Presidente Jair Bolsonaro faz apelo para que eleitores votem em quem tem ‘Deus no coração’ e utiliza lema do movimento integralista em discurso [1]. Durante evento de inauguração de adutora de abastecimento de água em Pernambuco, Bolsonaro solicita que os eleitores ‘caprichem para escolher prefeito e vereador’ nas eleições de 2020 que tenham ‘Deus no coração’ e ‘na alma o patriotismo’; ele complementa ao parafrasear o lema do movimento integralista: ‘Deus, pátria e família’ [2]. O lema era utilizado pela Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento surgido na década de 1930 no Brasil com inspiração no fascismo europeu da época [3]. Em oportunidade anterior, o presidente publicou nas redes sociais o mesmo lema em apologia ao novo partido que pretende fundar, a Aliança pelo Brasil [4]. Especialistas apontam similaridades entre o discurso de Bolsonaro e empregado pela AIB no passado: Enquanto os grupos neo integralistas estão articulados na marginalidade, quando não na ilegalidade, da extrema-direita, as ideias são partilhadas para além deles. É como se o integralismo não fosse mais propriedade absoluta dos grupos integralistas. Não à toa que o próprio lema ‘Deus, pátria e família’ hoje está espalhado na extrema-direita. Essa ideia de criminalizar partidos comunistas ou o que se entende por comunismo, naturalizar o processo de desumanização de oponentes políticos, são elementos caudatários do próprio fascismo histórico’[5]. No mesmo evento, Bolsonaro volta a defender o uso da cloroquina no combate ao coronavírus, mesmo sem comprovação científica da eficácia do medicamento [6]. Em outros casos, Bolsonaro compartilhou vídeo em alusão à bordão fascista: ‘melhor viver um dia como leão que cem anos como cordeiro’ [veja aqui], e disse que não houve ditadura no Brasil [veja aqui].
Leia análise sobre o surgimento do fascismo e do neofascismo e leia trecho de livro que narra a história do movimento integralista no Brasil.
Congresso Nacional aprova Lei [1], que é sancionada pelo presidente Bolsonaro no dia seguinte, e cria cadastro nacional de pessoas condenadas pelo crime de estupro [2]. A normativa determina a criação de um banco de dados que conterá informações como características físicas, impressão digital, perfil genético, bem como fotos dos locais de moradia e trabalho dos condenados [3]. A lei não deixa claro se o cadastro será de acesso público, mas prevê a possibilidade de estados e municípios terem acesso às informações [4]. A criação e manutenção da base de dados ocorrerá através de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública [5]. Especialistas criticam a lei ao apontarem riscos de ofensa a direitos fundamentais e incentivo ao ‘vigilantismo’ estatal: ‘o Brasil criou o cadastro de pessoas condenadas por crimes de estupro sem especificar se a condenação após a decisão final e sem possibilidade de apresentação de recursos, se valerá somente para estupro ou estupro de vulnerável, quanto tempo ficará o cadastro e se o fornecimento do material genético é obrigatório’ [6]. Outra crítica apontada é de que a lei não apresenta inovações no ordenamento jurídico nacional, por já existir no país o Banco Nacional de Identificação Genética – utilizado no monitoramento de condenados, e o estupro já ser considerado um crime hediondo – que tem sua pena elevada por conta dessa natureza [7]. Em outras oportunidades, decretos permitiram o governo a compartilhar dados pessoais sigilosos sem autorização dos cidadãos [veja aqui], e entre órgãos do próprio governo federal [veja aqui].
Leia análise sobre os pontos positivos e negativos na criação de um cadastro nacional de condenados pelo crime de estupro.
Governo Bolsonaro demora treze meses para nomear novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) [1]. Após a exoneração do então diretor, Ricardo Galvão, em agosto de 2019 como resultado de desentendimentos entre Galvão e Bolsonaro sobre a confiabilidade dos dados produzidos pelo instituto , o Inpe permaneceu com um diretor interino, o militar Darcton Policarpo Damião, por todo esse período. Durante esses meses, o governo também exonerou a coordenadora que fiscalizava o desmatamento da Amazônia e reduziu a estrutura do Inpe [veja aqui]. Clezio Marcos De Nardin assume a direção do instituto, engenheiro eletricista [2]. Segundo Nardin, não há nenhuma orientação do governo para alterar ou esconder dados de desmatamento [3]. O cientista convidou o presidente Jair Bolsonaro para visitar o instituto para convencê-lo da qualidade das pesquisas produzidas no Inpe [4]. A reação da comunidade científica sobre a escolha de Nardin é positiva, mas admite-se que o novo diretor será ‘fortemente testado’ [5]. Os dados produzidos pelo Inpe sobre o desmatamento no Brasil são preocupantes, porém, o governo já os negou diversas vezes: quando afirmou que o desmatamento da Amazônia seria ‘zero’ [veja aqui], quando declarou que o desmatamento caiu [veja aqui] ou quando questionou os dados divulgados pelo instituto [veja aqui] [veja aqui]. Recentemente, o Ministério da Defesa anunciou compra de equipamento ignorando sistema de fiscalização existente e realizado pelo instituto [veja aqui]. Ressalte-se que a demora para nomear responsáveis para cargos estratégicos também pode ser observada no Ministério da Saúde [veja aqui], que durante a pandemia da covid-19 foi ocupado interinamente por quatro meses [veja aqui], e no Ministério da Educação [veja aqui] que dependia da nomeação oficial do ministro para garantir a realização da prova do Enem .
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, baixa portaria [1] que institui grupo de trabalho vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) com o objetivo de analisar ‘sinergias e ganhos de eficiência em caso de fusão’ entre o Ibama e o ICMBio [2]. A iniciativa conta com a participação da secretaria executiva do MMA e de representantes dos dois órgãos que tem 04 meses para elaborar um relatório conclusivo [3]. No final de 2018, o recém eleito presidente Jair Bolsonaro já tinha anunciado proposta de fusão do Ibama e do ICMBio [4], argumentando a necessidade de redução de gastos e cargos [5]: uma ‘limpa’ no ICMBio e no Ibama nas palavras de Bolsonaro [veja aqui]. Além disso, em abril de 2019, em oposição a proposta de fusão, o então presidente do ICMBio, Adalberto Eberhard, pediu demissão [veja aqui] [6]. Em reação à nova portaria, associação de servidores do meio ambiente emite nota que critica o grupo de trabalho, indicando que ele é ‘composto por policiais militares e indicados políticos ligados à bancada ruralista que não tem [sic.] conhecimento da temática ambiental’ [7]. A publicação da portaria ocorre quatro dias depois da decisão do Conama que revogou normativas que regulavam a proteção de Áreas de Preservação Permanente [veja aqui]. Desde 2019 as políticas de fiscalização do Ibama e ICMBio têm sido enfraquecidas [veja aqui] [veja aqui] por meio da exoneração de funcionários [veja aqui] [veja aqui] e cortes no orçamento [veja aqui]. Igualmente, em 2020, foi editada portaria que deu poder ao ministro do MMA de revisar e cancelar entendimentos jurídicos do ICMBio [veja aqui], foi publicado plano de metas que disciplina ‘mudança doutrinária’ no Ibama, ICMBio e em outros órgãos ambientais [veja aqui] e o Executivo apresentou Projeto de Lei Orçamentária que prevê nova redução das verbas dos órgãos de fiscalização ambiental [veja aqui]. Até novembro, seis reuniões do grupo de trabalho que discute a fusão dos órgãos são realizadas [8], as atas das reuniões – acessadas via pedido de Lei de Acesso à Informação – revelam muito pouco sobre o conteúdo discutido pelos integrantes, mas mostra que Salles apenas participou do primeiro encontro [9].
Leia análise sobre o enfraquecimento dos órgãos ambientais na pandemia, entenda o que faz o Ibama e qual o papel desempenhado pelo ICMBio
Defensoria Pública da União (DPU), através do defensor Jovino Bento Junior, apresenta ação contra a empresa Magazine Luiza pela iniciativa de um programa de trainees com base em ações afirmativas [1]. O processo seletivo teve como pré-requisito que o candidato fosse autodeclarado preto ou pardo; segundo a empresa o objetivo é ampliar a diversidade nos cargos de liderança. Dos 250 trainees formados ao longo de 15 anos de empresa, apenas 10 eram negros [2]. De acordo com defensor público que ajuíza a ação, a política afirmativa de contratação da empresa é uma estratégia de ‘marketing de lacração’ – expressão pejorativa utilizada para qualificar estratégias de propaganda que buscam chamar atenção pública – e que ‘viola os direitos dos demais trabalhadores no mercado de trabalho’ [3]. O caso repercute dentro da própria (DPU): no dia seguinte à ação, o Grupo de Trabalho de Políticas Etnorraciais da DPU emite nota técnica em que manifesta repúdio à postura de Jovino, e afirma que agirá no processo aberto pelo defensor para defender a execução das ações afirmativas [4]. A tentativa de impedir o programa de contratação não foi isolada, já que ao menos outras 11 denúncias em sentido parecido já foram apresentadas, todas indeferidas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O MPT afirma que o caso concreto não se trata de violação trabalhista, mas sim de uma ação afirmativa de ‘reparação histórica’ [5]. Em outras oportunidades, o MEC revogou portaria que incentivava ações afirmativas em universidades federais e, após críticas, voltou atrás [veja aqui]; e o presidente Bolsonaro enviou projeto de lei que flexibiliza lei de cotas para a contratação de pessoas com deficiência , e vetou campanha publicitária de banco pautada por diversidade racial e sexual [veja aqui].
Leia a análise sobre a controvérsia do programa de trainee, e ouça podcast sobre o caso, desigualdades raciais no mercado de trabalho e ações afirmativas.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, critica o número de universidades públicas brasileiras sob a afirmação de que há um excesso de instituições de ensino superior no país, durante evento evangélico em Brasília [1]. Além disso, o ministro declara que as gestões da educação nos governos anteriores ‘encheram telhados e se esqueceram dos alicerces’ e defende que o foco da educação brasileira deve ser o nível básico, a alfabetização [2]. Ribeiro também declara que a condução anterior da educação no país teve como consequência o analfabetismo funcional de jovens brasileiros [3]. Ribeiro, assumiu a pasta após a saída de Abraham Weitraub no ano passado [veja aqui] e desde então vem se posicionando no centro de controvérsias; em 2020, o ministro nomeou assessora do MEC que defendia ‘princípios bíblicos’ na educação [veja aqui], afirmou que jovens sem fé são ‘zumbis existenciais’ [veja aqui] e declarou que a desigualdade educacional decorrente da pandemia da covid-19 não é um problema do Ministério da Educação [veja aqui]. Esse ano, Ribeiro afirmou que crianças brasileiras não sabem ler mas sabem ‘até colocar camisinha’ [veja aqui], que universidades devem ser para poucos [veja aqui] e fez diversas declarações contrárias à inclusão de pessoas com deficiência na educação regular [veja aqui]. Vale ressaltar, que durante a gestão de Ribeiro houve restrição significativa do orçamento federal para educação superior comprometendo o funcionamento das atividades de várias universidades brasileiras [veja aqui] [veja aqui].
Leia sobre como o Ministério da Educação do governo Bolsonaro não investe na educação básica e nem na educação superior.
O presidente Jair Bolsonaro promete indicar pastor evangélico ao Supremo Tribunal Federal (STF) [1]. A fala do presidente ocorre durante culto, na igreja Assembleia de Deus. Durante o evento, Bolsonaro diz: ‘imagine as sessões daquele Supremo Tribunal Federal começarem com uma oração’ [2]. Anteriormente, o presidente já havia declarado que iria indicar um ministro ‘terrivelmente evangélico’ para o tribunal [veja aqui]. As declarações foram dadas após uma parte de sua base eleitoral indignar-se com a indicação do juiz federal, Kássio Nunes Marques, para ocupar a vaga que será deixada pelo ministro Celso de Mello no STF [3]. Esses apoiadores do presidente acusam Marques de ser um ‘desembargador nomeado por Dilma’, de ter amizade com ‘a turma do PT’ e de ter uma posição dúbia sobre o aborto [4]. O modo como a ‘corrida’ pelas possíveis vagas no STF se dá no governo Bolsonaro é alvo de críticas. Especialista aponta que o alinhamento de servidores públicos – anunciados como possíveis candidatos a vaga – com interesses pessoais do presidente Bolsonaro, responsável pela nomeação ao Supremo, é revelador das falhas do sistema de escolha dos ministros da corte e põe em risco os princípios da imparcialdiade e independência [5]. O presidente já enalteceu e apontou como possíveis futuros ministros da corte o Advogado Geral da União, André Mendonça [veja aqui], o Procurador-geral da República, Augusto Aras [veja aqui] e o Presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio Noronha [veja aqui]. A influência evangélica é marca do governo Bolsonaro, tendo por expoentes a nomeação do ministro da Educação Milton Ribeiro, pastor presbiteriano [veja aqui] e Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos [veja aqui].
Leia as análises sobre a disputa pelo cargo do novo ministro do STF e sobre os procedimentos de nomeação à corte constitucional. Ouça, também, podcast sobre os riscos institucionais da corrida pela vaga no Supremo.
Levantamento aponta que, até esta data, o Ibama gastou somente 36,8% do orçamento disponibilizado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) para 2020 em ações de fiscalização e combate ao desmatamento e às queimadas [1]. Segundo apuração da imprensa, o MMA dispôs em 2020 pouco mais de R$ 154 milhões ao orgão e, até o início de outubro, somente R$ 57 milhões foram gastos em ações [2]. A constatação ocorre em contexto de crescimento das queimadas e desmatamento: de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) houve aumento em 208% nas queimadas no Pantal entre janeiro e setembro deste ano, em comparação ao mesmo período em 2019 [3]; já sobre o desmatamento na Amazônia, o Inpe registrou crescimento de 34,5% entre agosto de 2019 e julho de 2020 em comparação ao mesmo período nos anos anteriores [4]. Especialistas apontam riscos aos ecossistemas atingidos e impactos nas relações internacionais do país, e acreditam que o Ibama não deve executar todo o orçamento disponível até o fim do ano [5]. Economista considera que, dado o atual contexto de emergência ambiental, o órgão já deveria ter gasto a totalidade de seu orçamento – avaliando inclusive a possibilidade de liberação de verba extraordinária – para reduzir os índices de queimadas e desmatamento [6]. Outro levantamento recente também apontou problemas com uso da verba do Exército – cerca do dobro do orçamento anual para combate ao desmatamento de órgãos ambientais – na Operação Verde Brasil 2 [veja aqui], de combate ao desmatamento na Amazônia [7]. Até julho deste ano, Ibama havia gasto apenas 19% dos recursos disponíveis [veja aqui]. Em outras oportunidades, o ministro do Meio Ambiente disse que Ibama cumpriu com 100% da meta de redução do desmatamento, mesmo com o índice recorde na Amazônia [veja aqui]; e o MMA anunciou a suspensão de todas as operações de combate ao desmatamento e queimadas sob justificativa de corte orçamentário, mas horas depois voltou atrás [veja aqui]. Já o presidente Bolsonaro disse que o Brasil ‘está de parabéns’ pela preservação do meio ambiente [veja aqui]; e a Secretaria de Comunicação do governo divulgou informações falsas sobre as queimadas [veja aqui].
Leia análise sobre como o desmatamento amazônico e as queimadas no Pantanal impactam a atual crise climática, e veja diário de viagem de repórteres que acompanharam de perto dos danos gerados no Pantanal
O Ministério da Economia anuncia corte de 92% da verba destinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) [1]. O argumento utilizado pelo Ministério da Economia é de que os recursos não estão sendo utilizados [2]. O orçamento previsto era de R$ 690 milhões, e com o corte passou para R$55 milhões (8% do total inicial) [3]. O valor retirado do MCTI é destinados a outros ministérios, como o Ministério do Desenvolvimento Regional, e a Defesa Civil [4]. Instituições ligadas à pesquisa, à ciência e à tecnologia no Brasil criticaram o remanejamento de recursos que, na prática, quase extinguiu o orçamento deste ano para o setor [5]. Segundo as entidades, o projeto prejudica o desenvolvimento do país e impede iniciativas de pesquisa, como as financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) [6]. O ministro Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, diz ter sido ‘pego de surpresa’ com o corte do governo em verbas para a pasta, mas afirma que o Planalto prometeu repor os valores [7]. Contudo, o Congresso aprovou o corte de R$ 600 mi da Ciência a pedido do Ministério da Economia em 07/10/2021. Vale lembrar que em abril deste ano o presidente Jair Bolsonaro sancionou lei orçamentária que paralisa R$5 bilhões destinados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) [veja aqui].Orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é o menor do século XXI [veja aqui].
Leia sobre a redução orçamentária realizada pelo governo federal na area da ciência e tecnologia.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, sugere, em fala para parlamentares da bancada ruralista, que conseguirá, caso reeleito em 2022, fazer indicações de ministros suficientes para ter um Supremo Tribunal Federal (STF) alinhado ao governo [1]. Até esta data, Bolsonaro já fez duas indicações de ministros para a corte: Kassio Nunes Marques [2] e André Mendonça [veja aqui], e, num eventual segundo mandato, espera poder fazer outras duas indicações [2]. Em sua fala, Bolsonaro defende, ainda, a tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas, que está em julgamento pelo STF, e diz que Nunes Marques ‘está conosco’, mencionando o voto do ministro a favor da tese [3]. O presidente afirma também que André Mendonça, cuja indicação ao STF aguarda aprovação pelo Senado, iria ‘na mesma linha’ [4]. Bolsonaro tem usado da prerrogativa de indicações ao STF para garantir aliados na corte: Nunes Marques autorizou, em abril de 2021, a realização de cultos presenciais durante a segunda onda da pandemia da covid-19 [veja aqui], defendeu o voto impresso [veja aqui] e também foi responsável pela perseguição a opositor do governo [veja aqui]; Mendonça, ao tomar posse como Ministro da Justiça, em 04/2020, disse que seria um ‘servo’, e Bolsonaro um ‘profeta’ [veja aqui]. O mesmo tem acontecido no Ministério Público Federal, com a indicação e a recondução de Augusto Aras, que tem conduta de alinhamento com o presidente [veja aqui], ao cargo de procurador-geral da República, desrespeitando a lista tríplice elaborada pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) [veja aqui].
Leia mais sobre como funcionam as indicações de ministros para o STF e ouça análise sobre o uso que Bolsonaro tem dado a elas.
Após três meses de vacância da coordenação do Programa Nacional de Imunização (PNI) em meio a pandemia da covid-19 [1], o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nomeia novo coordenador para o cargo [2]. O pediatra Ricardo Queiroz passa a ser o coordenador do programa, após a saída de Francieli Fontana em julho [veja aqui]. Na época, Francieli afirmou que a sua exoneração decorria das dificuldades na campanha vacinal da covid-19 e do seu descontentamento com as declarações de Bolsonaro contra a imunização, caracterizando-as como prejudiciais à aderência da população a vacinação [3]. O PNI é responsável por organizar as ações de vacinação da população durante todo o ano, além disso também compete ao órgão a promoção do acesso inclusivo de todos os cidadãos brasileiros às vacinas e o controle da temperatura de armazenamento dos imunizantes nas unidades de saúde [4]. O plano nacional de imunização [5], que determina a ordem de recebimento das vacinas pela população, é fruto dos trabalhos do PNI – o plano foi alvo de diversas críticas por fomentar a disparidade entre regiões e grupos populacionais [veja aqui]. Além disso, a campanha vacinal no país foi marcada por dificuldades na logísticas de distribuição de imunizantes [veja aqui] e por escassez de vacinas [veja aqui] [veja aqui]. No dia 28/10, Ricardo foi informado que não tomaria mais posse do cargo de coordenador do PNI [6]. Em entrevista a imprensa, Ricardo declara que acredita que foi vetado por se posicionar contra o uso da hidroxicloroquina no combate da covid-19 [7], medicamente amplamente defendido por Bolsonaro desde o início da pandemia [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui].
Leia sobre o Programa Nacional de Imunização e as suas contribuições para a vacinação no Brasil.
Congresso Nacional aprova corte de R$ 600 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) solicitado pelo governo Bolsonaro [1]. Por meio do Ministério da Economia, foi feito o pedido de redução de 92% da verba destinada à pasta [veja aqui], o que diminui o valor anterior de R$ 690 milhões para R$ 89,8 milhões – pouco mais de 13% do valor inicial [2]. Por conta dessa redução, projetos específicos de ciência e tecnologia financiados pela pasta contam com apenas 1% do valor anteriormente previsto no PLN (Projeto de Lei do Congresso Nacional), enviado em agosto pelo governo [3]. Nesse caso, reduziu-se R$ 655,4 milhões para R$ 7,2 milhões [4]. No PLN aprovado, apenas o financiamento da produção de radiofármacos (responsabilidade do MCTI) cresceu, saindo de R$ 34,5 milhões para R$ 82,5 milhões [5]. O Ministério da Economia justifica o corte afirmando haver um ‘remanejamento’ de recursos não utilizados pela pasta [6]. Entretanto, a redução expressiva é amplamente criticada por especialistas e agentes ligados diretamente a pesquisa e produção cinentífica no país [7]. Estes preveem a perda de bolsas e a suspensão do Edital Universal do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), inviabilizando, assim, a ciência no país. [8]. No texto aprovado, a verba cortada (R$ 600 milhões) será redistribuída a outros cinco ministérios, todos estratégicos à gestão Bolsonaro e, consequentemente, a sua campanha de reeleição [9]. São eles o Ministério do Desenvolvimento Regional receberá R$ 252,2 milhões, o Ministério da Educação, recebendo R$ 112 milhões, Ministério da Saúde, R$ 150 milhões, Ministério da Agricultura, R$ 58 milhões, e Ministério da Cidadania, com R$ 28 milhões [10]. Em 15/10/2021, Bolsonaro sanciona a proposta [11].
Saiba mais sobre o investimento em ciência pelo governo federal nos últimos 10 anos.
Presidente Jair Bolsonaro afirma que acabou com a operação Lava-Jato ‘porque não tem mais corrupção no governo’ [1]. Durante cerimônia no Palácio do Planalto, ele declara que tal feito é um ‘orgulho’ e uma ‘satisfação’ pessoal [2], e aproveita a oportunidade para defender que toda pessoa indicada por ele é uma pessoa boa, ‘tendo em vista a quantidade de críticas que ela recebe em grande parte da mídia’ [3]. Porém, o próprio presidente está sendo investigado por suspeita de interferência na Polícia Federal [veja aqui]. Seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), é investigado no suposto caso de ‘rachadinhas’ em seu gabinete [4] [veja aqui], e os outros dois, estão sendo investigados por envolvimento em esquema de fake news [5]. Após a declaração do presidente, líderes da oposição, em suas redes sociais, desqualificam a fala [6]. Vale notar que o governo vêm tendo embates com a Operação Lava Jato: em junho, uma disputa centralizadora entre a Procuradoria-Geral da República e a força de Curitiba levou a demissões [veja aqui] e, na semana anterior, a força tarefa da Lava Jato em São Paulo foi encerrada [veja aqui]. Na semana seguinte, o vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM), foi alvo de operação da PF que investiga desvios de recursos públicos que podem chegar a 20 milhões de reais [7].
Leia análises sobre o agravamento da corrupção no Brasil e sobre as investigações envolvendo representantes do governo e aliados.
Durante entrevista, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), relativiza a tortura praticada no período da ditadura militar (1964-1985) e elogia o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra [1]. ‘Era um homem que respeitava os direitos humanos’, diz Mourão ao se referir a Ustra. Na mesma ocasião, sugere que ‘muitas pessoas foram injustamente acusadas de serem torturadoras’ [2]. Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade [3], colegiado criado em 2011 para investigar os crimes cometidos durante a ditadura, a tortura foi prática sistemática empregada pelos militares para conter a oposição ao regime. A comissão revela ao menos 434 mortes e desaparecimentos de vítimas do regime [4]. Ustra, ex-coronel do Exército, chefiou o Destacamento de Operações de Informação (DOI-Codi), órgão de repressão dos governos militares. No período em que esteve à frente da unidade (1970-1974), foram registradas uma denúncia de tortura a cada 60 horas [5] e 45 mortes e desaparecimentos de presos [6]. Em 2012, o coronel foi reconhecido pela Justiça como torturador [7], mas morreu em 2015, aos 83 anos, sem cumprir pena pelos seus crimes. Em razão das declarações de Mourão, a bancada do Psol inclui o vice-presidente em ação que denuncia o governo Bolsonaro à Corte Interamericana de Direitos Humanos por insulto a vítimas da ditadura [8]. Essa demonstração em apoio ao regime militar não foi a única feita pelo vice-presidente e pelo presidente: em março de 2020, Mourão publicou nota nas redes sociais em homenagem ao aniversário de 56 anos do golpe que iniciou a ditadura no país [veja aqui]. Já Jair Bolsonaro (sem partido) fez declarações semelhantes [veja aqui] e, em 2019, elogiou Brilhante Ustra [veja aqui] [veja aqui], e se referiu pejorativamente a um desaparecido político do período [veja aqui].
Leia análises sobre a declaração do vice-presidente Hamilton Mourão elogiando Brilhante Ustra e as tentativas do governo Bolsonaro de ressignificar a história associada à ditadura; e ouça podcast sobre o verdadeiro significado dos direitos humanos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio de resolução [1], flexibiliza o prazo para a proibição do agrotóxico paraquate na produção agrícola brasileira. Em decisão anterior [2], de 2017, a agência estabeleceu como prazo para que o herbicida deixasse de ser importado, comercializado e utilizado no país a data de 22/09/2020. A justificativa era a associação do paraquate à ocorrência do mal de Parkinson e mutações genéticas em produtores agrícolas que tiveram contato com o ativo. Com a nova resolução, fica permitido que os produtores utilizem os estoques remanescentes do produto na safra 2020-21 [3]. Sexto agrotóxico mais vendido no Brasil em 2018 e destinado principalmente ao cultivo da soja [4], o paraquate também foi responsável pela intoxicação de pelo menos 530 brasileiros e pela morte de 138 entre 2010 e 2019, sendo o segundo agrotóxico que mais causou mortes no período [5]. O Brasil assiste, nos últimos dois anos, a um recorde de liberação de agrotóxicos. De acordo com a ferramenta Robotox, desde o início do mandato de Jair Bolsonaro (sem partido), 819 novos agrotóxicos foram aprovados [6] e, só em maio deste ano, 22 novos foram liberados [veja aqui]. Somente entre janeiro e março de 2019, foram aprovados 214 novos rótulos, o que não tem precedentes na história do país [veja aqui]. O número é substancialmente maior do que o observado em outros governos [7].
Leia reportagem para compreender o lobby empresarial e político por trás das tentativas de reverter a proibição do paraquate no país.
Em postagem nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro comemora a morte de Che Guevara, um dos líderes da revolução Cubana de 1959, e afirma que com a sua morte ‘o comunismo perdia força na América Latina’ [1]. Ele ainda critica o legado do ex-guerrilheiro cubano e diz que sua história ‘só inspira marginais, drogados e a escória da esquerda’ [2]. A retórica anticomunista e a rejeição por governos de esquerda – que se dissemina, hoje, em pautas como ‘globalismo’ [3] [veja aqui], ‘marxismo cultural’ [4] [veja aqui], e ‘viés ideológico’ [5] [veja aqui] -, são práticas do governo atual [veja aqui]. Vale ressaltar que manifestações do tipo eram comuns antes e durante o golpe militar de 1964 [6]. Em outras ocasiões, o governo prometeu combater o marxismo [veja aqui], a ameaça comunista [veja aqui], e associou o comunismo ao coronavírus [veja aqui]. Também associou governadores não alinhados ideologicamente a um suposto projeto de transformar o país em Cuba [veja aqui], que, por sua vez, é entoado também por seus ministros como ameaça a ser combatida [veja aqui].
Leia análise sobre como a ideologia é empregada na política externa do governo Bolsonaro.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nomeia Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) do Estado do Ceará sem as qualificações técnicas necessárias ao cargo [1]. A nomeação ocorre após a exoneração da maioria dos superintendentes regionais do Instituto [veja aqui]. Para o cargo em comissão, é escolhido o coronel da reserva da Polícia Militar do Ceará (PM-CE), Julio Rocha Aquino [2]. Segundo as exigências de decreto [3] para ocupação de cargos desse tipo, o nomeado deve possuir, ao menos, experiência profissional de três anos em atividades correlatas às áreas de atuação do órgão ao qual será indicado, ter ocupado cargo em comissão ou função de confiança por dois anos ou possuir título de especialista, mestre ou doutor também nessa área [4]. A nomeação se dá pela indicação do deputado federal Heitor Freire (PSL-CE) [5]. Após um desentendimento do deputado com o governo Bolsonaro, Aquino é exonerado [6] [7]. Alguns meses depois, no entanto, o policial é nomeado novamente para o mesmo cargo [8]. Em janeiro de 2021, contudo, às vésperas das eleições para presidência da Câmara e Senado, Aquino é novamente exonerado [9] [10]. Aquino foi integrante das forças especiais da PM-CE, tendo passagem pelo Comando do Batalhão de Policiamento de Choque [11]. Não existem informações públicas de que o policial atuou na área ambiental, nem sobre vínculos anteriores com o poder Executivo [12] [13]. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), há indícios de que esta nomeação, entre outras, desrespeitou as exigências legais de experiência profissional e acadêmica [14]. Vale notar que Salles fez nomeações sem experiência técnica para outros estados, como Pará [veja aqui], Maranhão e Amapá [veja aqui].
Leia análises sobre o retorno dos militares ao meio ambiente e a militarização da pauta ambiental desde 2019
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, diz que o boi é ‘bombeiro do pantanal’ e supõe que, se ‘tivéssemos um pouco mais de gado’, o desastre na região seria ‘até menor’, em audiência pública de comissão do Senado criada para acompanhar as ações sobre incêndios do Pantanal [1]. A tese é a de que o gado se alimentaria de pasto seco, que é altamente inflamável e provocaria queimadas em tempos de seca [2] e é endossada em seguida por outros membros do governo. O presidente, Jair Bolsonaro, faz pronunciamento em redes sociais [3] e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defende a tese na mesma comissão [4], reforçando a posição da ministra [5]. Entidades ligadas ao meio ambiente [6], secretarias do Meio Ambiente dos estados pantaneiros [7] e universidade contestam-na [8], em momento de incêndios [9] e mudanças climáticas [10] sem precedentes no bioma. Vale lembrar a baixa execução de recursos para fiscalização e combate de desmatamento e queimadas neste ano [veja aqui], o corte de verba para brigadistas [veja aqui] e a negação do presidente sobre o desmatamento ambiental [veja aqui].
Leia reportagem sobre a lenda do ‘boi bombeiro’ e veja vídeo para compreender as consequências do fogo no Pantanal.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) nega pedido da imprensa de acessar dados públicos relativos a segurança pública, sob justificativa de risco à privacidade das vitimas envolvidas [1]. O jornal Folha de São Paulo solicitou à Secretaria de Segurança Pública do estado informações sobre casos envolvendo segurança pública, como nomes de vítimas, números de boletins de ocorrência, etc. [2]. A omissão do poder Executivo estadual em fornecer as informações solicitadas fez com que o jornal levasse o caso à justiça. Em primeira instância, o pedido da Folha foi atendido, mas o Estado de São Paulo recorreu [3]. Em decisão do TJ-SP, no entanto, foi negado acesso aos dados sob justificativa de que a publicidade poderia colocar em risco a segurança e privacidade das vítimas, e que as informações poderiam ser acessadas pelo portal da transparência do governo [4]. Em nova decisão, nesta data, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reverte a decisão do TJ-SP e confirma o acesso aos dados pela imprensa [5]. A decisão entendeu que houve ‘inequívoca censura prévia’ no caso [6]. Assim, o STJ considerou não ser função do poder Judiciário avaliar o modo como a imprensa pretende utilizar as informações públicas, e reverteu o argumento do TJ-SP para entender que ‘o fato de haver um portal público com os dados solicitados não autoriza o órgão [TJ-SP] a rejeitar o pedido de acesso à informação’ [7]. Em outras oportunidades, desembargador do TJ-SP determinou sigilo sobre licitação de obra do tribunal para evitar questionamentos [veja aqui], e o presidente do tribunal baixou portaria declarando informações do tribunal como ‘ativo’ a ser protegido, diminuindo a transparência [veja aqui].
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, relativiza a responsabilidade do governo federal no combate às queimadas no Pantanal, argumentando que a área também está sob jurisdição dos estados e municípios [1]. A declaração é feita durante audiência da comissão especial criada no Senado para acompanhar o combate aos incêndios, que já devastaram 26,5% do bioma de janeiro a outubro [2]. Salles atribui a disseminação das chamas a fatores naturais, como a seca na região, e defende a tese do ‘boi bombeiro’ [3], já defendida pela ministra da Agricultura [veja aqui]. Especialistas explicam que o aumento do desmatamento e dos incêndios por ação humana, além da queda na fiscalização por parte do poder público, levaram aos índices alarmantes [4]. Relatório final da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha o tema chega a conclusão semelhante [5]. Segundo o documento, a ação ‘dolosa’ do governo —como a desestruturação da política ambiental do país— e a ação humana são as principais responsáveis pela proporção dos incêndios [6]. Salles ainda tece críticas ao universo acadêmico e aos cientistas, que, sugere o ministro, ‘exageram’ na defesa de medidas para prevenção das queimadas [7]. Em ocasiões anteriores, Salles e outros membros do governo deram declarações atribuindo os incêndios e a preocupação em torno da pauta a uma suposta perseguição ao agronegócio [veja aqui], aos ‘indígenas e caboclos’ [veja aqui], a ‘conspirações internacionais’ [veja aqui], e, inclusive, a instituições públicas [veja aqui]. Ao longo do último ano, enquanto as queimadas batem recordes [8], o governo cortou verba para o combate às chamas [veja aqui].
Leia análise sobre a parcela de responsabilidade da ação humana e do poder público no aumento das queimadas, e ouça podcast que explica a tese do ‘boi-bombeiro’.
Em transmissão pela TV Brasil (rede de televisão pública) da partida de futebol entre Brasil e Peru, o narrador André Marques manda, mais de uma vez, ‘um abraço especial’ para Bolsonaro [1]. O jogo ocorre em Lima (Peru) e, por dificuldades de negociação com a Federação Peruana de Futebol, não houve acordos com outras redes de TV aberta para transmissão da partida [2]. No dia da partida, o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fabio Wajngarten, afirma que pediu autorização à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para que a TV Brasil transmitisse o jogo [3] Após esse pedido, a CBF fez uma intermediação com a federação peruana para liberar a transmissão para rede pública de TV. Além das citações elogiosas a Bolsonaro, a emissora exibiu materiais de propaganda do governo [4]. Segundo especialistas, as menções ao presidente ferem a legislação [5]. A lei proíbe a veiculação de conteúdos que visem ao convencimento da população sobre uma determinada causa ou ideia política. Em reação, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) encaminha ao Ministério Público Federal (MPF) representação que denuncia o uso indevido da TV Brasil para realização de comentários favoráveis ao governo [6]. Além disso, o deputado federal Alencar Santana (PT-SP) apresenta requerimento na Câmara dos Deputados para questionar o valor pago pela TV Brasil para transmitir essa partida de futebol [7]. Em 2019, a TV Brasil foi unificada com a NBR, emissora do governo federal, sendo identificada a inclusão de programação indevida na TV Brasil [veja aqui]. Não é a primeira vez que emissoras públicas são utilizadas dessa forma, a NBR já veiculou a marca ‘Governo Bolsonaro’ em emissões oficiais, prática vedada pela Constituição [veja aqui].
Leia as análises sobre o uso político da seleção brasileira de futebol e sobre as semelhanças dessa prática com o que ocorreu na Argentina.
Sergio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), retira nome de Marina Silva (Rede) e outras personalidades da lista de personalidades negras [1] da Fundação [2]. Em sua rede social, ele afirma que ‘Marina não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil’ [3], e não teve contribuição verdadeira para a pauta ambientalista. Segundo Camargo, ela, bem como ‘Jean Willys, Talíria Petrone, David Miranda (branco) e Preta Gil também são pretos por conveniência’ [4]. No mês passado, ele já tinha retirado o nome de Benedita da Silva (PT), candidata à prefeitura do Rio de Janeiro, alegando que ela ‘responde pelo crime de improbidade administrativa’ [5]. Em nota, a Rede Sustentabilidade [6], o Partivo Verde (PV) [7] e o Partido dos Trabalhadores (PT) [8] repudiam as decisões, classificando-as como um ‘ataque a história dos negros do país’ e como uma tentativa do atual governo de apagar da memória ‘narrativas do povo negro’. Marina Silva também se manifesta, dizendo que ‘todas as pessoas excluídas não o foram por serem irrelevantes, mas exatamente pela importância das causas que defendem’ [9]. Em 11 de novembro, Sérgio Camargo anuncia novas mudanças e retira outros nomes da lista [10]. Em seguida, a deputada estadual, Leci Brandão (PC do B), contesta a decisão e diz que Camargo ‘quer aparecer’ e procura sempre ‘uma forma de humilhar, desmerecer’ a história da ‘população negra’ [11]. Depois, Martinho da Vila, também retirado da lista, comenta a ação e diz que ficou ‘contente’, pois se ‘desvincula’ da ‘organização que não é mais minha, nossa, entendeu?’ [12]. Em 2 de dezembro, Sergio divulga lista oficial das personalidades excluídas [13]. No dia 9 de dezembro, por meio de decreto legislativo, o Senado suspende a portaria da Fundação Palmares e a proposta segue para a Câmara [14]. Vale lembrar que em oportunidades anteriores Camargo ordenou censura a outras biografias negras na própria instituição [veja aqui], atacou a imagem de Zumbi dos Palmares [veja aqui], e se referiu ao movimento negro como ‘escória maldita’ [veja aqui]. Em março de 2021 a Justiça Federal do Distrito Federal determina que a Fundação insira novamente os nomes de Benedita da Silva, João Francisco dos Santos, o Madame Satã e de Marina Silva, a lista de personalidades negras [15].
Leia entrevista com ex-diplomata e ex-presidenta da FCP sobre o racismo estrutural no Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro garante que se acontecer qualquer caso de corrupção em seu governo ele ‘bota para correr’ e dá ‘uma voadora no pescoço’ [1]. Ele ainda afirma que na sua administração só há gente ‘comprometida com a honestidade’, no contexto de operação da Polícia Federal em Roraima [2]. Tal operação tem como foco o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo no Senado, que é acusado de superfaturamento na compra de equipamentos de combate a covid-19 [3]. Vale lembrar que Bolsonaro, em outras oportunidades, sugeriu agressões físicas a opositores [4] e, ao ser questionado sobre supostos casos de corrupção familiar, chamou repórter de ‘otário’ [veja aqui] e disse querer encher a boca de jornalista de ‘porrada’ [veja aqui]. Seu governo vêm entrando em conflito com a operação Lava-Jato [veja aqui], que inclusive chegou a encerrar as atividades em São Paulo [veja aqui]; na semana passada, inclusive, o presidente disse que acabou com a operação porque ‘não existe mais corrupção no governo’ [veja aqui] [5]. Ele mesmo está sendo investigado por suposta interferência na PF [veja aqui] e seus filhos, por ‘rachadinhas’ [veja aqui] e por envolvimento com esquemas de ‘fake news’ [6] [veja aqui].
Leia entrevista com análises de como os eleitores influenciam o presidente em seus discursos.
O Supremo Tribunal Federal (STF) mantém pagamento do governo à Vale por usina inoperante após desastre de Mariana, contra suspensão imposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2017 [1]. A hidrelétrica Risoleta Neves, de propriedade da Vale, está inoperante desde novembro de 2015, por conta do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, e mesmo assim vem recebendo compensações financeiras [2]. Os recursos provêm do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), sistema criado com o objetivo de mitigar os riscos de escassez de chuvas para a atividade de geração de energia [3]. Em 2017, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou a suspensão temporária da operação comercial da usina e a sua exclusão do MRE [4]. No entanto, a mineradora acionou a justiça e conseguiu decisão provisória favorável na primeira e segunda instância, que garantiram sua permanência no MRE [5]. Em análise do recurso interposto pela ANEEL, Nesta data, STF, mantém a decisão concedida à Vale [6]. Em 2021, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) cassa a decisão dada anteriormente (e mantida pelo STF) e a usina deixa de receber recursos mensais do setor elétrico – até tal momento, a empresa já havia recebido cerca de R$ 420 milhões da ANEEL [7]. Vale lembrar que o rompimento da barragem em Mariana é considerado um dos maiores desastres ambientais no Brasil [8]. Mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos atingiram a região [9]. A lama causou a morte de 19 pessoas e uma série de impactos ambientais, sociais e econômicos em 39 municípios de Minas Gerais e Espírito Santo [10]. Um acordo de reparação foi firmado em março de 2016 entre a Samarco, suas controladoras Vale e BHP Billiton, o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo [11]. No entanto, nenhuma das ações reparatórias esperadas foi concluída e mais de 80 mil demandas judiciais estão na fila aguardando apreciação [12]. Essa não é a primeira vez que o STF atua de forma prejudicial ao meio ambiente: em 2020, o ministro Kássio Nunes Marques permitiu a pesca predatória no litoral do Rio Grande do Sul (RS), o que é proibido por lei desde 2018 [veja aqui]. Além disso, em 2021, os adiamentos sucessivos do julgamento do marco temporal ameaçam os direitos indígenas garantidos pela Constituição [veja aqui].
Leia sobre os efeitos do novo acordo envolvendo o rompimento da barragem de Mariana e como ele pode ser favorável às mineradoras.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mobiliza servidores da Advocacia Geral da União (AGU) para ingressar com ação contra o ambientalista Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima [1]. Astrini é intimado a prestar esclarecimentos sobre críticas ao discurso de Salles durante a reunião ministerial de 22/04, em que o ministro afirmou que era momento de ‘passar a boiada’, em referência a flexibilizar a legislação ambiental [veja aqui]. A entrevista com o ambientalista, publicada no mês de maio, compara a fala do ministro a uma convocação de uma ‘força tarefa de destruição do meio ambiente’ [2]. Um grupo de 88 entidades não governamentais repudia a atitude do ministro e condena o uso político da AGU [3]. Salles já se utilizou da AGU em outra ocasião para interpelar seus críticos – neste outro caso, o pesquisador intimado não quis se identificar [4]. Durante o governo Bolsonaro, a AGU tem atuado, por diversas vezes, em alinhamento com os interesses do governo. A instituição já divulgou nota afirmando que pretende ajuizar ações contra medidas por governadores e prefeitos por ocasião do combate à covid-19 [veja aqui], já defendeu em parecer que podem existir ‘interpretações divergentes’ sobre o período da ditadura militar brasileira [veja aqui], já impetrou habeas corpus em favor do ministro da Educação [veja aqui] e até ajuizou ação no STF contra decisão desfavorável a aliados do governo [veja aqui]. Ainda, sobre a pauta do meio ambiente, a AGU protocolou ação de inconstitucionalidade visando a nulidade de dispositivos do Código Florestal [veja aqui] e elaborou pareceres que fundamentam a anistia de desmatadores e a produção em áreas de preservação [veja aqui].
Como no mês anterior [veja aqui], o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 10/10, passeou de moto pela orla do Guarujá (litoral de São Paulo) sem máscara, cumprimentou apoiadores e não seguiu instruções de distanciamento social [1]. Na ocasião, afirmou que não mandou ‘ninguém ficar em casa’ e, posteriormente, publicou vídeo do passeio em redes sociais [2]. No mesmo dia, disse a uma apoiadora, em conversa transmitida nas redes sociais, que não se preocupasse caso se infectasse com a doença: ‘ Estou com 65 anos. Não senti nada. Nem uma gripezinha. Zero’ [3]. Igualmente, sugeriu, em tom jocoso que a apoiadora retirasse a máscara que portava [4]. Segundo ele, 30% das mortes poderia ter sido evitada com o uso da cloroquina, mas não apresentou qualquer dado para sustentar sua afirmação [5]. Em 11/10, voltou a causar aglomeração em praia no Guarujá e não usou máscara [6]. Em 14/10, disse que a pandemia foi ‘superdimensionada’ em evento no Rio de Janeiro e que alertou desde o começo para o problema da economia caso medidas mais severeas de isolamento social fossem aplicadas [7]. A declaração foi dada poucos dias após o país superar a marca de 150 mil mortes pela doença [8]. O presidente, que já contraiu o vírus [veja aqui], realizou passeios sem equipamento de proteção [veja aqui], e disse repetidas vezes que o combate ao vírus não poderia ser pior que ele próprio [veja aqui] e que a economia não poderia ser mantida operante com recomendações sanitárias em vigor [veja aqui]. Além disso, descreditou o vírus como uma ‘gripezinha’ [veja aqui] ou ‘chuva’ inofensiva [veja aqui]. Entre 08/10 e 14/10, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 5 milhões [9] para mais de 5,1 milhões [10] e as mortes superaram a marca de 151 mil pessoas [11], segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.
Leia estudo que compara a aprovação ao presidente e suas ideias à gravidade da situação territorial do coronavírus.
O presidente Jair Bolsonaro nomeia cinco diretores ao Conselho Diretor da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) [1], sendo dois deles coronéis e outro tenente coronel do Exército [2]. Waldemar Gonçalves Ortunho Junior, atual presidente da Telebrás (empresa estatal) [3], Arthur Pereira Sabbat, Diretor do Departamento de Segurança da Informação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) [4] e Joacil Basilio Rael, colaborador da Telebrás [5] são indicados para mandatos de, respectivamente, seis, cinco e quatro anos; as outras duas indicações, nomes civis ligados à iniciativa privada e ao Ministério das Comunicações, têm mandatos menores, de três e dois anos [6]. A ANPD foi criada com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) [7] de 2018, que passou a vigorar em setembro deste ano [veja aqui]. Segundo estipula, a ANPD é órgão da administração pública federal, integrante da Presidência da República e detém autonomia técnica e decisória. Seu Conselho Diretor é o órgão máximo de direção e tem competências regulatórias quanto à proteção de dados pessoais no país, conforme regimento da ANPD [8], aprovado em agosto passado. Ele deve ser composto por servidores com experiência no setor de, no mínimo 5 anos; com pós graduação na área ou que tenham ocupado cargo em comissão ou função de confiança. As informações dos três militares nomeados no Portal da Transparência revelam que dois deles – o outro não tem informações suficientes sobre cargo ocupado – não cumprem o terceiro requisito [9] [10] [11], mas é possível que cumpram algum dos outros dois requisitos alternativos. Rael possui pós graduação na área [12]; os outros dois, não [13] [14]. Sabbat ingressou em 2015 no GSI e não tinha experiência prévia na área de dados antes disso, e Ortunha tem experiência na área de TI e telecomunicações, o que, entretanto, não implica experiência na área de proteção de dados pessoais. Especialistas temem que as nomeações criem incentivos à vigilância estatal [15] e à confusão da proteção de dados com a área de segurança da informação, que pressupõe baixa transparência e controle social sobre informações [16]. Organização especializada na área aponta que, das 20 maiores economias do mundo, apenas duas apresentam autoridades de proteção de dados com histórico militar e ambas não são democracias: Rússia e China [17].
Leia estudo sobre autoridades de proteção de dados nas maiores economias do mundo e análises sobre a militarização do setor, a ANPD e sua importância.
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, em reunião com representante da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) [1], defende o protocolo de ‘tratamento precoce’ contra à covid-19 e diz que o uso dos fármacos diminuiu em 70% a proporção de óbitos no Brasil [2]. A defesa do ministro foi registrada em circular telegráfica reservada feita pelo Itamaraty, acessada pelos integrantes da CPI da covid-19 em junho de 2021 [3]. Apesar da falta de comprovação científica do ‘kit covid’ [4], ou ‘tratamento precoce’, o governo brasileiro insiste na recomendação desses medicamentos [veja aqui] [veja aqui], privilegiando seu fornecimento em detrimento do ‘kit intubação [veja aqui], recomendando a distribuição a indígenas [veja aqui], e culpabilizando a não adoção de ‘tratamento precoce’ como responsável pelo colapso sanitário em Manaus [veja aqui]. O Ministério da Casa Civil preparou um documento para que o governo se defendesse na CPI da covid-19 [veja aqui], elencando a promoção do tratamento precoce sem evidências científicas pelo governo [veja aqui] [veja aqui] – que tentou ser escondida pelo Ministério da Saúde [veja aqui] – e a ineficiência em prover um combate eficaz a covid-19 [veja aqui] [veja aqui]. Desde o início da pandemia, Bolsonaro fez média de um post por semana em defesa dos remédios [veja aqui] e descreditou recomendações médicas e sanitárias de forma sistemática [veja aqui].
Leia mais sobre a ineficácia dos remédios do ‘kit covid’ e a tentativa de esconder o apoio governamental a eles.
O coordenador de articulação e apoio às comunidades remanescentes dos quilombos da Fundação Cultural Palmares (FCP), Victor Barbosa, nega a crueldade da escravidão no Brasil, e cita sociólogo brasileiro ao dizer que os escravos tinham vida ‘quase de anjo’ [1]. Barbosa cita Gilberto Freyre que, ao comparar a situação de operários ingleses e escravos no Brasil, vê os segundos como ‘privilegiados’. Em seguida, Barbosa cita diplomata conservador brasileiro para defender o colonialismo e conclui que se não fosse tal prática ‘seríamos terra de tupiniquins’ [2]. As falas de Barbosa não são isoladas; em suas redes sociais, antes da nomeação ao cargo, ele já criticou Zumbi dos Palmares [3]. O presidente da FCP, Sérgio Camargo, em outras oportunidades, também atacou a imagem de Zumbi [veja aqui], chamou o movimento negro de ‘escória maldita’ [veja aqui], censurou a biografia de líderes negros do portal da FCP [veja aqui] e retirou o nome de adversários políticos da lista de personalidades negras do site da instituição [veja aqui]. Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro, enquanto deputado federal, foi condenado a indenizar comunidades quilombolas por danos morais [4]. Já durante o governo, os grupos quilombolas sofrem baixa histórica no reconhecimento de seus territórios [veja aqui], e vêm sendo omitidos nas estratégias de enfrentamento da covid-19 [veja aqui].
Leia análise detalhada sobre a escravidão brasileira, sobre a obra controversa do sociólogo brasileiro, e sobre racismo científico no Brasil.
Representantes do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) participam de uma reunião ‘surpresa’ com fazendeiros para pressionar lideranças indígenas a aceitar uma proposta de acordo que inclui a redução do seu território [1]. A Terra Indígena Apyterewa, no sul do Pará, é reconhecida como de ocupação tradicional do povo Parakanã desde 2007 [2] [3]. O território integra o complexo de terras afetadas pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte e uma das condicionantes para o licenciamento ambiental do empreendimento era a retirada dos ocupantes não indígenas [4]. Apyterewa é uma das áreas indígenas mais afetadas pelo avanço do desmatamento ilegal nos últimos anos, sendo alvo da invasão de grileiros, fazendeiros e madeireiros [5]. Em maio de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes já havia acolhido um pedido da prefeitura local para que fosse iniciado um processo de conciliação com os indígenas para a redução do tamanho do território [6]. Conforme carta divulgada pela Associação Tato’a, que congrega lideranças da etnia Parakanã, lideranças indígenas foram surpreendidas por uma reunião na sede de uma fazenda irregular localizada dentro da terra indígena no dia 18/10, com a presença de fazendeiros e uma comitiva do MMFDH [7]. Segundo os indígenas, lideranças ficaram presas e sem comunicação externa na fazenda por três dias até concordarem com a redução das suas terras [8]. A postura do MMFDH converge com o avanço das políticas do governo federal direcionadas à exploração de atividades econômicas em áreas de proteção ambiental [veja aqui]. É explícita a opinião do presidente Jair Bolsonaro contra a demarcação de terras indígenas [veja aqui]. Bolsonaro é alvo de representação no Tribunal Penal Internacional pelos crimes de genocídio e contra humanidade por implementar políticas predatórias contra indígenas [veja aqui].
Leia sobre estratégias usadas por pecuaristas para driblar as restrições e dar uma aparência de legalidade ao rebanho criado irregularmente na TI Apyterewa.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro mata 3 pessoas em baile funk no Morro da Bacia, na Baixada Fluminense, e afirma que as mortes ocorreram em confronto com traficantes [1]. Entre os mortos estava o neto do sambista Neguinho da Beija-Flor, Gabriel Marcondes, de 20 anos, que não tem qualquer envolvimento com o tráfico [2]. Além de Gabriel, Mateus Gomes e David de Jesus também foram mortos [3]. Em entrevista, Neguinho manifesta insatisfação com as operações da PM nas favelas, com o tratamento desigual da justiça em virtude da cor da pele, e diz: ‘Negros já nascem suspeitos. Em negros, atiram primeiro para depois saber quem é’ [4]. O então recém-eleito governador do Estado do Rio, Wilson Witzel (PSC), disse, ainda em 2018, que a polícia, em seu governo, iria ‘mirar na cabecinha’ e atirar [5]; no ano passado, disse que manteria ‘um míssil’ para explodir traficantes na favela [6] [veja aqui], elogiou atuação que matou 15 pessoas [veja aqui], afirmou, ao comentar o aumento das mortes nas operações, que a ‘polícia mandou recado’ [veja aqui] e, após lamentar a morte de Ágatha Félix, menina de 8 anos assassinada por PM no Complexo do Alemão, declarou que a política de segurança do Estado estava no ‘caminho certo’ [veja aqui]. Vale lembrar que as mortes em intervenções policiais no Brasil, mesmo com pandemia do covid-19, já subiram 13% em comparação a 2019 [7], e 43% só no Rio de Janeiro [veja aqui], onde operações policiais foram, então, suspensas. Também, outros governantes [veja aqui] e o próprio presidente da República já enalteceram ações punitivistas [veja aqui].
Leia análise sobre o aumento de negros assassinados, dados sobre a violência policial, e reportagem sobre a esperança de justiça dos familiares.
Em evento no planalto, governo federal diz ter comprovado a eficácia do vermífugo nitazoxanida contra covid-19, mesmo com imprecisão nos dados e manifestação de pesquisadores no sentido oposto [1]. O anúncio não apresenta metodologia ou dados completos e utiliza gráfico genérico obtido em banco de imagens na internet [2]. De acordo com pesquisadores que realizaram teste clínico da medicação e publicaram artigo apontando os resultados do teste, não foi comprovada a eficácia do remédio e nem evidenciada melhora no quadro de sintomas da doença [3]. Ainda assim, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, recomenda o vermífugo como parte do tratamento e diz que é ‘um medicamento, comprovado cientificamente, que é capaz de reduzir a carga viral’ do coronavírus [4]. Questionado sobre o gráfico apresentado pelo governo, Pontes não respondeu à imprensa [5]. Cientistas brasileiros reprovam a postura do governo e dizem que é mais uma tentativa de emplacar a narrativa de que existe tratamento precoce, mesmo sem comprovação científica de eficácia [6]. Vale lembrar que não é a primeira vez que o governo defende o uso de substâncias não comprovadas para o tratamento da doença; o presidente Bolsonaro exaltou a hidroxicloroquina em diversas oportunidades – medicamento descartado pela OMS desde julho [veja aqui] – como solução para a pandemia [veja aqui]; já chegou a dizer que o coronavírus é ‘igual chuva, molha mas não mata’ [veja aqui], e, rotineiramente, desrespeita as recomendações médicas e sanitárias [veja aqui]. Após repercussão, a coordenadora da pesquisa e médica, Patrícia Rocco, diz que não sugeriu o uso do medicamento, que o governo não interferiu no estudo, e que o seu objetivo era ‘fomentar a discussão na comunidade científica nacional e internacional’ [7].
Leia artigo que aponta a falta de comprovação científica do medicamento apresentado pelo governo, análise sobre o tratamento precoce sustentado pelo governo e crítica à postura governamental – em inglês.
Relatório produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que em 2019 o Brasil atingiu o patamar mais alto de mortes decorrentes de ações policiais desde 2013, quando o número começou a ser monitorado [1]. A organização identifica 6.357 mortes por conta do uso de força por agentes estatais naquele ano, número que corresponde a 13,3% do total de mortes violentas no mesmo período [2]. Dentre as mais de 6.000 pessoas mortas, 99,2% são homens, 74,3% têm até 29 anos e 79,1% são pretas e pardas [3]. Se comparadas as taxas de mortes por 100 mil habitantes, o número de pessoas negras mortas em razão da letalidade policial é 183,2% maior ao número de pessoas brancas mortas pelo mesmo motivo [4]. Geograficamente, o relatório aponta que os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro são responsáveis por 42% do total das ocorrências desse tipo no período [5]. A escalada na letalidade policial se dá em um contexto de reiterados posicionamentos do governo contrários à limitação do abuso da força policial. Em 2019 o presidente Jair Bolsonaro defendeu a ampliação do excludente de ilicitude para esses agentes e comparou ‘bandidos’ a baratas [veja aqui] e elogiou policial que mata em serviço [veja aqui]. Os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro, estados mais afetados pelas mortes em ações policiais, também já deram declarações violentas [veja aqui] [veja aqui]. Em 2020, ações policiais em comunidades no Rio de Janeiro foram suspensas pelo Supremo Tribunal Federal após o aumento nos índices de letalidade policial [veja aqui] e o elevado número de mortes de jovens negros por agentes policiais desemcadeou protestos contra racismo e fascismo ao redor do país [veja aqui].
Ouça podcast sobre pesquisa que trata das operações policiais realizadas no Rio de Janeiro entre 1989 e 2018, veja vídeo sobre a importância de registrar imagens de violência policial e conheça a campanha Alvos do Genocídio, lançada em 2020 pela Coalizão Negra por Direitos. Leia também reportagem sobre o impacto da violência policial na vida dos agentes policiais no Rio de Janeiro e análise sobre a importância do debate da segurança pública na construção de uma agenda antiautoritária.
Relatório produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra aumento de 120,3% no número de armas de fogo ativas registradas na categoria ‘caçadores, atiradores e colecionadores’ entre 2019 e 2020 [1]. Esse registro é feito através do sistema de Gerenciamento Militar de Armas (SIGMA), um dos dois sistemas de registro de armas do país, este vinculado ao Exército. O sistema também registra as armas dos integrantes das Forças Armadas e de policiais milites [2]. Já o número de armas ativas registradas no sistema da Polícia Federal, o Sistema Nacional de Armas (SINARM), também cresce 65,6% de 2017 para 2019 [3]. Nele estão registradas as armas de policiais civis, guardas municipais, servidores públicos não militares, empresas privadas de segurança e pessoas físicas sem vinculação a qualquer dessas categorias que preencham os requisitos necessários [4]. Os dois sistemas contam com números bastante discrepantes sobre os registros: em 2019 o número de armas registradas no SIGMA era de cerca de 20% daquelas registradas no SINARM. O relatório aponta que todos os estados do Brasil apresentam aumento no número total de armas de fogo ativas registradas [5] e o Distrito Federal é o mais armado: lá, há uma arma para cada 11 pessoas [6]. Outro levantamento de junho deste ano já sinalizou o aumento de registro de armas [veja aqui]. Em abril de 2020, o Comando do Exército revogou portarias sobre rastreamento e identificação de armas; uma delas, inclsuive, criava um outro sistema para fiscalizar e rastrear os produtos Controlados pelo Exército (SisNaR) [veja aqui]; em seguida, o governo aumentou o limite de armas de fogo passíveis de aquisição por pessoa [veja aqui]. Até agosto desse ano já foram editadas 23 normas para ampliar acesso a armas e munições [veja aqui].
Leia entrevista sobre o impacto da política do governo de flexibilização do acesso às armas e ouça podcast sobre a questão das armas de fogo no Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro diz a apoiadores que a vacinação para a covid-19 não será obrigatória [1], como já disse em meses anteriores [veja aqui]. A declaração ocorre dias após o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), afirmar que a vacinação será compulsória para os paulistas [2]. Segundo argumenta o presidente, a decisão sobre a obrigatoriedade cabe ao Ministério da Saúde [3]. De fato, há lei [4] que estabelece a atribuição à pasta. Porém, lei mais recente [veja aqui], sancionada pelo próprio presidente, dá poder aos Estados e municípios para decidirem sobre a aplicação compulsória da vacina [5]. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) já reconheceu a autonomia das unidades federativas e dos municípios na tomada de medidas de enfrentamento à pandemia [veja aqui]. Em resposta à declaração de Bolsonaro, o PDT move ação no STF para assegurar a competência estadual e municipal de determinar a obrigatoriedade [6]. Já o PTB, partido aliado do governo, requer que o Supremo fixe que a vacina não pode ser obrigatória [7]. A Advocacia Geral da União (AGU) se manifesta em defesa de que somente o governo federal pode determinar ou não a obrigatoriedade [8]. As ações aguardam julgamento da corte [9]. Sanitaristas criticam a politização do assunto [10], assim como o ex-secretário de Vigilância em Saúde do governo Bolsonaro, Wanderson Oliveira, que caracteriza a discussão sobre a obrigatoriedade como ‘incoerente’ e ‘desnecessária’ [11]. Até esta data, o Brasil registrou 154.226 mortes em decorrência da covid-19, segundo consórcio de veículos de imprensa [12]. Em 13/12, o ministro do STF Ricardo Lewandowski determina o prazo de 48h para que o Ministério da Saúde informe a previsão de início e término da vacinação contra a covid-19 [13]. A pasta envia o plano de vacinação, mas sem apresentar as datas exigidas [14].
Leia reportagem sobre como movimento semelhante de disputa política em torno da vacinação teve impactos na saúde pública brasileira no início do século 20, confira entrevista com especialistas sobre a importância da vacinação em massa para conter a transmissão da covid-19 , e veja panorama envolvendo a judicialização da vacinação.
O Brasil é destaque negativo em relatório sobre liberdade de expressão no mundo entre 2009 e 2019 [1]. Entre os países analisados pelo estudo, ele é o país que teve maior queda nos índices mensurados [2]. Atualmente, o país ocupa a 94ª posição em ranking com 161 países – posição que, na América do Sul, só está acima da Venezuela. Essa queda acentuou-se com a chegada de Bolsonaro ao poder, que levou à queda de 18 pontos na pontuação de liberdade de expressão e informação em apenas um ano [3]. O relatório destaca medidas adotadas ainda no primeiro mês de governo que são contrárias às liberdades civis: decreto que ampliou a possibilidade de classificar dados públicos como ‘ultrassecretos’ [veja aqui] e Medida Provisória que ameaçou a atuação de ONGs e organismos internacionais [veja aqui], ambas já revertidas após pressão da sociedade civil. Além disso, aponta como estratégias de ataques da nova administração à desinformação e a violência a jornalistas, em especial mulheres. Ataques a mulheres jornalistas, inclusive, levaram à denúncia de Bolsonaro no Conselho de Direitos Humanos da ONU [veja aqui]. O declínio em índices de democracia e liberdade de expressão também é observado em outros estudos internacionais: em um ranking mundial sobre liberdade de imprensa que analisa 180 países, o Brasil aparece na 107ª posição [4] e uma análise recente sobre liberdade na internet classificou-o apenas como ‘parcialmente livre’ [5]. Nesse mesmo sentido, um centro de pesquisa retirou o Brasil do grupo de nações identificadas como democracias liberais [6]. Nos nove primeiros meses de 2020, Bolsonaro fez 299 ataques à imprensa [veja aqui]. A perseguição à jornalistas se dá por meio jurídicos e policiais, como a abertura de inquéritos contra jornalistas [veja aqui] [veja aqui] e agressões físicas [veja aqui] e verbais [veja aqui].
Acesse a linha do tempo sobre liberdade de imprensa no governo Bolsonaro, os relatórios que apontam a restrição da democracia e a redução da liberdade de imprensa e na internet no Brasil.
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) alega ‘indisponibilidade de recursos’ e suspende atividade de brigadistas no combate a incêndios florestais [1]. Neste dia, o diretor de proteção ambiental do Ibama, Olímpio Ferreira Magalhães [veja aqui] ordena, por meio de ofício, que os brigadistas vinculados ao Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) retornem às suas bases a partir do dia seguinte. A suspensão é endossada pelo diretor de planejamento do Ibama, Luis Carlos Hiromi Nagao [2] [veja aqui], que diz haver ‘indisponibilidade recursos financeiros para o fechamento do mês corrente’ [3]. A decisão paralisa as atividades de cerca de 1.400 brigadistas de todo o país [4], em meio a incêndios sem precedentes na Amazônia e no Pantanal [5] [6]. No dia seguinte, o Ibama justifica a suspensão por dificuldade de liberação de verba da Secretaria do Tesouro Nacional, não sendo possível prosseguimento das atividades por conta de pagamentos atrasados na ordem de R$ 19 milhões [7]. Nesse mesmo dia, o Ministério da Economia faz um repasse de R$ 16 milhões ao Ministério do Meio Ambiente.Metade desse valor é destinada ao Ibama e a outra metade ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) [8] [veja aqui]. Após o repasse, o presidente do Prevfogo, setor do Ibama de combate a incêndios, Ricardo Vianna Barreto, determina o retorno das atividades [9]. O vice-presidente Hamilton Mourão defende que a situação, então, já estaria normalizada e que um repasse de mais de R$ 130 milhões seria feito à pasta [10].
Veja a situação dos brigadistas em video
O presidente Jair Bolsonaro comete infrações sanitárias em visita ao interior de São Paulo [1]. Em sua passagem durante o feriado prolongado de Nossa Senhora Aparecida, iniciada no dia 09/10 na cidade litorânea de Peruíbe (SP), Bolsonaro circulou pela cidade sem máscara de proteção, com sua comitiva e apoiadores, promovendo aglomerações nos locais que visitava [2]. A recusa do político em utilizar a proteção facial viola a legislação municipal da cidade que obriga a todos o uso da máscara, prevendo, inclusive, o pagamento de multa no caso de descumprimento da regra [3]. O mesmo descaso por parte do político às recomendações sanitárias se repetiu em todas as cidades visitadas pela comitiva presidencial durante o recesso do feriado do dia 12/10 [4]. Além de promover tumultos entre apoiadores, Bolsonaro também concede entrevistas a jornalistas em que reproduz argumentos negacionistas a respeito da eficácia das vacinas em vacinados hospitalizados pela doença, minimizando a marca de 604.764 mil óbitos por covid-19 atingidos na data [5]. Ao fim do recesso presidencial, no dia 13/10, em Miracatu (SP), Bolsonaro ainda voltou a defender o armamento da população, em resposta a declarações anti armamentistas do Arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, feitas em missa do dia anterior [6]. Vale lembrar que Bolsonaro á negligenciou em diversas ocasiões o número de mortos pela covid-19 [veja aqui].
Saiba mais sobre as consequências negativas das violações de Bolsonaro às medidas de contenção da pandemia.
O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles nomeia chefe do departamento de áreas protegidas ligada ao agronegócio [1]. Laura Andrea Chinaglia Abbá, advogada especializada em regularização de imóveis rurais, é escolhida para ocupar o cargo [2]. A diretoria de áreas protegidas é responsável pela coordenação entre União, estados e municípios de uma série de questões relativas às Unidades de Conservação (UCs), parques, florestas nacionais, mosaicos florestais e corredores ecológicos [3]. Também cabe ao departamento a articulação política entre os diferentes órgãos do governo, como o Ministério de Minas e Energia e a Funai [4]. Abbá é entusiasta de uma das principais bandeiras da gestão Bolsonaro na seara ambiental – a regularização fundiária [veja aqui] [5]. Ambientalistas e pesquisadores apontam que a regularização fundiárias de áreas invadidas estimula o desmatamento [6]. No entanto, o presidente Bolsonaro afirma que o Brasil ‘está de parabéns’ pela preservação ambiental [veja aqui]. Abbá não é a única ruralista a ocupar um cargo em órgãos ambientais: Joaquim Leite, ex-conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das principais entidades ruralistas do país, foi nomeado Ministro do Meio Ambiente em junho de 2021 [veja aqui]. Em janeiro de 2021, Salles nomeia advogada ligada a infratores ambientais para superintedência do Ibama no Acre [veja aqui]. Em junho de 2020, O procurador-geral da República nomeou defensor da MP da grilagem para coordenar câmara ambiental do Ministério público Federal [veja aqui].
Leia as análises sobre a eficácia da regulamentação fundiária na redução do desmatamento.
Professores afirmam existir proibição da abordagem de determinados conteúdos (racismo, gênero, governos anteriores ou fatos recentes do noticiário) nas salas de aulas dos 14 colégios militares do país [1]. Sob a condição de anonimato, por temerem represálias, eles expõem a existência de procedimentos para controlar os tópicos cobrados em prova: os professores deveriam enviar as provas para avaliação da diretoria com, ao menos, um mês de antecedência e tais ‘processos de prova’ resultariam com frequência em vetos. [2]. Até conteúdos de ciências exatas e biológicas, como, hormônios sexuais do corpo humano teriam sido censurados em provas [3]. Como protesto contra tais medidas, Associação dos Professores do Colégio Militar de Porto Alegre (APROFCMPA) emitiu nota de repúdio, na qual afirma que a censura não corresponde ao que é previsto na legislação e vai contra a liberdade de cátedra [4]. Em 2019, o exército vetou a participação dos estudantes de colégios militares na Olimpíada Nacional de História do Brasil, alegando que a prova tem um ‘viés ideológico conflitante com os princípios do Exército Brasileiro’ [5]. Em junho de 2020, um professor que citou o fascismo foi afastado de um colégio militar [veja aqui]. A militarização do ensino é um dos principais projetos do governo Bolsonaro para educação – o presidente já afirmou que o modelo deve ser imposto às escolas [6], criticou governadores que não aderiram ao projeto de escolas cívico-militares [veja aqui] e disse que tais escolas formariam ‘bom liberal e não um militante’ [veja aqui]. Nesse modelo de gestão civil-militar de escolas, há, inclusive, manual de condutas severo, que instigou críticas ao governo [veja aqui]. Entretanto, mesmo esse setor da educação tem sofrido com cortes de verbas [7]. Recentemente, o governo do Paraná aprovou uma lei estadual para aumentar em mais de 200 o número de colégios cívico-militares no estado [8].
Leia análise sobre a proliferação do modelo das escolas militares e sobre os ataques à liberdade acadêmica no Brasil atual.
Como no mês anterior [veja aqui], o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 19/10, o presidente voltou a dizer que uma vacina contra o coronavírus não seria obrigatória ‘e ponto final’ [veja aqui], como já afirmou em meses anteriores [veja aqui]. Na ocasião, disse que o governador de São Paulo, João Doria, estaria ‘levando terror perante a opinião pública’ [1]; tal discurso em crítica ao modo como Doria vem enfrentando a pandemia já ocorreu antes [veja aqui], bem como a alusão a um ‘pânico’ desnecessário [veja aqui]. Em 21/10, a disputa em torno da vacinação se acirra, com o presidente afirmando em rede social que a vacina que utiliza de tecnologia chinesa não será comprada e reforçando a oposição ao governador paulista [veja aqui]. Mais tarde, em evento no interior de São Paulo, o presidente defendeu que ‘toda e qualquer vacina’ estaria descartada e disse que ‘não abre mão’ de sua autoridade [2]. Na mesma ocasião, disse que a vacina deveria ter ‘comprovação científica’, ao contrário da hidroxicloroquina [3] – medicamento sem eficácia comprovada, que ele defende usar para tratamento desde o começo da pandemia [veja aqui] e cujo uso já foi interrompido em testes pela OMS desde julho [veja aqui]. Em seus termos, ‘A vacina tem que ter uma comprovação científica, diferentemente da hidroxicloroquina’ [3]. Entre 15/10 e 21/10, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de quase 5,2 milhões [4] para mais de 5,3 milhões [5] e as mortes superaram a marca de 155 mil pessoas [6], segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.
Leia análise sobre a posição de Bolsonaro quanto à vacina no contexto de sua relação com os outros poderes.
Um dia após o ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, anunciar a aquisição de 46 milhões de doses de vacina produzida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista [1], o presidente Jair Bolsonaro desautoriza a compra [2]. A vacina, apelidada de Coronavac, é feita em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, que transfere tecnologia para o laboratório brasileiro. Segundo apuração de veículo de imprensa, o presidente também afirma que não manterá diálogo com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) [3], que tem defendido a compra da vacina [4]. Em resposta, o Ministério Público Federal (MPF) pede explicações ao Ministério da Saúde sobre o cancelamento da compra [5], e secretários estaduais de Saúde saem em defesa de Pazzuelo, com receio de que o episódio terminasse em sua demissão [6] — em meio à pandemia, dois ministros já deixaram a pasta [veja aqui]. A Rede Sustentabilidade questiona no Supremo Tribunal Federal (STF) a desautorização da compra [7], assim como outras cinco siglas [8], e as ações se somam a outras já protocoladas no STF sobre a obrigatoriedade da vacina [veja aqui]. O procurador-geral da República, Augusto Aras, defende que as ações não sejam reconhecidas [9]. Nas redes sociais, após comentário de seguidor sugerindo que Pazzuelo traiu o presidente, Bolsonaro diz que ‘qualquer coisa publicada sem comprovação vira traição’ [10]. Em resposta a outro internauta, que critica a vacina por ter origem na ‘ditadura chinesa’, o presidente confirma que ela não será comprada [11]. A Coronavac, mostram informações da OMS, está na mesma fase de testes de outras vacinas, como a produzida no Reino Unido [12]. Essa não é a primeira vez que o presidente troca críticas públicas com o governador paulista em meio à crise sanitária. Episódios semelhantes aconteceram em março [veja aqui], em abril [veja aqui] e em junho [veja aqui]. Doria e Bolsonaro também diferem sobre a obrigatoriedade da vacina: o primeiro defende a vacinação compulsória [13], enquanto o segundo tem se manifestado contra [veja aqui].
Leia análises sobre como as críticas à Coronavac inflam o discurso antivacina e sobre o histórico de Jair Bolsonaro em desautorizar ministros da Saúde. Confira também os principais pontos sobre a judicialização de questões ligadas à pandemia e o papel das agências reguladoras no tema.
Em cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco, escola de formação da diplomacia brasileira, Bolsonaro afirma que a política ambiental brasileira está correta e que diplomatas devem ser ‘instrumento’ para divulgar ao mundo que ‘o Brasil está fazendo o que é certo’ [1]. O evento é marcado por discursos do presidente e do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Bolsonaro afirma que os representantes do país devem mostrar para o mundo que na Amazônia não tem ‘nada queimando ou sequer um hectare de selva devastada’ [2]. A fala contraria os dados oficiais de desmatamento e de aumento das queimadas em áreas de floresta [veja aqui]. Araújo, por sua vez, critica o ‘globalismo’, o marxismo, o multilateralismo e o ‘covidismo’ e afirma que se a política externa do atual governo ‘faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária’ [3]. Araújo ataca, também, a personalidade homenageada pela turma de formandos [4], João Cabral de Melo Neto, que, segundo o ministro, dirigiu-se ‘para o lado errado, para o marxismo’ [5]. A fala de Araújo é criticada por contrariar o histórico da diplomacia brasileira, que, por décadas foi marcada pelo equilíbrio e pelos esforços ambientais [6]. A formatura conta com aglomerações e pessoas sem máscara, entre elas o presidente e o ministro das Relações Exteriores [7]. O Sinditamaraty (Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério de Relações Exteriores) publica nota, na qual declara preocupação com a realização de um evento desse porte em plena pandemia [8]. A política externa do Itamaraty tem sido marcada por um discurso ideológico e negacionista à pandemia do coronavírus, Araújo já deu declarações afirmando que uma ‘ameaça comunista’ tenta ‘estrangular o Brasil’ [veja aqui], associou o coronavírus ao comunismo [veja aqui] e comparou o isolamento social a campos de concentração nazistas [veja aqui].
Leia análise sobre a política de Ernesto Araújo para a diplomacia brasileira.
Polícia Civil prende Eduardo de Assis Fernandes por 30 dias após ser acusado de roubo com base em uma foto de facebook de outra pessoa [1]. Eduardo é preso em casa, sob a suspeita de ter roubado e extorquido dois empresários no estacionamento de um supermercado [2]. A Justiça autoriza sua prisão preventiva tendo como base o reconhecimento das vítimas feito a partir de uma foto de 2016 do perfil do facebook de Fernandes [3]. Para o delegado do caso Eduardo está envolvido no crime pela proximidade com outro rapaz que trabalhou no mesmo supermercado em que trabalha e por ter sido demitido por justa causa [4]. O rapaz é preso, mesmo diante da inexistência de provas [5]. Para juristas, a prisão não se sustenta, pois Eduardo trabalha com carteira assinada, tem residência fixa e não têm antecedentes criminais [6]. A família lamenta a ação preventiva sem provas e diz que se trata de racismo [7]. O irmão de Eduardo, afirma que ele foi preso sem nem saber o motivo, porque antes disso nunca tinha sido nem chamado para depor [8]. Em 22/11, Eduardo é solto, pela ausência de provas e, após sua soltura, afirma sentir medo e dificuldades para dormi [9]. A Advogada a frente do caso, Débora Antunes, diz que a estratégia a ser usada é solicitar a revogação da prisão temporária de Fernandes [10]. Em oportunidades anteriores, diversos atos contra o racismo foram abordados com violência pela polícia em várias partes do país [veja aqui] [veja aqui] [veja aqui], inclusive durante a pandemia, em que operações policiais foram suspensas no Rio de Janeiro [veja aqui].
Leia análise sobre o racismo no Brasil, sua relação com o aumento de pessoas negras na prisão e sobre a situação dos encarcerados.
Os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Família, das Mulheres e dos Direitos Humanos, Damares Alves, participam de cerimônia [1] para assinatura de declaração internacional contra o aborto e ‘para o fortalecimento da família’ [2]. Chamado de ‘Declaração do Consenso de Genebra’, o documento foi anunciado em agosto pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil [3] e, apesar de não ter status legal de Tratado internacional, reafirma a mudança de orientação do país em relação a proteção de direitos sexuais e reprodutivos das mulheres no plano internacional [veja aqui]. O documento estipula que ‘o aborto não deve ser promovido como método de planejanto familiar em nenhum caso’ [4]. Além do Brasil e dos Estados Unidos, a declaração é assinada por mais 30 países membros das Nações Unidas, vários deles considerados pouco democráticos e alinhados a posicionamentos religiosos ultraconservadores [5]; dentre eles, está a Polônia, que recentemente aprovou o enrijecimento do dirieto ao aborto legal via decisão judicial [6]. Na cerimônia, Araújo afirma a defesa pela ‘vida humana desde a sua concepção’ – posicionamento defendido publicamente por Damares na ONU em 2019 [veja aqui] – e esta declara a ‘inexistência de um direito à interrupção voluntária da gravidez’ [7]. Para especialistas, as diretrizes do documento ignoram entendimentos da ONU sobre direito à vida e os deveres do Estado em garantir acesso seguro, legal e efetivo ao aborto em casos de risco à vida e à saúde da gestante [8], da jurisprudência interamericana, que reafirma o princípio da autonomia procriativa das mulheres [9] e da Constituição Federal e da legislação nacional que prevêm hipóteses de aborto legal [10]. Em 2019, o Itamaraty orientou seus diplomatas a utilizarem o termo ‘sexo biológico’ [veja aqui] e foram apontados os primeiros movimentos de alinhamento do Brasil com países reacionários aos direitos das mulheres [veja aqui]. Em 2020, o país se absteve em votação na ONU sobre discriminação de gênero [veja aqui], fundação do Itamaraty promoveu conferência antiaborto [veja aqui], e o Ministério da Saúde baixou portarias que criam barreiras de acesso aos serviços legais de interrupção da gravidez [veja aqui].Na semana seguinte, o governo federal publica a Estratégia Federal de Desenvolvimento para o Brasil e inclui a ‘defesa da vida desde a concepção’ como uma diretriz [11] [veja aqui].
Leia análise sobre como a declaração antiaborto vai na contramão de acordos internacionais de direitos humanos e entrevista que explica o uso do discurso de proteção da família como justificativa para retroceder em direitos.
Seguindo uma tendência do governo [veja aqui], os militares vêm ocupando mais cargos na Administração Pública desde 2019 [veja aqui]. Levantamento desta data aponta a presença de 99 militares em cargos comissionados (cargos de livre nomeação e exoneração) na gestão socioambiental [1]. A Fundação Nacional do Índio (Funai) – órgão vinculado ao Ministério da Justiça [2] – tem o maior número de militares (33) e o Ibama e o ICMBio – autarquias vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente [3] [4]– vêm em seguida, com 19 e 17 fardados. Dos 99 nomes [5], apenas 6% são militares da ativa e cerca de 70% são militares da reserva; somados todos os militares inativos [6], o percentual sobe para 91% [7]. Há também prevalência de servidores originários do Exército em comparação à Marinha e Aeronáutica [8]: eles representa quase 50% das contratações. A prevalência da reserva e do Exército segue tendências já observadas no governo [veja aqui]. Os dados apontados pelo levantamento são diferentes daqueles apresentados pelo Ministério da Economia (ME), responsável por seu fornecimento [9][10], mas a discrepância se deve, em parte, pela diferença na data de levantamento do ME, que teria sido feito em junho – o que revela incremento substancial: em quatro meses a soma passou de cerca de 51 para 99 militares, o que representa aumento de 94%. Relatório do Tribunal de Contas da União de outubro revela a irregularidade de parte das nomeações militares feitas ao Ibama; segundo apontado, foram desrespeitadas exigências legais impostas pelo próprio governo federal atual [11]. Desde ano passado pastas submetidas ao Meio Ambiente vêm sofrendo interferências e são alvo de militarização [12]; em março de 2019 servidor público que multou Bolsonaro por pesca irregular foi exonerado [veja aqui]; em abril, a diretoria completa do ICMBio foi substituída por militares [veja aqui] [13]; em agosto, o diretor do Inpe foi demitido [veja aqui] e substituído interinamente por treze meses por um oficial da Força Aérea [veja aqui]. Em 2020, diretor do Ibama é exonerado e substituído por coronel da Polícia Militar [veja aqui].
Leia estudo comparativo sobre a presença de militares no governo federal e a militarização do Meio Ambiente em 2019.
Quando tudo lhes parecer incerto, lembrem-se das Forças Armadas (FAs). Como bem diz a história, elas sempre estarão prontas para defender a pátria e para garantir a nossa liberdade’, disse o presidente Bolsonaro em evento da Força Aérea Brasileira (FAB) [1]. A fala ocorre na cerimônia em homenagem ao Dia do Aviador e da FAB, em que foi feita a apresentação oficial do caça F-39 Gripen, desenvolvido conjuntamente pelo Brasil e Suécia no dia 23 de Outubro [2]. Vale lembrar que entre 1964 e 1985, as forças armadas estabeleceram um regime ditatorial no país [3] por meio de uma intervenção militar aclamada por movimentos como a ‘Marcha da Família com Deus pela liberdade’ [4]. E desde a redemocratização, as FAs apresentam ingerência constante na política brasileira. De acordo com dados recentes, o número de militares da ativa em funções de confiança no governo cresceu em 125% nos últimos 20 anos [veja aqui]. Além disso, Bolsonaro já negou a existência do golpe militar diversas vezes [veja aqui], ao qual se referiu como ‘dia da liberdade’ [veja aqui], bem como elogiou a conduta de torturador [veja aqui]. A fala também se dá em contexto de ameaças contra a oposição política e os outros poderes da República. No dia 13 de novembro, o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol afirmou que militares não querem fazer parte da política. No dia seguinte, Bolsonaro demonstrou apoio a fala do general e disse que as FAs devem se manter apartidárias sob a autoridade suprema do presidente da República [5]. Em 17 de junho, Bolsonaro disse que outros poderes estariam ‘abusando’ e que estaria ‘chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar’ [veja aqui]. No dia 12 de junho, o ministro-chefe da secretaria de Governo nega risco de golpe, mas diz para a oposição não ‘esticar a corda’ [veja aqui]. No mesmo dia, Bolsonaro assinou nota com vice-presidente e ministro da Defesa, defendendo que Forças Armadas ‘não cumprem ordens absurdas’ [veja aqui]. A nota cita decisão tomada por Luiz Fux, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a delimitação do poder das FAB destacando que elas não são poder moderador e não podem ser usadas contra os próprios poderes da República [veja aqui]. Vale ressaltar que o presidente afirmou que ‘algo muito grave’ estaria acontecendo com a democracia [veja aqui].
Leia análises sobre o discurso de Bolsonaro e sua relação com as Forças Armadas Brasileiras.
Bolsonaro nomeia o coronel Ricardo de Mello Araújo para chefia da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) [1]. A CEAGESP é uma empresa estatal e se submete a Lei 13.330/2016, que estabelece requisitos obrigatórios mínimos para ocupação do cargo de presidente. Entre tais exigências está a necessidade de experiência profissional de no mínimo 10 anos na área de atuação da empresa pública ou 4 anos ocupando cargo de direção em empresa de porte ou objeto social semelhante ao que será presidido, além de formação acadêmica compatível com o cargo [2]. Não existem informações públicas de que Araújo cumpre com tais requisitos. Em 2017, por situação semelhante, a Controladoria-Geral da União (CGU) recomendou que o então presidente da CEAGESP, que não preenchia os critérios para o cargo, fosse exonerado [3]. Araújo é coronel e ex-chefe da ROTA e já afirmou que as abordagens policiais deveriam ser realizadas de maneira diferente em bairros de elite e na periferia [4]. Em suas declarações após a indicação, Araújo afirma que a CEAGESP deve ter como missão reduzir custos e lucrar [5]. O Estatuto Social da CEAGESP, no entanto, não estipula como objetivos da empresa pública o lucro, e sim a prática de atividades como guarda e conservação de mercadorias, elaboração de estudos e pesquisas para subsidiar padrões de controle de produtos agropecuários, qualificação de pessoal para atuar no setor, entre outros [6]. A empresa foi incluída pelo governo federal no plano de privatização a ser desenvolvido no próximo ano [7]. Segundo especialistas, por questões de controle de qualidade e logística, é importante a presença do estado no setor de distribuição de alimentos, de modo a garantir a viabilidade de pequenos comércios, como feiras livres e quitandas [8]. Trata-se de mais uma nomeação de militar para um cargo no executivo federal, tendência que é observada desde o início do governo [veja aqui]. Em outras oportunidades, o Ministério do Turismo nomeou blogueira para cargo de coordenação da Fundação Nacional das Artes [veja aqui], e dentista para coordenar órgão técnico do setor audiovisual [veja aqui].
Governo federal, por meio de decreto [1], estabelece a ‘Estratégia Federal de Desenvolvimento (EFD) para o Brasil de 2020 a 2031’ na qual pretende definir ‘uma visão de longo prazo’ e ‘catalisar todas as dimensões do desenvolvimento sustentável’ [2]. A medida ignora metas de combate ao desmatamento e combate a focos de incêndio na Amazônia e no Pantanal [3]. O texto busca orientar os ‘órgãos e as entidades da administração pública federal’ [4] a partir de diretrizes, índices-chaves, desafios e metas, separadas nos eixos econômico, institucional, de infraestrutura, ambiental e social [veja aqui]. Especialistas apontam que o eixo ambiental da EFD, que tem por diretriz ‘promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais’ com o foco em conciliar a ‘preservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico e social’, apresenta uma ‘falsa simetria’ entre ‘desenvolvimento e preservação’ [5]. A análise também aponta ‘evidente descompasso’ entre alguns índices-chaves e desafios da EFD, como, por exemplo, o desafio de ‘assegurar a preservação da biodiversidade’ com a falta de indicadores para a regularização fundiária – importante fator para redução do desmatamento [6]. O decreto é publicado em contexto mais amplo de alterações na política ambiental, como a ‘mudança doutrinária’ no Ibama, ICMBio, Incra e Funai prevista no plano de metas do Conselho Nacional da Amazônia Legal [veja aqui], a demora do governo em nomear diretor de órgão de monitoramento do desmatamento [veja aqui] e o discurso do presidente de que a política ambiental brasileira está ‘correta’, a despeito do recorde de desmatamento e queimadas [veja aqui]. Vale notar que a EFD também foi amplamente criticada por estabelecer diretriz em defesa do ‘direito à vida desde a concepção’, contrariando o disposto na legislação brasileira sobre a interrupção da gravidez [veja aqui].
Leia análise sobre o eixo ambiental da Estratégia Federal de Desenvolvimento.
Após a aprovação via plebiscito para elaboração de nova Consituição ao Chile, cuja carta data da ditadura de Pinochet [1], Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, diz que enviará projeto para realizar plebiscito sobre possibilidade de elaboração de nova Constituição [2]. Segundo ele, a Constituição Federal de 1988 torna o Brasil ‘ingovernável’, desequilibra a separação de poderes poderes e traz muitos direitos e poucos deveres [3]. Barros diz já ter texto pronto de decreto legislativo e que sua intenção inicial era que o plebiscito acontecesse durante as eleições municipais deste ano para, em 2022, instaurar uma Assembleia Constituinte [4]. Por falta de apoio, ele alega não ter conseguido por sua ideia em prática anteriormente, mas que agora teria o suporte de outras lideranças políticas [5]. Em reação, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emite parecer defendendo ser inconstitucional a realização de plebiscito para esse fim e sustenta que a proposta se mostra ‘inteiramente descabida e desconectada da nossa história constitucional e das reais necessidades do país no momento’ [6]. A OAB complementa no sentido de não ser possível comparar as experiências brasileira e chilena, pois enquanto a primeira teve uma nova Constituição (1988) elaborada após o fim da ditadura militar e transição para o regime democrático, o Chille manteria vigente a Constituição herdada do período militar [7]. A fala de Barros também sofreu críticas da Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas) [8], do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) [9], de políticos da oposição [10], e entidades da sociedade civil [11], que endossaram os argumentos apresentados pela OAB. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirma que a ideia de uma nova Assembleia Constituinte ‘não está na pauta do governo’ [12] e Barros, na sequência, diz que ‘errou’ ao não consultar a posição do governo Bolsonaro sobre a ideia do plebiscito [13].
Leia análise crítica às declarações de Barros, entenda o contexto político-jurídico da nova constituinte chilena e as diferenças para a realidade brasileira, e leia na íntegra o parecer da OAB em desfavor do plebiscito
Governo federal baixa decreto [1] que estabelece a ‘Estratégia Federal de Desenvolvimento para o Brasil’ de 2031 [2] e elenca, entre as metas para ‘efetivar os direitos humanos fundamentais e a cidadania’, a promoção do ‘direito à vida desde a concepção’ e dos ‘direitos do nascituro’ (termo jurídico que se refere ao ser gerado, mas ainda não nascido) [3]. Tais expressões são geralmente evocadas em discursos contrários à interrupção da gravidez [4] e já foram utilizadas por autoridades do governo, como a ministra da Mulher, da Família, e dos Direitos Humanos, Damares Alves [veja aqui] e o ministro das Relações Exteriores, Enernesto Araújo [veja aqui]. A publicação do decreto ocorre quatro dias após o Brasil assinar declaração internacional antiaborto [veja aqui]. De acordo com advogada de organização da sociedade civil, o conceito de ‘nascituro’ tem sido utilizado para ‘tentar conferir determinados direitos fundamentais ao embrião em conflito com os da gestante’ e restringir o acesso ao aborto legal [5]. A lei brasileira autoriza a realização do aborto em casos de risco para a vida da gestante, anencefalia do feto e gravidez decorrente de violência sexual [veja aqui] [6]. Em resposta, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos afirma que a diretriz de defesa da ‘vida desde a concepção’ está alinhada com a Constituição e com os objetivos do Ministério [7]. A medida ocorre em um contexto mais amplo de restrição de direitos reprodutivos: o Ministério da Saúde baixou portarias que criaram barreiras de acesso aos serviços legais de interrupção da gravidez para mulheres vítimas de estupro [veja aqui], fundação do Itamaraty promoveu conferência antiaborto [veja aqui] e o Brasil se alinhou na ONU a países contrários aos direitos das mulheres [veja aqui] [veja aqui].
Leia análise sobre a utilização da retórica pró-vida do governo federal em oposição ao aborto legal, pesquisa sobre os efeitos da criminalização do aborto e veja linha do tempo sobre discursos e políticas contra minoriais de gênero
Servidor da ouvidoria do ministério da Economia (ME) utiliza termo xenófobo ‘vírus chinês’ para se referir ao coronavírus em resposta enviada por e-mail a cidadãos [1]. Nesta data, ele é notificado pelo ministério. De acordo com o ME ‘todos os servidores’ foram ‘orientados’ a retificar futuras respostas no atendimento online [2], e a fala não condiz com a posição nem ’da ouvidoria e nem do ministério’ [3]. A retórica discriminatória diante à pandemia do coronavírus e à China já se deu em outras oportunidades: o Itamaraty, através da Fundação Alexandre Gusmão (Funag), realizou conferências virtuais associando o comunismo ao coronavírus [veja aqui]; o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, publicou texto chamando o covid-19 de ‘comunavírus’ [veja aqui]; o deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL), após publicações xenofóbicas nas redes sociais, gerou crise diplomática com embaixador chinês no Brasil [veja aqui] e o Ministro da Educação insinuou benefício chinês com a pandemia em redes sociais – o que gerou inquérito contra ele por possível prática de racismo [veja aqui]. Em 2019, o Ministro das Relações Exteriores fez alerta para ‘ameaça comunista’, que tentaria ‘estrangular’ o Brasil [veja aqui].
Leia análise sobre a discriminação com asiáticos durante a pandemia
Em visita oficial ao Maranhão, o presidente Jair Bolsonaro toma refrigerante rosa tradicional no Estado e comenta, por conta da cor da bebida, ‘Agora eu virei boiola. Igual maranhense, é isso?’ [1]. Depois, volta a fazer o mesmo comentário e diz ‘Guaraná cor-de-rosa do Maranhão, fudeu, fudeu. É boiolagem isso aqui’ [2]. As falas foram gravadas durante uma transmissão ao vivo feita por sua equipe em suas redes sociais [3]. No vídeo, o presidente se encontra em meio a aglomeração de pessoas e não usa máscara, contrariando recomendações médicas e sanitárias [4] [veja aqui]. Em live realizada nessa mesma noite, o presidente pede desculpas pela polêmica e diz que fez uma ‘brincadeira’ sem a intenção de ofender ‘o pessoal do Maranhão’ [5]. O governador do Maranhão, Flavio Dino (PcdoB), fala em ‘falta de educação e decoro’ e ‘piada sem graça’ por parte do presidente [6]. Parlamentares do PSOL anunciam que vão acionar o Ministério Público Federal (MPF) para que esse investigue o presidente por prática do crime de homofobia em razão das falas [7]. No dia 11/11, em resposta a representação feita por parlamentares do PSOL, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão do MPF, conclui que as condutas do presidente merecem ser investigadas por, em tese, configurarem crime de racismo, que caracteriza-se também nos casos em que há manifestações homofóbicas ou transfóbicas [8]. A PFDC determina que o caso seja encaminhado para o procurador-geral da República, Augusto Aras, para que este tome as providências que entender cabíveis, como acionar o Supremo Tribunal Federal para que este analise as condutas de Bolsonaro [9]. Os comentários do presidente se assemelham com outras manifestações já feitas por ele sobre pessoas LGBTs, também em tom discriminatório [veja aqui]. Em 2019, por exemplo, Bolsonaro se referiu a Jean Willys como ‘a menina’ e espalhou notícia falsa de que David Miranda comprou seu mandato na Câmara [veja aqui]. Em relação aos nordestinos, também já se referiu em tom discriminatório, chamando-os de ‘paraíbas’ e dizendo que o governador do Maranhão, em específico, seria o pior de todos da região [veja aqui].
Leia análise sobre os retrocessos enfrentados pela população LGBT+ no primeiro ano do governo Bolsonaro e ouça podcast sobre os limites do humor e manifestações discriminatórias feitas em tom de ‘piada’.
Durante transmissão nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro afirma que o governo federal não comprará a vacina para a covid-19 produzida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista [1]. ‘Eu, que sou governo, não vou comprar sua vacina, não (…) Procura outro pra pagar’, diz Bolsonaro, se referindo ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB) [2]. A declaração é feita um dia após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar a importação da matéria-prima necessária para a produção da Coronavac, como é apelidado o imunizante [3]. O vice-presidente Hamilton Mourão contraria a afirmação e diz que o governo comprará a vacina [4], mas, dias depois, recua e declara que a decisão cabe ao presidente [5]. Bolsonaro vem sinalizando que não apoia o desenvolvimento da vacina: em 21/10, desautorizou acordo para compra de 46 milhões de doses pelo governo federal e criticou publicamente Doria [veja aqui]. A situação abre o risco de que a campanha de vacinação seja fragmentada no país —algo incomum, já que o Ministério da Saúde é responsável por coordenar esse tipo de ação— e decidida na Justiça [6]. Na mesma transmissão, Bolsonaro critica, novamente, a obrigatoriedade da vacinação [veja aqui], tema que já rendeu troca de críticas com o governador paulista [veja aqui]. No dia seguinte, o presidente volta deslegitimar publicamente a iniciativa [7]. O governo federal tem investido em outro imunizante, o da Universidade de Oxford, produzido no Brasil pela Fiocruz [8]. A vacina está na mesma fase da Coronavac —ambas precisam completar os últimos testes e receber aprovação da Anvisa [9]. De acordo com apuração de veículo de imprensa, o presidente, posteriormente, admite a aliados que o governo financiará a compra da Coronavac, caso a vacina seja a primeira a ter eficácia comprovada [10]. Semanas após a declaração, Bolsonaro sinaliza, durante outra transmissão on-line, que pode comprar o imunizante, a depender do preço [11].
Leia e ouça análises sobre as disputas políticas por trás da vacina para o coronavírus e a judicialização do tema.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anuncia a liberação da pesca de sardinha no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha [1]. A autorização é regulamentada por meio de um termo de compromisso, ainda não publicado, e contraria parecer técnico do ICMBio que afirma que ‘não há motivação nos contextos de conservação da biodiversidade, econômico ou histórico de tradicionalidade que justifiquem a abertura da atividade pesqueira dentro dos limites do parque nacional de Fernando de Noronha’ [2]. A liberação da pesca é comemorada por Bolsonaro [3], que afirma que vai ‘tentar federalizar’ a ilha [4]. O governo de Pernambuco se manifesta contra a liberação, afirmando que a medida pode provocar desequilíbrio no ecossistema e interferir em práticas de turismo sustentável [5]. Pesquisadores afirmam que a medida não tem embasamento técnico e que pode trazer impactos irreversíveis ao meio ambiente [6]. Diante da medida, o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), pede a suspensão do termo que autorizou a pesca [7] e apresenta ação na Justiça Federal, na qual pede a nulidade do termo, por contrariar a legislação ambiental e pelo potencial de danos irreversíveis à fauna e flora da reserva marinha [8]. Durante o primeiro ano do governo Bolsonaro o chefe do Parque de Fernando de Noronha foi exonerado [veja aqui], especialista em golfinhos que trabalhava na reserva marinha foi transferido para o sertão de Pernambuco por aparentes discordâncias com o governo [veja aqui] e foi liberada a pesca esportiva em unidades de conservação [veja aqui].
O Ministério das Relações Exteriores impõe sigilo a quatro telegramas diplomáticos que tratam da visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, ao estado brasileiro de Roraima, na fronteira com a Venezuela, negando pedidos de acesso à informação divulgados pela imprensa nesta data [1]. Pompeo esteve no local em 18/09, quando teceu críticas ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro [veja aqui]. A visita, feita a 46 dias das eleições estadunidenses, foi amplamente criticada por ex-chanceleres [2], senadores [3] e pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM) [4]. Os documentos postos em segredo até 2035 pelo Itamaraty foram emitidos em setembro e outubro e tratam dos detalhes, motivos e das impressões da visita [5]. O material foi solicitado por meio da Lei de Acesso à Informação [6], em vigor desde 2012, que prevê que documentos possam ser caracterizados como secretos quando, entre outras coisas, põem em risco a defesa e a soberania nacionais, ou as relações internacionais do país. Apuração de veículo jornalístico mostrou que, em 2019, o Itamaraty foi o órgão federal que mais negou pedidos de acesso à informação sob a justificativa de ‘pescaria’ —quando se alega que a solicitação é vaga ou muito ampla para ser atendida [7]. Em setembro do mesmo ano, a pasta também negou acesso a documentos que versavam sobre ideologia de gênero [veja aqui].
Leia e assista a análises sobre a o sigilo imposto pelo Itamaraty e sobre a visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, à fronteira do Brasil com a Venezuela.
Como na semana [veja aqui] e no mês [veja aqui] anteriores, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descreditou recomendações médicas e sanitárias. Em 24/10, poucos dias após desautorizar fala do Ministério da Saúde sobre compra de vacinas [veja aqui], ele ironizou que apenas cachorros poderiam ser alvos de vacinação obrigatória em redes sociais [1]. Em 26/10, questionou a pressa pela vacina e defendeu o tratamento precoce da doença com hidroxicloroquina, ivermectina ou nitazoxanida: ‘pelo que tudo indica, todo mundo que tratou precocemente com uma dessas três alternativas aí foi curado’ [2]. Também, afirmou que seria melhor investir na cura medicamentosa do que em vacinas. Em 28/10, disse em conversa com apoiadores que não entendia medidas de distanciamento social adotadas na França e Alemanha em razão da covid-19: ‘tá aí o vírus. Vai ter que enfrentá-lo’ [3]. Tais países vivem uma segunda onda de contágio e vêm adotando medidas de distanciamento defendidas pela Organização Mundial da Saúde [4]. O discurso se alinha a outros do presidente sobre a infecção com a doença ser inevitável [veja aqui] e o dever de ‘enfrentar’ o vírus como ‘homem’ e não ‘moleque’ [veja aqui]. Na mesma oportunidade, sugeriu que a pandemia seria fruto de uma ‘guerra nuclear bacteriológica’ e que o vírus poderia ter escapado de um laboratório [5]. No dia seguinte, defendeu que o governo não comprará vacina chinesa e rivalizou com o governador de São Paulo, reiterando que é contra a obrigatoriedade da vacinação [veja aqui]. Nas semanas anteriores, ele já havia se posicionado assim [veja aqui] [veja aqui]. Em 30/10, afirmou que a pandemia estaria chegando ao fim e voltou a criticar o posicionamento do governador de São Paulo sobre vacinas [6]. Em 31/10, fez passeio de motocicleta no Guarujá (litoral paulista) sem máscara, tirou fotos e conversou com a população [7]. Entre 22/10 e 31/10, o número de infectados pela covid-19 no país subiu de mais de 5,3 milhões [8] para mais de 5,5 milhões [9] e as mortes se aproximaram da marca de 160 mil pessoas [10], segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.