Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nomeia general da reserva do Exército para o cargo de assessor no Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde (MS) sem as qualificações técnicas necessárias ao cargo [1]. Para o cargo em comissão, é escolhido Ridauto Lúcio Fernandes [2]. A nomeação faz parte de um processo que privilegia a nomeação de militares em detrimento de servidores de carreira para os postos estratégicos do ministério, iniciado ainda sob a gestão do ex-ministro Nelson Teich [veja aqui]. Em junho de 2020, já chegava a 25 o número de militares nomeados para cargos na pasta da saúde [3]. Segundo as exigências infralegais [4] para ocupação de cargos desse tipo, o nomeado deve possuir, ao menos, experiência profissional de três anos em atividades correlatas às áreas de atuação do órgão ao qual será indicado, ter ocupado cargo em comissão ou função de confiança por dois anos ou possuir título de especialista, mestre ou doutor também nessa área [5]. Ridauto é bacharel e mestre em ciências militares, além de possuir especialização em administração pública [6]. Profissionalmente, o general comandou Operação de Garantia da Lei e da Ordem no Rio Grande do Norte, em janeiro de 2018, e, além disso, é sócio fundador de empresa de consultoria em segurança pública [7]. Não existem informações públicas de que o militar atuou na área da saúde, nem sobre vínculos anteriores com o poder Executivo [8]. Desde o início de sua gestão no MS, Pazuello tem cedido cargos a militares [veja aqui]; ao ser indagado sobre a militarização na saúde, Bolsonaro já afirmou que iria botar militares sim, porque com civis ‘não deu certo’ [veja aqui]. Em meados de 2020, o Tribunal de Contas da União também decidiu apurar a quantidade de militares no governo federal [veja aqui].
Leia análise sobre a militarização dos cargos na pasta da saúde
O presidente Jair Bolsonaro apoia permissão para que empresas privadas possam adquirir lotes de vacinas contra a covid-19 [1]. O pedido para a compra de 33 milhões de doses de imunizantes, enviado ao laboratório AstraZeneca, é assinado pelo Advogado Geral da União (AGU), José Levi, e pelo Controlador Geral da União, Wagner Rosário, além de Élcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde [2]. Como condição para a liberação, o governo estabelece que metade dos lotes comprados pelas empresas privadas sejam doados ao Sistema Único de Saúde (SUS) [3]. A decisão foi tomada após reunião por vídeo conferencia com o grupo Coalizão Indústrias, integrado por representantes de grandes empresas privadas [4].O encontro virtual foi coordenado por Fabio Spina, diretor jurídico da Gerdau, a maior empresa brasileira produtora de aço [5] [6]. A proposta é rechaçada por juristas que alertam para uma inevitável ‘competição predatória’ entre setor privado e público, com prejuízos para o último; ademais indicam que a iniciativa criaria uma fila paralela que beneficiaria exclusivamente a elite econômica, desrespeitando a noção de vacina como bem público coletivo [7]. Um dia após, a farmacêutica AstraZeneca, se manifesta em nota negando o pedido feito pelo governo [8]. Segundo o laboratório, todas as doses da vacina estão disponíveis sob acordos pactuados com governos e organizações multilaterais pelo mundo, ‘não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado’ [9]. O pedido para aquisição de vacinas pelo setor privado marca a mudança de opinião do presidente sobre os imunizantes, pois agora afirma que as vacinas são importantes para impulsionar a economia. Em ocasiões anteriores Boslonaro se mostrou contra a compra de imunizantes [veja aqui] [veja aqui], disse também que cerca de metade da população brasileira não quer ser vacinada [1465].
Leia análises sobre a compra de vacinas pelo setor privado e argumentos contrários a essa proposta.
O presidente Jair Bolsonaro participa da Conferência virtual de Investimentos na América Latina e, ao final de seu discurso, afirma que ‘sempre disse que qualquer vacina, uma vez aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) seria comprada pelo governo federal’ [1]. Declara também que o Brasil é o sexto país com mais doses aplicadas e que em breve ocupará as primeiras posições, assegurando conforto e segurança aos brasileiros para que ‘nossa economia não deixe de funcionar’ [2]. É falso que o presidente sempre teria apoiado a compra de vacinas aprovadas pela Anvisa; no ano anterior, ele falou que não compraria a vacina chinesa produzida pela Sinovac [veja aqui] e em repetidas ocasiões descreditou os imunizantes [veja aqui] [veja aqui]. Pesquisa [3] e apuração jornalística [4] também revelam uma estratégia do governo de propagação do vírus e cancelamento de compras de vacinas reiteradamente. Na mesma semana, o presidente também já havia repetido a mesma afirmação inverídica sobre seu posicionamento, o que foi refutado por agência de checagem de fatos [5]. Anteriormente o presidente também havia questionado a segurança da vacina aprovada para uso emergencial pela Anvisa [veja aqui] e na semana passada um grupo de juristas solicitou a abertura de ação criminal contra o presidente, para a Procuradoria-Geral da República (PGR) devido ao descaso de Bolsonaro em relação ao plano de vacinação [veja aqui]. A mudança no posicionamento do presidente em relação à vacina está alinhada com a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, o qual afirmou no dia anterior que ‘vacinação em massa é decisiva para a retomada da economia no país’ [6]. No mês seguinte, Bolsonaro volta a questionar a segurança das vacinas após o registro pela Anvisa do uso da vacina Pfizer contra a covid-19 [veja aqui].
Leia esta análise sobre a influência da diplomacia na questão da vacina e ouça o podcast sobre a Politização da Vacina.
O assessor do especial do Ministério da Saúde (MS), general Ridauto Fernandes, diz que pacientes acometidos pelo coronavírus ‘vão morrer na rua’ [1]. A frase foi dita em referência aos 600 pacientes que aguardam atendimento nas UTI’s do Sistema Único de Saúde em Manaus [2]. O militar da reserva, recém nomeado para o MS, afirma em reunião da comissão externa do coronavírus na Câmara que a dificuldade no atendimento se deve a falta de oxigênio e complementa : ‘Abre o leito, bota o paciente e ele vai morrer asfixiado no leito. E aí, vai adiantar abrir o leito?’ [3]. Fernandes também diz que desde o dia 28 de setembro o governo federal sabia que a situação em Manaus se agravaria e que precisaram esperar ‘alguns dias’ até que a transição dos prefeitos ocorresse no município [4]. Mais de 350 pacientes infectados com a nova cepa do coronavírus foram transferidos para outros estados por falta de vagas [5]. Marcelo Campêlo, secretário estadual de Saúde do estado de Manaus, diz que nova variante do coronavírus afeta crianças e grávidas de forma mais potente [6]. Acerca de um mês atrás o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu que já sabia da falta de oxigênio que causou o colapso no sistema de saúde [veja aqui].
Leia análise sobre a situação da falta de oxigênio em Manaus.
O Ministério da Saúde (MS) envia ao Ministério Público Federal (MPF) documento que indica a distribuição de cloroquina produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pacientes com covid-19, e não malária, como originalmente previsto [1]. Segundo o documento, a aquisição de cloroquina ‘foi planejada e instruída para o atendimento ao programa de malária’, porém dadas as ‘orientações de uso pelo Ministério da Saúde’ [veja aqui], o uso do medicamento passou a ser disponibilizado também no contexto da covid-19 a partir de 27/03/2020 [2], mesmo sem eficácia para prevenção ou tratamento [3]. Com o aumento da demanda por estados e municípios, o MS passou a requerer a produção da droga pelo laboratório do exército [veja aqui] [4]. Em 12/02, o Tribunal de Contas da União (TCU) exige informações do Ministério da Saúde sobre a redistribuição de cloroquina a pacientes com malária para pacientes com covid-19 [5]. Segundo apuração da imprensa de 28/03/21, o governo federal desviou 2 milhões, de comprimidos de cloroquina, que deveriam ser destinados à pacientes com malária, para o tratamento da covid-19 [6]. O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, já é investigado pelo STF por omissão na crise de escassez de oxigênio no Estado do Amazonas [7] [veja aqui] – na ocasião foram entregues 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina. Também é investigado por improbidade administrativa pelo uso de recursos públicos para a distribuição do medicamento e pelo aplicativo TrateCov [veja aqui] [8].
Leia análise sobre o uso de dinheiro publico para remédio sem eficácia comprovada e reportagem sobre a produção do medicamento pelas forças armadas
Congresso Nacional aprova Medida Provisória (MP) que estabelece prazo máximo de cinco dias para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar emergencialmente o uso de vacinas no Brasil [1]. Antes, a agência contava com prazo de dez dias para tais autorizações. Segundo a MP, a autorização de determinados órgãos sanitários internacionais seria suficiente para o rito mais célere de análise. A agência, contudo, vê com preocupação a redução no tempo de exame dos imunizantes, afirmando ser difícil realizar análise qualificada no novo prazo estipulado, além de resultar em diminuição do papel da entidade. Ressalta, ainda, que este novo prazo é consideravelmente inferior ao praticado em outros países, inclusive aqueles a serem usados como referência [2]. A MP aprovada ainda depende de sanção presidencial para produzir efeitos, e a Anvisa pede ao presidente o veto ao dispositivo que reduz o prazo para até cinco dias [3]. No final de fevereiro, a Câmara dos Deputados aprova outra MP, que dá o prazo de sete dias para a Anvisa autorizar temporariamente a aplicação de vacinas contra a covid-19 que já foram autorizadas por determinadas autoridades sanitárias estrangeiras; a medida depende ainda de aprovação pelo Senado [4]. Ela é vista como forma de compromisso alternativo à MP que estipulava prazo de cinco dias e ainda não foi sancionada pelo presidente. As disputas em torno de instituições responsáveis por políticas de saúde no país adquiriu nova escala. No final do mês, o presidente do Instituto Butantan, responsável pela produção de vacinas brasileiras, diz que a instituição sofre pressão política sem precedentes [5]. Em dezembro do ano passado, servidores da Anvisa fizeram carta aberta em repúdio às pressões políticas sofridas para a aprovação de vacinas [6]. A MP é editada após o governo federal não ter expressado preocupação com a pandemia, tendo o presidente Bolsonaro relativizado o potencial do vírus ao chamá-lo de ‘gripezinha’ [veja aqui], se opor à vacinação em massa [veja aqui], desautorizar a compra de vacinas [veja aqui], além de já ter editado outra MP que dispensava o registro de vacinas na Anvisa [veja aqui]. Já o Ministério da Saúde deixou 6,8 milhões de testes da covid-19 estocados, sob risco de perderem a validade [veja aqui], culpabilizou governadores pelo atraso na entrega das vacinas por ‘problemas de logística’ [veja aqui], e deixou de apresentar plano concreto de início da vacinação [veja aqui].
Leia mais sobre o processo e os requisitos para as autorização emergencial de vacinas
Ministério da Saúde (MS) reduz recursos destinados a leitos de UTI, em meio ao agravamento da pandemia do coronavírus, deixando encargos exclusivamente com estados e municípios [1]. Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), em dezembro de 2020 mais de 12 mil leitos eram financiados diretamente com recursos do MS, entretanto, com a queda dos recursos extraordinários para o enfrentamento da pandemia, o número foi reduzido para 7.717 em janeiro e para 3.187 em fevereiro [2]. Somente no estado de São Paulo, o MS deixou de financiar mais de 3 mil leitos [3]. Ao ser questionada, a pasta acusa o governador João Dória (PSDB-SP) de mentiroso [4] e diz que a redução dos recursos ocorre devido ao término do estado de calamidade pública [veja aqui], com o fim de 2020 [5]. Cobrado em reunião com governadores, o ministro Eduardo Pazuello sugere como forma de resolução do problema do financiamento o modelo ‘pós-pago’, no qual a pasta pagaria posteriormente aos estados apenas pelos leitos efetivamente utilizados [6]. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB-MA), critica a proposta por conta do custo fixo na manutenção de leitos de UTI: ‘o leito tem que ser pago porque a equipe está lá. Se você tem 10 leitos e 8 estão sendo utilizados naquele momento, o custo é referente aos 10, pois a equipe de saúde está trabalhando’ [7]. Para tentar contornar o problema de financiamento, o MS solicita a aprovação de verbas extraordinárias, que ficam fora do orçamento anual e da regra do teto de gastos [8]. Pazuello afirma que o agravamento da pandemia em 2021 era ‘imprevisível’, o que demanda aumento dos recursos destinados à pasta [9]. Já em 2020, o governo não gastou integralmente os valores destinados ao combate à pandemia [veja aqui], o MS teve problemas na compra de seringas [veja aqui] e não apresentou plano concreto para o início da vacinação [veja aqui]
Leia análise sobre os impactos da redução de recursos federais para leitos de UTI
Governo do presidente Jair Bolsonaro executa 9% do orçamento emergencial destinado a produção e compra de vacinas contra a covid-19 [1]. Em agosto, Bolsonaro já tinha assinado a primeira medida provisória (MP) [2] para liberar crédito extraordinário (R$2 bilhões) com a finalidade de produzir a vacina Coronavac, pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford [3]. Em setembro [4] e dezembro [5] outras duas MPs com o mesmo objetivo foram assinadas, totalizando R$24,5 bilhões em crédito disponível [6]. Apesar do crédito aprovado, somente R$ 2,2 bilhões foram executados até 10/2 e apenas R$505 milhões repassados ao Instituto Butantã, responsável por produzir a Coronavac [7]. O país envereda para uma trajetória de vacinação marcada por dificuldades vinculadas a problemas de logística [veja aqui], sistemas de informação de saúde [veja aqui] e dificuldades de cadastro prévio dos grupos prioritários [8]. A situação vivenciada pelo país atualmente se difere da campanha de vacinação contra gripe, que na mesma quinzena de 2020 imunizou 1,3 milhão de pessoas por dia, enquanto em fevereiro de 2021 são aplicadas 220 mil doses de vacinas contra covid por dia [9]. O Brasil é reconhecido como exemplo na condução de campanha de vacinação contra gripe H1N1 em 2010, quando vacinou 45% da população em 03 meses [10]. De acordo com epidemiologista e coordenadora da vacinação contra a H1N1, o Brasil possui capacidade de melhoria na campanha de vacinação contra covid, entretanto questões políticas e erros estratégicos estão condicionando a escassez de vacinas. Segundo o cronograma atual do Ministério da Saúde, a previsão de aplicação de 54 milhões de doses da Coronavac, AstraZeneca-Oxford e Pfizer no primeiro semestre de 2021 [11].
Leia artigo que avalia a escassez de investimentos nos programas de vacinação contra covid-19 em países emergentes e entenda os problemas na capacidade de vacinação no Brasil.
Apuração de agência de jornalismo desta data [1] revela que em 24/12 o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior publicou resolução [2] aumentando a tributação sobre cilindros de oxigênio [3]. A decisão ocorreu após o Ministério da Economia (ME) ter emitido nota técnica [4] para consultar a possibilidade de prorrogação dos efeitos de resolução que reduziu alíquotas do imposto de importação sobre medicamentos durante a pandemia [5]. No início da pandemia no Brasil, em março de 2020, o Ministério da Saúde (MS) zerou até dezembro o imposto de importação de diversos insumos e medicamentos médicos considerados necessários para o tratamento da covid-19 [6]. O ME solicitou a prorrogação da resolução até 30/06/2021, o que se concretizou, além de revisão dos produtos listados como beneficiários da isenção de impostos [7]. Assim,foram mantidos na lista pelo MS medicamentos sem comprovação de eficácia, como a cloroquina e excluídos os cilindros de oxigênio [8]. Após o crescimento das hospitalizações decorrentes de infecções de covid-19 em janeiro de 2021 e, consequentemente, da demanda por oxigênio, em especial em Manaus, que viveu colapso do sistema de saúde [veja aqui], a Câmara de Comércio Exterior volta a incluir tal insumo àqueles isentos da tributação [9]. Vale lembrar que o governo federal, o presidente da República e outras autoridades de alto escalão são defensores do uso da cloroquina desde o começo da pandemia [veja aqui], politizando o medicamento [veja aqui], chamando-o de milagroso [veja aqui] e facilitando sua prescrição mesmo sem comprovação de eficácia [veja aqui]. Os gastos com hidroxicloroquina, cloroquina e outros medicamentos sem eficácia por governos estaduais, municipais e federal no Brasil totalizaram R$ 18 milhões até agosto de 2020 [veja aqui].
O ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, vai a eventos em Brasília oito dias após ser diagnosticado com covid-19 [1]. O ministro participa de série de encontros presenciais em Brasília onde houve aglomerações [2]. Os eventos incluem almoço com deputados da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que teve cerca de 60 integrantes, e para a qual Salles discursa sem máscara [3]. O ministro chegou ainda a cumprimentar também o Ministro Paulo Guedes, que tem 71 anos e faz parte do grupo de risco da doença [4]. Após ser questionado por jornalistas sobre descumprimento do período mínimo de isolamento de 14 dias, recomendado pelo Ministério da Saúde (MS), Ricardo Salles afirma ter ficado dez dias sem sair de casa e ter sido posteriormente ‘liberado pela equipe médica’ [5]. A imprensa perguntou qual equipe médica o liberou e por qual razão; porém, não obteve resposta. Depois do encontro, a FPA se desculpa pelo ocorrido declarando que não tinha conhecimento sobre o quadro clínico de Salles e pede para que todos os participantes da reunião monitorem sintomas associados a covid-19 [6]. Um dia após o incidente, a Procuradoria-Geral da República (PGR) recebe dois pedidos de abertura de investigação criminal para apurar a conduta Salles , mediante a possível violação da lei da Quarentena [veja aqui] – que tem dispositivos ainda vigentes em razão de decisão judicial [veja aqui] – o que pode configurar crime sanitário [7].
Leia análises sobre as implicações legais do desrespeito à quarentena