviado à CPI da covid-19 demonstra que indígenas receberam remédios ineficazes para o tratamento da covid-19, como, por exemplo, a cloroquina, e demonstra a dificuldade dos povos indígenas ao acesso à leitos de UTI [1]. O relatório aponta também a possibilidade de vacinas que deveriam ter sido destinadas à vacinação dos povos indígenas terem sido destinadas à garimpeiros em troca de ouro [2]. Em 24/05, a CPI examina o relatório que demonstra que o Ministério da Saúde teria distribuído, à diversos povos indígenas, 265 mil comprimidos de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento de covid-19 [3]. Do total, 39,5 mil foram destinados aos Yanomami, em Roraima, e o restante foi destinado à comunidade da terra indígena Raposa Serra do Sol [4], que vem sofrendo crescimento de atividades de garimpo ilegal [5], desde o início do governo Bolsonaro [6] [7] [8]. Segundo a Hutukura Associação Yanomami, além do desvio das vacinas, outra preocupação é a disseminação de notícias falsas sobre a vacinação por garimpeiros, fazendo com que indígenas se recusem a tomá-las [9] [10]. Em 14/06, o Ministério Público Federal e o Ministério da Saúde informam que estão investigando o desvio das vacinas, em troca de ouro [11]. O procedimento aberto em julho pelo MPF de Roraima investiga ainda a distribuição de cloroquina às comunidades indígenas e o acesso aos territórios sem a devida consulta prévia aos povos que vivem nas regiões [12]. Em meio a esse quadro, a covid-19 continua a avançar nas comunidades indígenas [13]. Em 29/04, o Ministério da Saúde recomendou a distribuição de ‘kit covid’ a povos indígenas [veja aqui]. Em 20/05, o povo indígena Yanomami sofreu ataques de garimpeiros e não recebeu proteção dos órgãos responsáveis [veja aqui]. Em 27/05, Bolsonaro visitou a terra indígena Yanomami, tirou a máscara, gerou aglomerações e ofendeu à cultura indígena ao posar para fotos com cocar [veja aqui].Em declaração para a CPI da covid-19, o epidemologista Pedro Hall informou que o Ministério da Saúde censurou pesquisa que informava o índice de diferença nos casos de covid entre as etnias [14]. Segundo Hall, a pesquisa é um dos maiores estudos já realizados sobre a covid-19 até o momento [15]. Documento apresentado à CPI da covid-19 demonstrou a divulgação de ‘fake news’ para indígenas, fazendo-os temerem a vacina [16].

Leia análises sobre a disseminação da covid-19 entre os povos originários, sobre a ameaça de extermínio sofrida pelos povos indígenas, frente à covid-19, sobre a relação do governo federal com os povos indígenas no Brasil e veja entrevista da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha sobre os povos indígenas e a pandemia.

06 jun 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

PM mata jovem grávida de 24 anos em operação no Rio de Janeiro

Tema(s)
Raça e etnia, Segurança pública
Medidas de estoque autoritário
Legitimação da violência e do vigilantismo
Estado
Rio de Janeiro

Jovem grávida é atingida por tiro durante ação policial no Complexo do Lins, na zona norte do Rio (RJ) [1]. Kathlen Romeu, jovem negra de 24 anos, design de interiores e modelo, é a 15ª grávida baleada desde 2017, de acordo com a plataforma Fogo Cruzado [2]. O episódio ocorre durante a tarde, período em que a movimentação de pessoas no Lins é intensa [3]. No momento do tiro, o ambiente na comunidade estava calmo e Kathlen caminhava por uma das vias com sua avó, quando cai no chão atingida pelo tiro de fuzil no tórax [4]. De acordo com apurações da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ na própria comunidade, um grupo de policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desceu por um beco do Lins atirando [5]. A avó da jovem afirma que os policiais somente socorrem Kathlen após sua solicitação desesperada [6]. Policiais envolvidos na morte da jovem recolhem os cartuchos no local e apresentam na delegacia antes da realização da perícia, inviabilizando o trabalho investigativo [7]. Peritos constatam a falta de preservação no local do ocorrido, o que pode indicar fraude processual [8]. As investigações estão em andamento para apurar a conduta dos militares envolvidos na ação que resultou na morte da modelo [9]. A morte da jovem gera protestos e manifestantes pedem pelo fim da frequente violência policial na favela [10]. Os policiais envolvidos no caso são afastados das ruas e passam a atuar na área administrativa [11]. Kethlen é mais uma vítima da violência policial no estado; sua morte ocorre um mês após a maior chacina da história do RJ, momento em que 28 pessoas foram mortas em Jacarezinho durante operação policial [veja aqui]. Vale lembrar que liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) de maio de 2020 proibiu operações policiais em comunidades do RJ durante a pandemia da covid-19 [veja aqui].

Leia análise sobre como os casos de jovens negros mortos pela policia impactam a população negra.

08 jun 2021
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