No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro publica vídeo no qual é retratado por um leão ameaçado por hienas que representam diversas entidades, dentre elas, partidos políticos, veículos de comunicação, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Supremo Tribunal Federal (STF), o Movimento Sem Terra (MST) e o Movimento Brasil Livre (MBL) [1]. Em certo momento, aparece outro leão identificado como ‘conservador patriota’, que espanta as hienas. Surgem as frases: ‘Vamos apoiar o nosso presidente até o fim! E não atacá-lo! Já tem a oposição pra fazer isso!’ [2]. Mais tarde, o tweet é apagado [3]. Horas antes do post, Bolsonaro afirmou que a imprensa ‘joga pesado’ para facilitar a renovação das concessões dos veículos de comunicação [4], e em outras oportunidades, o Presidente aventou a possibilidade de não renovar a concessão da Rede Globo [veja aqui] e cancelar a assinatura da Folha de São Paulo [veja aqui]. O post tem repercussão negativa [5]. O Ministro Celso de Mello do STF afirma que o ato é incompatível com a postura esperada de um presidente [6]. Bolsonaro pede desculpas pelo ocorrido [7]. Em situação anterior, Bolsonaro pediu desculpas pela fala de seu filho Carlos sobre fechar o STF com ‘um soldado e um cabo’ [8]. Em 2020, o conflito entre o Presidente e o STF persiste, Bolsonaro compartilha vídeo convocando apoiadores a atos antidemocráticos [veja aqui] e participa de ato contra a Corte e o Congresso [veja aqui].
Leia mais sobre o acirramento dos ânimos entre Bolsonaro e a imprensa, suas consequências para a Democracia e a relação do governo com o STF.
O presidente Jair Bolsonaro, em vídeo transmitido nas redes sociais, reage à menção ao seu nome na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) veiculado pela TV Globo [1]. Bolsonaro, em tom agressivo, alega: ‘Isso é uma patifaria, TV Globo. Eu não deveria perder a linha (…) mas confesso que estou no limite com vocês’ [2] e intimida a emissora, ao afirmar que não renovará a concessão caso ela ‘continue com essa patifaria’ [3]. Tal postura não se verifica contra outras emissoras alinhadas ao governo [4]. A reação é vista pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) como um ‘grave ataque à liberdade de imprensa’ e criticada pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, ao afirmar que a relação de governantes com a imprensa deve ser ‘sempre de garantia dessa liberdade, nunca de represália ou perseguição’ [5]. A TV Globo, em resposta às ofensas do presidente, divulga nota alegando que ‘fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade’ [6]. Vale notar episódios subsequentes de ataques à imprensa por parte do governo, ao cancelar a assinatura com a Folha de São Paulo [veja aqui], excluí-la do edital do pregão eletrônico para contratação de assinaturas [veja aqui] e, finalmente, não renovar assinaturas de jornais e revistas impressos para o Palácio do Planalto [veja aqui].
Leia um monitoramento de ataques ao jornalismo por parte de Bolsonaro em 2019 e em 2020 e a análise sobre a liberdade de imprensa e direito à informação.
O Presidente Jair Bolsonaro informa que pretende trocar o comando de embaixadas em razão do descontentamento com sua reputação no exterior [1]. O Presidente afirma que sua imagem não é veiculada da forma correta, que é chamado de ditador, racista e homofóbico e que cabe aos embaixadores mudar essa situação [2]. Após a declaração, embaixadores brasileiros defendem as políticas do governo frente à mídia internacional [3]. Pompeu Andreucci, Embaixador em Madri, envia carta à diretora do jornal El País na qual critica artigo [4] publicado no periódico [5]. Na correspondência, o Embaixador afirma que a política de orientação marxista levou o Brasil à beira do precipício, acusa a esquerda de desonestidade intelectual e declara que o tom utilizado pelo autor reflete sua filiação político partidária [6]. Em outro episódio, o Embaixador acusa o El País de promover ‘uma guerra’ contra o Brasil [7]. O Embaixador em Paris, Luis Fernando Serra, defende a legislação ambiental brasileira, critica a atuação de ONGs na Amazônia e diz que a imagem distorcida de Bolsonaro no exterior é fruto da ‘mágoa de quem perdeu as eleições’ [8]. Nestor Foster, indicado para assumir a embaixada em Washington, rebate críticas do editorial ‘Sem Amazônia, o planeta está Condenado’ do Washington Post e defende a política ambiental do governo Bolsonaro [9]. Em outras oportunidades, a diplomacia brasileira se manifestou sobre o significado de gênero [veja aqui] e se posicionou contrária a apresentação de documentário sobre Chico Buarque em festival internacional [veja aqui].
Leia as análises sobre a mudança ideológica no Itamaraty e como a política externa do governo Bolsonaro influencia na imagem do Brasil no exterior.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro diz em entrevista que se a esquerda brasileira se ‘radicalizar’, como teria ocorrido no Chile, uma resposta pode ser por meio de um novo AI-5 [1], fazendo referência a um dos atos institucionais do período ditatorial, que iniciou o período mais repressivo do regime. Após a declaração, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, admite desconhecimento da fala do filho do presidente. Segundo o ministro, teria que ser estudado como implementar novo AI-5, pois na democracia as medidas são aprovadas de jeito diferente [2]. Após o ocorrido, foram diversas as manifestações de repúdio [3]. Desde políticos [4] até entidades da sociedade civil [5] [6] [7] e mídia internacional [8] manifestam seu descontentamento. Deputados da oposição e da minoria da Câmara protocolam queixa-crime contra o deputado no Supremo Tribunal Federal (STF) [9] e também apresentam representações ao Conselho de Ética da Câmara. Com a grande repercussão negativa, Eduardo pede desculpas pela declaração, afirmando ‘talvez’ ter sido infeliz a menção ao Ato como resposta a possível radicalização [10]. No mês seguinte, a pauta volta a ser levantada, dessa vez pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes [veja aqui], no mesmo dia em que a Câmara dos deputados instaura dois processos disciplinares contra Eduardo Bolsonaro, a partir de três representações feitas por partidos da oposição e seu próprio partido (PSL) [11]. No ano seguinte, novas alusões e endossos ao período ditatorial são feitos pelo governo, como homenagens ao dia do golpe como marco importante à democracia [veja aqui] e até a participação do presidente em atos populares que reivindicavam novo AI-5 [veja aqui]. Em 05/04 de 2021, em uma audiência de defesa no Conselho de Ética da Câmara sobre as referências ao AI-5, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirma que não há interesse nem dele e nem de seu pai em transformar o regima em uma ditadura, porque o poder já está nas mãos de sua família [12]. No dia 08/04, o Conselho de Ética da Câmara arquiva o processo que investigava a conduta de Eduardo Bolsonaro [13].
Leia as análises sobre o que foi o AI-5, o contexto político em que ele foi estabelecido no país e as iniciativas parlamentares contra Eduardo Bolsonaro.
O presidente anuncia que todo o governo federal cancelará assinatura da Folha de São Paulo, diz que não concorda com a cobertura de seu governo e acusa o jornal de espalhar fake news [1]. Ao ser indagado sobre possível censura, Bolsonaro nega, respondendo que, quem quiser, ainda poderá comprar a Folha individualmente [2]. A medida se equipara a reação similar do presidente Donald Trump, que, na semana anterior ao ocorrido, instruiu órgãos federais a cancelar as assinaturas dos jornais The New York Times e The Washington Post [3]. As reações à fala do presidente são imediatas. Entidades do setor jornalístico [4] e da sociedade civil [5] e se manifestam contra a medida anunciada pelo presidente; a própria Folha de S. Paulo lança nota sobre o caso [6]. O Ministério Público de Contas (MPC), inclusive, requer apuração da ordem do presidente frente ao Tribunal de Contas da União (TCU) por possível desvio de finalidade [7]. Cerca de um mês depois a Folha é efetivamente excluída de edital de licitação do governo federal para a contratação de assinaturas de jornais e revistas [veja aqui], o que é logo depois revertido, e, semanas depois, o presidente determina a não renovação de assinaturas de todos os jornais e revistas impressos para o Palácio do Planalto [veja aqui]. No ano seguinte, ataques à mídia continuam e parte dos veículos de imprensa deixa de fazer a cobertura do Palácio da Alvorada, o que o presidente ironiza [veja aqui].
Leia as análises sobre possível inconstitucionalidade do ato presidencial de exclusão da Folha de São Paulo de licitação e possível existência de crime de responsabilidade segundo especialistas.
O secretário de pesca, Jorge Seif Júnior, minimiza o aparecimento de manchas de petróleo na costa do Nordeste. Em live ao lado do presidente Jair Bolsonaro, Seif declara que ‘o peixe é um bicho inteligente’ e que foge ao ver uma mancha de óleo no mar [1]. O secretário ainda afirma que o Ministério da Saúde não encontrou nenhum peixe contaminado e que população do Nordeste pode consumir os pescados locais normalmente, mesmo com as manchas de petróleo pairando sobre a região há, pelo menos, dois meses [2]. Na mesma live, Bolsonaro reitera a fala de Seif e diz que: ‘alguns [peixes] morrem em razão da mancha [de óleo], em especial os que vivem mais na superfície como o golfinho que precisa respirar’, e completa: ‘mas o peixe tem inteligência, pô’ [3]. O Ibama notifica a existência de 110 animais encontrados sujos de óleo no litoral do nordeste dentre eles aves, tartarugas e um peixe-boi. Do total de animais encontrados em tais condições, 81 estavam mortos [4]. Segundo o Ibama, 98 municípios nordestinos foram atingidos pelo vazamento de óleo no litoral [5]. As declarações do secretário de pesca ocorrem um dia após o Ministério da Agricultura voltar atrás na decisão que proíbe a pesca de camarão e lagosta em águas atingidas pelas manchas de óleo [6]. Em nota, a ministra Tereza Cristina, responsável pela pasta da agricultura, justificou a liberação da pesca por já possuir ‘dados mostrando que não é necessário’ suspender as atividades pesqueiras e que espécies de peixes e frutos do mar ainda estão sendo analisados [7]. Nem a ministra, nem o governo, apresentam estudos técnicos contendo tais dados. Cientistas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) alertam para a presença de resquícios de poluição em lagostas e frutos do mar na região [8]. Vale notar que em abril, Bolsonaro extinguiu comitês do Plano Nacional de Contingência Para Incidentes de Poluição por Oléo em Água [veja aqui]. E em 21/10, o Ministro do Meio Ambiente acusou ONG pelo aparecimento das manchas de óleo [veja aqui]. No total, o governo demorou 41 dias para acionar plano de contingência sobre o vazamento de óleo nas praias [veja aqui].
Leia reportagem sobre um dos maiores desastres ambientais do país.
O presidente Jair Bolsonaro sugere em videoconferência semanal que servidores do governo federal que atrapalhem ‘o progresso’ vão para a ‘ponta da praia’ [1]. A declaração é feita em comento à dificuldade de um aliado seu, o empresário Luciano Hang, em conseguir licença ambiental para construir nova loja de sua rede no Rio Grande do Sul (RS) [2]. Após o ocorrido, associação que reúne servidores federais do Ministério do Meio Ambiente (Ascema Nacional) condena o presidente e indica que tomará providências contra ameaças a funcionários [3], anunciando que o denunciará ao Conselho de Direitos Humanos da ONU e ao Congresso Nacional [4]. ‘Ponta da praia’ é expressão usada na época da ditadura militar brasileira para a indicação de lugar de execução de opositores e já foi invocada pelo presidente em outras ocasiões, ainda antes de assumir o cargo [5]. Outras exonerações possivelmente arbitrárias também já aconteceram no governo [veja aqui], bem como o enfraquecimento da fiscalização ambiental [veja aqui]. Alguns dias antes, apuração da imprensa também revelou que o presidente teria ordenado que secretário especial da Receita Federal tomasse as devidas providências contra servidor que o criticou nas redes sociais [6]. No ano seguinte, mais casos de enfrentamento do governo a servidores críticos são registrados [veja aqui] e também de intolerância a divergências [veja aqui].
Em encontro com grupo de garimpeiros, o presidente Jair Bolsonaro afirma que tomará providências em relação à queima de equipamentos durante ações de fiscalização ambiental [1]. O presidente já havia se manifestado contra a inutilização de equipamentos, em abril, após ação do Ibama que destruiu 12 escavadeiras e resultou na demissão do diretor responsável pela fiscalização [veja aqui]. Nessa ocasião, Bolsonaro disse para não queimar nada, pois esse não seria o procedimento [2]. No entanto, a medida de destruição de maquinário está prevista na legislação ambiental [3] em casos em que seja inviável a remoção, evitando assim o uso indevido do equipamento, e para proteger o meio ambiente, a segurança da população e dos agentes envolvidos na fiscalização, em casos que o maquinário possa colocá-los em risco [4]. Em setembro o superintendente regional do Ibama no Pará, Evandro Cunha dos Santos, foi exonerado após alegar, em audiência pública, ter recebido ordens para que interrompesse as medidas de queima de equipamentos em ações de fiscalização ambiental [veja aqui]. De acordo com o Ibama, a inutilização dos equipamentos representa menos de 2% das apreensões realizadas pelo Instituto e ocorre, em regra, em áreas protegidas e isoladas na Amazônia [5].
Leia a análise sobre a queda na porcentagem de destruição de equipamentos em ficalização ambiental no governo Bolsonaro
Em audiência pública na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia, o Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) [1], Augusto Heleno, defende a ditadura militar, afirmando que não houve um golpe, mas uma ‘contrarrevolução’ senão o ‘Brasil seria uma grande Cuba’ [2]. O Ministro também entra em embate com a deputada do PSOL, Sâmia Bomfim, em relação à fala do deputado Eduardo Bolsonaro [3] sobre ‘novo AI-5’ como solução ‘se esquerda radicalizar’ [veja aqui]. Na semana anterior, Heleno afirmou que o deputado precisaria ‘estudar como vai fazer, como vai conduzir’, porém, durante a audiência, diz que não se colocou a favor do AI-5 e que há instrumentos previstos na Constituição para assegurar a ordem social [4]. Sâmia insiste que o Ministro se posicione sobre a fala do deputado e Heleno responde que não irá repudiar o ato e questiona: ‘a senhora vai me torturar pra eu falar?’ [5]. Ainda, o Ministro afirma que a anistia ‘levou uma terrorista a presidente da República’, em referência à Dilma Rousseff, presa e torturada na ditadura militar [6], e complementa ‘vários cargos importantíssimos da República foram preenchidos por terroristas’ [7]. O discurso de Heleno se alinha com o do Presidente Jair Bolsonaro ao justificar e defender o golpe militar de 1964 pela ‘ameaça comunista’ [veja aqui]. Em outras oportunidades, o Presidente nega que houve ditadura no Brasil [veja aqui] e se refere ao dia do golpe como ‘dia da liberdade’ [veja aqui], o Ministro da Economia afirma que ninguém deveria se assustar com a ideia de ‘novo AI-5’ [veja aqui], o Vice-presidente homenageia a ditadura na redes sociais [veja aqui], o Ministro da Defesa afirma que o golpe é um ‘marco para a Democracia’ [veja aqui] e o advogdo-geral da União defende a existência de ‘interpretações divergentes’ sobre ditadura militar [veja aqui].
Leia as análises sobre o que foi o Golpe de 1964 e como o governo Bolsonaro prega ‘negacionismo histórico’ sobre o regime e ouça sobre o negacionismo do gestão Bolsonaro sobre o golpe de 64
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não tem questões sobre a ditadura militar e o presidente, Jair Bolsonaro, responde críticas à prova afirmando que ‘não houve desinformação’ [1]. Ainda, Bolsonaro elogia a prova afirmando que o tema da redação não teria sido ‘polêmico’ como o dos anos anteriores [2] e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirma que a prova não deve ‘dividir, nem polemizar, nem doutrinar’ [3]. No mês de março foi criada comissão para fazer análise ‘ideológica’ das questões [4], o que de acordo com especialistas, poderia ser o motivo de esta ser a primeira prova desde 2009 em que o tema da ditadura não foi abordado [5]. No ano anterior, o presidente, então recém-eleito, afirmou que quando fosse presidente tomaria conhecimento do conteúdo do exame antes de sua realização em razão de questão envolvendo dialeto LGBT [6], o que foi endossado pelo então futuro ministro da Educação, que afirmou que evitaria que a prova tivesse viés ‘ideológico’ [7]. Vale lembrar que, desde que assumiu a presidência, Bolsonaro invoca a ditadura militar contra opositores [veja aqui], já se encontrou com torturadores do período [veja aqui] e suas posições quanto à memória do período são também emuladas por seus ministros [veja aqui] [veja aqui].