Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro volta a sugerir que vacina da Pfizer seria perigosa; em seguida, apuração revela recusa de milhões de doses da farmacêutica pelo governo

Tema(s)
Negacionismo, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O presidente Jair Bolsonaro declara preocupação com a vacina produzida pelo laboratório Pfizer e em tom de ameaça diz que vai expor a população as cláusulas contratuais impostas pelo laboratório estadunidense [1]. O pronunciamento do presidente é feito um dia depois da Pfizer obter registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso de sua vacina contra a covid-19 [2]. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, também critica termos do contrato para a aquisição de vacinas, destacando dentre eles a não responsabilização do fabricante caso haja efeitos colaterais no paciente após a vacinação [3]. Ao lado de Bolsonaro, Pazuello também diz ter solicitado ajuda do Palácio do Planalto para mediar as negociações com a farmacêutica e afirma que, se liberada a autorização, o governo vai comprar as vacinas da Pfizer [4]. As declarações do Ministro e do Presidente ocorrem durante visita ao Acre, estado que está entre os que apresentam a menor cobertura vacinal contra a covid-19, com apenas 1,16% da população vacinada [5]. Pouco mais de uma semana após a fala do presidente no Acre, reportagem revela que o governo brasileiro rejeitou no ano passado a oferta de compra de 70 milhões de doses da vacina do laboratório americano, das quais três milhões já poderiam ter sido aplicadas [6]. Em nota, a Pfizer confirma a oferta das doses em agosto do ano passado e ainda acrescenta que foram feitas no total três ofertas de compra a União, duas em agosto e uma em novembro de 2020 [7]. Dois dias após a confirmação, o governo anuncia a compra de 14 milhões de doses do mesmo laboratório até junho deste ano [8]. A aquisição das vacinas do laboratório americano é confirmada pela Pfizer [9]. Em dezembro, Bolsonaro já havia falado que não poderiam culpá-lo se vacinados com a vacina da Pfizer virassem jacarés [veja aqui].

Leia análise sobre os desafios para vacinação contra a covid-19 no Brasil

24 fev 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministério da Saúde recusa pedido de uniformizar medidas contra a covid-19 de governadores e secretários de saúde

Tema(s)
Conflito de poderes, Distanciamento social, Federalismo, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

Ministério da Saúde (MS) rejeita pedido de governadores e secretários da Saúde para uniformizar medidas contra covid-19 a nível nacional [1] [2]. Governadores mencionam a taxa de ocupação de leitos, que ultrapassa 70%, e temores com falta de remédio [3]; da mesma forma, o Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) emite nota sugerindo toque de recolher nacional das 20h às 6h, medidas de fechamento de atividades econômicas, como bares e restaurantes, de locais de aglomeração pública como praias, aeroportos e até do transporte estadual, além da adoção de lockdown (medida de maior restrição) para locais cuja ocupação dos leitos hospitalares ultrapasse 85% [4]. A despeito da ausência de resposta do MS, pelo menos 20 estados anunciam na mesma semana medidas mais restritivas para o combate à pandemia [veja aqui]. Além disso, funcionários do MS já admitiram à imprensa que reconhecem a necessidade da adoção de medidas mais restritivas, mas que ‘Jair Bolsonaro não deixa’ [5]. Dois dias antes, inclusive, o presidente – que reiteradamente afirma que ‘faz sua parte’ no combate ao vírus [veja aqui] – fez postagem em suas redes sociais e nas redes de comunicação oficiais da União divulgando uma lista com os valores repassados pelo governo federal as demais unidades federação, publicação que é rechaçada em carta assinada por 16 governadores, os quais lembram que o repasse de dinheiro da União para os estados é ‘uma obrigação constitucional’ e que o montante enviado para área da saúde foi mínimo [6]. Em 04/03, governadores de 14 estados enviam carta a Bolsonaro para que busque auxílio de organismos internacionais na aquisição de vacinas [7]. O presidente não responde a carta, mas no mesmo dia faz declaração pública para apoiadores em Uberlândia (MG), afirmando que quem pede compra de vacina é ‘idiota’ e ironiza ‘só se for na casa da tua mãe. Não tem [vacina] pra vender no mundo’ [8] [veja aqui]. Duas semanas após a primeira recusa, governadores oficiam novamente o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, solicitando que ele e o governo federal editem medidas mais restritivas de locomoção para a população brasileira e uma lei que regulamente a compra de vacinas pelas unidades da federação e pelos municípios [9]. Em janeiro, Pazuello cancelou reunião sobre vacinação com governadores [veja aqui] e os responsabilizou pelo atraso na entrega de vacinas aos estados [veja aqui]. Ao final do mês, ocorre a quarta troca de ministro da Saúde [veja aqui], mas o novo ministro, o médico Marcelo Queiroga, também se declara contrário à adoção de um lockdown nacional [10]. No mesmo dia das declarações de Queiroga o país registra 315.268 óbitos pela doença e picos inéditos na média de mortes, superando 2.000 vidas perdidas por dia [11].

Leia análises sobre divergências entre governadores na adoção de medidas para o combate da covid-19, sobre a situação dos leitos hospitalares no país e entrevista com cientistas políticas sobre a postura negacionista do presidente e seus interesses eleitorais.

28 fev 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Estadual

São Paulo e Distrito Federal incluem igrejas como atividades essenciais em meio a crise gerada pela pandemia

Tema(s)
Distanciamento social, Saúde
Medidas de emergência
Flexibilização de controle
Estado
São Paulo

O governador de São Paulo, João Dória, assina decreto incluindo Igrejas na lista de serviços essenciais – que não podem ser interrompidos – em contexto de adoção de medidas para combater a pandemia do coronavírus [1]. Dória afirma que pretende transformar o decreto em lei e reforça que medidas sanitárias como ocupação limitada, distanciamento social e uso obrigatório de máscaras terão que ser respeitadas [2]. O governador diz que, por ser católico, entende que ‘a oração ajuda muito a aumentar’ a resiliência, resistência e esperança em relação ao futuro, e por isso seria importante reconhecer a religião como um serviço essencial [3]. Uma semana antes de assinar o documento, o próprio governador havia vetado projeto de lei do deputado estadual Gil Diniz (sem partido) que enquadraria a atividade religiosa como serviço essencial em tempos de pandemia [4]. Um dia após a assinatura do decreto, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) pede em carta aberta ao público ‘maior rigor nas medidas de restrição das atividades não essenciais, de acordo com a situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região’ [5]. A entidade, que reúne os 27 secretários de Saúde do país, também recomenda lockdown nas regiões ‘com ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação de casos e mortes’ [6]. O Ministério Publico de São Paulo estuda medidas para retirar atividades religiosas da lista de serviços essenciais no estado [7]. Em março do ano passado, o governo federal assinou decerto reconhecendo atividades religiosas como serviço essencial e a questão foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu que a competência para incluir práticas religiosas na lista de serviços essenciais passa a ser de estados e municípios, o que não isenta a União de planejar e adotar medidas de enfrentamento da crise sanitária [veja aqui]. O advogado Flávio Grossi entra com ação popular na Justiça pedindo que o decreto assinado por Dória seja anulado. Segundo o advogado, o decreto representa “risco iminente de dano irreversível ao patrimônio do estado”, pois favorece aglomerações no interior de Igrejas, templos e centros religiosos aumentando assim o número de infecções pela covid-19 [8].

Entenda por que igrejas e templos são considerados por cientistas como locais propícios para contaminação do coronavírus

02 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Judiciário
Nível
Estadual

TJ-SP autoriza cidade a não ficar na fase vermelha no Plano São Paulo, ao contrário do que o governador previu

Tema(s)
Conflito de poderes, Distanciamento social, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Flexibilização de controle
Estado
São Paulo

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) autoriza que a cidade de São José dos Campos (SP) se mantenha na fase laranja (menos restritiva) do Plano São Paulo de combate ao coronavírus, indo contra a determinação do governador João Doria (PSDB) [1]. A decisão aponta que o município tem menos de 75% dos leitos de UTI ocupados e, por tais razões, não haveria necessidade de ingressar na fase vermelha juntamente com o restante do estado [2]. Doria havia determinado que todo o estado ingressasse na fase vermelha do Plano São Paulo a partir do dia 06/03, tendo em vista que o estado passa pela fase mais crítica desde o início da pandemia [3]. A determinação do TJ-SP, que atende a pedido da prefeitura de São José dos Campos, é tomada pelo Desembargador Jeferson Moreira de Carvalho [4] no dia em que o Brasil registra mais de 1,7 mil mortes diárias por covid-19 [5]. Em 08/03, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, a pedido do governo de São Paulo e do Ministério Público de São Paulo, suspendeu a decisão do TJ-SP [6]. Para o ministro, é preciso haver harmonia entre as ações estaduais e municipais; ele também ressalta o fato de que as medidas do governo estadual vão além dos interesses locais dos municípios [7]. Diante da decisão, a cidade de São José dos Campos retornou à fase vermelha, porém reduziu os valores de multas para o descumprimento [8]. Não foi a primeira vez que o Judiciário ingressa em assuntos relacionados às medidas restritivas de combate à covid-19, em 13/03, por exemplo, o presidente do TJ-SP reverteu a proibição de retomada das aulas presenciais em fases agudas da covid-19 no estado [veja aqui].

Leia análises sobre as interferências do Poder Judiciário nas medidas de combate à covid-19 e sobre o papel do judiciário no enfrentamento da pandemia.

05 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ministério da Saúde reduz a previsão do calendário de vacinação ao menos 5 vezes

Tema(s)
Administração, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Redução de controle e/ou centralização

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reduz pela 5ª vez calendário de vacinação contra a covid-19 [1].No final de fevereiro o cronograma do Ministério da Saúde reduz as 46 milhões de doses anunciadas para 39,1 milhões [2]. Em 3 de março, esse número cai para 38 milhões sendo reduzido mais uma vez, 3 dias depois, para 30 milhões de doses [3]. No dia 8 de março houve nova redução com a previsão entre 25 e 28 milhões de doses, estimativa que baixou para 22 a 25 milhões de doses nesta última previsão anunciada pelo ministro da Saúde [4]. O pronunciamento do ministro é feito durante cerimônia de sanção da Medida Provisória (MP) que permite estados, municípios e iniciativa privada comprarem vacinas por conta própria [5]. Pazuello explica que não se trata de uma redução do número de doses estipulado pelo Ministério da Saúde e sim uma garantia inicial com ‘possibilidade de ir além’ [6]. Segundo ele, doses encomendadas em maior número de laboratórios estrangeiros não são tão simples de receber como as do Instituto Butantan e da Fiocruz: ‘Nós temos garantidas para março entre 22 e 25 milhões de doses, podendo chegar até 38 milhões de doses’ [7]. Os chefes do Legislativo, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deram 24 horas para que o ministro explicasse a mudança no cronograma de vacinação [8]. Em resposta Pazuello encaminha documento aos parlamentares dizendo que ‘não houve modificação no cronograma [original]’ de entrega de vacinas, contudo, fala em ‘obstáculos que poderão vir a serem enfrentados’ [9]. A projeção do governo federal para o recebimento de vacinas mostra que 41 milhões de doses acabaram sendo adiadas pelos constantes remanejamentos do Ministério da Saúde [10]. A conta considera previsões apenas para o 1º semestre de 2021 [11]. O governo entregou apenas 32% das 30 milhões de doses previstas para março de deste ano, o que corresponde a 9,6 milhões de doses [12].

Leia análise sobre os riscos de interrupções no calendário de vacinação contra a covid-19.

10 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello se reúne com empresários para negociar compra de vacina Coronavac pelo triplo do preço vendido pelo Instituto Butantan

Tema(s)
Administração, Saúde, Transparência
Medidas de emergência
Flexibilização de controle

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negocia a compra de 30 milhões de doses da vacina Coronavac com empresários [1]. Apuração da imprensa, divulgada em 17/07, teve acesso ao vídeo da reunião [2], na qual são ofertadas vacinas por quase o triplo do valor negociado pelo Instituto Butantan [3], que já havia garantido o fornecimento de até 100 milhões de doses [4]. A empresa que fez a oferta nunca trabalhou com vacinas [5] e seu sócio foi condenado por fraude em importação [6]. Se o contrato fosse confirmado, seria a compra mais cara de vacinas pelo ministério [7], superior ao da Covaxin [8], no qual há suspeitas de prevaricação por Bolsonaro [veja aqui]. Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirma que alertou, diversas vezes, [9] Pazuello e o MS de que o Butantan tem exclusividade nas negociações da Coronavac [10] desde 2020 [11]. Em nota [12], Sinovac, a farmacêutica responsável pela vacina, confirma a exclusividade [13]. Quatro dias depois da reunião, Pazuello é exonerado do cargo [14] e o Brasil troca de ministro da Saúde pela quarta vez durante a pandemia [veja aqui]. Em depoimento à CPI da covid-19, em 19/05, antes da divulgação do vídeo, Pazuello afirma que um ministro não deve receber ou negociar com uma empresa [15], no mesmo sentido, nega que tenha negociado aquisição de Coronavac com empresários [16]. Bolsonaro o defende e afirma que propina não é negociada em vídeo [17]. No dia 22/07, Bolsonaro pede à CGU (Controladoria Geral da União) que investigue o oferecimento de Coronavac pelo Instituto Butantan [18], acusando o instituto de oferecer as doses no dobro do valor ofertado pela Sinovac [19] e volta a criticar a eficácia da vacina [20]. O instituto informa que o valor final inclui custos de importação, produção e armazenagem [21] e o governo de São Paulo afirma que ‘presidente delira sobre preço da Coronavac e quer desviar foco de denúncias contra seu governo’ [22]. Bolsonaro travou diversos embates com o Governador de São Paulo, João Dória (PSDB-SP), acerca da Coronavac [veja aqui] [veja aqui], suspendeu testes e comemorou a “vitória” [veja aqui] [veja aqui]. Além de ter desacreditado [veja aqui] [veja aqui] e desautorizado a compra de vacinas [veja aqui], e dito não se responsabilizaria se pessoas virassem “jacarés”, se referindo aos efeitos colaterais [veja aqui].

Leia mais sobre as suspeitas de corrupção na compra de vacinas e como pode prejudicar Bolsonaro.

11 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Legislativo
Nível
Federal

Eduardo Bolsonaro usa tom agressivo ao rechaçar o uso de máscaras

Tema(s)
Informação, Negacionismo, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Construção de inimigos

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ataca a imprensa por recomendar o uso de máscara contra a covid-19, em vídeo publicado em seu perfil nas redes sociais [1]. Eduardo diz que é ‘uma pena, essa imprensa mequetrefe que a gente tem aqui no Brasil fique dando conta de cobrir apenas a máscara’ [2] e completa, ‘enfia [a máscara] no rabo gente , porra! A gente está lá trabalhando, ralando’ [3]. A declaração foi dada enquanto o deputado comentava sua viagem à Israel junto com comitiva brasileira para conhecer um spray contra a covid-19, ainda em fase inicial de testes [4] [veja aqui]. O spray desenvolvido em Israel não tem eficácia científica comprovada nem aprovação de agências de vigilância sanitárias para o uso [5]. O medicamento israelense é mais um candidato a integrar a lista brasileira de fármacos contra o coronavírus, que vem sendo defendidos pelo governo federal mesmo sem eficácia científica comprovada, em detrimento das vacinas [6]. Os comentários do filho do presidente Jair Bolsonaro vão ao encontro às declarações do pai que também já havia criticado o uso de equipamentos de proteção contra a covid-19, destacando o que seriam ‘efeitos colaterais do uso de máscaras’, sem especificar quais eram [7]. No ano passado, Bolsonaro vetou diversos pontos da lei que estabelece a obrigatoriedade de máscaras em espaços públicos e privados [veja aqui], barrou a compra de vacinas [veja aqui], estimulou aglomerações e desencorajou a população a adotar medidas de controle sanitário [veja aqui].

11 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Informal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Bolsonaro menciona a decretação de um possível estado de sítio em ao menos quatro ocasiões

Tema(s)
Conflito de poderes, Forças Armadas, Negacionismo, Saúde
Medidas de emergência
Aumento de poder de polícia

Em videoconferência com parlamentares, o presidente Jair Bolsonaro compara o toque de recolher adotado no Distrito Federal (DF), incorretamente [1], a um estado de sítio, o que volta a fazer em situações posteriores [veja aqui]. Alguns dias depois, em live transmitida nas redes sociais de 17/03, o presidente Jair Bolsonaro critica medidas de isolamento, estabelecidas por governadores, comparando-as ao ‘estado de sítio’ [2]. Na mesma ocasião, anuncia que somente ele teria o poder de decretar estado de sítio [3], e ameaça tomar medidas duras para combater as ações dos governadores [4]. O estado de sítio é mecanismo que suspende parte das previsões da Constituição em situações de crise; apesar de previsto pela legislação, ele nunca foi acionado desde a redemocratização [5]. Em 19/03, Bolsonaro volta a atacá-los e ajuíza ação no Supremo Tribunal Federal (STF) visando à anulação de decretos dos governadores do Rio Grande do Sul, da Bahia e do Distrito Federal, que estabeleciam medidas de isolamento para o combate à covid-19 [veja aqui]. Na ação, Bolsonaro volta a argumentar que tais medidas seriam equiparadas ao estado de sítio [veja aqui]. Em 21/03, em encontro com apoiadores, ele volta a comparar tais ações à um possível estado de sítio, e insinua que as medidas restritivas estariam impedindo a liberdade da população [6]. Na mesma ocasião afirma que seus apoiadores podem contar com as Forças Armadas, para proteção da democracia e da liberdade [7]. Em 19/03, o presidente do Tribunal, Luiz Fux, telefona para Bolsonaro questionando as intenções do presidente ao fazer as insinuações sobre estado de sítio [8]. O Senado também se manifesta acerca das falas do presidente e divulga nota em que afirma não existir razões políticas, jurídicas e fáticas para ‘se quer cogitar o estado de sítio’ [9]. Desde o início da pandemia, Bolsonaro e aliados atacam a democracia e as medidas de combate à pandemia, em 19/01, o PGR afirma que Brasil vive ‘antessala do estado de defesa’ [veja aqui], já em 11/03, Eduardo Bolsonaro usa tom agressivo ao rechaçar o uso de máscaras [veja aqui]. Em março de 2020, os debates sobre ‘estado de sítio’ já tinham vindo à tona e, segundo a mídia, o presidente teria considerado, mas descartado a ideia de sua decretação [10]; em seguida, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) fez nota rechaçando a possibilidade de decretação de um estado de sítio no país [11].

Leia análise sobre a utilização das medidas de emergência denominadas ‘estado de sítio’ e ‘estado de defesa, sobre as incoerências nas falas de Bolsonaro, sobre as ameaças à democracia nas falas do Bolsonaro e sobre como não é possível comparar ao estado de sítio ao lockdown.

11 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Executivo
Nível
Federal

Número de indígenas vítimas da covid-19 chega a 1.002, em contexto de descaso governamental

Tema(s)
Povos indígenas, Saúde
Medidas de estoque autoritário
Ataque a pluralismo e minorias

O número de índigenas mortos em decorrência do coronavírus passou de 1.000 e pelo menos 163 povos foram afetados, conforme dados divulgados nesta data pela imprensa [1]; os números podem ser ligados a omissões governamentais na pandemia e uma histórica ‘política de abandono’ [2]. As informações fazem parte de monitoramento realizado pela Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que acompanha os casos de covid-19 entre indígenas que vivem aldeados e entre os que vivem em contextos urbanos – os dados oficiais divulgados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não contabilizam este último grupo, o que é criticado por organizações indigenistas [3]. Em nota, a Apib aponta que as mortes são resultado do ‘descaso’ e do ‘genocídio orquestrado’ pelo governo federal [4]. Relatório da mesma organização divulgado em novembro de 2020 aponta que, até aquele momento, o povo mais atingido pelo vírus era o Xavante: sua taxa de mortalidade era 400% maior do que a taxa de mortalidade do total da população brasileira [5]. Estudiosos defendem a existência de um genocídio aos povos indígenas na pandemia [6], o que inclusive foi denunciado em tribunais internacionais [veja aqui] e pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes [veja aqui]. Não só há falta de políticas públicas em apoio aos indígenas, notadamente mais vulneráveis na pandemia [7], como também falta de transparência quanto aos dados epidemiológicos incidentes a essas populações, o que motivou iniciativas paralelas de contagem de casos e mortes [8]. Após a decretação de estado de calamidade pública, o governo ficou três meses sem apresentar um plano de ação para proteção de indígenas na pandemia [veja aqui]. Posteriormente, o presidente Jair Bolsonaro realizou vetos na lei que previa tais medidas de proteção e o Supremo Tribunal Federal determinou a reelaboração do plano apresentado, por considerá-lo ‘genérico e vago’ [veja aqui]. As mortes por covid-19 também ocorrem em contexto de crescimento da violência contra indígenas: levantamento mostra que o número de casos de violência contra essa população mais que dobrou no primeiro ano do governo Bolsonaro [veja aqui].

Ouça podcast que trata dos impactos da perda de índios anciãos e conheça plataforma que registra as histórias de indígenas vítimas da covid-19.

12 mar 2021
 
Tipo de Poder
Poder Formal
Esfera
Judiciário
Nível
Estadual

Presidente do TJ reverte proibição de aulas presenciais em fases agudas da covid-19 em São Paulo

Tema(s)
Conflito de poderes, Saúde
Medidas de emergência
Centralização de poder
Estado
São Paulo

O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Geraldo Francisco Pinheiro Franco, derruba liminar que proibiu aulas presenciais nas redes de ensino estadual durante a fase crítica da pandemia [1]. Em dezembro de 2020, o governo do estado de São Paulo baixou decreto [2] com plano para retomada gradual das aulas na rede pública de ensino. A liminar derrubada havia sido concedida em 11/03 pela juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, atendendo a solicitação judicial do deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) [3]. A ação popular movida pelo deputado é baseada no argumento de que professores vinham sendo convocados a dar aulas sem que as instituições de ensino oferecessem as condições de segurança sanitária adequadas [4]. O presidente do TJ-SP defende que a decisão liminar desrespeita a ordem pública, pois desconsidera a atuação das autoridades da administração que seriam legalmente constituídas para realizar decisões de política pública para contenção da covid-19 [5] e cita os estudos que mostram que as escolas podem ser o ambiente mais seguro para as crianças, desde que cumpridos protocolos [6]. A determinação do fechamento das escolas está em consonância com diretrizes estabelecidas em carta emitida pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) [7]. O Conselho que reúne secretários de saúde de todos os estados, sugere no documento toque de recolher nacional e suspensão do funcionamento de escolas [8]. Em nota o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), critica o fechamento das escolas e a carta do Conass, sugerindo que comitês científicos, autoridades sanitárias e gestores educacionais devem definir, ‘localmente, com serenidade, sobre o modelo organizacional de ensino nas escolas, com segurança para estudantes e profissionais’, levando em consideração os possíveis prejuízos educacionais que podem atingir milhões de estudantes em todo o Brasil [9]. Ainda em março do ano anterior, todos os governos estaduais e/ ou municipais cancelaram as aulas presenciais nas escolas [veja aqui] e, desde então, o judiciário vem sendo provocado a arbitrar decisões relacionadas a abertura de escolas e de igrejas gerando instabilidade no combate a pandemia [10]. No Maranhão, por exemplo, foi ele o responsável por decretar lockdown em quatro cidades no mês seguinte [veja aqui] e em abril, pior mês da pandemia, o TJ do Rio de Janeiro também suspende a liminar que proibia a reabertura das escolas [11].

13 mar 2021
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